Instituto Histórico e Geográfico Paraibano – IHGP

 

Posse do Sócio Efetivo Modesto Siebra Coelho

João Pessoa - Paraíba

2010

           

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Instituto Histórico e Geográfico Paraibano - IHGP

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Posse do Sócio Efetivo Modesto Siebra Coelho

João Pessoa (PB), dezembro de 2010

 

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Humberto Fonsêca de Lucena

(Sócio Efetivo do IHGP)

 

Saudação a Modesto Siebra Coelho

 

Sr. Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, Joaquim Osterne Carneiro; demais autoridades; minhas senhoras, meus senhores;

Caro Modesto,

Por razão da amizade que nos une, não poderia recusar sua intimação para introduzi-lo, hoje, nesta Casa, falando em nome dos consócios.

O Instituto Histórico e Geográfico Paraibano sente-se alegre para recepcioná-lo como um dos nossos, na qualidade de sócio-efetivo, condição que lhe foi conferida pela grande maioria de seus membros, graças aos seus indiscutíveis méritos intelectuais. Você chega para ocupar a Cadeira nº 6, que tem como patrono Aníbal Victor de Lima e Moura, cadeira esta vaga com o falecimento de Beatriz Ribeiro da Silva, sua última ocupante.  

 

Minhas senhoras, meus senhores,

 

É rica e extensa a trajetória profissional de Modesto Siebra Coelho. Traz ele, para nos ajudar, uma bagagem de primeira qualidade, resultado de sua atividade de geógrafo, professor, pesquisador, dirigente universitário, homem bem lido e bem corrido, como diz a expressão popular.   

Não pretendo enveredar por uma avaliação minuciosa de seus trabalhos, ou fazer-lhe uma longa biografia acadêmica. O que farei é, tão somente, apresentá-lo de corpo inteiro, íntegro, perfeitamente harmonizado com o seu tempo, e como pessoa humana, que ele é com toda grandeza.  E o farei encurtando os caminhos do longo percurso de suas múltiplas atividades. 

A incorporação do Professor Modesto ao nosso convívio é um momento da mais alta significação para o Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. Não há em nosso quadro de sócios efetivos nenhum outro geógrafo com formação acadêmica. Por curiosidade, fui pesquisar nos livros de anotações da Casa e no Memorial do IHGP a presença de geógrafos entre os patronos e antigos sócios efetivos, ao longo dos 105 anos de existência da Instituição. São curiosos os dados que encontrei: apenas três nomes tinham formação em geografia. O primeiro é o Patrono da Cadeira nº 40, Luciano Jacques de Morais, nascido em Minas Gerais, em 1898, formado como engenheiro e geógrafo pela Escola Nacional de Minas e Metalurgia, de Ouro Preto-MG, tendo deixado várias obras no campo de sua especialidade.  O segundo é o paraibano de Areia, Aurélio de Albuquerque, desembargador, falecido em 1981. Tendo desistido do curso de Odontologia, formou-se em Direito, pela Faculdade de Recife. Posteriormente, graduou-se em Geografia e História, pela antiga FAFI, de nossa capital.

Por último, um nome muito conhecido, recentemente falecido, José Rafael de Menezes. Tinha curso de Licenciatura e Bacharelado em Geografia e História pela Faculdade de Filosofia Manuel da Nóbrega. Era também formado em Direito pela Faculdade do Recife.

Esse reduzido número de geógrafos não significa dizer que o IHGP não tenha tido outros profissionais que tenham nos deixado uma grande contribuição aos assuntos relacionados à geografia.

Depois dessa digressão, um pouco da biografia e da trajetória profissional do novo sócio.

Modesto Siebra Coelho nasceu no Sítio Contendas, localidade do município de Itapipoca, Ceará, em 15 de junho de 1944. Modesto é o segundo dos nove filhos de Vicente Siebra Moura e Ana Maria Coelho de Moura.

Seu pai foi pequeno agropecuarista, funcionário público e atuante líder local. Homem de múltiplas atividades, Seu Vicente ajudou a criar e presidiu a primeira Cooperativa Agropecuária de Itapipoca e participou de várias associações religiosas e entidades sociais, quase sempre como dirigente, entre elas a Congregação Mariana da Paróquia de Itapipoca, a Associação Pró-Idosos de Itapipoca, o Círculo de Trabalhadores Cristãos e o Sindicato de Trabalhadores Rurais daquela cidade cearense.

Sua mãe, Dona Ana Siebra, segundo depoimento do próprio filho, era a sombra do marido. Seguia-o em tudo, apoiava-o incondicionalmente, às vezes sacrificando a própria identidade.

Modesto viveu até os cinco anos de idade, bem próximo à casa-grande dos avós paternos, na pequena propriedade pertencente ao clã Siebra. Teve os próprios pais como preceptores de suas primeiras letras. Foi alfabetizado por eles que, como voluntários, mantinham uma escolinha noturna gratuita, em sua própria casa, onde alfabetizavam pequenas turmas de jovens e adultos da redondeza.

Alfabetizado, com a família já vivendo entre a cidade e o campo, Modesto foi estudar no Grupo Escolar Anastácio Braga, de Itapipoca. Ficaria aí apenas dois anos. O pai, profundamente religioso, encaminhou-o para o Pré-Seminário Cura d´Ars, daquela mesma cidade.

Em 1958, aos 13 anos de idade, foi encaminhado para o Seminário Arquidiocesano de Fortaleza. Em 1962, foi transferido para o Seminário Diocesano de Sobral, onde permaneceu durante dois anos. Em 1964, retornou ao Seminário de Fortaleza, ficando até o início do Curso de Filosofia, em 1966, quando surgiram as inquietações vocacionais no jovem seminarista. Nessa época, o mundo dos anos 60 já sofria grandes transformações. No campo religioso, os primeiros reflexos das diretrizes emanadas do Concílio Vaticano II prenunciavam as grandes mudanças por que passaria a Igreja Católica. As angústias, as inquietações e as crises de vocação tomaram todo o Clero nos anos vindouros. Neste cenário inicial de agitações renovadoras vamos encontrar Modesto deixando o Seminário. Sua saída se deu em clima de compreensão após sucessivas conversas nas tradicionais sessões de orientação espiritual. Foi nessas conversas que decidiu pela Geografia, curso que concluiu em 1970 (Licenciatura) e em 1971 (Bacharelado), na Universidade Federal do Ceará.

