Fundado em 7 de setembro de 1905 Declarado de Utilidade Pública pela Lei no 317, de 1909 CGC 09.249.830/0001-21 - Fone: 0xx83 3222-0513 CEP 58.013-080 - Rua Barão do Abiaí, 64 - João Pessoa-Paraíba |
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16º
Tema A PRODUÇÃO LITERÁRIA NA PARAÍBA Expositor: Joacil de Britto Pereira Debatedor: Luiz Gonzaga Rodrigues A fala do Presidente: O tema para debate hoje programado
é A PRODUÇÃO LITERÁRIA NA PARAIBA, que
está a cargo do confrade Joacil de Britto Pereira e teremos como debatedor o
jornalista Gonzaga Rodrigues. Nosso expositor, apesar de ser
bastante conhecido do plenário, por sua forte atuação nos meios culturais,
merece, seguindo nossa praxe, uma apresentação, não obstante sua intensa
atividade na vida pública e na vida forense. Ele é bacharel em Direito pela
Faculdade do Recife, onde se formou em 1950, na chamada “Turma do Meio Século”,
da qual foi orador oficial e foi agraciado com uma viagem a Europa; é professor
de Direito na Universidade Federal da Paraíba; foi Secretário de Estado várias
vezes, deputado estadual e deputado federal; escritor de escol, pela segunda
vez é o atual presidente da Academia Paraibana de Letras. Sócio deste Instituto,
do qual foi presidente por dois mandatos. São, portanto, muito fortes os
motivos por que o convidamos para falar sobre a literatura paraibana. Com a palavra o professor Joacil
Pereira. Expositor: Joacil de Britto Pereira (Advogado; professor universitário;
escritor; presidente da Academia Paraibana de Letras, sócio do Instituto
Histórico) Não será demais enaltecer a iniciativa feliz e
ousada do presidente do Instituto em promover este Seminário, então as minhas
palavras iniciais são de elogio à sua ação de excelso administrador, de
dinâmico empreendedor dirigente do nosso IHGP. Na verdade, o tema que me foi
proposto para exposição é um tema realmente muito vasto, que não poderia jamais
se comportar nas lindes de uma exposição com prazo marcado, embora a
generosidade do Presidente tem permitido o elastério desse prazo. Porém, falar sobre a literatura
paraibana, sobre a criação da nossa literatura na província desde os seus
começos é tarefa muito ampla, muito vasta, portanto procurarei ser o mais sucinto
possível, às vezes usando uma linguagem até telegráfica, só para apontar, para
registrar. Toda província neste país luta
para ter uma autonomia em todos os setores, inclusive no setor literário. A
despeito de algumas figuras negativistas, inclusive um certo autor, cujo nome
parece um gemido de angústia, radical nas suas posições, nos seus
entendimentos, diz que a Paraíba não tem literatura. Isto eu considero um
contra-senso e uma ofensa às nossas tradições de inteligência e de cultura. A Paraíba tem uma literatura rica
em todos os gêneros. No romance, sem citar, esgotando todos os autores,
poderíamos enfocar pelo menos os principais: José Vieira; José Américo de
Almeida; José Lins do Rego (os três grandes Josés, para começar bem); Ascendino
Leite, um homem que escreveu neste país em todos os gêneros, menos em teatro;
Pedro Américo, que inclusive escreveu romance e foi um dos primeiros gênios a
despontar neste país no campo da pintura, das artes plásticas em geral; foi um
sábio, um homem de uma sabedoria imensa, reconhecido na Europa, que Castro
Alves definiu em sua bela inspiração, dizendo: Europa, é sempre Europa gloriosa, / A mulher deslumbrante e caprichosa, / Rainha e cortesã. / Artista,
corta o mármore de Carrara. / Poetisa,
tange os sinos de Ferrara / No
glorioso afã. Pois esse continente onde reside a cultura universal endeusou
e proclamou o valor mais alto desse paraibano nascido em Areia, que foi Pedro
Américo. Então, dizer-se que a Paraíba não tem literatura, é inaceitável, data
vênia. É um excesso de radicalismo que não podemos, de forma alguma, aplaudir. Uma terra que deu poetas
maravilhosos, entre os quais despontou o segundo gênio da Paraíba: Augusto dos
Anjos (palmas). Bastaria esse, porque, como disse Eça de Queiroz, basta um
livro para eternizar uma civilização. Então bastaria o EU E OUTRAS POESIAS de
Augusto dos Anjos para eternizar o valor literário e intelectual da Paraíba. Nosso primeiro poeta despontou na
figura de Monteiro da Franca, embora ele tenha sido apontado como primeiro
poeta porque foi o primeiro a publicar poesia, mas 50 anos antes nós já
tínhamos vários poetas, que passarei depois a mencionar. Francisco Xavier
Monteiro da Franca, nasceu nesta capital, ao tempo em que a província se
chamava Paraíba do Norte. Já àquele tempo nós tínhamos os
bardos, os vates despontando na literatura paraibana. Antônio Carneiro de
Albuquerque Cunde, 50 anos antes de Monteiro da Franca, escreveu e publicou
dois poemas em Latim. Naquele tempo era usual, era modismo cultuar-se o Latim,
de tal forma que era ensinado em todas as escolas, não apenas superiores, mas
até nas escolas de segundo grau. Tivemos também Albino Meira, que,
além de grande jurista e lutador republicano, foi poeta; tivemos Américo
Falcão, que era poeta e jornalista, nascido na então vila, hoje cidade de
Lucena; ele foi diretor do jornal A UNIÃO, diretor da Biblioteca Pública, sócio
deste Instituto e da Academia Paraibana de Letras; publicou, entre outros
livros, AURAS PARAIBANAS, PRAIAS, NÁUFRAGOS, VISÕES DE OUTRORA, A ROSA DE ALEÇON
e SOLUÇOS DE REALEJOS. E quem já leu pelo menos um ou dois dos poemas desses
livros saborosos há de concordar comigo quando digo que era um poeta
maravilhoso e mavioso, lírico, romântico; adorava as nossas praias, criador de
neologismos, como Lucemar, Marluce. Esses nomes foram criados por
ele, porque adorava sua terra Lucena, sua praia, e na sua criatividade formou
neologismos com nomes próprios e de outros que não eram nomes próprios. Antônio Cruz Cordeiro, paraibano
ilustre, em 1869, publicou um poema sobre o episódio da esquadra brasileira nas
águas do Paraguai; era um poema épico sobre a Batalha de Humaitá, e foi esse
poema que o consagrou. Antônio Elias Pessoa, que figura
entre os primeiros e melhores versejadores, nos deixou a LIRA MELANCÓLICA, publicado
em 1901. E a poesia do paraibano é tão fértil, é tão espontânea, parece que
está na nossa alma. Antônio Elias Pessoa foi um poeta que fez versos religiosos
no velho estilo romântico e foi até o gênero parnasiano. Era irmão de Benjamim Pessoa, que
o conheci. Era um homem notável, inteligência rara; seus versos eram publicados
nas melhores revistas do Rio de Janeiro. Mas ele se perdeu na boemia e tinha
uma noiva chamada Aurina Silveira. Ele perdeu as condições para se casar, ficou
impotente. Desesperado, não queria mais saber de casamento. Aurina soube qual
era o motivo. Mas ficou como um anjo de candura, indo buscá-lo em toda parte.
Foi uma viúva antecipada, porque foi noiva até quando ele morreu. Uma vez ele
me contou chorando, arrependido por que tinha feito uma grosseria com Aurina.
