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13º
Tema A IGREJA NA PARAÍBA Expositor: Manuel Batista de Medeiros Debatedor: Eurivaldo Caldas Tavares A fala do Presidente: Formarei a mesa dos trabalhos
convidando o professor Manuel Batista de Medeiros, nosso associado e expositor de hoje; convido nosso consócio
Monsenhor Eurivaldo Caldas Tavares, que será o debatedor; o acadêmico Joacil de
Britto Pereira, presidente da Academia Paraibana de Letras. O tema de hoje é A IGREJA NA
PARAÍBA. O Instituto tem a felicidade de possuir no seu quadro duas figuras
destacadas, uma que pertence ao clero atuante e outra que pertenceu, mas
continua vinculado, que são altamente qualificadas para nos trazer informes
sobre a importância da Igreja na Paraíba, o que quer dizer a importância da
Igreja na História do Brasil. Será expositor do tema nosso
companheiro Manuel Batista de Medeiros, que é uma pessoa bastante qualificada
para este mister. Nosso expositor é bacharel em
muitas coisas. Pertenceu ao Seminário Diocesano da Paraíba, onde foi ordenado
padre em 1950; é bacharel em Línguas Latinas, em Ciências Jurídicas e Sociais,
em Filosofia; tem mestrado em Educação; foi professor de Latim no Liceu
Paraibano e de Literatura Portuguesa na Universidade Federal da Paraíba e é
professor de Direito Civil na UNIPÊ; também foi professor de Latim, Português,
História Eclesiástica Primitiva, Direito Canônico no Seminário Maior da nossa
Arquidiocese; fundador e primeiro reitor da UNIPÊ; foi membro do Conselho
Universitário da UFPB; é jornalista, escritor, membro da Academia Paraibana de
Letras, da qual foi presidente por dois mandatos; foi diretor do jornal
católico A IMPRENSA. Seu currículo é imenso. Diante dessa apresentação, sinto
que o plenário está ansioso para ouvi-lo. Passo a palavra ao professor
Manuel Batista de Medeiros. Expositor: Manuel Batista de Medeiros (Sócio do Instituto, ex-presidente da
Academia Paraibana de Letras, bacharel em Línguas Latinas e Direito, Mestre em
Educação e Filosofia, fundador e professor da UNIPÊ, ex-sacerdote, jornalista). 1. Introdução. Inicialmente, agradeço as palavras do nosso Presidente
e se eu fosse a metade do que ele disse, eu estaria muito satisfeito. Antes de fazer a minha falação,
gostaria de ler um trecho da bula Sublimes
Deus, do Papa Paulo III, endereçada aos índios da América. Diz o Papa: “Pelas presentes
letras decretamos e declaramos, com nossa autoridade apostólica, que os
referidos índios e todos os demais povos que daqui por diante venham ao
conhecimento dos cristãos, embora se encontrem fora da fé de Cristo, são
dotados de liberdade e não devem ser privados dela nem do domínio de suas
coisas e ainda mais que podem usar, possuir e gozar livremente esta liberdade e
não devem ser reduzidos à escravidão, e que é irrito, nulo e de nenhum valor
tudo quando se fizer, em qualquer tempo, de outra forma. Papa Paulo III, Bula
Sublimes Deus, 1537”. Bula dirigida aos cristãos das Índias Ocidentais. Tem aqui, também, uma frase do
jesuíta padre Manoel da Nóbrega: “Essa terra é a nossa empresa”. Louvo a feliz iniciativa da nossa
Casa em promover comemorações da passagem da Paraíba nos 500 anos de Brasil,
enquanto da parte do Estado e da Prefeitura da capital o que se ouvem são
discussões sobre quem realizará o pior reveillon do ano 2000, que muitos
confundem com o início do terceiro milênio, nenhum órgão oficial, que eu saiba,
se souberem me digam para não fazer acusação indevida, se propôs ainda celebrar
o meio milênio da História do Brasil. Em Portugal já faz dez anos que se
estudam os eventos históricos do 500º aniversário do descobrimento, da posse, e
eu chamo também da invasão, da terra brasílica, também chamada de Santa Cruz.
Comissão para efetuar as comemorações do próximo reveillon, com muita
austeridade, já se criou, enquanto que se o Conselho Estadual de Cultura sabe
que o Brasil está a poucos meses de fazer seus 500 anos, eu ignoro se ele sabe.