Enquanto fazia a Universidade teve que conciliar estudo e trabalho. Foi ser repórter investigativo em um jornal de Fortaleza (O Nordeste). Sua carreira foi curta. Após a segunda reportagem foi parar no DOPS. É que o jovem jornalista denunciara em ampla reportagem a morte de crianças em bairro de Fortaleza, decorrente do uso de leite contaminado fornecido por uma empresa pasteurizadora de leite, que acabara de ser instalada naquela capital.

O delegado e o jornal optaram pela indústria de leite pasteurizado e Modesto foi ser professor em cursinhos, ensinando português, literatura, sociologia e geografia.

 

 

Vida profissional     

 

Logo que concluiu o curso universitário, em 1971, a Geografia o trouxe à Paraíba como professor do Curso de Licenciatura Plena em Geografia da Faculdade de Filosofia de Cajazeiras, onde permaneceu até 1976. Três meses depois de sua chegada à Paraíba, casou-se com a cearense Maria Wanderly Oliveira Siebra Coelho, formada em História, mas atuando profissionalmente em Planejamento Institucional e Consultoria, área em que possui pós-graduações. O casal tem dois filhos: Andrea Oliveira Siebra Coelho Vinet, casada, residente em Ottawa, Canadá, mestre em lingüística, professora de Língua Francesa, com uma filhinha, Julie, xodó dos avós. O outro filho, Marcos Oliveira Siebra Coelho é médico, fazendo residência no sul do país.

 Entre 1973 e 1975, atendendo convite do prefeito municipal, sem deixar as atividades acadêmicas, Modesto foi Secretário de Administração e Planejamento da Prefeitura de Cajazeiras. É nessa época que esteve no Rio de Janeiro fazendo Curso de Especialização em Planejamento Urbano e Metodologia de Projetos pelo Ministério do Planejamento, na Escola Nacional de Serviços Urbanos.

Em meio às múltiplas atividades que sempre acumulou, ou em razão das quais teve que se dividir, em 1976 vamos encontrar Modesto como integrante do grupo técnico da Secretaria de Planejamento e Coordenação Geral do Governo da Paraíba, a convite do professor José Zélio Marques e do Secretário de Planejamento Francisco Sales Cartaxo Rolim.  

Ainda em 1976, fez concurso para professor do Departamento de Geociências da UFPB, onde permaneceu até se aposentar. Em 1977, fez Curso de Elaboração de Projetos e Metodologia de Pesquisa, na Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro. Em 1989 e 1990, fez mestrado na Universidade de Paris III, Sorbonne Nouvelle, recebendo o Diploma de Estudos Aprofundados, ocasião em que defendeu a dissertação intitulada O Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia no Nordeste Brasileiro: O caso do Pólo Tecnológico de Campina Grande.            

A aposentadoria do professor Modesto ocorreu em 1994, pegando-o ainda disposto para o trabalho. O caminho profissional por ele percorrido, com várias experiências no campo do planejamento, e os estudos que realizou durante a trajetória acadêmica, lhe valeram convites para trabalhar em outras Universidades. Um desses convites muito lhe agradava. Há tempos o reitor José Teodoro Soares, da Universidade Estadual Vale do Acaraú, UVA, seu amigo desde os tempos de Seminário, lhe acenava para trabalhar ao seu lado, em Sobral-CE, sede daquela Instituição.

Modesto não pensou muito. Mesmo tendo corrido o mundo e vivido em reinos mais complexos, não esquecera o Ceará e suas origens; ainda preservava suas crenças e ainda se preocupava com as questões relativas à terra natal. Sabia que, como administrador e dirigente universitário operoso e realizador, poderia dar sua contribuição à educação no reino de sua infância e adolescência, o Ceará. E foi para lá que voltou. Por seis anos se dividiu entre a Paraíba e o Ceará, pois continuou morando aqui.

 

 

O dirigente universitário

      

Tão logo ingressou no ensino superior o professor Modesto Siebra Coelho, por seu dinamismo e capacidade de liderança, foi atraído para cargos de direção. Na Faculdade de Filosofia de Cajazeiras, foi Chefe do Departamento de Ciências Exatas e Sociais. Na Universidade Federal da Paraíba, foi Chefe do Departamento de Geociências, Diretor do Centro de Ciências Exatas e da Natureza, por seis anos, durante os reitorados de Linaldo Cavalcanti de Albuquerque, Milton de Figueiredo Paiva e Berilo Ramos Borba; Prefeito Universitário e Pró-Reitor de Administração, no reitorado de José Jackson de Carvalho; foi também Diretor da Editora Universitária, nomeado pelo reitor Antonio de Sousa Sobrinho.

Depois da aposentadoria, já no Ceará, foi nomeado Pró-Reitor de Administração da Universidade Estadual Vale do Acaraú, UVA, em Sobral, acumulando com as funções de Diretor da Casa da Geografia de Sobral e Coordenador do Núcleo de Desenvolvimento Local da UVA. Em 1999, voltou à Paraíba para coordenar o programa UVA-IESP para formação de professores, nesta capital. Em 2000, foi Coordenador de Recursos Humanos do Instituto de Educação Superior da Paraíba - IESP, e, posteriormente, Diretor Acadêmico da mesma Instituição.

A partir de 2002, até os dias atuais é Diretor Administrativo da Universidade Aberta Vida – UNAVIDA, nesta capital.

 

 

Pesquisa e produção acadêmica

 

Mesmo atuando em várias frentes, Modesto sempre arranjou tempo e espaço para realizar trabalhos de pesquisa, desde os tempos de Cajazeiras, quando fez um levantamento das condições físicas e sócio-econômicas daquele município, trabalho este que fez parte do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Cajazeiras.

Na UFPB, foi pesquisador e Coordenador Geral do Projeto Geografia e Ecologia da Paraíba. Uma pesquisa associada com professores do Departamento de Geociências da UFPB e o Centro de Geografia Tropical de Bordeaux – França. Os resultados dessa importante pesquisa foram publicados em Bordeaux, sob o título Geografia e Ecologia da Paraíba, em 1980, o Volume I, com 374 páginas, e em 1984, o Volume II, com 588 páginas. Esse trabalho consta do acervo do IHGP.  

