Francisco Coutinho de Lima e Moura

Escritor e Jornalista





Francisco Coutinho de Lima e Moura nasceu na capital da Província da Paraíba. Seus dados genealógicos são bastante escassos e até controvertidos.

O Monsenhor Eurivaldo Caldas Tavares, sócio do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, por ocasião do septuagésimo aniversário de fundação daquela instituição, lançou um uma plaqueta sobre aquela data e nela fez uma breve biografia dos sócios fundadores, entre os quais se encontra Francisco Coutinho de Lima e Moura. Nesse trabalho consta a data de nasci-mento de F. Coutinho como sendo 8 de abril de 1867, tendo ele falecido em Niterói, Rio de Janeiro, no dia 25 de fevereiro de 1957. Pela seriedade investigativa do Monsenhor Eurivaldo Tavares, louvamo-nos nesses dados.

Porém, na ata da sessão do Instituto datada de 30 de março de 1957, consta o registro de homenagem prestada por Rocha Barreto “ao sócio ten.-cel. Francisco Coutinho de Lima e Moura, por ter completado, a 10 de janeiro, o 1º centenário de seu nascimento (falecido no Rio, a 25.02.57).” O presidente Clóvis Lima registrou também o falecimento dos sócios Nicodemus da Costa Neves e general Álvaro Lopes Machado, tendo a sessão sido suspensa.

Na ata de 20 de maio de 1967, o presidente Humberto Nóbrega registrou “o centenário de nascimento de Francisco Coutinho de Lima e Moura, ex-sócio fundador, a 8 de maio ” (...).

Não foi possível localizar dados sobre sua filiação e sua consorte. Em suas REMINISCÊNCIAS ele fala numa filha de nome Marieta, nascida em Alagoa Grande, e de um filho.


Estudos


Fez seus estudos primários com o professor João Licínio Vellozo, consagrado mestre paraibano que dava aulas particulares. Estimulado pelo professor Vellozo, aos 16 anos de idade, Francisco Coutinho submeteu-se ao exame de Português no Liceu Paraibano, aproveitando-se da legislação da época que permitia exames parcelados. Na província havia então dois luminares na disciplina de Português: um, era o professor Vellozo; outro, era o professor Maximiano José Inojosa Varejão, que, além de lente de Português no Liceu Paraibano, mantinha um curso primário particular. Os dois eram concorrentes nessa área.

Relata Francisco Coutinho em suas REMINISCÊNCIAS que, por conta da disputa pela supremacia profissional, os dois professores viviam se porfiando. A idéia do professor Vellozo era fazer que seu aluno Coutinho fosse examinado pelo professor Inojosa para mostrar-lhe o preparo de seus pupilos. Por isso autorizou seu aluno a inscrever-se para o exame de Português no Liceu, conseguindo do incrédulo pai de Coutinho a autorização para sua inscrição no Liceu.

No dia da prova a sala de exames do Liceu ficou lotada, em face da divulgação dada ao fato. Tanto na prova escrita como na oral, Francisco Coutinho saiu-se brilhantemente, apesar de ter sido aprovado simplesmente, por conta do despeito do professor Inojosa.

Continuou os preparatórios no Liceu a fim de matricular-se na Faculdade de Direito do Recife, onde cursou durante três anos, trancando sua matrícula por falta de apoio financeiro. Em suas “reminiscências” consta a lista dos paraibanos matriculados no primeiro ano do Curso Jurídico da Faculdade do Recife, em 1904. Era grande o número de paraibanos que freqüentavam aquele importante estabelecimento de ensino superior. Naquele ano, ao lado de Francisco Coutinho, podemos destacar a presença de Leonardo Smith de Lima, João Navarro Filho, Geminiano Jurema Filho, José Lima Vinagre, Heretiano Zenaide, João Monteiro da Franca, Órris Soares, Eugênio de Figueiredo Neiva, entre numerosos conterrâneos.

Não se formou em Direito, mas, posteriormente, Coutinho foi autorizado a exercer as funções de solicitador de causas.


No Magistério


Sua vocação era o magistério. Foi professor primário na vila do Pilar, para onde foi nomeado interinamente pelo presidente da Província, Silvino Elvídio Carneiro da Cunha – o Barão de Abiaí –, em substituição ao professor Joaquim Ignácio Lima e Moura, que se encontrava doente. Em 1888, em Guarita, fez parte da comissão examinadora nos exames primários da primeira escola feminina da cidade, cuja professora era uma sobrinha de Albino Meira. Participou de várias comissões examinadoras, inclusive no grupo escolar Thomaz Mindelo.

Em 1890, Venâncio Neiva criou a primeira cadeira do primário do sexo masculino, em Cabedelo, e a ele deve sua transferência de São João do Rio do Peixe para aquela cidade, onde continuou exercendo o cargo de professor primário vitalício. Ali, o homem de prestígio era João José Viana, mais co-nhecido como Joca Pai Velho.