Ele então fez, e me mostrou, os versos que jamais esqueci, com o título de FELICIDADE: Felicidade, tu bem que existes; Julguem entanto sonho falaz. Só não te encontram os poetas tristes Que te procura onde não estais. Já me buscastes, felicidade, Nos doces tempos de minha aurora. E eu todo cheio de ingenuidade, Sem conhecer-te, mandei-te embora. Vinhas ridente, tão meiga e airosa, Toda de branco, de um lindo alvor, Branco de lírios, cheirando a rosa, Beijos trazendo na boca em flor. Hoje, no outono, desiludido, Em pleno ocaso da mocidade Em vão te busco, sonho perdido, Felicidade, felicidade. (palmas) Benjamim trabalhava na Secretaria
das Finanças, foi companheiro de farra de Ruy Carneiro, e Ruy gostava muito
dele. Quando ele vivia nesse auge da bebedeira, Ruy Carneiro o isentou de
ponto. Porém, assumiu a chefia da Recebedoria de Rendas, onde ele trabalhava,
um Pordeus. Era um funcionário zeloso, e começou a cortar os pontos de
Benjamim. Benjamim fez então o seguinte versinho, no Livro de Ponto: Quem tem alma de ateu E possui tão mau coração Ao invés de se chamar Pordeus Devia se chamar pelo cão. (palmas) Aí chegou o Pordeus, chefe da
repartição, e quando viu aquilo, possuído de uma ira sagrada, foi direto ao
interventor. – Está aqui o que o
protegido do senhor fez comigo. Ruy Carneiro riu, achou graça e disse que
ia tirar Benjamim da repartição dele, que ele era rigoroso demais. – Quero
deixar o poeta em paz, foi meu companheiro de boemia, de cantatas de violão,
e Ruy deixou o poeta morrer em paz.
Nunca assinou um ponto. Essa Paraíba tão fértil, tão
espontânea, tão viva, da qual se pode dizer, como já se dissera outrora dos
sicilianos, é um povo de imaginação aguda e de precoce inteligência. É essa
Paraíba assim, que se quer dizer que não tem literatura. Vou dizer uma coisa que poucos
sabem. Na sua juventude, quase adolescente, Antônio Nominando Diniz Sênior, o
pai do atual presidente da Assembléia Legislativa, quando estudante no Recife,
publicou um livro de poesias intitulado ARCO-ÍRIS. Não tive a ventura de
conhecer esse livro, mas tive conhecimento entre vários amigos, entre os quais
João Bernardo, que dizia que era um livro muito interessante. Não sei porque
ele não continuou, porque o nosso Nominando é uma figura notável, grande
orador, homem muito inteligente. Como meu companheiro na Assembléia ele fez
vários versos de improviso. Tinha até um que é meio proibitivo, mas hoje a
televisão divulga coisa muito pior, e, porque é muito engraçado, vou dizer.
Dra. Eudésia Vieira, que foi uma grande paraibana, historiadora e também
poetisa, escreveu um livro de poesias com o nome O CERNE CONTORCIDO. O título é
meio esquisito, meio extravagante. Quando o livro chegou à Assembléia,
Nominando fez esse verso: Me responda, Dra. Eudésia, Essa pergunta chifrim: Esse cerne contorcido É o de José Jardim?
Houve também outro episódio que
nos distraiu muito. Amélio Leite elegeu-se deputado estadual. Era casado com
uma moça da família Teixeira (ele já morreu) e tinha compromisso (porque os
Teixeira eram muitos ligados aos Ribeiro Coutinho, que eram da UDN) de
acompanhar os Ribeiro Coutinho depois de eleito, embora tivesse sido sufragado
pelo PSD. Na hora da eleição da Mesa o PSD cobrava fidelidade partidária. E os
Teixeira com os Ribeiro estavam todos lá, inclusive o comendador Renato
Ribeiro, pedindo para ele cumprir o compromisso. Amélio entrou no recinto quase
à força. O PSD puxava dum lado e a UDN puxava do outro. Então Nominando Diniz
fez uma paródia interessantíssima com o samba AMÉLIA: “Amélio não tinha a menor
qualidade...” e saiu por aí. A poesia é tão fértil entre os
paraibanos que José Américo de Almeida escreveu versos aos 90 anos de idade. E
Ascendino Leite está aí, com 84 anos, faz versos e livros de poesia que são
elogiados pela crítica nacional e estrangeira. Aliás, estou terminando um
ensaio biográfico sobre Ascendino. Vou encontrar Ascendino sendo louvado em
terras de Portugal e em terras da França. Ele é também um representante do
talento paraibano para esmagar a afirmativa negativista de que a Paraíba não
tem literatura. Eu ainda cito entre os poetas
Bilac Sobrinho, que era o pseudônimo de Ulisses Lins de Albuquerque, que
publicou, em 1930, um livro só, mas um livro muito aplaudido no tempo: DE
JOELHOS. O Cônego Bernardo, que era amigo
íntimo do Imperador Pedro II, que construiu o grande açude Poços, em Teixeira,
parente do pai de Humberto Mello, foi um poeta parnasiano dos melhores que
tivemos. Era sócio correspondente do Instituto, como lembra aqui o Presidente. E Eduardo Martins, já que estamos
falando de poetas? Foi também historiador, membro deste Instituto, foi
beletrista, escrevendo em diversos gêneros da literatura. Mas foi um poeta
notável, inclusive trazendo para a Paraíba o hai-kai, um gênero de poesia de origem
japonesa. E nisso ele foi mestre, talvez insuperável. Eliseu César, que João Lélis
chamou de “o gênio pardo da raça”. Seu livro mais notável foi ALGAS. Era um
homem de cor, numa época em que a discriminação ainda era mais odiosa do que
hoje. Ele venceu, primeiro no Pará, e depois aqui. Era também um orador
maravilhoso; ninguém improvisava melhor do que Eliseu César. Eudes Barros, cujo nome completo
era Eudes Barros de Luna Freire, nos deixou no gênero poético FRUTAS E PAÚIS, CÂNTICO
DA TERRA JOVEM, JESUS BRASILEIRO, que fez época na Paraíba. Escreveu sobre Sadi
e Ágaba; autor do romance DEZESSETE, que depois saiu com o título mais
expressivo de ELES SONHARAM COM A LIBERDADE. Foi jornalista, cronista de mão
cheia, filho de Alagoa Nova, a terra de Gonzaga Rodrigues e também foi membro
do Instituto e da Academia de Letras. Félix Araújo, de quem fui amigo
pessoal, irmão, político combativo, orador extraordinário, talento verbal dos
maiores que a Paraíba já teve. Era inflamado, improvisava com entusiasmo e tinha
uma gesticulação que comovia a todos, fosse ouvindo-o nos salões ou nos
comícios populares. Mais recentemente, temos que
mencionar Hildeberto Barbosa Filho, nascido em Aroeira, que não é só poeta, é
também crítico literário dos melhores que temos. Ensaísta, membro da Academia
Paraibana de Letras. Irene Dias Galvão fez sensação com
sua poética erótica, quebrando os grilhões que deixavam a mulher um tanto
escravizada ou marginalizada. Porque a mulher tem sido injustiçada neste mundo
de meu Deus desde as priscas eras, sobretudo no mundo asiático, onde hoje ainda
continua, com os muçulmanos. Ela escreveu, entre outras coisas, EU MULHER. ... Belos sonetos ele fez
oferecido a Nossa Senhora das Neves, e eu reputo o seu melhor poema BODAS DE
PRATA. José Rodrigues de Carvalho, de
Alagoinha, que foi também folclorista, autor de O CANCIONEIRO DO NORTE . No
tempo em que nasceu, Alagoinha era vila do município de Guarabira, mas hoje os
dois municípios brigam para ser a terra mãe de Rodrigues de Carvalho. E Leonel Coelho? O poeta que vivia
bêbado, constantemente puxando fogo, e quando morreu uma pessoa de projeção no
meretrício paraibano, cujo nome agora não recordo, quando o enterro ia
passando, Leonel sentado numa banca, perguntou: – de quem é esse enterro? – É
de fulana de tal, disseram. Era uma marafona, uma cortesã. Ele chamou um carro
de praça e acompanhou o enterro. Quando chegou no cemitério, à beira do túmulo,
ele chegou e disse: – Parai, parai, coveiros apressados, que ruiu a viga mestra
do meretrício paraibano. Ele escreveu MISÉRIAS, PARALELEPÍPEDOS e escreveu o poema épico de 30. Saiu vendendo o
livro pelo Estado e quando chegou em Campina Grande, disseram: “ali tem um
senhor que, se você for oferecer, ele compra bem uns 10”. Era Silveira Dantas.