Outro importante trabalho de que participou foi o Projeto Delimitação e Regionalização do Brasil Semi-Árido, pesquisa conjunta das Universidades Federais da Paraíba, Ceará, Pernambuco, Sergipe, Alagoas e Piauí, sob a coordenação da SUDENE e CNPq, trabalho publicado em três volumes, com 521 páginas.

Além de capítulos publicados em livros coletivos, o Professor Modesto Siebra é autor de dezenas de trabalhos de interesse da Ciência Geográfica e da Geografia da Paraíba publicados em revistas especializadas e jornais.

 Não poderia faltar na relação de suas obras dois livros que julgo primaciais para o estudo de nossos problemas urbanos: um deles intitulado A Nova Onda no Transporte Urbano – Mototaxi – Edições UVA, Sobral – Ceará, 1997; o outro, De Sobral ao Global – Um Percurso pela Questão Urbana, Edições UVA, Sobral – Ceará,- 2000.    Neste último livro, em estilo crítico e irreverente, o autor mergulha por temas que estão presentes no cotidiano das populações urbanas dos mais diferentes lugares e cujo encaixe mais direto é endereçado à geografia e sociologia urbanas, segundo observa Francisco José Loiola Rodrigues, da Academia de Ciências Sociais do Ceará. Embora centrado em Sobral, o livro universaliza a visão dos inúmeros aspectos em que se detém.  

Meus confrades, é este o cearense Modesto Siebra Coelho, com Título de Cidadão Paraibano outorgado pela Assembléia Legislativa da Paraíba, em 2006, que eu conheço e me propus a lhes apresentar.   

A sua admissão neste Instituto assegura-nos a convicção de que esta Casa encontrará no seu esforço e no seu espírito de colaboração a participação que normalmente esperamos dos que vêm bater a nossa porta. Não podemos prescindir dessa colaboração porque ela consubstancia a vida da instituição.

Não podemos esquecer que vivemos um momento de transição e renovação - nunca, em tão pouco tempo, perdemos tantos companheiros – por isso mesmo, uma oportunidade propícia para uma reavaliação crítica de nossa atuação. Precisamos de mudanças, não nos fins a que se propõe o Instituto, fins que já estão estabelecidos nos estatutos e que constituem uma tradição, e sim nos meios, nos mecanismos, para que nossa Instituição possa continuar atendendo às suas finalidades. Para estas mudanças se faz necessário buscar na sociedade pessoas capazes que, identificadas com o mundo atual, possam contribuir para este fim compartilhando valores e realizações para o alcance de objetivos comuns. 

Esperamos que ao brilhantismo da sua posse não nos falte o compromisso de uma maior integração que se tornará mais profícua na medida da sua dedicação.

Seja bem-vindo, pois, meu caríssimo amigo Modesto Siebra Coelho a esta Casa de gloriosas tradições que abrigou, e abriga alguns dos mais destacados cultores de nossa memória. No esforço e na boa vontade daqueles que se incorporam a nós reside a esperança maior de que a Casa de Irineu Pinto permanecerá fiel aos seus nobres fins.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Modesto Siebra Coelho

(Posse no IHGP: 10 de dezembro de 2010)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Discurso de posse no Instituto Histórico e Geográfico Paraibano – IHGP

 

Modesto Siebra Coelho,

Geógrafo/ Professor / Pesquisador/ Dirigente Universitário

(Sócio Efetivo – Cadeira n. 6)

 

 

 

 

 

 

As minhas melhores saudações:

 

- Aos ilustres Presidente e Vice-Presidente do IHGP, historiadores Joaquim Osterne Carneiro e Humberto Fonseca de Lucena, através dos quais saúdo a todas as autoridades à Mesa Diretora desta Sessão Solene (....)

 

- Ao amigo Antonio Quirino de Moura, ex-prefeito de Cajazeiras e ex-Deputado Estadual, através de quem saúdo a todos os colegas ex-Secretários da Prefeitura Municipal de Cajazeiras e ex-professores da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Cajazeiras, onde trabalhei (...)

 

- Aos amigos ex-Reitores e Reitores de Universidades aqui presentes (...)

- Aos amigos e ex-colegas Pró-Reitores, Diretores e Chefes de Departamento da UFPB (...)

 

- Aos amigos e ex-colegas de trabalho do Colégio Estadual de Cajazeiras e Colégio Diocesano Padre Rolim de Cajazeiras, onde trabalhei (...)

 

- Aos amigos e colegas de trabalho do Programa Universidade Aberta Vida - UNAVIDA e Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA, onde ocupo cargo de Diretor há 10 anos (...)

 

- Aos Confrades e Confreiras do IHGP que me concederam a unanimidade dos seus votos, em eleição realizada em 14 de agosto de 2010

 

- Aos funcionários do IHGP que com imensa simpatia e dedicação, desde o primeiro minuto, me acolheram nesta Casa, em todos os meus trânsitos de candidato (...)

 

- Aos Senhores convidados e Senhoras convidadas

 

- À minha esposa, historiadora e professora Maria Wanderly Oliveira Siebra Coelho; aos meus filhos Marcos Oliveira Siebra Coelho e Andrea Oliveira Siebra Coelho Vinet; minha netinha Julie Siebra Vinet e meu genro Philippe Jean Vinet, ausentes em razão dos seus encargos profissionais, em São Paulo e no Canadá, onde se encontram.

 

 

Você vê coisas e diz: por que? Eu sonho

 coisas que nunca existiram e digo: por que não?

 

George Bernard Shaw

(1856-1950)

 

 

Considerações iniciais

 

Por algum tempo, nem sei bem porque, resisti à idéia de concorrer a uma Cadeira neste IHGP, apesar do estímulo de alguns de seus membros. Mas, a certa hora, percebi que haveria boa aceitação à presença de um geógrafo na instituição. Vi-me em campanha e aqui estou apresentando o discurso de posse. Inicio fazendo alusão ao que escreveu Raquel de Queiroz em crônica denominada Mineiros, incluída no seu livro “100 Crônicas Escolhidas” (1). A sempre afável Raquel, em lapso de fina ironia e áspera crítica, escreveu que “mil mineiros não causam o incômodo de dez cearenses”.