Entretanto, esta é magnífica oportunidade, Sr. Presidente, de a pátria,
debruçando-se sobre si mesma, fazer oportuna análise sobre o que foi, o que é e
sobre o que pretende ser. Este é um precioso momento de reflexão antropológica,
histórica, política, cultural e religiosa sobre nossas raízes e o nosso
caminhar nestes 500 anos de História do Brasil. Quando vejo que só esta Casa
realiza aquilo que outros deviam cumprir, eu parabenizo nosso Presidente pela
iniciativa de realizar essas comemorações. Parabéns, Sr. Presidente. (palmas) 2. Análise e não
história. No meu discurso de posse na
cadeira que aqui tem como patrono um grande historiador eclesiástico da Paraíba
e do Rio Grande do Norte, Monsenhor Francisco Severiano, oração que leva o
título HISTÓRIA DESNUDA, espécie de ensaio que enfocou a Filosofia da História,
levantei ali a tese de que o historiador não pode e não deve reduzir o fenômeno
social ou os fatos históricos sobre que trabalha, à sua própria conceituação
ideológica, filosófica ou mesmo religiosa. Por outras palavras, quero afirmar
claramente que quem tratar de um fato histórico de natureza sociológica
católica não deve, necessariamente, ficar coactado ao dogmatismo de sua
religião. É o que agora não faço. Assim, no que diz respeito aos 400
anos de história religiosa da Paraíba, fujo, de caso pensado, ao reducionismo
ideológico. Como, de outra parte, evito, neste momento, tentar repetir aqui
datas, fatos, nomes, frases de Bispos, de Abades, etc., etc. que outros, com
muito mais competência do que eu, já fizeram e podem fazer. Poderia me comparar
com Wilson Seixas, com Maximiano Machado, Monsenhor Eurivaldo, com Francisco
Lima, com Francisco Severiano e outros, só para citar os mais aproximados de
nós? Tudo que vou afirmar sobre a história da eclesiologia católica brasileira
deve ser aplicado ao ângulo da História da Igreja na Paraíba. A Paraíba, meus
senhores, é um pedaço deste Brasil, sem a qual não se escreve a História do
Brasil e nem da política e nem da cultura e nem da arte. Paraíba é Paraíba e é
muito mais do que 1930. (palmas) Entendo ser muito mais lucrativo,
desde o ponto de vista científico, que em lugar de meros exercícios repetitivos
de datas, nomes e fatos, se tente, aqui, uma livre análise antropológica, por
mais singela que seja, do que a Igreja fez desde aquele século que Taine chamou
de o maior século da História. Eu pensava até que era o século de Péricles, o
século V antes de Cristo, mas Taine acha que o maior século da História foi o
1500. Creio que a nossa pequena Paraíba
é muito rica culturalmente falando e que tal riqueza precisa ser explorada
sobre todos os ângulos. Até acho ingenuidade se afirmar que a História da
Paraíba se reduz ao evento policialesco de 1930. 3. A Igreja e o
Padroado Luso-brasileiro. O rei português D. João III
escreveu ao Governador Geral do Brasil: a principal causa que me levou a povoar
o Brasil foi que a gente do Brasil se convertesse à nossa Santa Fé Católica. É o rei quem está dizendo, não é o
Papa, nem o Bispo de Lisboa. Na carta de Caminha (essa carta de
Caminha é muito curiosa. Aliás, há duas cartas. Uma carta dos médicos, os
médicos gostam muito de história e fazem uma referência curiosa dizendo que a
ilha do Brasil está lá... como se não houvesse descoberta nenhuma, conforme
Marcus Odilon. Vieram tomar posse daquilo que já sabiam que existia. E tanto é
verdade que a carta de Caminha diz: “Olhe, el-rei é tão bom que se plantando
qualquer coisa dá” (com três dias não dava para saber que plantando dava).
