xmlns:w="urn:schemas-microsoft-com:office:word" xmlns:st1="urn:schemas-microsoft-com:office:smarttags" xmlns="https://www.w3.org/TR/REC-html40"> Luiz Hugo Guimarães: MEMÓRIAS DESPORTIVAS

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Memórias desportivas

          Luiz Hugo Guimarães

 

 

Como todo mundo, comecei a praticar esportes durante a infância. Lá pelos anos de 1932 minha mãe me matriculou numa escolinha que funcionava de lado da praça Venâncio Neiva, onde hoje há o prédio da Delegacia Regional do Ministério do Trabalho. Era uma casa adaptada para um jardim de infância, dirigida pela professora Alice Monteiro, cuja  maioria do alunado era feminino; as dependências da escola eram amplas, com um extenso gramado, que se estendia até uma cerca de arame,  aos fundos, demarcando um pequeno campo onde estava instalada  uma estação meteorológica, onde Aluízio Vasconcelos fazia as medições de temperatura e previsão de chuva para informar ao Ministério da Agricultura, no Rio de Janeiro.

            Durante o recreio a professora Alice organizava jogos entre os meninos e as meninas, e o jogo principal era um que chamavam de ordecan. Era parecido com o handebol de hoje. O curioso era que as meninas, lideradas por Maria Arminda Ribeiro, eram sempre vencedoras quando jogavam contra o time dos meninos.

            Comecei a jogar futebol mais seriamente quando ingressei no Liceu Paraibano, principalmente no ano de 1938, quando já cursava o 3º ano do Curso de Humanidades. Naquele ano houve um Campeonato Mundial, despertando em todos nós o maior interesse pelo futebol.

            Com Joacil Pereira e seu irmão Joás, e mais alguns colegas que moravam em Jaguaribe, organizamos um clube de futebol: O “Aurora Futebol Clube”. A sede do clube ficava no pátio da feira de Jaguaribe, defronte da Escola de Aprendizes e Artífices, área hoje ocupada pelo Centro Administrativo do Estado.

            O pai de Joacil Pereira, mestre Francisquinho, mantinha uma sapataria popular, fabricando calçados para vender na feira de Jaguaribe, com uma clientela bem razoável. Fabricava sapatos populares e fazia consertos, botando meia-sola para o pessoal das redondezas. A mãe de Joacil, Dona Bézinha (ela se chamava Isabel), vendia confecções trazidas do Ceará, na base de rendas e bicos.

            A meninada do Aurora Futebol Clube, num mutirão gigante, limpou o terreno desocupado que havia ao lado da sapataria de seu Francisquinho. Fincamos as barras e marcamos o campo fazendo umas valetas em seu redor. Ali realizamos grandes peladas. Para comprar camisas e bolas, e depois as redes da barra, estabelecemos uma mensalidade de um cruzado (quatrocentos réis). O tesoureiro era Joás, que era muito bronqueiro.

            Foi minha primeira participação organizada na vida esportiva.

            Quando o Liceu Paraibano se mudou para o novo edifício construído por Argemiro de Figueiredo, na subida da Lagoa, que tomou o nome de Instituto de Educação, intensifiquei minha atividade esportiva. Justo quando foi nomeado Walter Rabelo para professor de Educação Física do Liceu. Como eu e Veloso nos destacávamos como atletas, fomos logo convocados para guia dos exercícios de ginástica.

            Nessa fase comecei a praticar futebol, voleibol, atletismo e basquete. Com o incentivo de Walter Rabelo, o Liceu construiu uma quadra esportiva e um campo de futebol. Eu e Veloso passávamos a manhã e a tarde lá, praticando esportes.

            Joguei futebol pelo time do Liceu, mas também participei do Independente Futebol Clube, um time que treinava num campo existente em Jaguaribe, onde hoje fica o atual mercado e se realiza a feira do bairro, já ao lado da mata que se prolonga até o Buraquinho. O banho depois dos jogos era com a água dum poço existente ao lado. O Independente vez por outra fazia  excursões, tendo jogado em Natal, Guarabira e outras cidades. A turma era de jogar, mas era também de tomar umas e outras.