Como o mais paraibano dos cearenses, pois há 39 anos, em companhia de Wanderly Siebra, escolhi a Paraíba para viver e trabalhar e como berço de meus filhos, espero nada reeditar que os leve a dar abrigo às imprecações de Raquel, atiradas em desfavor de conterrâneos, de forma jocosa, é sabido.

Por conseguinte, nesta tarde especial, farei meu melhor para evitar que um cearense, sozinho, possa incomodar a mais de uma centena de paraibanos que honram esta solenidade com sua presença. Procedo de arraial sertanejo, nutriram-me usos e costumes interioranos, sou refém da força telúrica que vincula o homem ao seu torrão, cantarei para sempre e em todo lugar as minhas raízes itapipoquenses, mas tenho repetido ao curso de décadas vividas aqui que o Ceará me faz alguma falta, mas, com certeza, a Paraíba me basta. Viver na Paraíba jamais me expos qualquer tipo de conflito. 

Ademais, arredondando um pouco os critérios de estudo, posso afirmar que as semelhanças entre as mesmas regiões geográficas e culturais locais, no Nordeste, são tão próximas que se alguém “cair” em lugar ermo de seus sertões, litorais ou serras, dificilmente distinguirá o que é Ceará ou Paraíba, Pernambuco ou Alagoas. E devemos nos advertir de que, no mundo contemporâneo, a distância geográfica foi radicalmente alterada pelas novas tecnologias de comunicação.

Desta forma, quando por alguma razão me açoita a nostalgia, ou me surge necessidade ingente, em segundos, com o uso de ferramentas de Internet (e-mails, redes sociais de relacionamento, google earth), posso me por em contato com os meus, ou até “sobrevoar”, em percurso fenomenal e imagens 3D, a minha Itapipoca, a longilínea Rua Vicente Siebra Moura, uma homenagem ao meu saudoso pai, e até as veredas e monólitos encontradiços no Sitio Contendas, onde nasci e vivi até a idade escolar.

Tenho afirmado em muitas ocasiões que a Paraíba é o meu lugar. Sou cidadão paraibano por opção e por lei estadual. Esta terra é meu shangri-lá, meu lugar bom de viver, comparável àquele das montanhas do Himalaia, do imaginário do ficcionista inglês James Hilton, descrito em Horizonte Perdido (1925) e que ganhou versão em português pela Abril Cultural, em 1980 (2). Meus filhos aqui nasceram e se orgulham de sua terra. Wanderly se afeiçoou de tal forma à Paraíba e sua gente amável, que jamais se imaginou em outro lugar, mesmo que esse seja o seu Ceará. Somos da “cidade dos três climas”, como é conhecida Itapipoca (3). Ela, da borda litorânea do município e eu, do sopé da Uruburetama, na zona de contato entre o sertão e a serra úmida, paragens cearense que o agrônomo Joaquim Carneiro conhece como a palma da mão.

Senhoras e Senhores, Confrades e Confreiras, feita esta confissão de amor à terra que me acolheu e onde desenvolvi quase toda a minha trajetória profissional e acadêmica, estou certo de que sereis como os mineiros de Raquel e sabereis mitigar incômodos que o discurso de oito laudas, deste cearense, possa lhes causar, nesta tarde de muito calor.

Isto posto, quero externar que experimento momento de rara felicidade por estar sendo recebido como sócio efetivo desta proficiente instituição cultural e sócio-acadêmica. Dez de dezembro, de hoje em diante, se converte em data histórica para mim. Muito me honra ocupar a Cadeira n. 6, cuja fundadora foi a historiadora Beatriz Ribeiro da Silva, e cujo patrono é Aníbal Victor de Lima e Moura, preclaro mestre de gerações e gerações de paraibanos, até os anos 60 do século passado.

Cabe aqui contextualizar alguns aspectos que assinalam a evolução histórica brasileira ao tempo em que estes eméritos sócios ingressam neste Instituto: vivia-se o pós primeira grande Guerra Mundial, questionava-se o modelo agrário exportador, intensificava-se a industrialização, novas camadas urbanas se incorporavam às lutas sociais e políticas, as elites intelectuais estavam irrequietas, a Semana de Arte Moderna já se consolidara como movimento cultural e artístico revolucionário, a Revolução de 30 começava a imprimir suas marcas. Os tempos começam realmente a mudar, mas eram ainda muito carrancudos.

Assim, vejo o ingresso de Beatriz Ribeiro no IHGP, na metade dos anos 30, aos 21 anos de idade, como um feito especial (4). Fundado em 1905, e com sistema de organização que ainda não era o que se conhece hoje, o IHGP só veio a instaurar o patronato da Cadeira n. 6, em 1946, constituindo o professor Aníbal Moura como seu patrono dez anos depois da investidura de Beatriz Ribeiro como fundadora e ocupante. Outra particularidade que desperta curiosidade é o fato de que Beatriz Ribeiro, além de fundadora da cadeira, foi sua única ocupante, em período que se estende de 1936 a 2010, quando, na forma regimental, a Cadeira é declarada vaga. 

A formação humanística baseada na cultura clássica trilhada nos Seminários Católicos onde estudei e nos quais um certo culto às letras e artes ocupava papel importante àquela época, cedo me atiraram à admiração de agremiações culturais que só nos era dado conhecer por livros e revistas, ou por comentários de alguns mestres diferenciados. A vida das sociedades culturais, institutos e academias, próximos ou distantes, antigos ou contemporâneos, povoava nosso imaginário de jovens estudantes e era assunto de acaloradas discussões no ambiente dos internatos que acolhiam os da minha geração. No Seminário da Prainha, em Fortaleza, tínhamos Academia, cujo funcionamento reproduzia a ABL, obviamente, que sem o chá das cinco. Tínhamos grêmio literário, corais líricos, jornais murais, apresentávamos peças de teatro, escrevíamos crônicas e poesias. Cultivávamos a boa leitura e éramos orientados à formação do hábito de escrever. Jamais esqueci o meu primeiro artigo publicado no jornal Correio da Semana, de Sobral-CE, em abril de 1963, quando ainda era adolescente. Vivo que está, ainda hoje cultuo e consulto Oswaldo Chaves, padre e mestre de português e grego, que me transmitiu o prazer pela leitura e a escrita.