Naquele ano chegou àquela cidade portuária a primeira comissão de estudos do porto, chefiada pelo engenheiro hidráu-lico Emílio Joseph Autran. Autran convidou-o para ser seu secretário particular, naquela comissão. Coutinho não se fez de rogado, pois estava com nove meses de atraso nos seus venci-mentos de professor. Coutinho requereu ao Diretor da Instrução Pública sua exoneração do cargo de professor primário vitalício. O Diretor da Instrução Pública (equivalente hoje a Secretário da Educação) era o dr. Gama e Melo, que mandou chamá-lo e o advertiu do risco que estava correndo, indagando-lhe porque ele abria mão de um cargo vitalício conquistado por concurso. A explicação de Coutinho foi que tinha família para sustentar e não recebia proventos de professor há nove meses. Como a função a exercer dependia de verbas aprovadas pelo Congresso, Gama e Melo o advertiu que seria melhor pedir uma licença sem vencimentos. Coutinho, em suas reminiscências, considerou essa atitude o primeiro benefício recebido de Gama e Melo, de quem se tornou grande amigo e auxiliar, durante seu governo de 1896 a 1900.

A previsão de Gama e Melo aconteceu. Realmente, as verbas se esgotaram, tendo Coutinho deixado de ser Secretário da Comissão do Porto, reassumindo sua cadeira de professor. Em sua opinião, o engenheiro Autran era “homem ilustrado, descendente de pais franceses, formado pela Universidade de Montpellier, considerado um dos primeiros engenheiros hidráulicos brasileiros...” Coutinho afeiçoou-se tanto a ele que o convidou para seu padrinho de casamento.

Posteriormente, Francisco Coutinho foi nomeado professor do Liceu Paraibano no lugar do professor Inojosa, aquele que lhe argüira com rigor no exame de Português. O próprio Coutinho conta, no I volume de suas REMINISCÊNCIAS, o episó-dio dessa nomeação:


Eu entro na vida pública, e junto de um governo muito perseguido pelo governo Federal, tomo parte em todas as campanhas políticas, como oficial de gabinete, deputado do Estado e responsável político da“A União”.

Finda a luta, oito dias antes de deixar o governo, chama-me meu grande amigo, Presidente Gama e Melo e diz-me: - “o senhor expôs-se muito no meu governo; é pobre e tem grande família a sustentar e educar; é justo, portanto, que eu o deixe amparado. Vá ao dr. Inojosa e diga-lhe que mando saber o que é que ele quer para ceder a cadeira de Português do Liceu para o senhor.”

Cumprindo a determinação recebida, dirigi-me para a casa do dr. Inojosa e transmiti-lhe o que me havia dito o dr. Gama.

Em resposta, disse-me ele: - “estou ciente. Venha depois de amanhã receber a resposta.”

Era que, homem de partido, não podia resolver tal assunto sem ouvir ao seu chefe, o dr. Venâncio Neiva.

E da conversa que teve o dr. Inojosa com o seu chefe na presença de dois correligionários seus e nossos adversários rancorosos, eu tive notícia por pessoa amiga e penso não dever mencioná-la aqui em honra mais do sentimento do falecido dr. Inojosa do que de minha humilde individualidade.

Disseram-me assim que ao dar ciência ao dr. Venâncio da proposta do presidente, o dr. Inojosa fora descortesmente censurado por um dos correligionários presentes aludidos, que estranhava o dr. Inojosa se deixar substituir espontaneamente por um Coutinho.

Ofendido bruscamente, o dr. Inojosa, que era de uma altivez inaudita, repele a ofensa dizendo: - “o senhor manifesta-se assim pelo ódio partidário; enquanto que eu procedo conscientemente com justiça; e para justificar o meu ato basta dizer-lhe que quando ainda criança, aluno primário de Vellozo, foi submetido a exame de Português no Liceu e não pude espichá-lo.”

É competente e com capacidade bastante para ser um bom professor.

O venerando dr. Venâncio Neiva teria posto fim ao incidente dizendo: “você, Inojosa, está doente e cansado. Não perdemos a esperança de triunfo na política; portando entendo que você deve aceitar a sua jubilação com todos os vencimentos e tratar de descansar.”

E foi o que fez o dr. Inojosa aceitando a jubilação nas condições referidas e pedindo a nomeação do seu amigo particular dr. João Fernandes da Silva para a cadeira de História da Filosofia, criada pela reforma do Liceu Paraibano.

No dia seguinte A União publicava a execução da reforma com as nomeações vitalícias, autorizadas pela mesma, dos professores F. Coutinho de L. e Moura e dr. João Fernandes da Silva para a cadeira de História da Filosofia e a jubilação com todos os vencimentos do lente catedrático dr. Maximiano Jo-sé de Inojosa Varejão, a quem Deus haja em sua Santa Mansão juntamente com os meus queridos mortos.”