            No Liceu fui campeão de lançamento de disco e de dardo, tendo recebido um troféu oferecido pela professora Juventina Coelho, irmã do diretor José Coelho. Fui campeão de salto em altura num torneio entre os colégios da capital, competindo com Leovegildo Gama, pai de Gildo, do Flamengo, que representava o Colégio Pio X. Eu e o neguinho Natal representamos o Liceu, ficando Natal em 2º lugar. Em salto de distância não era bom, mas nosso colega Rômulo Flávio era campeão. Ele fazia parte da turma da rua da Palmeira, onde morávamos nessa época.

            O caminho natural era ingressar no Cabo Branco, tendo eu pleiteado entrar no clube como sócio atleta. Ali joguei como atleta de basquete no 2º time, juntamente com Zezito Soares, Honorato Junior e outros, quando os craques do 1º time eram Jorge Brito e Lemos.

            Tentei iniciar-me no tênis, que os clubes Cabo Branco e  Astréa incentivavam. Comprei raquete, camisa e sapatos apropriados e comecei. Não progredi; desisti logo.     

            Depois, como jogador de basquete, me inscrevi no Acadêmico, um time da Academia do Comércio que era dirigido por Célio Di Pace. Nesse time fui campeão de basquete em 1948, com um elenco composto de Jáder, Escorel, Adalberto, Costa, Maurício e Leovegildo.

            Na Associação Atlética Banco do Brasil participei dos torneios de vôlei e das peladas de futebol.

            Logo cedo comecei a participar do movimento esportivo como dirigente. Houve uma crise na entidade controladora dos desportos amadores, com o dirigente Trigueiro Lins pouco se interessando pelos campeonatos de basquete e vôlei. A Federação Atlética Paraibana foi fundada em 10 de fevereiro de 1949, em substituição à Federação Desportiva Paraibana, que Lins vinha dirigindo algum tempo,  passando aquele ano e o ano de 1950 totalmente apática.  Os clubes fizeram um movimento e dessa forma reestruturamos a Diretoria da FAP - Federação Atlética Paraibana. Representantes de vários clubes se reuniram na sede do Clube Astréa, na avenida Monsenhor Walfredo, 146, e consideraram acéfala a FAP, ocasião em que  fui eleito seu Presidente, no dia 30 de outubro de 1950.

            A primeira Diretoria ficou assim composta: Presidente: Luiz Hugo Guimarães; Vice-Presidente: José Fernando Leite; Secretário Geral: João de Almeida Albuquerque; 1º Secretário: Hermano Caldas; Tesoureiro: Maurício Cavalcanti de Albuquerque; Tesoureiro-adjunto: Orlando Galdino de Lima; Diretor de Esportes: Flávio Uchoa.      

            Como a FAP não tinha sede, as reuniões se realizavam na minha residência, à rua Rodrigues de Aquino, 25 (ao lado do Tribunal de Justiça), onde os representantes de clubes discutiam os problemas do esporte amador, sempre presentes o pessoal da imprensa, sendo mais assíduos Ivan Bezerra, Ivonaldo Corrêa, José Jacinto,  Barbosa e Archimedes Cavalcanti, que era um grande incentivador dos esportes amadoristas dando cobertura através do jornal “O Estado”, onde mantinha uma coluna esportiva.

            Em 1950 promovemos o campeonato de Basquete, patrocinado pelo jornal “O Estado”, tendo o Acadêmico Sport Clube sido o vencedor do torneio-início, que se realizou na quadra do Esporte Clube Cabo Branco, em Jaguaribe, recebendo a taça denominada João Minervino de Araújo.

            Os clubes que participaram desse campeonato foram: Humaitá, composto de oficiais do 15º R. I.; Montese, de sargentos do 15º R. I.; Cabo Branco; Astréa; Acadêmico Sport Clube e Atlético Sport Clube.

            A constituição desses clubes era a seguinte:

HUMAITÁ: Moura, Serpa, Martoreli, Epitácio, Ozanam e Pimentel;

MONTESE: Walmor, Lou, Waldemar, Arnaldo, Ponce de Leon, João, Lima, Coelho, Pontual, Araújo e Cunha;

ASTRÉA: Silvano, Barbosa, Durvanil, Veloso, Noca, Archimedes, Gilberto, Juarez, Lineu e Barbosa;

 CABO BRANCO: Edair, Júnior, Edmundo, Rubem, Adjamir, Sindulfo, Ranilson e Betinho;

ACADÊMICO: Adalberto, Humberto, Caldas, Jáder, Adônis, Beca, Newton, Walter, Thompson, Heriberto, Caldas e Ivonildo;

ATLÉTICO: Humberto, Morais, Elifas, Nórdio, Juarez e outros.