Bons tempos aqueles! Éramos estudantes em tempo integral, privilegiados! Ainda não éramos “homens de letras”, mas, ouso dizer que já nos considerávamos “meninos de letras”. Quem da nossa geração, bem ou mal, não ensaiou os primeiros escritos no ambiente dos internatos?

Talvez até tenha, inconscientemente, me preparado para um dia fazer parte de instituição deste jaez. Levei a vida estudando, pesquisando e sempre publicando alguma coisa, como relatou o apresentador, o fraterno companheiro de embates memoráveis na gestão do Centro de Ciências Exatas e da Natureza da Universidade Federal da Paraíba. Quero continuar fazendo isto! Por conseguinte, não é estranho, que os ares da Casa de Irineu Pinto tenham me atraído em definitivo.

 

Sobre a ocupante da Cadeira n. 6 – Beatriz Ribeiro da Silva

 

BEATRIZ RIBEIRO 2 CORRIGIDO

 

 

Beatriz Ribeiro (foto), nascida a 30 de junho de 1915, na cidade da Parahyba e a quem, nesta ocasião, tributo as melhores homenagens, iniciou carreira literária muito cedo. Aos 17 anos, já publicava os primeiros artigos no jornal A União, iniciando com o discurso de Oradora dos Concluintes da Escola Normal, ano de 1932, que lhe coube proferir. Sempre sob a forma de pequenos artigos, publicou também em outros veículos da imprensa escrita da capital, entre os quais a Revista Illustração, o Annuário da Parahyba e o Jornal A Imprensa.

Em 23 de agosto de 1936, ingressa no Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, tomando posse conjuntamente com Horácio de Almeida, Braz Baracuhy, Padre Francisco Lima e Olivina Olívia Carneiro da Cunha, todos figuras que alcançaram notoriedade nas letras, na cultura, nos estudos históricos e na educação, com destaque maior para o historiador Horácio de Almeida e o beletrista e cultor do português e do latim, Cônego Francisco Lima, que os consócios Humberto Melo e Natércia Suassuna e os ex-seminaristas, aqui presentes, Berilo Borba, Luís Andrade, Antonio Sobrinho, Paulo Andriola, Zélio Marques, Rui Dantas, José Jackson Carneiro, José Leopoldo Souza, Damião Ramos, tiveram como professor. Presidia o IHGP, o Dr. José d’Ávila Lins, tio do historiador Guilherme d’Ávila Lins, também, aqui presente. Beatriz Ribeiro falou de improviso.

A jovem historiadora Beatriz Ribeiro tem um início fulgurante. Nos primeiros cinco anos, após a formatura, publica inúmeros artigos, de conteúdos diversos, sempre críticos, polêmicos e atuais. Mas, por motivos jamais esclarecidos, recolhe-se, afastando-se do IHGP e da convivência social por toda a vida.

Vejamos o que se relata no livro Memorial do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, edição comemorativa dos 90 anos de fundação – 1905/1995, página 33: “com problemas de saúde e sem condições de manter em atividade sua vida cultural e literária, Beatriz Ribeiro decidiu renunciar à condição de sócia do IHGP, dizendo que: “a vaga será preenchida com certeza por um dos que, fora do instituto, se distingue nas realizações e esforços pelos ideais comuns, em harmonia com os já integram seu quadro social, de merecido renome”. Apoiados, certamente, na omissão do Estatuto da instituição (5), obstaram-lhe a renúncia, os presidentes Clóvis dos Santos Lima (1943-1953 e 1956-1962) e Rosilda Cartaxo (1983-1986), e ela foi mantida no quadro social até a declaração de vacância da cadeira, recentemente.

            A época em que se afastou, coincide com um período histórico no qual as mulheres, em todo o mundo, começam a se destacar por posições de vanguarda, erguidas em favor da luta pela valorização feminina. Entre tantas, devo citar as nordestinas Anayde Beiriz (João Pessoa (PB), 18 de fevereiro de 1905 - Recife (PE), 22 de outubro de 1930), Analice Caldas (Alagoa Nova (PB), 30 de outubro de 1891 - Lagoa Seca (MG), 15 de fevereiro de 1945) e Nísia Floresta (Parapari (RN), hoje Nísia Floresta, 12 de outubro de 1810Ruão, França, 24 de abril de 1885); a paulista Bertha Lutz (São Paulo, 1894 - Rio de Janeiro, 1976) e a mineira Maria Lacerda de Moura (Manhuaçu (MG), 16 de maio de 1887 - Rio de Janeiro, 20 de março de 1945); as portuguesas Ana de Castro Osório (Mangualde, Portugal, 18 de Junho de 1872 — Setúbal, 23 de março de 1935) e Adelaide Damas Cabete (Alcáçovas, Portugal, 25 de Janeiro de 1867Lisboa, 14 de setembro de 1935), e tantas outras precursoras dos movimentos de valorização da condição feminina que, uma geração depois, despontaria com outra tintura e outra fundamentação, através do ícone francês Simone de Beauvoir (Paris, 9 de janeiro de 1908 — Paris, 14 de abril de 1986); a austríaca Bertha Pappenheim (Viena, 27 de fevereiro de 1859 - Iselberg, Alemanha, 28 de maio de 1936); a norte-americana Betty Friedan (Illinois, 4 de fevereiro de 1921 - Washington, 4 de fevereiro de 2006); a russa Alexandra Kollontai (São Petersburgo, 31 de março de 1872 - Moscou, 9 de março de 1952); a japonesa Itô Noe (Fukuoka, Japão, 1895-1923), e inúmeras outras verdadeiras lendas, mundo afora.

A julgar pela postura crítica, revelada nos temas e escritos abordados, a mim é dado imaginar de que grande contibuição intelectual à causa feminina, na Paraíba, pode ter sido perdida com a deserção de Beatriz Ribeiro. Pelo ardor e empolgação com que, àquela altura, tratava literariamente alguns assuntos, e pela militância que começava a desempenhar junto à atuante Associação Paraibana pelo Progresso Feminino, transmitia a certeza de que cumpriria papel de destaque em relação a essa causa, ao curso de sua vida.