Ele então foi para lá. A firma era Silveira Brasil & Cia. Ele não sabia que
Silveira era da família Dantas. Entrou dizendo: “quem é aqui o chefe da firma
Silveira Dantas?” Silveira disse: “sou eu”. – Eu vim lhe oferecer o grande
livro POEMA ÉPICO DE 30, em homenagem ao imortal Presidente João Pessoa.
Silveira disse: “Cachorro, bandido, atrevido”, e partiu para cima de Leonel.
Leonel correu, caíram dois livros no chão e o caixeiro de “seu” Dantas pegou o
livro e ficou folheando e quando chegou lá num trecho, aquelas coisas das lutas
de 30, ele disse: “Silveira, seu nome está aqui no livro”. – Está? e o que é
que diz? O caixeiro leu: “em fevereiro, o bandido Silveira Dantas, Livramento
invade”. Silveira então disse: “manda chamar o homem que eu quero comprar”. Era
esse o Leonel Coelho. Mardokeo Nacre, que foi um dos
maiores, no Nordeste, no gênero de poesias matutas. Eu sabia uma versalhada
dele, mas a memória já está me falhando. Tinha um poema que a gente declamava
nos esquetes de teatro, que dizia assim: Ó gênio, o menor de todos, Barriga de almofadão, Puxe o gato pelo rabo Pra fazer judiação. Suas poesias foram muito elogiadas
por Carlos Dias Fernandes, que também foi outro grande poeta. Foi jornalista,
poeta, romancista. Mathias Freire, de Mamanguape,
como Carlos Dias Fernandes, era grande poeta; ele se intitulava “padre, poeta,
arcanjo e passarinho”. Miguel Jansen Filho, que era um
repentista extraordinário, grande improvisador, uma memória fora de série, só
comparável à de Euríclides Formiga. Euriclides era um homem perigoso, por que
se você declamasse uma poesia junto dele ele dizia: “essa é minha”. E declamava
a poesia toda, que tinha ouvido naquela hora e depois a declamava de trás para
diante. Era uma memória que talvez tivesse paralelo com a de Jansen Filho. Dona Olivina Carneiro da Cunha
também deve figurar entre os poetas. Grande educadora, professora de português,
escreveu também além dos livros de poesia O BARÃO DE ABIAHY, biografia do pai. Osório de Medeiros Paes, o poeta
da “Pequena Cruz do seu Rosário”. Pereira da Silva, filho de Araruna, que foi o
primeiro paraibano a ter ingresso na Academia Brasileira de Letras. Perylo de
Oliveira, com VÕOS DE PÁSSAROS e CAMINHOS CHEIOS DE SOL. E se nós tivermos
realmente sensibilidade poética, não podemos deixar de nos referir os nossos
cantadores, entre os quais eu destaco Pinto do Monteiro, Romano do Teixeira e
Inácio da Catingueira, improvisando versos notáveis. Inácio sensibilizou o seu
senhor (ele era escravo), que lhe deu alforria, com tanto que ele continuasse a
cantar. Cantava manejando um pandeiro Entre os mais modernos, temos
Políbio Alves, Eujalose Dias de Araújo, Lúcio Lins, Antônio Arcela e o nosso
Luiz Augusto Crispim, cronista de escol, como este que aqui está – o Gonzaga;
eles estão entre os maiores cronistas da Paraíba. Gonzaga, Crispim, Francisco
Pereira da Nóbrega. Mas Crispim é também poeta laureado com prêmios. Membro
deste Instituto e da Academia Paraibana de Letras. Raimundo Asfora, cujo nome eu
invoco com saudades. Era cearense, radicado em Campina Grande. Também grande
orador. Raul Campello Machado, de Taperoá, autor de CRISTAIS E BRONZES e DANÇA
DE IDÉIAS. Esse livro DANÇA DE IDÉIAS me liga muito a Luiz Hugo Guimarães,
porque eu o li emprestado por ele; é tão lindo esse livro porque ele é só de poemas
em prosa, de definições e de conceitos. Não sei se Luiz Hugo se lembra, como eu
recordo ainda, quando ele disse: Símbolo é carne do pensamento, É forma concreta de uma noção
abstrata. Simbolizar é objetivar as idéias
da vida, As imagens e forma real aos
sonhos. Esse homem de tanto valor foi
também grande jurista. Ronaldo Cunha Lima, nascido em
Guarabira, e radicado em Campina Grande, onde fez sua vida pública, hoje é
senador, é também poeta e bom orador, melhor do que poeta. E improvisador,
também. Sérgio de Castro Pinto, Jomar
Moraes Souto, ambos da Academia Paraibana de Letras, e poetas excelentes.
Silvino Olavo, filho de Esperança, que surgiu assim no espaço intelectual da
Paraíba como um meteoro brilhante e logo desapareceu. Morreu louco, mas ainda
houve tempo de escrever CISNE e SOMBRAS. Vanildo Brito, natural de Monteiro,
também é outro poeta notável. Sua poesia tem um conteúdo filosófico. E por que
não falar de Zé da Luz, cujo nome de registro é Severino da Silva Andrade?
