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RAÍZES DO REGIONAL

Luiz Hugo Guimarães *

 

Há, atualmente, uma tendência preocupante pela descoberta do regional. Os historiadores, de modo geral, durante muito tempo se dedicaram a estudar os episódios históricos de cada país num sentido mais generalizado. Mesmo ao dissertarem sobre acontecimentos significativos das regiões, o fizeram sem se preocupar com detalhes diminutos, aparentemente sem significação, de parte dos episódios descritos e estudados.

Recentemente é que se iniciou o estudo deliberado do regional. Antes dos historiadores, foram os cientistas sociais que procuraram abordar esse aspecto. Isoladamente, aqui ou ali, houve quem se preocupasse com o assunto.

Oficialmente, a matéria teve tratamento especial por ocasião da realização do XVIII Simpósio Nacional de História, de 24 a 28 de junho de 1995, na cidade do Recife, promovido pela Associação Nacional de História – ANPUH, ocasião em que se aflorou o tema HISTÓRIA E IDENTIDADES.

O Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, a partir de 1992, formulou programas de incentivo ao exame da identidade regional. Partimos de um movimento junto às Prefeituras Municipais da Paraíba, a cujos prefeitos sugerimos a criação de um Núcleo de História no âmbito de suas Secretarias de Educação e Cultura com o objetivo de cole-tarem dados para a feitura da história local. Chegamos a detalhar a organização de um núcleo com a participação dos Diretores de colégios e grupos, professores de história, o pároco, o juiz de direito, professores do campus universitário (onde existem) e intelectuais. Estritamente políticos, os prefeitos deram pouca importância à sugestão. Um ou outro, como o do município de Lucena, decretou a organização do Núcleo, e o resultado foi a História de Lucena.

 

Em 1999, o Instituto editou um trabalho – HISTORIOGRAFIA MUNICIPAL DA PARAÍBA – relacionando os municípios paraibanos que já tinha História, com base no acervo historiográfico do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. Serviu para acentuar as localidades ainda carentes de sua história. E oferecemos nosso apoio logístico.

Se não vingou naquela oportunidade, estamos agora revigorando nossa idéia.

A Universidade Federal da Paraíba, com quem nosso Instituto mantém convênios culturais e exemplar relacionamento, também tem se preocupado com o assunto.

Nossas confreiras Lúcia de Fátima Guerra Ferreira, Pró-reitora de Extensão, Rosa Maria Godoy Silveira, chefe do Departamento de História, e Martha Falcão, também daquele Departamento, têm se empenhado em objetivar a busca de nossa identidade regional.

Os trabalhos apresentados ao referido Simpósio pelas professoras Maria Helena Pereira Cavalcanti – HISTÓRIA LOCAL E IDENTIDADE MUNICIPAL, Maria da Vitória Barbosa Lima – OS PERIÓDICOS E A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE MUNICIPAL, Vanda Lúcia Araújo de Oliveira – A PESQUISA DE CAMPO E A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE MUNICIPAL, e Suelídia Maria Calaça – A PESQUISA BIBLIOGRÁFICA E A IDENTIDADE MUNICIPAL, são um destaque no interesse da nossa comunidade de historiadores pelo avanço das pesquisas regionais.

Dentro do nosso propósito, o Instituto lançou também a COLEÇÃO DE HISTORIADORES PARAIBANOS, pela qual já editamos 11 plaquetas abordando a vida e obra de nossos maiores historiadores já falecidos – Maximiano Lopes Machado, Horácio de Almeida, Celso Mariz, Elpídio de Almeida, Irineu Joffily, José Américo de Almeida, Cônego Francisco Lima, José Leal, Manuel Tavares Cavalcanti, Ademar Vidal e Pimentel Gomes. Nesses trabalhos despontam a cultura local, os traços episódicos de uma época, o comportamento urbano, enfim, registram a identidade local. Já estão em vias de publicação as plaquetas sobre Alcides Bezerra, Cônego Florentino Barbosa e Francisco Coutinho de Lima e Moura. A vivência dessas figuras nos oferece a feição da nossa realidade telúrica.

O tema central deste II Colóquio promovido pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro vem muito a propósito da pesquisa sobre nossas raízes regionais.

Aos Institutos, que regionalmente guardam a Memória do seu tempo, cabe a responsabilidade maior pelo desencadeamento desse estímulo a estudiosos e pesquisadora. Aos Institutos e às Universidades também, com as quais é salutar existir o maior intercâmbio entre nossas instituições.

Na Paraíba, essa convivência vem de longe. Data da fundação do Núcleo de Documentação e Informação Histórica Regional – NDIHR, da Universidade Federal da Paraíba, em 1976. Desse entrelaçamento resultaram: 1. a organização da nossa Biblioteca, com ênfase com a catalogação da nossa Coleção Paraibana e do nosso Arquivo Documental e seus Fundos Privados; 2. a edição de seis catálogos sobre o acervo de nossas Obras Raras, Jornais Antigos, Revistas Antigas, Arquivo Documental e Guia desse Arquivo; 3. a microfilmagem dos nossos jornais antigos.

Pertencem ao quadro social do nosso Instituto mais de uma dezena de professores da UFPB, alguns já aposentados, mas com o espírito universitário ainda vibrante no sentido de fazer a história regional.

Partindo, como partimos, do incentivo à história municipal, o Instituto hoje está engajado no estímulo ao estudo da formação dos bairros da capital. A Paraíba cresceu velozmente, como as demais capitais sujeitas ao êxodo rural. Os pequenos bairros de dez anos passados estão com 100 mil habitantes. É preciso já traçar sua identidade urbana, com suas ruas, suas famílias, seus equipamentos de lazer, sua vida noturna.

Desde quando Beaurepaire Rohan, como presidente da Província, iniciou a urbanização da capital, pouco ou quase nada se fez para essa identificação. Agora, são inúmeros os trabalhos nesse sentido, e alguns desses temas têm sido objeto de Mestrado.

Nota-se, nos dias atuais, uma grande preocupação pela urbanização como fator importante na história regional. As mudanças econômicas, sociais, simbólicas e territoriais do burgo aceleraram mudanças na sua fisionomia, sobretudo quando, no século XX, os problemas urbanos se incorporam à questão social com os agrupamentos de grupos diversos, tais como as favelas, os conjuntos habitacionais, etc. [1]


  Esperamos que, em pouco tempo, tenhamos uma radiografia dos nossos bairros, um corte transversal das comunidades periféricas, para obtermos feição completa da capital.

São os prognósticos do nosso Instituto.

 



* Era Sócio Efetivo do IHGP, sendo presidente de 1995 a 2009. Foi Vice-presidente do Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica, Sócio da APL, membro da Associação Paraibana de Imprensa e membro do Conselho Estadual de Cultura. Faleceu em 10 de outubro de 2009.

[1] Vê o trabalho de Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro in “Transformação Geofísica e Explosão Urbana” (BRASIL – Um Século de Transformações, org. de Ignacy Sahs et.alii. São Paulo: Cia. de Letras, 2001, p. 136 e segs.)

 

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