Em 1913, Coutinho já pertencia ao quadro funcional do Liceu como Preparador. Coutinho também foi lente da Escola Normal, onde lecionou no 1º ano de Aritmética; ensinou Geo-metria no “Club Benjamin Constant”, do qual foi fundador. A criação do Ensino Noturno, na administração Castro Pinto, contou com sua participação.

Ao jubilar-se no magistério paraibano foi fixar-se no Rio de Janeiro, onde exerceu a advocacia e o jornalismo, tendo depois voltado à terra natal, quando publicou seu 3º volume de REMINISCÊNCIAS, aos 80 anos

No Instituto Histórico


O Instituto Histórico e Geográfico Paraibano foi fundado a 7 de setembro de 1905, por iniciativa do Presidente Álvaro Lopes Machado, que lançou a idéia entre seus auxiliares. Já havia entre vários intelectuais paraibanos, muitos deles pertencentes ao Clube Benjamin Constant, uma propensão para criar uma entidade nos moldes do Instituto iniciado por D. Pedro II, no Rio de Janeiro. Entre os que amaciavam a idéia encontravam-se José Rodrigues de Carvalho e Irineu Ferreira Pinto.

Celso Mariz conta que foi “Álvaro Machado, no afan sorridente do primeiro ano de governo, aliás do seu segundo governo, quem alvitrou aqui a criação de uma sociedade que festejasse, para educação do povo, as grandes datas e os grandes nomes nacionais.” E informa que foi Francisco Coutinho de Lima e Moura quem, colhendo a deixa em Palácio, tratou de disseminar a idéia e desejo do governante. Celso Mariz registra que foi ele quem “tratou de contaminar cá fora os espíritos predispostos.”

Fundado o Instituto Histórico naquele 7 de setembro de 1905, na sala de congregação do Liceu Paraibano, Coutinho foi um dos 71 signatários da ata de fundação.

Na primeira sessão do Instituto, dia 10 de setembro daquele ano, ele integrou a Comissão designada para elaborar o estatuto da nova entidade, juntamente com Flávio Maroja, Castro Pin-to, João Machado da Silva, Irineu Pinto, João de Lyra Tavares e Manoel Tavares Cavalcanti.

A eleição da primeira Diretoria do IHGP ocorreu a 1º de outubro, sendo eleito Presidente Dr. Francisco Seraphico da Nó-brega, tendo o tenente-coronel Francisco Coutinho de Lima e Moura sido eleito Tesoureiro, com mandato até 1906.

Em abril de 1906, por ocasião da chegada do corpo embal-samado de Pedro Américo, que veio de Florença transportado pelo vapor “Alagoas”, Coutinho fez parte da Comissão encarre-gada dos preparativos para organizar a Câmara Ardente do ilustre pintor, na Matriz de Nossa Senhora das Neves.

Coutinho participou de todas as Diretorias do Instituto até o ano de 1926, conforme se segue:


1905/06 – Tesoureiro;

1906/07 – Reeleito Tesoureiro;

1907/08 – Membro da Comissão de Pesquisa e Tra-

balhos Históricos;

1908/15 – Tesoureiro;

1915/25 – Membro da Comissão de Sindicância e Con

tas.


Em setembro de 1909, fez parte da Comissão que se entendeu com os poderes públicos pleiteando para que o Instituto fosse reconhecido de Utilidade Pública. Da Comissão fizeram parte Irineu Pinto, autor da proposta, e Francisco Xavier Júnior. Os entendimentos lograram êxito, pois a 22 de outubro daquele ano, o Presidente João Lopes Machado considerou o IHGP como de Utilidade Pública, sancionando a Lei nº 317, cujo projeto foi de autoria do consócio Rodrigues de Carvalho, então deputado estadual.

Coutinho era um dos sócios preocupados com a necessi-dade do Instituto possuir sede própria, pois vivia sempre mu-dando de endereço, ora reunindo-se no prédio da Biblioteca ou do Liceu Paraibano, ora na Assembléia Legislativa. Francisco Coutinho chegou a sugerir que se tomasse um empréstimo de dez contos de réis na Predial Beneficente, uma sociedade que financiava construção de casas. Foi ele quem, em 1921, sugeriu que se providenciasse a feitura do Diploma de Sócio, uma vez que a concessão do título se limitava a uma simples comuni-cação por ofício.

Durante a realização pelo IHGP do VII Congresso Brasi-leiro de Geografia, em 1922, nesta capital, Coutinho fez parte da Comissão Técnica organizadora do Congresso, o qual obteve êxito nacional.