Poesia gostosa, saborosa, para a gente rir. Quem não conhece aquela que começa
assim: “Era uma vez três irmãs, num lugar Puxinanã” e ele diz que Queria ser um caçote, com os óio desse tamanho pra ver aquele magote de moça tomando banho. Fez também uma poesia muito boa
sobre o nosso matuto da Paraíba, dizendo que a nossa terra é que era Brasil:
“Um Brasil brasileiro / sem mistura de estrangeiro / um Brasil nacioná.” E é mesmo. Nós é que somos o
Brasil. Aqui nasceu o sentimento de Pátria, o sentimento de nacionalidade. Esta
é que a terra brasílica por excelência. E Zé Limeira, o poeta do absurdo e
da saudade. Na crítica, nós temos Álvaro de
Carvalho, filho de Mamanguape; Alcides Bezerra, nascido em Bananeiras; Alyrio
de Meira Wanderley, que fez crítica por muito tempo, nascido em Patos, também
romancista, autor de várias obras notáveis como CARNEIROS CINZENTOS, BOLSOS
VAZIOS, RANGER DE DENTES. Crítico também foi Juarez da Gama Batista, crítico
laureado, com muitos prêmios aqui, em Pernambuco, no Rio de Janeiro, até da
Academia Brasileira de Letras. Falando dos críticos, não podemos esquecer de
Virgínius da Gama e Melo, que era também jornalista, foi advogado, escrevia no Jornal do Comércio e Diário de Pernambuco e depois nos
jornais da terra, autor premiado em vários trabalhos. Escreveu um romance TEMPO
DE VINGANÇA, tendo por fundo histórico a Revolução de 1930. Elizabeth
Marinheiro, também é crítica e ensaísta, membro da Academia Paraibana de
Letras. Hildeberto Barbosa, que já entrou na relação dos poetas, também é
crítico de escol. Ângela Bezerra de Castro, que recentemente assumiu uma
cadeira na Academia Paraibana de Letras, é também crítica e ensaísta. Na História, começo por dizer que
todos os membros deste Instituto Histórico, os do passado e do presente, devem
ser incluídos na relação dos historiadores. Porque aqui só se entra se tiver
pelo menos uma obra sobre assuntos históricos, uma obra com matéria da
historiografia da Paraíba, ou do Brasil. Aqui mesmo está um, o nosso
Guilherme da Silveira d’Avila Lins, um dos mais recentes e que a todo instante
nos causa a agradável surpresa de ser um velho historiador; mas temos também
que mencionar na História aquele que Luiz Hugo apontou. Maximiano Lopes
Machado, que foi o primeiro historiador, que tem um recente trabalho de pesquisa
feito pelo nosso Presidente; Irineu Ceciliano Pereira Joffily, nascido em
Campina Grande, grande historiador, notável também na vida pública. Temos o
outro Irineu - Irineu Ferreira Pinto –, que se imolou por amar a
pesquisa. No meio dos insetos daninhos; pesquisando alfarrábios, documentos
antigos, ele perdeu a saúde. E deu nome a esta Casa – Casa de Irineu Pinto,
muito bem posto este nome pelos que fizeram o Instituto de antanho. Coriolano
de Medeiros, o fundador da nossa Academia. Foi historiador de méritos, escreveu
romances e ensaios, uma Corografia da
Paraíba, peças teatrais, nasceu em Patos. Foi também um dos fundadores
do Instituto Histórico. Tão importante foi o seu papel na fundação da Academia
Paraibana de Letras que aquela casa hoje se chama Casa de Coriolano de
Medeiros. Horácio de Almeida, sem medo de errar, considero o maior historiador
moderno do nosso Estado. Atuou também no jornalismo e dirigiu o jornal O ESTADO
DA PARAÍBA. Escreveu um livro que ficou célebre: BREJO DE AREIA, que ele antes
denominara de Terra do Bruxaxá. E escreveu em dois volumes uma História da
Paraíba. Epaminondas Câmara, campinense, que escreveu muito sobre a história do
seu município. Cristino Pimentel, era outro apaixonado por Campina Grande,
filho daquela terra. Foi jornalista e historiador. E não podemos deixar de nos
referir ao maior de todos os historiadores da Paraíba, em todos os tempos. Nós
lhe demos o nome de diploma e de uma medalha, o negrinho José Maria dos Santos.
Poliglota, diplomata. Escreveu a História de São Paulo e esse homem colaborava
no jornal LE FIGARO, onde foi Redator-chefe. É um paraibano que devia ter uma
estátua aqui na Paraíba. O seu nome, portanto, deve ser lembrado com todo
respeito. Se tivéssemos tempo iríamos enumerar outros, como o Cônego Florentino
Barbosa, e os atuais. Deusdedit Leitão, Sebastião Bastos, Humberto Carneiro da
Cunha Nóbrega, Elpídio de Almeida, que também fez uma História de Campina
Grande, Archimedes Cavalcanti, Luiz da Silva Pinto, João Lyra Filho, Antônio
Freire, Carmem Coelho de Miranda Freire, que ainda hoje ocupa uma cadeira neste
Instituto, escreveu A MANSÃO DA BELA VISTA, escreveu A HISTÓRIA DA PARAÍBA para
o 1º e 2º graus; Marcus Odilon Ribeiro Coutinho, que é historiador e ensaísta e
político. Vai lançar dentro de poucos dias um trabalho sobre Manuel Tavares
Cavalcanti. Escreveu GATILHO E SANGUE NA ASSEMBLÉIA, PODER, ALEGRIA DOS HOMENS,
PEQUENO DICIONÁRIO DE VULTOS DA PARAÍBA, O LIVRO PROIBIDO DO PADRE MALAGRIDA,
de quem é fervoroso admirador, e dos jesuítas em geral. Ele escreveu também ADALBERTO
RIBEIRO, O SENADOR DA CONSTITUINTE. Uma das áreas em que a Paraíba tem
sido muito fértil e pode se ombrear com as maiores províncias do nosso país e
na área do jornalismo. Quem não pode admirar um homem da
têmpera de Antônio Borges da Fonseca? Político militante, revolucionário
impenitente e grande jornalista. Era cognominado o republico. Fundou jornais
aqui e em Pernambuco, sempre lutando pela liberdade. Gama e Melo, que pode ser
lembrado como grande jornalista, mas também como grande advogado. Começou a
escrever no jornal CRENÇA, de Sílvio Romero, e tão bem escrevia que o DIÁRIO DE
PERNAMBUCO o convocou para colaborar. Era difícil colaborar naquele jornal, que
era um jornal muito fechado, mas ele começou ainda como estudante, e a convite.
Escreveu no jornal do Recife e no
LIBERAL da Paraíba, Era um homem de uma pureza moral extraordinária, tanto
assim que divergiu do nosso presidente republicano Álvaro Machado, porque
Álvaro criou aqui no Estado uma oligarquia antipaticíssima. Ele rompeu, fundou
um jornal chamado A REPÚBLICA e foi combater Álvaro Machado. Terminou sendo
candidato de oposição e perdeu a eleição, mas fora candidato mais por uma
questão moral. Eu citaria Severino Lucena, não
como um jornalista profissional, mas como um animador cultural, na Paraíba,
fundando a Revista ERA NOVA. O pai era Presidente do Estado e ele oficial de
Gabinete e o Presidente deu todo o apoio ao filho nesse movimento cultural.