            Assim o reaparecimento do basquete ficou garantido por algum tempo e a quadra do Astréa passou a ser o local do campeonato, com a presença de grande público.

            Com a movimentação da oficialidade do 15º R. I., sempre sendo removida para outras unidades do país,  o Humaitá deixou de participar dos campeonatos, mas em 1952 ingressou a AABB com Patrocínio, Newton Pinto, Stélio, Fernando, Herivan, Zé Lima, Carioquinha, Paulo e o reforço de Durvanil e Haroldo, que não eram bancários. Com a Universidade funcionando, foi formado também o UNIVERSITÁRIOS, que contou com a presença de Juarez, Nicolau, Noca, Cáo, Jacinto, Macedo, Diógenes, Djair, Adônis, entre outros.

            O basquete deslanchou. A FAP então passou a cuidar do renascimento do voleibol. O prefeito Oliveira Lima restaurou a quadra do Parque Arruda Câmara e no dia 7 de setembro de 1952 fizemos realizar um torneio. O campeonato de vôlei começou com um torneio-início no dia 20 de setembro, com a participação dos  sextetos do Botafogo, Comercial, Astréa, Tambiá, Sport Voley e Municipal (que era o time da Prefeitura), saindo vencedora a equipe do Astréa.

            Em 1953 o voleibol continuou de vento em popa, tendo o Clube Esquadrilha “V” inaugurado sua praça de esportes em sua sede social, à rua São Miguel, com uma partida de  vôlei entre o Cabedelo e o Esquadrilha “V”, que foi o vencedor, recebendo a taça “Dorgival Mororó”. Era presidente do clube Djalma Toscano, que foi sucedido por José Bezerril, também um desportista interessado desde o tempo do “Ipiranga”, clube da rua da República, que disputou campeonato de futebol.

            A Federação Atlética conseguiu interessar o setor feminino, tendo em 27 de agosto de 1953 promovido no Astréa um concorrido amistoso entre os sextetos do Municipal e Esquadrilha “V”, saindo vencedora a equipe do Municipal, tendo, eu como Presidente da FAP, entregue um troféu à atleta Helena Xavier, capitã do Municipal Esporte Clube.

            O ano de 53 colocou em pé de guerra os aficionados do basquete, pois era nosso desejo participar do campeonato brasileiro que se realizaria em Belo Horizonte, tendo recebido um forte apelo do almirante Meira Martins, presidente da Confederação Brasileira de Basquetebol, incentivando-nos a participar pela primeira vez do campeonato brasileiro. Convocamos os atletas para a seleção, cujo treinamento ficou sob a direção do conceituado técnico do Astréa, desportista Orlando Bivana.  Convidamos o selecionado pernambucano para um amistoso. Entendi-me com o Presidente da FPDA, que era Baby Rosa Borges, e ficou tudo acertado para os dias 3 e 4 de outubro de 1953, na quadra do Astréa. Primeiro o selecionado pernambucano jogou contra o Astréa, vencendo por 66 x 30; no dia seguinte nosso selecionado não fez feio, mas perdeu por 30 x 25, tendo o selecionado da FAP jogado com Walter, Edmundo, Beca, Juarez, Rubem, Ranilson e Leonardo. Foi uma das melhores equipes que a Paraíba pôde organizar. A renda foi recorde: CR$ 2.225,00.

            Intensificamos os treinamentos do selecionado, mas lamentavelmente não pudemos participar do campeonato por falta de transporte.

            Fizemos o possível para conseguir um avião da FAB, para levar nosso selecionado; invocamos o prestígio do então ministro José Américo, que diligenciou junto ao ministro da Aeronáutica, sem resultado. Foi minha grande frustração não ter podido levar nosso valoroso selecionado para participar pela primeira vez dum Campeonato Brasileiro.

            A Diretoria da FAP chegou à conclusão que era preciso fundar uma Federação de Basquete, assim ela poderia ter maior força para os embates futuros. Aliás, sempre foi meu pensamento descentralizar da Federação Atlética Paraibana as diversas modalidades que controlávamos, por falta de alguém que se dispusesse a dirigi-las.

            Mas logo tivemos a criação da Federação de Basquete e, em seguida, a de Voleibol. A de Tênis veio muito depois.