Sua atuação cessou nos anos posteriores, pois foi radicar-se no Rio de Janeiro, quando entrou em fase de ostracismo polí-tico. Em 1930, estava em Niterói, Rio de Janeiro, onde era hóspede da “Pensão Almeida”, quando soube da morte de João Pessoa.

Um fato curioso ocorreu por ocasião da eleição para a Diretoria do Instituto Histórico a fim de cumprir o mandato de 1937/38. Coutinho foi aclamado para presidir à assembléia eleitoral. Havia dois candidatos à Presidência: Coriolano de Medeiros e Maurício de Medeiros Furtado. O resultado da votação foi empate. O estatuto do IHGP era omisso nesse caso. Coutinho, como presidente da assembléia, decidiu em favor de Coriolano de Medeiros por ser ele mais idoso. Coriolano, cinco meses depois, renunciou o mandato; os associados do Instituto então elegeram Maurício Furtado para substitui-lo. Coisas de Coriolano.



Na Vida Pública


O ingresso de Francisco Coutinho de Lima e Moura no serviço público se deu como professor interino na vila do Pilar, depois se tornou professor primário vitalício.

Foi colaborador da Fazenda da Província. Era funcionário da Repartição Geral dos Telégrafos, onde exerceu o cargo de telegrafista de 4ª classe; chefiou a Repartição de Alagoa Grande durante 11 meses, tendo sido ele próprio quem instalou a apare-lhagem de transmissão daquela localidade; serviu interinamente, durante 15 dias, em Mamanguape, substituindo o chefe Honório, que se encontrava doente.

Ocupou o cargo de Mordomo do Cemitério do Senhor da Boa Sentença, nomeado pelo Governo do Estado, quando este, à época, era controlado pela Santa Casa da Misericórdia. Em 2 de julho de 1900 assumiu a direção do Hospital Santa Isabel, recebendo o cargo do tenente Agripino Nazareth.

Em 1899, nas eleições de 30 de novembro, foi eleito depu-tado para a Assembléia Legislativa Estadual, como representan-te da capital, com 8.968 votos, ocupando o 25º lugar na votação. A Assembléia era constituída de 30 deputados.

Seu prestígio era decorrente da amizade com o então Presidente Antônio Alfredo da Gama e Melo (1896/1900), de quem foi oficial de gabinete.

Em 1912 foi designado pelo Presidente Castro Pinto para fiscal da eleição dos Conselheiros de Araruna, com o objetivo de tentar uma conciliação entre os pretendentes daquela cidade ao Conselho Municipal. O espírito do governo Castro Pinto era de conciliação e harmonia da família paraibana, ideário que o frus-trou, levando-o a renunciar seu mandato em julho de 1915. Os contendores em Araruna eram adversários ferrenhos, de difícil acomodação. Disputavam a hegemonia política os Targinos (padre Francisco Targino Pereira da Costa e seu irmão Pedro), os Rocha e os Amâncios. O padre Targino era adversário do padre Joel Esdras Lins Fialho. A situação era difícil para uma conciliação. Sua missão foi um fracasso, apesar de todo o apoio dado por Castro Pinto e as diligentes soluções apresentadas por Francisco Coutinho. O governo chegou a enviar uma patrulha de policiais para garantir as reuniões, tal a exaltação dos interessados.


Presença Atuante


Francisco Coutinho de Lima e Moura era uma figura sempre presente a todos acontecimentos da comunidade. Partici-pava de todos os atos cívicos, comparecia a solenidades cole-giais, tomava parte em inaugurações, freqüentava os clubes so-ciais, manifestava-se nas sessões culturais. Não se acomodava, era de uma inquietude visível, a ponto de chamarem-no de coronel “Ventania”.

Freqüentava o “Instituto São José”, do padre José Couti-nho; metia-se com os livreiros da cidade, particularmente com José Cavalcanti; participava do júri da capital, e como jurado certa vez foi designado, em cima da hora, para funcionar como promotor, na ausência do titular; em uma visita ao Grupo “Duarte da Silveira”, discursou para alunos e professores, quando era sua diretora a professora Sílvia de Pessoa. Nessas reuniões sempre dava sugestões.

Em 7 de setembro de 1905, foi o arauto da fundação do Instituto Histórico; na posse de Castro Pinto, depois da passeata de 1.200 crianças, levantou a idéia da fundação da Assistência e Defesa da Infância Desvalida, que foi criada e depois transfor-mada em Policlínica Infantil, nesta capital; em Alagoa Grande, nas comemorações da passagem do centenário da fundação do Império do Brasil, promovidas por ele, sugeriu a criação do “Hospital Centenário”, que ali foi fundado. Propugnou pela cria-ção do Tiro de Guerra Paraibano e outras instituições paraibanas.