Esse magazine atraiu os melhores talentos da terra. Vultos como José Américo de
Almeida, Anthenor Navarro, Adhemar Victor de Menezes Vidal, Aderbal Piragibe
(esse era um panfletário extraordinário), Órris Fernandes Barbosa, Sinésio
Guimarães, Perylo de Oliveira, Eudes Barros e alguns outros estreantes na arte
de escrever. Da velha escola colaboraram também Américo Falcão, Mathias Freire,
Carlos Dias Fernandes, José Rodrigues de Carvalho e assim por diante. Vou contar uma história engraçada
de Aderbal Piragibe contra o grande jornalista que foi dirigente de O COMBATE,
Bôtto de Menezes. Quando éramos estudantes, comentou-se isso na cidade. Bôtto arranjou um namoro, um
romance, e estava numa polêmica jornalística com Aderbal Piragibe. A polêmica
estava acesa. Aderbal era um panfletário de sete fôlegos. E lá para as tantas
fez um artigo mencionando o fato. Tornou-se público e notório, porque Bôtto
pulou o muro da casa da mulher com quem estava em romance e não teve tempo de
vestir a roupa toda porque o marido atirava no fundo do muro, e ele pulou o
muro. Os estudantes cantavam uma modinha horrível: Ai, Margarida, ai Margarida. Eu vi Antônio Boto seminu pela
avenida. Como Aderbal Piragibe fez menção
ao fato, Bôtto também fez um artigo violento no seu jornal O COMBATE e foi
matar Aderbal no antigo Café Moderno, que ficava onde foi a Farmácia Régis, no
Ponto de Cem Réis. Atirou em Aderbal, que se escondeu por trás dumas latas de
doce empilhadas. No final de contas, Bôtto errou todos os tiros. Então Aderbal
faz um artigo em cima de Bôtto, que termina assim: “Bôtto, a poeira por mais que se levante do solo, tangida pelos
ventos, é sempre pó. A ostra, ainda que esteja submersa nos fundos dos oceanos,
é sempre ostra. Não sobreviverás à tua infâmia”. Terminava o artigo assim. Há muitos outros jornalistas:
Alcides Bezerra Cavalcanti; Osias Nacre Gomes, que começou como emendador no
jornal, escritor, magistrado, chegou a ser desembargador; Celso Mariz, outro
grande jornalista; José Leal Ramos, esse era apaixonado pelo jornal, pela
imprensa; Rocha Barreto, com seu cachimbo, tornou-se jornalista famoso,
escreveu em O MOMENTO, na GAZETA DO POVO e projetou-se como historiador e suas
crônicas eram tão belas que teve acesso à Academia Paraibana de Letras, sendo
um dos seus fundadores. Adalberto Barreto, que também foi presidente da
Associação Paraibana de Imprensa; padre Carlos Coelho, homem muito inteligente,
homem puro, figura notável, que terminou sendo Bispo de Nazaré da Mata,
Arcebispo de Olinda e Recife; Cônego Odilon Pedrosa, que viveu na Paraíba e foi
diretor de A IMPRENSA; esse homem foi castigado pelo Arcebispo, banido, levado
para o interior, morreu como sacerdote dos mais puros, e deveria ter a maior
projeção pelo seu valor intelectual; João Santa Cruz de Oliveira, homem do
batente, corajoso nas lutas políticas, tão idealista e tão bom de coração, que
eu sempre dizia a ele, brincando: se todo comunista fosse bom como você eu
também seria comunista. Nelson Lustosa Cabral, também foi jornalista e editou o
ALMANAQUE DA PARAÍBA, chegou a ser diretor de A UNIÃO. Péricles Leal, jornalista,
teatrólogo e romancista. João Lélis de Luna Freire, que repetiu na província,
em tamanho menor, o que Euclides da Cunha fez em Canudos; ele foi repórter
político em Princesa.. No teatro, temos Santa Rosa, o
magnífico Santa Rosa. Fez quase tudo em teatro, nasceu aqui em João Pessoa, era
crítico de arte, pintor, produtor visual, ilustrador, cenografista. Projetou-se
muito como cenarista e feitor de montagens. Seu nome completo era Tomaz Santa
Rosa Júnior. Escreveu também obras teatrais, como ROTEIRO DE ARTE EM TEATRO e REALIDADE
E MÁGICA. Ariano Suassuna, outro grande
teatrólogo, romancista, ensaísta, pertence à Academia Brasileira de Letras,
autor do Auto da Compadecida.
Sucesso no país e no estrangeiro, integrou o grupo de Ermilo Borba e com ele
fundou o Teatro do Estudante de Pernambuco. Para esse grupo escreveu a sua
primeira peça UMA MULHER VESTIDA DE SOL. É autor do romance de fama universal,
traduzido em vários idiomas, PEDRA DO REINO. No teatro, Ariano Suassuna é o
maior autor de peças deste Estado e do país. Poeta eminente e romancista
caloroso. É um dos poucos gênios nascido na Paraíba. É da mesma categoria de
Pedro Américo. Temos também Paulo Pontes, que
escreveu a peça PARAIBA-BE-A-BA; Altimar Pimentel, um teatrólogo dos maiores
que temos e também folclorista de primeira plana. Luiz Hugo Guimarães, interrompendo Solicito do expositor que inclua
na sua lista o teatrólogo Joacil de Britto Pereira. Recentemente foi
apresentada no Teatro Santa Roza e no Festival de Areia a peça A MALDIÇÃO DE
CARLOTA, de autoria de Joacil, que é baseada num fato histórico verídico,
ocorrido em Areia. Diante do sucesso, estou sabendo que ele já está elaborando
outra, também com fundo histórico. Joacil Pereira, retomando a palavra Realmente, estou escrevendo uma
peça sobre Olga Benário Prestes. Uma peça de fundo histórico e se Deus me
ajudar e me der um pouco de engenho e arte eu a realizarei. Porque acho que um
dos episódios mais terríveis da vida pública brasileira foi o sacrifício
daquela mulher, que carregava no ventre uma filha, que recebeu o nome de Anita
Leocádia Prestes, nome altamente significativo. Continuando minha exposição,
podemos nos referir a grandes figuras de valor. Alfredo Pessoa de Lima, Osias
Nacre Gomes, Mário Moacyr Porto, Adolfo Cirne, Albino Meira, são juristas
eminentes que não devem ser esquecidos aqui. Oscar de Castro, que foi
presidente da nossa Academia e colaborou em jornais; José Rafael de Menezes,
grande sociólogo, tem mais de 100 livros escritos e é um grande educador. Abelardo Jurema, cronista e político, que chegou a ser líder do
Governo federal, mas quero realçá-lo como jornalista e ensaísta, escreveu
ensaios biográficos e livros de memória. SEXTA-FEIRA 13 é um deles. Celso
Furtado entra na categoria dos grandes economistas, de fama internacional. No cinema tivemos Ipojuca Pontes,
Linduarte Noronha, Machado Bittencourt, que era piauiense, mas radicou-se aqui
na Paraíba, Alex Santos. Não podemos esquecer o grande
pedagogo, filósofo e sociólogo Monsenhor Pedro Anísio, que publicou entre
outros o compêndio de pedagogia e
pedologia EXPERIMENTAL e SOCIOLOGIA EVOLUCIONISTA E SOCIOLOGIA CRISTÃ, A
IGREJA – REINO DE DEUS NA TERRA, ESTUDOS FILOSÓFICOS. Esse tratado de pedagogia
foi tirado em quatro edições e adotado em vários estabelecimentos de ensino do
país. A Igreja, por sinal, é um celeiro maravilhoso de intelectuais. Padre
Lima, que é autor de um ensaio sobre Epitácio e de uma biografia sobre D.