Beatriz Ribeiro ocupou a Cadeira n. 6, até 16 de junho de 2010, apesar do seu decesso ter ocorrido a 30 de março de 2004. O IHGP só veio a tomar conhecimento oficial de seu falecimento, em maio de 2010, quando o cuidadoso pesquisador Adauto Ramos concluiu investigação sobre sua vida.  Assim, 74 anos depois, tomo posse na Cadeira n. 6 deste IHGP centenário, como seu segundo ocupante. - Posso ou não pensar também em vida longa?

Entre os principais veículos e títulos encontrados com a especial colaboração do historiador Adauto Ramos, destacamos:

Artigos publicados no jornal A União:

1. Discurso da Oradora dos Concluintes da Escola Normal, ano de 1932 – Jornal A União, edição de 27-29 de novembro de 1932; 2. Uma Assembléia Agitada, jornal A União, edição de 17 de setembro de 1933; 3. A Mania do Gerôncio, jornal A União, edição de 01 de outubro de 1933; 4. Uma história chinesa de amor - Jornal A União, edição de 12 de novembro de 1933; 5. A lenda das estrelas, jornal A União, edição de 26 de novembro de 1933; 6. Murmurações, jornal A União, edição de 04 de março de  1934; 7. Uma história banal, edição de 04 de março de 1934; 8. Uma aventura original, edição de 31 de maio de 1934; 9. Sobre a Associação Paraibana pelo Progresso Feminino, edição de 19 de junho de 1934; 10. Palavras do coração, edição de 22 de julho de 1934; 11. Discurso de Posse no IHGP, jornal A União, edição de 25 de agosto de 1936.

 

 

 

Artigos publicados na Revista Illustração:

 

1. Semana de Penitência, Ano I, Nº 2, João Pessoa, em 30 de abril de 1935; 2. Moleque de Rua, Ano I, Nº 4, em 30 de maio de 1935; 3. Destino, Ano I, Nº 11, em 30 de setembro de 1935; 4. Burocracia - Ano I, Nº 16, em 15 de dezembro de 1935; 5. Mamãe Parahyba - Ano I, Nº 17, em 30 de dezembro de 1935.

Neste mesmo veículo, foram também publicados os artigos intitulados: 1. Nossa Senhora das Vaidades; 2. Pensamento Vagabundo; 3. João Batista; 4. Rabiscos; 5. Saudando “Illustração”; 6. Razões estomacais, cujas datas de publicação ainda não foram identificadas.

Em 1935, publicou no Annuário da Parahyba, Segundo Ano, p. 35-36, o artigo intitulado: Optimismo, Realidade etc, etc. Através do jornal A Imprensa, divulgou o artigo denominado: Departamento de Sericicultura, em edição de 18 de julho de 1933. O Departamento de Sericicultura da Secretaria Estadual de Agricultura de então, seria a instituição da qual Beatriz Ribeiro foi funcionária.

 

Sobre o Patrono da Cadeira n. 6 – Aníbal Victor de Lima Moura

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Aníbal Victor de Lima Moura (foto) bacharelou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Recife. Foi professor do Liceu Paraibano, das Faculdades de Direito, Ciências Econômicas e de Filosofia, Membro do Conselho Educação da Paraíba, Chefe do Departamento de História e Geografia da Faculdade de Filosofia e Letras, dentre outras destacadas funções.

Não foi a produção literária que transformou o patrono da Cadeira n. 6 em um notável do tempo em que viveu (1895-1963). Obra publicada, ele deixou apenas uma: As Lutas de Classe em Roma (6), tese com a qual prestou concurso para professor catedrático do Lyceu Paraibano. Esta obra foi publicada pelo jornal A Imprensa, em 1934, e relançada em 1995, em edição comemorativa do seu centenário de nascimento, por sugestão do Conselho Cultura, logo acatada pela Secretaria Estadual de Educação e Cultura. Por prerrogativa do cargo de Secretário de Educação, era presidente do Conselho de Cultura o professor Iveraldo Lucena da Costa. A coordenação da nova edição coube ao historiador e acadêmico José Octávio de Arruda Mello. Nada mais importante que este reconhecimento tenha partido de ilustres ex-alunos do professor Aníbal Moura.

A notoriedade alcançada pelo insigne mestre não provém somente do que escreveu. Está fundamentada no conjunto de qualidades humanas que reunia e o distinguiam como grande estudioso, humanista dos mais reconhecidos, docente por excelência e pedagogo ímpar. Iveraldo Lucena, na apresentação dessa edição comemorativa, nos pergunta: “qual homenagem maior se pode prestar a um homem se não proclamar que ele continua lembrado por suas idéias, seu trabalho e seus exemplos” (7).

O estudo As Lutas de Classe em Roma se caracteriza como um mergulho na tessitura social e política dos elementos que contribuíram para o apogeu e declínio da Roma antiga. O autor se debruça, instrumentado em aligeirada tonalidade dialética, sobre a história das lutas de classes nessa cidade-estado, à busca da explicação de suas origens, papéis, antagonismos, confrontos, conquista de igualdade de direitos, não deixando de explorar a contribuição de vetores como: guerras, crenças religiosas, poder econômico, hegemonia política e outros.

A propósito do livro As Lutas de Classe em Roma e do cidadão Aníbal Moura, recomendo a leitura da edição comemorativa que, além dessa obra, reúne estudos realizados por eminentes nomes deste IHGP: A Vida funcional de Aníbal Moura, de autoria de Hélio Zenaide; Aníbal Moura – No centenário de um tipo inesquecível, de José Octávio de Arruda Mello e Agradecendo uma homenagem, de Cláudio Santa Cruz Costa.

Estes trabalhos são riquíssimos e de atraente leitura, mas destaco o de José Octávio como magistral. José Octávio, aluno de Aníbal Moura em várias ocasiões, no Lyceu Paraibano e na Universidade, demonstra e contextualiza em demorado estudo que classifico como de cunho psico-sócio-historiográfico, um profundo conhecimento de traços da alma, caráter, personalidade e capacidade de trabalho de Aníbal Moura, revelando que por trás do homem simples estava o humanista consistente, o docente por excelência e uma figura humana ao mesmo tempo severa e doce.