Walfredo Rodrigues registra a presença de F. Coutinho em muitas ocasiões especiais.1

No início da construção da ferrovia para Tambaú, em 16 de outubro de 1905, quando da apresentação da planta do traçado, no sítio “Cruz do Peixe”, presentes autoridades, lá se encontrava o tenente-coronel F. Coutinho. Na visita à Paraíba do Ministro Plenipotenciário do Chile, Dr. Francisco J. Herboso, Conde de S. Miguel de Carma, em 8 de maio de 1909, lá estava F. Coutinho representando o Tiro Paraibano, ao lado de Rabelo Jr., Gustavo Falcão, João Peixoto e Rômulo Pacheco. Nos desfiles do dia dedicado aos militares durante as Festas das Neves, a Guarda Nacional formava garbosamente, sob o comando do coronel Manoel Joaquim de Souza Lemos, e o tenente-coronel F. Coutinho estava à frente, com sua farda de gala, juntamente com o major Artur Aquiles dos Santos, major Carlos Coelho de Alverga e muitos outros. No veraneio da Praia do Poço, F. Coutinho não se cansava de falar patrioticamente sobre o Tiro Paraibano. Foi também fundador do Orfanato D. Ulrico.

Ele estava em todas.


Tenente-coronel


Quando se falava em Francisco Coutinho de Lima e Mou-ra antecipava-lhe sempre o título de tenente-coronel. Foi assim que o conheci no jornal A União. Quando nos dirigíamos a ele até o promovíamos, chamando-o de coronel.

Francisco Coutinho adquirira a patente da Guarda Nacional, instituição criada em 1831 pelo Imperador D. Pedro II, e extinta em 1910. A patente era concedida a figuras de prestígio, naturalmente por indicações de ordem política. A maioria dos chefes políticos do interior possuía essa patente superior.

Mas, a lei que instituiu o Exército de 2ª linha da Reserva permitiu que os oficiais superiores da antiga Guarda Nacional que quisessem, poderiam ser transferidos para essa nova reserva do Exército, desde que fossem submetidos a exame de capaci-dade de comando.

Francisco Coutinho era então presidente do Tiro Parai-bano, organização que criara no nosso Estado. Por conta dessas funções mantinha contato com o então Comandante da Região, general Joaquim Inácio Batista Cardoso, a quem pediu per-missão para participar das manobras da Região a serem execu-tadas em Floresta dos Leões, em Pernambuco. O objetivo era participar como candidato àquele exame permitido pela lei. Obtida a permissão, Francisco Coutinho partiu daqui acostado ao 49º Batalhão de Caçadores, comandado pelo então major Adolfo Massa.

Durante oito dias se processaram as manobras, com a par-ticipação das unidades de Pernambuco e Rio Grande do Norte.

Em suas REMINISCÊNCIAS, Coutinho conta os óbices que enfrentou, inclusive as tramas armadas por seus inimigos politícos para que ele não conseguisse sua inclusão na 2ª Linha da Reserva.

Mas Coutinho foi aprovado no exame, tendo sua patente de tenente-coronel sido firmada pelo Presidente da República e dois ministros do Supremo Tribunal Militar. A apostila assinada pelos militares acima transferia o tenente-coronel Francisco Coutinho de Lima e Moura para o Exército de segunda linha; não era mais da Guarda Nacional, título a que, depois de certo tempo, não se dava a antiga importância.

Quando esteve em Niterói, exerceu por algum tempo a condição de correspondente da 2ª Circunscrição de Recrutamento na 17ª Zona da C. R., em Japuíba, tendo sido elogiado com louvor ao deixar aquelas funções, em pronunciamento do tenen-te-coronel Luiz Gonzaga Fernandes, chefe da 2ª C. R.


Tiro Paraibano


Francisco Coutinho de Lima e Moura foi o criador do Tiro Paraibano, centro de instrução militar e formação de reservistas do Exército destinados aos cidadãos, que por alguma razão, não se interessavam em ser incorporados às unidades militares regulares.

Como Coutinho se metia em todos os movimentos que surgiam na cidade, ei-lo à frente de corporação militar.

Foi o Rio Grande do Sul que iniciou a organização do Tiro Brasileiro, com a denominação de Confederação de Tiro Brasileiro, logo depois transferida sua sede para a capital da Repú-blica, pelo Decreto nº 7.350, de 11 de março de 1909, passando a funcionar numa sala anexa ao gabinete do Ministro da Guerra, Marechal Hermes Rodrigues da Fonseca. Assumiu a Direção da Confederação Elysio de Araújo, que imediatamente expediu telegramas e circulares à imprensa, aos inspetores das Regiões Militares e presidentes dos Estados estimulando-os a criarem sociedades de tiro.