Adauto. É possível que na pressa, já que
meu tempo está esgotado, tenha deixado de mencionar algumas figuras de destaque
na nossa vida intelectual.. Continuo defendendo a tese de que
nesses 500 anos a Paraíba tem um elenco maravilhoso de vultos a apresentar, em
todos os gêneros da literatura. · · · A fala do Presidente: Com sua eloqüência costumeira, o
confrade Joacil Pereira acaba de mostrar que a Paraíba, nesses quinhentos anos,
pode se orgulhar de sua intelectualidade. Ele fez uma retrospectiva das grandes
figuras paraibanas que despontaram na poesia, no romance, no teatro, no cinema,
na história, no jornalismo, na sociologia, enfim, abarcou todas as áreas da
atividade literária. Desde o Império, fez o registro
dos principais autores e de suas obras, sem deixar de lado alguns aspectos da
vida de cada um, relatando, até, algumas passagens pitorescas em que eles se
envolveram. Com sua memória prodigiosa,
reproduziu vários trechos das obras registradas, sendo aplaudido várias vezes
quando usava sua postura de declamador para
recitar algumas poesias dos nossos consagrados vates. Extrapolou do seu tempo, sem os
reclamos da Presidência nem a repulsa do plenário, sempre atento e pronto para
aplaudi-lo. Se lhe fosse permitido mais tempo, tenho certeza que embeveceria
mais ainda este auditório. Mas agora é chegada a vez do nosso
debatedor oficial entrar em ação, que é o jornalista Luiz Gonzaga Rodrigues. É outra figura que dispensa a
tradicional apresentação. Nascido em Alagoa Nova, Gonzaga
Rodrigues, de peripécia em peripécia, foi para Campina Grande, depois veio para
a capital, e, penando aqui e acolá, conseguiu seu lugar ao sol.. Sua grande universidade foi o
jornal. É um autodidata que alisou os bancos dos jornais da capital para se
tornar o mago da imprensa paraibana. Excursionando pela crônica, tornou-se um
dos maiores luminares desta especialidade literária. Seus livros UM SÍTIO QUE ANDA
COMIGO, NOTAS DO MEU LUGAR e FELIPÉIA E OUTRAS SAUDADES, revelam o cronista
coloquial, simples, retratando coisas dos lugares e coisas da vida. É este artista da palavra escrita
que vamos ter na tribuna, para complementar a brilhante exposição do confrade
Joacil Pereira. Com a palavra o jornalista Luiz
Gonzaga Rodrigues. · · · Debatedor: Luiz Gonzaga Rodrigues (Escritor, jornalista, membro da Academia Paraibana de
Letras) Quero discordar do Presidente, não por falsa modéstia,
mas acho que para contribuir de forma mais aquecida. Acho que o professor Luiz
Hugo deveria ter convidado uma pessoa com uma distância um pouco maior de
geração e de mirante, diferente de mim e de Joacil. Há uma distância muito
pequena entre as nossas experiências. Em 45 Joacil Pereira já era um militante
político e literário e eu era um torcedor, não era eleitor ainda, mas um
torcedor da campanha de José Américo. Quando chego aqui, em 1951, Dr. Joacil já
era uma celebridade e eu entrava, nessa época, de revisor de jornal. Mas há uma
distância muito pequena e os nossos pontos de vista são iguais. Nós podemos
discordar de certas idéias, de certas colocações, mas a nossa vivência, a nossa
experiência é a mesma. De sorte que aqui neste debate, um debate muito
importante, e quero explicar porque é importante. Deveria estar aqui Hildeberto Barbosa, que é um homem com outra
visão, com outros equipamentos, outro instrumental; João Batista de Brito, que
é um ensaísta, dos melhores que nós temos; um moço que também vem se
revelando,que é um autodidata, que é um estudioso, que retoma aquela tradição
de Mário Pedrosa, do homem lógico, do homem do estudo, que é Walter Galvão, que
hoje está numa das editorias do jornalismo da Paraíba. São três pessoas com
mais coisas para acrescentar ao debate. Mas, já que estou aqui, quero
primeiro me render ao esforço de Joacil, porque não é brincadeira fazer em uma
hora e meia uma abordagem sobre o principal assunto da Paraíba, sem deixar
escapar alguma figura de relevo da área literária. A Paraíba não tem economia, a
Paraíba não tem turismo, não tem outra repercussão a não ser a repercussão
literária e a repercussão política. Fora disso a Paraíba não vende outra
mercadoria no contexto nacional. Em função disso, acho que o assunto é da maior
importância. É muito importante. E antes de entrar no assunto, quero realçar
porque é importante essa abordagem, essa iniciativa do Instituto Histórico.
Importante porque nós estamos vivendo uma época em que se pretende decretar a
morte, a falência senão da literatura, mas pelo menos dos instrumentos
convencionais, dos espaços convencionais do livro, que passamos 500, 1000 anos
tendo como instrumento. Hoje a gente está vendo que essa coisa sensual, essa
coisa preênsil, essa coisa que dá uma certa estesia em pegar, que é o livro,
essa coisa tende a desaparecer. O livro está sendo ameaçado por uma coisa mais
virtual, mais intocável e que a gente não sabe até onde vai. Digo até onde vai,
porque sem ser filósofo, sem ser coisa nenhuma, eu vejo o seguinte: é que a
leitura é um trabalho penoso, é uma mão de obra. Em 100 pessoas, 90 têm
preguiça de ler, não gostam de ler, principalmente na nossa cultura. O livro é
penoso. Por que o livro é penoso? Porque ler implica, primeiro num esforço
físico, depois num esforço de assimilação, depois noutros esforços. Cada um
mais sensível, mais arguto. Então essa coisa toda está sendo substituída pela
televisão, primeiro pela maquininha de calcular, que reduz o raciocínio, depois
pela televisão, e agora pela Internet. A Internet, que muita gente tem como uma
coisa alvissareira, e nós também somos obrigados a ver como alvissareira, mas
essa pode coisa não passar, daqui a 20 anos, de um simples espetáculo de
emoções retardadas., como dizia o velho João Santa Cruz de Oliveira. “Eu sou um
homem de emoções retardadas”, ele dizia, sendo o mais revolucionário dos
homens. Claro que Joacil pulou nomes,
tinha que pular nomes, agregou alguns do ponto de vista literário, de abordagem
literária, digamos assim. Celso Furtado, por exemplo, é só um economista? Não.
Celso, todos concordamos, que é mais do que um economista, ele é um pensador
usando como instrumento, um belo instrumento de expressão, que é o texto. O
texto dele, se a gente disser que não é literário, se disser que é um texto de
lógica, um texto de pensador, na verdade é um texto conciso, escorreito,
próprio e que alcança o seu objetivo da sua expressão. Ele consegue a sua
expressão, expressão máxima. O clássico dele, que é a FORMAÇÃO ECONÔMICA DO
BRASIL, é um livro bem escrito, um livro que a gente pode dizer literariamente
perfeito. A primeira manifestação de Celso foi no gênero do conto. Nessas
considerações não há nenhuma crítica à abordagem do professor Joacil, que não
pôde, pela exigüidade do tempo, se aprofundar sobre cada figura registrada. Já que nós estamos falando aqui de
literatura, de esforço literário, de história da literatura, nós não podemos
esquecer o trabalho de um escritor, um estudioso que tem um temperamento muito
especial, até esquisito, e por conta disso a cultura da Paraíba deixou de lado
o seu trabalho, que é, no meu entender,
o melhor levantamento em termos de literatura da Paraíba, que é o de
Gemy Cândido: HISTÓRIA CRÍTICA DA LITERATURA PARAIBANA. Na primeira abordagem
que ele faz começa considerando o texto
