Em artigo de colaborador escrevemos para o RHCG acerca dos Índios
Carirys que foram aldeados durante a colonização de Campina Grande.
Hoje, nossas pesquisas se voltam para a descrição desta nação
indígena que muito progresso trouxe para a Parahyba. Neste sentido,
nos valemos dos trabalhos produzidos por Herckman (1886), Joffily
(1892) e dos acervos do IHGP e IHGB disponíveis na internet.
Começamos anotando que este era um povo nômade e viviam da caça e
pesca, não praticavam a agricultura e diziam ter vindo de um grande
lago. Segundo Herckman: “_vagueiam, ora demorando-se em um sítio,
ora em outro. Na estação do caju, que é em Novembro, Dezembro e
Janeiro, descem às praias, porquanto pouco ou nenhum caju se encontra
muito para o interior. Assim regulam-se pelas estações do ano para
procurarem o seu alimento”_ (Descripção Geral da Capitania da
Parahyba: 1886).
Costumavam ocupar os lugares mais afastados da Capitania e visitar as
regiões inferiores do Brasil. E como podemos observar, recebiam
várias denominações: Carirys, Ariús, Tapuyas, Banabuyés,
Tarairyou, Caracara etc.
Os etnógrafos, no entanto classificavam-no como pertencentes “_a
um ramo diferente da família dos Tabajaras e Potiguaras_” (CLEROT:
1969). Denominados pelos desbravadores pelo epíteto de “_Gentios
Bravos_”, seriam os originários habitantes do brejo paraibano que,
segundo Reinaldo de Oliveira Sobrinho, seria bem provável que
fizessem parte de uma única comuna que povoou toda a Paraíba.
Primatas ferozes usavam armas e costumavam guerrear, sendo por isso
chamados de “_tapuias_” pelas outras tribos, palavra que significa
“inimigo” na sua língua-materna. O seu vocábulo tem a seguinte
origem:
“TAPOY (f. 131) Indiens – _Tapuya_, que explicam variavelmente.
Preferimos a interpretação de Burton, na introdução ao _The
Captivity of Hans Stade_, pags. LXX, nota: de _taba_ aldeia
e _puya_ fugir, isto é, os que fogem das aldeias, bárbaros,
selvagens, inimigos” (R.IHGB: 1927).
E continua Herckman a sua descrição:
“Este povo de Tapuyas é robusto e de grande estatura, os seus
ossos são grandes e fortes, a cabeça grande e espessa; a sua cor
natural é atrigueirada (_bruynachtich_), o cabelo é preto, e de
ordinário o trazem pendente sobre o pescoço, mas por diante até em
cima das orelhas cortam-no igualmente, o que faz parecer que trazem
um _bonnet_ sobre a cabeça. Contudo alguns deixam cortar todo o
cabelo ao modo dos da nação. Tem cabelo mui grosso e áspero”
(Descripção Geral da Capitania da Parahyba: 1886).
Andavam geralmente nus, excetos em algumas ocasiões. Vestiam-se para
festa e para a guerra, com penas de arara e outros pássaros. Cobriam
as partes íntimas com folhas de figueiras, sendo que os homens
prendiam o membro viril com um “atilho”. Eram imberbes e
arrancavam os pelos que teimavam em aparecer noutras partes do corpo.
Totalmente incultos, possuíam o seu “feiticeiro” a quem
consultavam quando iam sair em alguma incursão. Quando queriam passar
sinais de alegria ou contentamento o faziam por um berreiro
generalizado, cujo coro era seguido pelas mulheres.
O chefe ou rei era conhecido tão somente pelas unhas ou pelos
cabeços, em virtude de todos andarem nus. O cabelo do rei forma uma
coroa e trás em ambos os polegares as unhas compridas. Os Tapuias que
conquistaram o Rio Grande a serviço da Companhia das Índias
Ocidentais tinham por rei Janduí. O_Comatim _(filho do rei)
sucedia-lhe na direção da tribo.