A idéia, na Paraíba, foi lançada no governo do Presidente José Peregrino de Araújo, segundo relata Francisco Coutinho em suas Reminiscências. Diz ele que foi feito um pic-nic de propaganda para a fundação do Tiro Paraibano, com material fornecido por um dos muitos rapazes de vários Estados que para aqui vinham fazer seus preparatórios no Liceu Paraibano. Esse ex-aluno, quando era tenente no Rio de Janeiro – tenente Fournier -, enviou-lhe o material necessário. Coutinho considerava-se um fanático das classes armadas e, em conversa com o comandante George Americano Freire, da Escola de Aprendizes Marinheiro, recebeu o desafio para organizar o Tiro. Teria lhe dito o comandante Freire: “Por que não funda o sr. com seus amigos o Tiro Brasileiro que está fazendo sucesso no R. G. do Sul?” Ao responder-lhe que não conhecia a instituição, o comandante ofereceu-lhe o livro de Antônio Carlos Lopes, intitulado TIRO BRASILEIRO, com uma dedicatória datada de 12 de junho de 1905.

Quando regressou do Rio com o material fornecido pelo tenente Fournier e outros elementos fornecidos por seu irmão capitão Joaquim Coutinho de Lima e Moura, o pic-nic foi feito e o Tiro foi fundado “na Várzea do Riacho, defronte do Matadouro desta Cidade, a linha de tiro do Tiro do Clube da Guarda Nacional, o qual funcionava na antiga sede da Assembléia Legislativa, por cima do Liceu Paraibano, tendo como Presidente o venerando General Bento Luiz da Gama...2

No pic-nic que Coutinho registra, por ocasião do acan-tonamento da turma, Francisco Paulino de Figueiredo gravou numa frondosa árvore em frente à igrejinha das Graças a data 12/10/1908.


Grupo fundador do Tiro Paraibano reunido em pic-nic na Fazenda Graças


Elysio de Oliveira, no seu relatório ao Ministro da Guerra,3 informa que o Tiro Paraibano, da categoria de 2ª classe, fora registrado sob nº 37, em 10 de janeiro de 1910, com 190 sócios, registrando “que mantinha os cursos de tiro e evoluções e tinha em organização uma companhia de atiradores, sofreu ultimamente dois fortes abalos, com a retirada sucessiva de dois grupos de sócios dedicados à causa do tiro, em virtude de terem sido esses pertencentes à sua companhia de atiradores, promovidos a oficiais da guarda nacional”.

Nessa oportunidade, o Conselho Diretor do Tiro Paraibano era constituído dos srs.: Presidente, Dr. Rômulo de Magalhães Pacheco; vice-presidente, Dr. Alfredo Cordeiro Galvão; diretor de tiro, 1º tenente Álvaro Evaristo Monteiro; secretário, Diony-sio Vieira Dantas; tesoureiro, Eduardo de Azevedo Cunha; vo-gaes: Dr. Antônio Rabello Filho, Major Henrique de Almeida, Joaquim Barbosa, Armando Monteiro e Porfírio Pinto Ribeiro; representante da V Região Militar, capitão Antônio Ferreira Dias.

Provavelmente, depois duma crise na organização, Couti-nho foi eleito Presidente, tendo lançado uma proclamação em 14 de janeiro de 1917, quando assumiu aquele cargo.

Quando ingressei no Liceu Paraibano, em 1936, ano do centenário daquele estabelecimento, encontrei o Tiro de Guerra ali sediado, cujo armamento era guardado numa saleta existente no final da espaçosa alameda térrea, próxima à escadaria que dava acesso ao primeiro andar. Seu instrutor era o então tenente Ciraulo.


Na Imprensa


Foi um jornalista militante. Colaborou em vários jornais da Paraíba. Estava entre os primeiros colaboradores do jornal A UNIÃO. Foi gerente da Imprensa Oficial e durante o governo Gama e Melo era o jornalista político do jornal, uma espécie de porta-voz do governo. Muitas vezes – conta ele – ia a Palácio para apanhar o artigo do Presidente Gama e Melo

Trabalhou no O Jornal, de João da Matta Correia Lima, donde também foi gerente. Muito ligado a João da Matta, muitas vezes ia à sua residência para apanhar matéria para o jornal, e não raro João da Matta ditava para ele o artigo a ser publicado. Escreveu na revista Manaíra, dirigida por Wilson Madruga e Alberto Diniz, na época em que dela participei. Também escreveu na A Imprensa.

Fui encontrá-lo na A União, em 1941, ano em que ingressei naquele jornal. Durante anos Coutinho vinha escrevendo suas reminiscências, posteriormente transformadas em livros. Idoso, mas firme, de uma magreza saudável. Minha última lembrança de Francisco Coutinho foi no Cassino da Lagoa numa festa de confraternização reunindo o pessoal da redação e das oficinas de A UNIÃO, à frente Octacílio de Queiroz, que era o então secretário do jornal, cuja foto guardo como relíquia. Aliás, essa foto será publicada no meu livro de memórias – CRÔNICA DO TEMPO DISTANTE – que lançarei brevemente pela A UNIÃO – EDITORA.