de Ambrósio Fernandes Brandão em DIÁLOGOS DA GRANDEZA DO BRASIL; em que pese a
passagem, as intervenções de Capistrano de Abreu e Rodolfo Garcia, pessoas que
trabalharam o texto, é um texto que merece ser visto como um trabalho de
literatura. Que é do começo da literatura brasileira, que é a crônica, crônica
histórica. É evidente que com o espaço de
tempo limitado para a exposição que Joacil fez, e com a oralidade com que se
desempenhou, tem que haver alguma omissão. Quero ressaltar o seguinte. Não
quero nomear pessoas, porque os vultos mais importantes, os marcos, o estrelato
da literatura, foram realçados. Apenas, meu caro expositor, queria lembrar
algumas figuras que de passagem foram esquecidas, e você vai me agradecer pela
homenagem que nós mesmos vamos render. Quero lembrar o Cônego Lima... Joacil Pereira, em aparte: Eu supri a omissão. Data vênia, há
muitos nomes que estão nos meus apontamentos e eu omiti alguns em face do tempo
exíguo e eu até registrei que o Cônego Lima fez um ensaio sobre Epitácio Pessoa
e uma biografia de D. Adauto. Gonzaga Rodrigues, continuando com a palavra: ... de D. Adauto, que é um
testemunho da Paraíba. O Cônego Lima dá um recado da imagem da Paraíba durante
todo o tempo de D. Adauto. Estive fazendo uma pesquisa sobre
o grande Artur Aquiles e quando eu vou falar sobre Artur Aquiles, vou buscar
onde? No Cônego Lima. Aquela tragédia de Teixeira, está lá. Então a gente vê, a gente divisa
nesse perpassar de valores estrelas maiores que talvez não sendo maiores através de uma obra, tenham sido
através da aglutinação, da articulação. Então dá para perceber, e nisso eu
invoco a lembrança dos senhores historiadores, dá para a gente perguntar o que
seria da Paraíba literária, desta
Paraíba jornalística, desta Paraíba cultural, desta Paraíba política, enfim, se
não tivesse existido a figura de um cidadão chamado Artur Aquiles dos Santos,
que no começo do século aglutinou
idéias; ele combateu e foi para a luta, foi erigido como o maior homem do seu
tempo, como também foi enterrado miseravelmente. Criou um jornal que durou oito
anos, começando na passagem do século e fechou em 1908; e durante esses oito
anos ele mudou a Paraíba por inteiro. Mudou noções culturais, mudou noções
políticas, combateu no melhor combate, e em torno dele agregou Coriolano de
Medeiros, Celso Mariz, Augusto dos Anjos, que tinha uma poesia esquisita, que
muita gente olhava assim e ele acolheu, botando no frontispício do seu jornal a
poesia de Augusto dos Anjos, levado pelo filho do próprio Artur, que era Santos
Neto. Este Artur Aquiles tinha em torno dele Coriolano, Celso, Augusto, um tal
de Augusto Belmont, que foi o primeiro comunista desta cidade, o primeiro
cidadão que leu Marx em francês, no seu tempo, e nesse tempo não era tão
perseguido porque era uma coisa rara. Houve essa figura que aglutinou. Depois vêm os anos 20. Vem um novo
aglutinador, sob a batuta dum cidadão chamado João Ferreira de Castro Pinto, um
grande orador, um grande culturalista, um grande humanista. Este cidadão trouxe
para cá um louco total, louco, louco, chamado Carlos Dias Fernandes. Esse homem
veio para cá para chocar a província. Chocar os Meira de Menezes, chocar os que
estavam nascendo e os que estavam se indo. Era um exibicionista de fancaria,
gostava de dar espetáculo. Deu o espetáculo dele, e criou em torno dele Órris
Soares, José Américo de Almeida, tudo ficou em torno dele. Criou a novela, uma publicação que vem
daquela época, dos anos 20, criada por Ademar Vidal, que era também do time. Há também uma figura que não
aparece em nenhuma história da literatura, e foi um dos homens que melhor
escreveu em jornal, de um estilo fluente e moderníssimo em 1918, 1920, que era
o cidadão chamado Leonardo Smith, que terminou desembargador lá para as bandas
do Rio de Janeiro. Em torno de Carlos Dias Fernandes,
que tem um retrato muito bem feito de Gilberto Amado, não sei se vocês se
lembram de Minha Formação no Recife,
em que aparece aquela figura de tamanco, passando pela rua do Diário de
Pernambuco, com um quilo de carne dum lado, umas verduras do outro, um chapéu
grande na cabeça e Gilberto Amado: quem é? Esse é o Carlos Dias Fernandes. Ele
era um poeta, impressionista na poesia e na pessoa. Essa geração mereceu um artigo de
Barbosa Lima Sobrinho. Barbosa Lima Sobrinho falou sobre os anos de ouro da
Paraíba, os anos 20. O ano que veio das grandes obras de Solon de Lucena, do
apogeu econômico do começo do algodão, da interferência das obras contra as
secas. Toda essa coisa que soma com o corolário cultural. A cultura é o corolário. É a partir dessa fase que salta a
Paraíba para a BAGACEIRA, rasgando as duas margens do romance brasileiro, para
o teatro de Órris Soares, que foi um teatro nacional, que foi levado para o Rio
de Janeiro, que foi discutido. Vem Órris Soares, vem José Américo, vem muita
gente. A Paraíba não devia ser muito
diferente da que vivemos hoje. Era mais pobre, muito mais pobre, o povo menos
civilizado. Então por que não volta, por que não renasce, por que não há esse
renascimento? Parece que os valores são outros,
a coisa vem de cima para baixo O que queria mostrar é que todo esse lucro
nosso, todo esse saldo vem em função de duas correntes. O velho Taine dizia,
falando sobre o Renascimento italiano, ele dizia que nada ocorria de graça.
Como um aerólito caído do céu, que sempre vem em função de algum motivo, de
alguma euforia, de ordem econômica sempre e que termina com seus dividendos. Ocorreu no tempo de Artur Aquiles,
ocorreu no tempo de Carlos Dias Fernandes e Castro Pinto. Nós temos o CORREIO DAS ARTES, que
circula quinzenalmente, mas a gente não vê uma referência, as pessoas não
falam; ele circula, mas não acontece. O que está faltando? Nós temos pelo Estado uma coleção
muito importante, que é a Coleção Documentos Paraibanos, que está fazendo um
bom trabalho. Há umas coisas que não entendo. A
imprensa também é uma coisa. No tempo
em que atuava na imprensa eu achava que o leitor é quem era importante. Agora,
se há uma posse na Academia ou no Instituto, o mais que sai é uma linhazinha, a
não ser se o prestígio do empossado ou do presidente seja bom. É o sinal dos
tempos. Era o registro que queria fazer. · · · A fala do Presidente: O consócio Joacil Pereira pediu
para sair, antes do término da sessão, porque ele tem um compromisso agora no
Teatro Santa Roza, onde fará uma palestra sobre Rui Barbosa, cujo centenário de
nascimento é hoje. Mas, como vimos, valeu a pena
incluirmos nesse Ciclo de Debates que o Instituto está promovendo o tema ora
discutido – a literatura paraibana. O expositor e o debatedor trouxeram
a posição da Paraíba na literatura provinciana. Era de se esperar que o tema,
sendo um tema bastante vasto, não pudesse ser abarcado in totum pelos ilustres conferencistas. Foi importante podermos reviver
aqui figuras destacadas da nossa cultura. Eu mesmo revivi grandes passagens por
que tive a chance de conviver com algumas das figuras mencionadas. Joacil
lembrou o nome do poeta Leonel Coelho, que foi linotipista de A UNIÃO, quando
os jornais eram feitos a chumbo e fogo. Convivi com Leonel no jornal e numa mesa de bar, onde ele muitas vezes
garatujava seus versos naquele papel linha dágua que levava da redação. Antes
de sair para tomar uma, sempre passava pela revisão e convidava um de nós.