Ágeis caçadores eram próprios para perseguir o inimigo em fuga,
sendo capazes de acompanhar um cavalo na corrida. Usavam armas feitas
de pau-brasil: lanças compridas e pontiagudas (da largura de uma
mão) em ambos os lados com calibre mais grosso ao centro da madeira,
além de arco e flecha e azagaias - que lançavam com precisão – e
pequenos machados com cabos compridos. Na sua formação não havia
ordem, pondo-se em guerra tomavam o inimigo desprevenido por sua forma
desorganizada.
Selvagens, não plantavam nem criavam viveres e comiam tudo sem
guardar coisa alguma. Eram capazes de comer em abundância e jejuar se
preciso. Não faziam casas para si, salvo o abrigo de alguns ramos
para escapar da chuva ou do sol ardente. À noite faziam grandes
fogueiras e estendiam suas redes.
As mulheres eram indistintamente mais baixas que os homens, tem
cabelos negros e compridos e andam igualmente nuas. São submissas e
serviçais aos maridos ao que for razoável, contudo não suportam o
adultério. Colocavam pauzinhos na face para indicarem serem casadas.
Antropófagos, comiam os próprios mortos. Diziam que _“o finado
não pode ser melhor guardado ou enterrado do que em seus
corpos”_(HERCKMAN: 1886).
Com o passar do tempo boa parte dos Cariris haviam sido banidos
deixando as férteis terras para os colonizadores, enquanto outros
passaram a viver em harmoniosa miscigenação.
Alguns foram catequizados pelos portugueses o que lhes fez alterar
muito de seus costumes. Estiveram no Pilar e foram trazidos para
Campina Grande. Segundo o ciclo de debates dos 500 anos do Brasil,
promovido pelo IHGP em abril de 2000:
_“O cacique dos ariús chamava-se Cavalcanti porque já era
batizado, e os próprios índios de sua tribo passaram a se denominar
de cavalcantis. Os cavalcantis ficaram no centro de Campina Grande,
enquanto os cariris ficaram na região de Esperança” _(IHGP:
2000).
Em Campina foram denominados de Ariús e em Esperança, receberam o
nome de Banabuyés em razão da data de sesmarias destas terras,
fixando-se nas proximidades do Tanque do Araçá.
_RAU FERREIRA_
Fonte:
- CLEROT, Leon Francisco R. 30 [i. e. Trinta] anos na Paraíba:
memórias corográficas e outras memórias. Editora Pongetti: 1969.
- EHRENREICH, Paul. 1905. Sobre alguns retratos de indios
sul-americanos. Revista do Instituto Archeologico e Geographico
Pernambucano, vol. XII, N. 65, p. 18-46.
- ESPERANÇA, Livro do Município de. Ed. Unigraf. Esperança/PB:
1985.
- IHGP, A Paraíba nos 500 Anos do Brasil. Anais do Ciclo de Debates.
João Pessoa/PB: 2000.
- JOFFILY, Irineu. Notas sobre a Parahyba. Ed. Typographia do "Jornal
do Commercio": 1892.
- NOVO TEMPO, Jornal. Ano IV, nº 23, Nov/Dez 95, Edição Especial
Comemorativa, p. 3. Artigo: “Esperança e seus primórdios”,
escrito pelo Dr. João de Deus Melo.
- R.IHGB. Glossário de Rodolpho Garcia. Tomo 94. Vol. 148. Ano 1923.
Imprensa Nacional. Rio de Janeiro/RJ: 1927.
- SOBRINHO, Pompeu. Os Tapuias do Nordeste e a Monografia de Elias
Herckman. Revista do Instituto do Ceará. Tomo XLII. Ceará: 1934.
- SOBRINHO, Reinaldo de Oliveira. Esboço de monografia do Município
de Areia. Coleção Arquivos Paraibanos. Imp. Official. João
Pessoa/PB: 1958.
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