Coutinho levava sua crônica e lia com grande entusiasmo na redação, onde todos paravam para ouvi-lo. A mesma coisa fazia Silvino Lopes, tempos depois. Às vezes eu desconfiava que os cronistas não envelhecem.


As “Reminiscências” de Francisco Coutinho


O Cônego Mathias Freire, sócio do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano e fundador da Academia Paraibana de Letras, sobre Francisco Coutinho de Lima e Moura escreveu o seguinte, adotando seu pseudônimo de Mário Dalva:


Meio século de historietas bem narradas, de anedotas risonhas, de crônicas fidedignas, de comentários finos, tudo vasado em estilo simples, com essa despreten-ciosidade e esse coração nos lábios, que constituem um dos melhores encantos da fisionomia moral e das letras do autor.

Quando Órris Barbosa foi diretor de A UNIÃO, Coutinho escrevia suas crônicas e ficava horas remendando o escrito, descendo-o para os linotipistas, que o devolviam para a Revisão. O jornalista Órris, em uma apreciação no jornal A UNIÃO de 21.08.1938, sob o título “Um Semeador de Alegrias”, assim se refere a Francisco Coutinho:


Em Coutinho há qualquer coisa de Bernard Shaw, principalmente esse desafio à velhice, que lhe dá uns ares de semeador impenitente da alegria e bom hu-mor.


E Álvaro de Carvalho:


No gênero, v. pode e deve encher volumes. Para os que envelhecem, o passado é tudo, e o presente, quase nada. As suas “Reminiscências” não são apenas uma coleção de aquarelas ou fotografias, apanhando os contornos rígidos das cousas: são flagrantes da vida provinciana, da vida real, vivida num meio modesto, onde os indivíduos guardavam, por força das circuns-tâncias a encantadora originalidade dos que não bus-cam, na exibição dos talentos que possuem, duvidosa entrada para a história ou a conquista precária de notoriedade passageira.


No prefácio do volume II, Reminiscências – Figuras e Fatos da Paraíba, o cônego Francisco Lima, após longas considerações sobre o trabalho de Coutinho, conclui assim:


As “Reminiscências” do cel. Coutinho constituem a clâmide platinada que guardará sem fim para os pósteros a recordação da velha Paraíba de Gama e Melo e de Padre Meira; da panelada de Maria Vinte e do arroz doce da Raimunda dos “Dois Caminhos”; dos balões parafusos de José Serrano e do violino de Plácido César.


Murat, pseudônimo de José Faustino Cavalcanti, também no jornal A UNIÃO, verseja nove quadrinhas apreciando o traba-lho de Coutinho, concluindo na última quadra:


Que ao lê-lo me fez voltar

Ao tempo da mocidade,

Para depois me deixar

Quase morto de saudade!


Higino Brito, Duarte de Almeida, Eudes Barros, Ernani Batista, Jáder Lessa, Durwal de Almeida, Camilo de Holanda, Cônego João de Deus e outros tantos intelectuais se manifestaram elogiosamente sobre as Reminiscências de F. Coutinho de L. e Moura.

Em agradecimento aos elogios do jornalista Jáder Lessa, no III volume de sua obra, F. Coutinho lhe proporciona uma série princípios basilares de comportamento, reflexo de sua própria conduta. Vale a pena transcrever seus “conselhos” a Jáder Lessa: 4


... Fuja das rodas onde os pratos prediletos sejam a maledicência com pornografia. Construa, quando puder e o mais breve possível, o seu lar para ter em sua companheira o Cyrineo de que precisa para a travessia da vida.

Lembre-se de que o álcool tem sido o inimigo terrí-vel da classe, roubando vidas preciosas.

Tenha coragem para sofrer, com resignação, as in-justiças dos homens, lembrando-se do Poder Supremo que tudo vê.

Não mendigue favores, mas confie na justiça dos que sabem distinguir o joio do trigo, descobrindo o verdadeiro mérito onde quer que ele se oculte.

Tenha orelhas moucas para os falsos profetas entre os quais deve viver – “manso como pombas e ágil co-mo serpentes”.

Evite o contato das mãos que, como o carvão, não queimando, tisnam.

Não se preocupe, porém, o amigo com os espinhos que encontrar, pois são como que a poeira do caminho, que não lhe deve embargar os passos.

Cumpra sempre o seu dever, procurando servir com dedicação e lealdade a quem lhe merecer, não se tor-nando, entretanto, instrumento de ninguém.

Não conte com ajuda estranha, cousa falha e rara-mente eficiente; mas confie sempre em si próprio. Faça amizade com a pobreza para poder enfrentar, com al-tivez, a hora da adversidade.

Em matéria de dignidade pessoal não considere ninguém acima de si.