            Um fato que considero muito auspicioso foi a introdução do futebol de salão, que surgiu nessa época com a vinda de um guarda rodoviário chegado do sul. Ele esteve numa reunião da Federação falando sobre a nova modalidade do futebol que estava surgindo no sul do país. Levou até um bola, feita de crina de cavalo. Demos a ele carta branca para iniciar o movimento. E o futebol de salão deslanchou com muita rapidez, sendo logo fundada sua Federação.

            Nesse meio termo fui eleito Presidente da Federação Paraibana de Desportos Universitários, fundada de 1951 para 52. Quando ingressei na primeira turma da Faculdade de Direito as escolas do ensino superior não tinham um organismo que congregasse seus desportistas. Assim, não podíamos participar dos eventos promovidos pela Confederação Brasileira de Desportos Universitários - CBDU. Era urgente a fundação dessa Federação. Como sempre vivi metido nessa movimento, foi muito natural minha escolha para a Presidência, que afinal a exerci até 1956, mesmo após minha formatura em 1955.

            Um dos grandes baluartes na Federação era o acadêmico José Gomes da Silva, que, como nosso representante junto à CBDU, conseguira se eleger membro do Conselho Fiscal da Confederação. Com suas amizades e seu prestígio na Confederação, conseguimos muitas vantagens para a nossa recém-fundada Federação, recebendo auxílio para participar dos campeonatos brasileiros.

            A representação desportiva paraibana participou de vários campeonatos brasileiros, saindo-se bem em algumas modalidades desportivas.

            Também estive metido na Federação Paraibana de Futebol, primeiro como membro do Tribunal de Contas, depois como Secretário Geral, na gestão do coronel Clodoaldo Passos Fialho. Era um saco de gatos. Tentei dar uma certa organização e austeridade à entidade. Em certa fase cheguei até a ser candidato a Presidente, não logrando êxito. A FPF envolvia, como ainda hoje, muitos interesses; havia alguns representantes de clubes que bagunçavam, apresentavam documentos falsos para registrar jogadores, furtavam documentos das pastas, perturbavam demais.

            Estive inscrito pelo segundo time de futebol do Botafogo e pelo primeiro time do Esporte Clube, um clube que era patrocinado pelo tabelião Carlos Neves da Franca. Carlos Neves procurava os jovens estudantes que começavam a despontar no futebol, convocando-os para o seu time, que ele considerava de elite. De fato, eram todos bem jovens. Como ele era o dono, a gente não tinha qualquer despesa. Camisa, calção, chuteira, tudo era de primeira e a gente treinava no campo do Cabo Branco, de onde quase todos eram sócios.

            Quando assumi a Secretaria Geral da FPF quis ver minha ficha. E lá estava ela, mostrada por Aluízio, representante do clube Red Cross, com minha idade alterada a fim de que pudesse disputar o campeonato de adulto. Coisas de Carlos Neves.

            Imaginei que essa prática era costumeira e meti chaves em todos os fichários. Talvez por ter tentado moralizar o setor da Secretaria não tenha sido bem absorvido meu nome para Presidente, tendo a maioria dos representantes dos  clubes filiados  votado em Giácomo Zaccara. Cai na besteira de dizer que ia moralizar a Federação. Verifiquei, depois, que foi meu grande erro. Logo houve uma crise. E a Federação voltou para as mãos de Genival Menezes, tradicional desportista que dirigiu várias vezes a Federação Paraibana de Futebol.

            Quando José Américo de Almeida foi Governador do Estado e o Secretário de Educação era Durmerval Trigueiro, fui nomeado membro do Conselho Regional de Desportos, tendo como companheiros Walfredo Marques, Franquinha, Giácomo Zaccara e Jamil Daher, que foi o Presidente. Tomamos posse no gabinete do secretário Durmerval, com a presença do prefeito Apolônio Miranda.

            Nessa fase, mantive uma coluna no jornal Correio da Paraíba sob o título “Fair Play”, escrevendo sobre assuntos esportivos.

            Quando exerci, por várias vezes e em épocas distintas, as diretorias do Cabo Branco, do Astréa, da AABB e do Botafogo sempre prestigiei o movimento esportivo, mesmo que não estivesse engajado em sua área. Dei minha modesta contribuição aos desportos paraibanos.

 

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