É certo que o patrono e a ocupante da Cadeira n. 6 não deixaram produção literária vasta, mas foram ambos referências humanas, profissionais, intelectuais e culturais marcantes e de elevado conceito em seu meio, à época em que atuaram.

 

 

A Geografia que me trouxe ao IHGP

 

É a que resulta do meu trabalho como geógrafo e como professor de diversas disciplinas desse curso. Minha produção intelectual já foi generosamente abordada pelo fraterno amigo, historiador Humberto Fonseca e está relacionada na plaquete que pretendo distribuir. Aduziria, no entanto, que em grandes linhas, essa contribuição está situada nos seguintes domínios: 1. domínio do aprofundamento do conhecimento espacial (paraibano), visando ao planejamento e desenvolvimento; 2: domínio dos estudos urbanos e regionais; 3: domínio do desenvolvimento científico e tecnológico; 4: domínio das relações universidade & sociedade.

À parte trabalhos realizados no âmbito de projetos institucionais de pesquisa, com freqüência, tenho direcionado meus objetos de estudo para as questões urbanas, do cotidiano e aparentemente banais, das quais são exemplos principais: A nova onda no transporte urbano (8); A cidade recortada; Às vezes tem boi na linha da questão cidade-campo; Traços de rurbanização na Meruoca (9).

Tenho dado preferência à abordagem de questões da geografia humana, mais voltadas para o que está em curso, como resultado das relações homem-meio-natureza, como se meu mais importante instrumento metodológico fosse uma câmera fotográfica, um flash, uma cena e não um arquivo estático, uma película inteira, ou um cenário, sempre na perspectiva de captar o cotidiano e de mostrar que qualquer assunto pode se transformar em objeto de estudo, desde que a ele se dê tratamento científico consistente. Na verdade, “não há objeto nobre, nem objeto indigno da ciência”, como afirma Franz Boas (10). E, ademais, penso que o geógrafo deve cada vez mais estar convencido de que ao observar a cidade tem que, inevitavelmente, olhá-la segundo o espírito repassado por Ítalo Calvino (11), no qual esta “deixa de ser um conceito geográfico para se tornar o símbolo complexo e inesgotável da existência humana”, portanto aberto aos mais diferentes enfoques e interpretações.

 

Senhoras e Senhores, Confrades e Confreiras, feito este longo arrazoado, quero ressalvar que estou me sentindo em situação bastante confortável com relação à Cadeira n. 6, em decorrência de curiosidades que observei. - Primeiro, parece que tudo o que se refere à Cadeira n. 6 soa longevo. O Professor Aníbal Moura, só em vida, exerceu um patronato de 37 anos, de 1946 a 1983, ano do seu falecimento. Beatriz Ribeiro ocupou-a por 74 anos, de 1936 a 2010. Certamente, poderei também pensar em vida longa! - Segundo, a Cadeira 6 tem em professores uma referência singular. Foi professor de carreira, o insigne Dr. Aníbal Moura. Beatriz Ribeiro da Silva formou-se professora pela Escola Normal da capital - Terceiro, nasci em junho como Beatriz Ribeiro, sou Moura como Aníbal, filho que sou de Vicente Siebra Moura. E por último, como o patrono, este novel ocupante da Cadeira n. 6 gosta que o chamem professor – professor Modesto Siebra, que é como se tornou conhecido.

 

Agradecimentos

 

Senhoras e Senhores, Confrades e Confreiras, com esta investidura, sem dúvida, realizo um sonho e um desejo pessoal. Penhoradamente, agradeço aos sócios que por anos estimularam minha candidatura: o ex-presidente Humberto Fonseca de Lucena, o historiador e acadêmico José Octávio de Arruda Mello, o pesquisador e atual presidente, Joaquim Osterne Carneiro. Sem o estímulo convincente destes admirados estudiosos, certamente, eu não teria dado o primeiro passo.

Quero expressar, também, preito de reconhecida gratidão aos sócios que me possibilitaram o passo seguinte, sendo, generosamente, signatários do requerimento de encaminhamento de minha candidatura, os historiadores: Itapuan Bôtto Targino, Carlos Alberto de Azevedo, Daniel Duarte Pereira, Nivalson Fernandes de Miranda, Ernando Luís Teixeira de Carvalho e José Octávio de Arruda Melo.

Por oportuno, quero igualmente agradecer aos sócios efetivos que, para a materialização desta admissão, me introduziram à Casa de Irineu Pinto, Ricardo Bezerra, Auxiliadora Borba e Itapuan Bôtto. E, por último, mas de forma não menos intensa, quero prestar profundo agradecimento a todos os sócios que, sufragando meu nome em recente eleição, trouxeram-me ao seu convívio.

Diante do exposto, não obstante as minhas limitações, quero dizer que tudo farei para dignificar e engrandecer a instituição à qual acabo de me consociar. Tenho a exata noção de que instituições como o IHGP se constroem no tempo pelas obras de seus integrantes, pelo respeito à sua imagem pública e crescem em razão de atitudes sociais e culturais definidas, mesmo que divergentes. Sei que instituições como o IHGP ao qual passei a pertencer têm fundamentos, projeto de futuro, freqüência habitual, sócios convergentes em torno de si e produção acadêmica. 

E aqui cabe até um juramento: estarei sempre zelando pela qualidade e forma integral de minha participação nesta Casa. Este é o meu discurso de posse. Muito obrigado!

 

Notas:

(1)    Veja o livro “100 Crônicas Escolhidas”, de Raquel de Queiroz, editado pela José Olímpio Editora, Rio de Janeiro, 2006, p. 105, 8ª Edição.

(2)     Veja o livro Horizonte Perdido, de James Hilton (1925), publicado pela Abril Cultural - São Paulo (1980).

(3)     O município de Itapipoca, situado no norte do Ceará, tem seu território formado por três zonas fisiográficas diferentes: litoral, serras úmidas e sertão. Cada uma dessas zonas apresenta características ambientas e climáticas que se diferenciam levemente, daí a denominação vulgarizada de “cidade dos três climas”.