Despreze as ofensas ocultas e tenha em grande consideração a estima dos que o cercam.

Não lhes fascinem as falsas posições, que têm vida efêmera e o brilho dos relâmpagos. Seja sempre bondo-so para com os humildes. Não perca oportunidade para fazer o bem. Procura a roda na qual V. seja o último. Não queira ser o primeiro em cousa alguma. Lembre-se sempre de que “antes só do que mal acompanhado.


F. Coutinho transmitiu, nessa carta aberta ao jornalista Jáder Lessa Feitosa, seu estilo de vida. Foi assim sua conduta durante seus quase cem anos de vida. Nos estudos, no convívio social, no magistério, na imprensa, na vida pública. Simples, duma simplicidade majestosa. Alegre, duma jovialidade saúda-vel e permanente. Leal, na firmeza de suas convicções e amiza-es. Poderia dizer-se dele que seria o “belo homem”, na expres-são de Anatole France, sempre citada por Bôtto de Menezes nos seus entusiásticos discursos.


O historiador


O antigo sócio fundador do Instituto Histórico e Geo-gráfico Paraibano é sem dúvida um grande historiador, merecen-do figurar na nossa Coleção de Historiadores PARAIBA-nos.

Dir-se-á que apenas escreveu suas memórias. Não são somente suas memórias, são a memória da Província. São os acontecimentos que se passaram em seu derredor, dos quais foi partícipe ou espectador. Nos seus três volumes de REMINISCÊNCIAS estão fixados episódios da nossa vida política, ocorrências da vida social, registros do cotidiano. É a história que se renova, quando reapreciada.

Todo o acervo dos memorialistas hoje em dia é examinado como fonte da História. Eles têm concorrido para o restabe-lecimento da verdade histórica muitas vezes falseada.

Nos três volumes de REMINISCÊNCIAS encontramos traços de uma época distante. A descrição das festas da província e do fim do século XIX e começo do século XX nos mostram os costumes que aos poucos foram desaparecendo, e vão se modi-ficando: Festa de Natal, de Ano Novo e de Reis, Festa da Páscoa e Carnaval; Festa das Neves, do Carmo, do mês mariano e do São João e São Pedro; as festas cívicas; as procissões, os pasto-ris. Episódios pouco referidos estão fixados por quem deles participou ou assistiu ao seu desenrolar. Retrata tudo: a criação do Tiro Paraibano; a fundação do hospital Centenário de Alagoa Grande; a inauguração da água de Campina Grande por Arge-miro de Figueiredo; a chegada do corpo do pintor Pedro Améri-co, de Florença; o cerco da Estação de Ferro Conde d’Eu. Figu-ras populares e de proeminência são retratadas com suas virtu-des (Coutinho não falava mal das pessoas).

As crônicas enfeixadas em REMINISCÊNCIAS credenciam Francisco Coutinho de Lima e Moura a figurar na nossa lista de historiadores. Suas notas, suas historietas, suas narrativas estão confirmadas por seus contemporâneos e, investigadas, merecem o assentimento dos pósteros.

São três volumes de autobiografia e memória, e, como tal, fontes históricas, posto que o exame crítico do seu texto não encontra nelas notícias tendenciosas, mentiras ou exageros. Mesmo com certa cautela, não há como deixar de considerar seu trabalho como uma fonte aceitável. Seu conteúdo é útil, “para a visão de certos detalhes, de costumes e da vida social”, confor-me entende José Honório Rodrigues. 5

Está justificada, pois, a inclusão de Francisco Coutinho de Lima e Moura na nossa Coleção de Historiadores Parai-banos.






ICONOGRAFIA




Cronista e historiador Francisco Coutinho Lima e Moura na época de seu prestígio político.


F. Coutinho de Lima e Moura, tenente-coronel de 2ª Linha do Exército, aqui com a farda da Guarda Nacional



Escritor Francisco Coutinho aos 80 anos de idade

Capa do I volume do livro REMINISCÊNCIAS, de F. Coutinho de Lima e

Moura



Capas dos dois livros de Francisco Coutinho de Lima e Moura












1 RODRIGUES, Walfredo. ROTEIRO Sentimental de uma Cidade. João Pessoa. A UNIÃO – Editora, 2ª edição, 1994:186;217;234;268

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2 MOURA, F. Coutinho de L. Reminiscências, vol. 1º, João Pessoa, Im-prensa Oficial, 1938: 87.

3 ARAÚJO, Elysio de. Confederação DO Tiro Brazileiro, Rio de Janeiro, 1910.

4 MOURA, F. Coutinho de L. REMINISCÊNCIAS – Figuras e Fatos da Paraíba, vol. II, 1940:24/25.

5 RODRIGUES, José Honório. TEORIA DA HISTÓRIA DO BRASILIntrodução Metodológica, Cia. Editora Nacional, 5ª edição, 415/6.