Livro: Meu Torrão pag3

Livro Digital: Meu Torrão - Pág. 3

Casa Grande


Casa Grande da minha infância...
Em cada recanto uma lembrança,
No alpendre no final do dia
O crepúsculo nos meus olhos de criança

Na sala, a querosene, o candeeiro
No terreiro uma roseira antiga;
Da passarada o trinado no juazeiro
No quarto, de ninar, da Mãe, uma cantiga.

A chuva no telhado pela noite vai...
O fogão à lenha e sua brasa ardente.
Lembro ainda a cadeira verde do Pai.

Da minha meninice, Oh! Casa Grande...
Dádiva do passado, recordação do presente
É para ti este canto de saudade.
20.08.1987- Cafundó






Minha mãe em frente a casa grande



No Alpendre


Neste alpendre da Casa Grande
Parece-me ainda estar
Meu Pai em sua cadeira verde
Ao horizonte poente a mirar

Buscando nas cabeceiras o relampejar
Que traria a chuva esperada
Para a daninha estiagem afastar
Extinguindo-a com uma invernada.

E ali seus planos traçando
Ao céu estrelado olhando
À Madrinha preces surgiam.

E viveu aquelas mesmas cenas,
Somente por sua morte interrompida,
Que anos e anos se repetiam.

23.04.1989 - Cafundó



Engenho Cafundó - 1933 (Foto 1993)



Letreiro sobre o telhado da casa: 4 de abril de 1933


No Engenho


...e o dia amanhecia
Com o passaredo no
Juazeiro a saudar a aurora

Com o urrar do gado
E o leite ao pé da vaca.

Com os bois na almanjarra
Em passos cadenciados
Fazendo girar a moenda
Que espremia a cana.

Com o doce cheiro do mel
Tomando o ar, inesquecível

Com os cajás e mangas
No chão a me esperar

E o dia amanhecia. ..
Para hoje ser só saudades.
15.03.1989- Cafundó





Rio Gurinhém - Engenho Cafundó - Sobrado-PB

Meu Rio


Ah! meu Gurinhém, saudades tenho
Das tuas águas cristalinas a correrem
Sobre meus pés de menino; venho
Hoje para te rever na Passagem.

Volto ao Poço a recordar o banho
Onde a meninada de “galinha gorda”
Brincava, olvidando o trabalho
Na hora de lavar a burricada.

Ah! meu Rio, como eu gostava
De te olhar mais longe, além,
Em cima da minha Pitombeira altiva.

E quando o inverno chegava
Tu cheio, barrento... de tua margem
Eu mirava, mas temia tua beleza brava.
20.04.1987- Cafundó



Meu pai Cândido e minha mãe Luiza

Ao Pai


Ao pé da parede rachada
Do cemitério, uma cova aberta
No escaldante chão, esperava
O corpo já tão sofrido
Que há horas a vida deixara.

O vento a poeira levanta
Enquanto o caixão ao solo desce.
Punhados de terra jogados
A despedida dos que ficavam.
Pás de terra o esquife cobre.

Uma cruz indica o morto
Flores ao túmulo enfeitam.
Aos poucos solitário fica,
Entre toscas cruzes e flores murchas
O pai que me deu a vida.
02.11.1985 - Cafundó




Fotos da nossa infância

Sobrado


Em tempos idos por estas plagas,
Para morada ergueu-se majestoso
Sobrado; deu nome à terra, ficou famoso
Foi o primeiro em distâncias longas.

O tempo passa... progresso vem,
Tem capela, cresce o povoado
E o altaneiro e belo sobrado
É esquecido, tornado à margem.

Pelos seus filhos olvidado, fica
Em ruínas, desmoronando...
A vila cada vez mais rica

Em ouro, em grãos, em bens.
E hoje? Oh! pobre-rico Sobrado
Será que sabes que origem tens?
10.06.1987



Nota de Venda

Ímã


Este Engenho Cafundó às terras
Suas me prende, qual elo!
Tal as raízes das pitombeiras
Que dependem do seu solo.

Sinto uma tremenda atração
De tornar às suas paragens,
Como se o ar da respiração
Exalasse daquelas pastagens!

Que ímã supremo e impetuoso
É este que, ao meu imo tomado,
Impõe-se, tornando-me carencioso?

E as vezes, à noite, fico a pensar
O que seria-me longe deste climado,
Se tivesse que ao Cafundó renunciar...
13.04.1990



   

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