(4)     Observa-se que, ao longo de sua história, o IHGP tem atuado de forma politicamente correta. A participação de mulheres como “sócio efetivo” é significativa e tem ocorrido desde os primeiros anos de sua criação. Atualmente, (dezembro de 2010) das atuais 50 cadeiras, 13 são ocupadas por mulheres. De acordo com dados reunidos por Balila Palmeira, as primeiras mulheres a Ingressarem no Instituto Histórico e Geográfico Paraibano como sócias efetivas, foram: Eudésia de Carvalho Vieira Jardim (1894-1981), médica, ocupou a cadeira n. 4, como patrono. Seu ingresso no IHGP ocorreu em 3 de maio de 1922; Alice de Azevedo Monteiro e Analice Caldas (1891-1945), professoras, tomaram posse no dia 19 de julho de 1936; Beatriz Ribeiro da Silva (1915-1974), professora, e Olivina Olivia Carneiro da Cunha (1892-1977), (filha do Barão de Abiahy, que dá nome à Rua deste Instituto), professora, tomaram posse no IHGP em 23 de agosto de 1936.

(5)     Como o estatuto do IHGP nada prevê sobre “renúncia”, certamente, os presidentes se valeram dessa omissão para não aceitar a desistência de Beatriz Ribeiro.

(6)     O livro As Lutas de Classe em Roma, de Aníbal Victor de Lima e Moura, foi publicado pelo jornal A Imprensa, em 1934 e relançado em edição especial pelo Conselho Estadual de Cultura, em novembro de 1995, sob a Coordenação de José Octávio de Arruda Mello e Aníbal Victor de Lima e Moura Filho. Essa edição é completada pelos seguintes trabalhos: A Vida funcional de Aníbal Moura, de autoria de Hélio Zenaide; Aníbal Moura – No centenário de um tipo inesquecível, de José Octávio de Arruda Mello; e Agradecendo uma homenagem, de Cláudio Santa Cruz Costa.

(7)     Veja Apresentação do livro “As Lutas de Classe em Roma”, de Aníbal Victor de Lima e Moura, edição comemorativa do Centenário de Nascimento, p. 9-10.

(8)     A Nova no Transporte Urbano - Mototáxi, Edições UVA, 144 p., 1997, Sobral (CE) é o primeiro livro publicado por Modesto Siebra Coelho, geógrafo, professor universitário e pesquisador, com o apoio da Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA.

(9)     A Cidade Recortada (conjuntos de artigos); Às vezes tem boi na linha da questão cidade-campo; Traços de Rurbanização na Meruoca são trabalhos que fazem parte do livro De Sobral ao Global - Um percurso pela questão urbana, publicado por Modesto Siebra Coelho, em julho de 2000, pelas Edições UVA, da Universidade Estadual Vale do Acaraú, Sobral, Ceará.

(10)  Franz Boas, físico que depois migrou para a antropologia cultural. Nasceu em Minden, na Alemanha, em 9 de julho de 1858 e morreu em Nova Iorque em 21 de dezembro de 1942.

(11)  O escritor Ítalo Calvino nasceu em 1923, em Cuba, onde seus pais, cientistas italianos, estavam em viagem.  Morreu, em 1985, como um dos mais consagrados escritores italianos. “As Cidades Invisíveis” é um dos seus livros mais conhecidos.

 

Sócios do IHGP

Número da Cadeira e Nome do Sócio

 


CADEIRA 01 - Osvaldo Trigueiro do Valle

CADEIRA 02 - Diana Soares de Galliza

CADEIRA 03 - Joaquim Osterne Carneiro

CADEIRA 04 - Flávio Sátiro Fernandes

CADEIRA 05 – Evandro Dantas da Nóbrega

CADEIRA 06 - Modesto Siebra Coelho

CADEIRA 07 - Guilherme d'Avila Lins

CADEIRA 08 - Marcus Odilon Ribeiro Coutinho

CADEIRA 09 - Maria José Teixeira Lopes

CADEIRA 10 - Regina Célia Gonçalves

CADEIRA 11- Carlos Alberto Farias Azevedo

CADEIRA 12 - José Nunes da Costa

CADEIRA 13 - Natércia Suassuna Dutra

CADEIRA 14 - Wellington Hermes de Aguiar

CADEIRA 15 - José Mota Victor (a tomar posse)

CADEIRA 16 - Reinaldo de Oliveira Sobrinho

CADEIRA 17 - Francisco Tancredo Torres

CADEIRA 18 - Glauce Maria Navarro Burity

CADEIRA 19 - Maria Balila Palmeira

CADEIRA 20 - Martha Maria Falcão Santana

CADEIRA 21 - José Romildo de Sousa

CADEIRA 22 - Rosa Maria Godoy Silveira

CADEIRA 23 - Maria de Fátima Gurgel

CADEIRA 24 - Joacil de Britto Pereira

CADEIRA 25 - José Octávio de Arruda Mello

CADEIRA 26 – Eurivaldo Caldas Tavares

CADEIRA 27 - Francisco de Sales Gaudêncio

CADEIRA 28 - Maria Auxiliadora Bezerra Borba

CADEIRA 29 - Adylla Rocha Rabelo

CADEIRA 30 - Waldice Mendonça Porto

CADEIRA 31 - Lúcia de Fátima Guerra Ferreira

CADEIRA 32 - Nivalson Fernandes de Miranda

CADEIRA 33 - Humberto Fonsêca de Lucena

CADEIRA 34 - Teresinha Pordeus

CADEIRA 35 - Daniel Duarte Pereira

CADEIRA 36 - Ernando Luiz Teixeira de Carvalho

CADEIRA 37 - Luiz Nunes Alves

CADEIRA 38 - Hélio Nóbrega Zenaide

CADEIRA 39 - Humberto Cavalcanti de Mello

CADEIRA 40 - (vaga)

CADEIRA 41 - Diana Martins (a tomar posse)

CADEIRA 42 - Otávio Sitônio Pinto

CADEIRA 43 - Adauto Ramos

CADEIRA 44 - Marcos Cavalcanti de Albuquerque

CADEIRA 45 - Dorgival Terceiro Neto

CADEIRA 46 - Itapuan Bôtto Targino

CADEIRA 47 - Péricles Vitório Serafim

CADEIRA 48 - Manuel Batista de Medeiros

CADEIRA 49 - Nelson Coelho da Silva

CADEIRA 50 - Ricardo Tadeu Feitosa Bezerra

 


João Pessoa (PB), 10 dezembro de 2010.