Magro, baixinho, uns óculos escuros para não se denunciar, lá com alguém da
revisão para os botecos da rua 13 de maio. Gonzaga Rodrigues, em aparte: Quando tratei daquelas figuras de
articuladores esqueci de lembrar a figura de José Semeão Leal, que não era um
texto, mas foi um grande articulador, foi um grande agitador cultural, não
aqui, mas no Rio de Janeiro. Tive uma experiência lá, de uns três meses, em
torno dele. Eu era um menino de recado, porque quem estava lá era Anísio
Teixeira, Andrade Muricy, todos em torno daqueles Caderninhos de Cultura, que
ele editava. Ele levou essa lição da Paraíba para o Rio de Janeiro. E, em
função disso, criaram o Instituto Nacional do Livro, que foi o grande
divulgador que nós tivemos das obras brasileiras. O presidente, continuando com a palavra: O companheiro Humberto Mello
lembrou o nome de Mário Pedrosa, mas essa figura foi realçada por Gonzaga
Rodrigues. Mário Pedrosa fazia parte do triunvirato que incluía Adhemar Vidal e
Anthenor Navarro, que eram intimamente ligados. Aliás estes dois últimos
pertenceram ao Instituto Histórico, e ingressaram no mesmo dia. Não sei porque
Mário não ingressou no Instituto. Aqui, à parte, Gonzaga está dizendo que é
porque ele era ateu. Apesar do avançado da hora, vamos
iniciar os debates com os participantes do plenário, passando a palavra do
consócio Guilherme d’Avila Lins: · · · 1º Participante: Guilherme d’Avila
Lins: Cada tarde desses debates é uma
lição a mais. Realmente, é impossível num espaço
de duas horas se preencher a contribuição literária de um Estado que, como
disse Gonzaga Rodrigues, uma das coisas que sabe exportar é literatura. O aditamento que pretendia fazer
perdeu a oportunidade quando Gonzaga referiu-se a Ambrósio Fernandes Brandão,
que é aí que de fato começa nossa participação literária. Ele era português,
nascido em 1553 e foi aqui que ele escreveu OS DIÁLOGOS DA GRANDEZA DO BRASIL,
até que se prove que não foi ele que escreveu aquela obra. É uma obra que
transita com muita tranqüilidade tanto nos livros de crítica literária – José
Veríssimo começa com ele, como transita nos livros de historiografia. José
Honório Rodrigues o considera um dos 12 livros mais importantes do nosso
período colonial. Então ele é medalha de ouro em dois campos. Era esse o
primeiro registro. O segundo, queria complementar
sobre o nome citado de Rodrigues de Carvalho, que pontificou não somente na
Paraíba, como pontificou em Pernambuco e no Ceará. No Ceará ele foi fundador de
uma instituição maravilhosa, até na inspiração do seu próprio nome – A PADARIA
ESPIRITUAL, porque o livro é o pão dos intelectuais. Como poeta, teve seu nome
pinçado numa célebre antologia com a inclusão de um soneto seu entre os 100
mais belos sonetos da língua portuguesa: OS SEIOS. Este é o meu registro. 2º participante: Paula Frassinete
Duarte: Gostaria de citar gente da
atualidade, e entre eles a gente não pode esquecer o grande Vital Farias, que
com a sua SAGA DA AMAZÔNIA, com uma poesia fenomenal, ele faz um libelo ao que
acontecia na época, que era a destruição da floresta e mostra como um
nordestino que vai para aquelas plagas e chora diante da destruição da
natureza. E homenageando o dia 20 de
novembro, que o dia da resistência negra, ele está elaborando uma epopéia sobre
o negro Mussambê. No repente, a gente não pode
esquecer do grande Oliveira de Panelas, que é o nosso grande repentista, de uma
verve maravilhosa e no que tange ao hai-kai, temos Saulo Mendonça. 3º Participante: Humberto Mello: Farei apenas três pequenos
registros. Gonzaga Rodrigues falou no CORREIO DAS ARTES e a pouca repercussão que ele tem e gostarei
de dar um depoimento. Em 1980 estive na casa de Plínio Doyle, o bibliófilo,
onde havia aquelas reuniões dos sábados a que Raul Bopp deu o nome de sabadoyle.
Fui lá a convite do pernambucano-paraibano Joaquim Inojosa. Plínio Doyle tinha
um apartamento somente para a biblioteca e reuniões. Aí ele me mostrou a
coleção completa do CORREIO DAS ARTES desde 1949 até aquela data e sustentava
que era um dos mais importantes suplementos do Brasil. O outro registro é a respeito de
uma figura que Joacil citou, que é Rocha Barreto. É um fato que pouca gente
sabe, porque é uma obra que não é muito lida e causa muito ciúme ao autor, que
é ORDEM E PROGRESSO, de Gilberto
Freyre. Gilberto Freyre fez ORDEM E PROGRESSO como uma seqüência da CASA GRANDE
& SENZALA e SOBRADOS E MOCAMBOS. Mas, ORDEM E PROGRESSO não teve o sucesso
dos outros, e ele se queixava que o povo não reconhecia o mérito. É pouco lido
esse livro. Em ORDEM E PROGRESSO ele fez uma série de entrevistas, cartas,
colhendo informações sobre os primeiros tempos da República no Brasil e cita
Rocha Barreto. Rocha Barreto se apresentou humildemente como funcionário
público dos Correios, não falou que era jornalista. E Gilberto se admira como é
que um funcionário público escrevia tão bem, expôs tão bem o seu tema. Finalmente, conforme falaram
Batista e Frassinete sobre a literatura popular em verso, posso adiantar que os
teóricos a dividem em três: o chamado romance de bancada escrita e o improviso,
que se subdivide em dois: improviso simplesmente declamado e o improviso
cantado na viola. Nesses três aspectos da literatura popular em verso a Paraíba
teve os maiores nomes. No romance, no folheto, ninguém superou Leandro Gomes de
Barros, inclusive há uma crônica de Carlos Drumond de Andrade que disse que se
em 1914 fosse vivo e votasse, ao invés de em Olavo Bilac, teria consagrado
Leandro Gomes de Barros como o príncipe dos poetas brasileiros. No improviso do
violeiro, e eu tenho muitos parentes no ramo, parece-me que ninguém superou
Pinto do Monteiro. E no improviso declamado, na quadra, na glosa, sem o
acompanhamento da viola, que é quantitativamente menos importante dos três,
também foi um paraibano o maior de todos, que foi Luiz Dantas Quesado, que era
de Cajazeiras, se não me engano. São os registros que faço. 4º Participante: Manoel Silveira da
Costa: Sou membro da Academia Paraibana
de Poesia e como tal gostaria de, nesse soneto que vou recitar, ser uma espécie
de apelo para que o palestrante Dr. Joacil Pereira e o debatedor Gonzaga
Rodrigues, retornem para esta palestra, que foi tão importante para nós. Antes de tudo, gostaria de dizer
que nesta data e nesta palestra, cujo título é a PRODUÇÃO LITERÁRIA DA PARAÍBA,
nós não podemos jamais esquecer o dia de hoje, o dia 5 de novembro, que é o Dia
da Ciência e da Cultura, que se originou da data do grande Rui Barbosa, que
nasceu a 5 de novembro de 1849, tendo falecido em Petrópolis no dia 1º de março
de 1923. Não podíamos esquecer esta data. Vou recitar, de Ronald de
Carvalho, A UM FILHO PRÓDIGO: Volta, ainda é tempo branco no
horizonte. Tua aldeia sorri sobre a colina. Cumpras nestes vales tua sina, Seja teu mundo este tranqüilo
monte. Seja teu mundo esta encurvada
ponte Que sobre o rio trêmula se
inclina. E este pedaço de céu que te
ilumina A larga, franca e pensativa
fronte. Aí fora, a vida em ondas tumultua. Ouve teu rude coração, recua, Volta aos humildes mas felizes
tetos. Que as estrelas terão mais calmos
os brilhos Para velar o túmulo dos teus
filhos E a terra sorrirá para teus netos. (palmas) A sessão foi encerrada.