Essa carta, que é muito curiosa, merece um estudo nosso. Há duas coisas que
quero chamar a atenção sobre a safadezinha do português, porque ele descreve os
índios, nus, e tal e tal, mas quando é para descrever as índias ele faz uma
descrição que nem a Revista PLAYBOY. Demora e fica explicando. Então a carta
oficial ao rei vem com isso. E no final, veja o “arrumadinho” do serviço
público, que começa desde aquele tempo, termina: “Vossa Alteza fará mercê se
mandar buscar Osório, meu genro, que está na Ilha de S. Tomé”. Desde ali que
o serviço público começa a fazer os “arrumadinhos”. Na carta de Caminha, depois de
descrever a primeira missa cantada (e nesta missa não estava só o frei
Henrique, havia uns oito padres e frades, inclusive um que ia ser vigário em
Calicut e mais uns seis ou oito seculares, padres de São Pedro), depois de
descrever a primeira missa cantada sob o pálio da Ordem de Cristo e à sombra da
cruz sobre a qual estavam as armas do rei, o escrivão oficial da armada afirma
sobre a terra brasileira e seus índios: “contudo o melhor fruto que dela se
pode tirar parece-me que será salvar esta gente.” (Será que salvaram?). Esta
deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. Estamos vendo que o enfoque da
missão era político. Dilatar o império religioso, aumentar a fé salvando as
almas. Deus sabe como e quantas almas foram salvas. Camões, o imortal poeta de OS
LUSÍADAS, faz pequena referência ao Brasil lá na frente do cântico X e noutro
lugar parece que fala em Terra de Santa Cruz. Veja que importância Portugal deu
ao Brasil. Quando Camões escreveu a grande obra o Brasil já estava descoberto e
ele não ia cantar a epopéia da América e sim os feitos de Gama, daquele pessoal
que foi para a África, dobrou o Cabo, etc. Mas, percebe-se o pouco caso que se
dava à descoberta recente. Mas Camões começa aquelas duas
primeiras estrofes, que vou repetir aqui, dizendo que a meta dos feitos
portugueses tinha por objetivo dilatar o império. Camões começa imitando
Virgílio, com as mesmas palavras. Ele diz: As armas e barões (barões é varão) assinalados. Aquilo mesmo que
Virgílio já tinha dito, e não sei se imitando também um pouquinho Homero. Mas, o que interessa aqui é
comentar o texto da estrofe: As armas e os barões assinalados Que da praia ocidental lusitana Por mares nunca navegados Passaram ainda além da Probana E em perigos de guerras esforçados Mais do que prometia a força
humana Entre gente remota edificaram Novos reinos que tanto sublimaram E também as memórias gloriosas Daqueles reis que foram dilatando A fé e o império e as terras
viciosas De África e Ásia andaram
devastando E aqueles que por obras valerosas Se vão da lei da morte se
libertando Cantando espalharei por toda parte Se tanto me ajudarem engenho e
arte. O que chamo a atenção é que o
poeta situa a grande empresa como dilatar as fronteiras do império, que era tão
grande, e sobretudo as fronteiras da fé. Conclusão: a Fé e o Império andam
casados. Percebe-se dos textos citados que
a conquista da terra da gente brasileira obedeceu a um desígnio político da
corte lusa, que almejava, ao mesmo tempo, dilatar as fronteiras do grande
império sobretudo na África, na Ásia e na Oceania. O Cristianismo era um apoio
político para alargar o império. A história registra, mesmo na epopéia da
conquista da Paraíba, como a Igreja, através das grandes Ordens Religiosas (os
jesuítas, os carmelitas, franciscano e beneditinos), aqui chegara e na primeira
hora. Com a catequese do aldeamento ajudou a dilatar o império na Paraíba.
Basta lembrar que os primeiros carmelitas e beneditinos que vieram para o
Brasil se destinavam à Paraíba. Há mesmo quem afirme que Piragibe salvou a
conquista da nossa terra (e a gente sabe que Portugal e Espanha lutaram quase
dez anos e não passaram de Goiana, ou quando passavam voltavam correndo) só botaram
o pé aqui depois que Piragibe, o guerreiro e o estadista, cujo nome acho que
devia ser dado a essa cidade e não outro, Piragibe. Está dito que Piragibe
teria sido batizado antes de se apresentar a Olinda; para fazer a intermediação
diplomática, já era batizado por um jesuíta. Se é verdade, vale a pena fazer a
pesquisa. É bom, porém, não esquecer que
esse interesse da coroa portuguesa em propagar a fé nas plagas brasileiras
tinha um suporte logístico no chamado Instituto do Padroado, que certamente foi
uma herança maldita que caiu sobre a cátedra de Pedro, que se esquecera da
severa advertência de Cristo de que não se deve confundir o Reino de Deus com o
Reino de César. Lá no drama da paixão Pedro puxa uma peixeira (no Evangelho
fala em espada, mas Pedro era pescador, decerto era uma peixeira) e Cristo pede
para Pedro guardá-la, dizendo: “meu Reino não é deste mundo, Pedro”. Sem
deixar de dizer que era rei, mas ele confirma que era rei diante de Pilatos.
Pilatos fez duas perguntas a Cristo, uma de ordem política e outra de ordem
filosófica. – Que é a verdade? Cristo não deu resposta. Mas, quando
perguntou: – “Você é rei?” Cristo respondeu: “Sim, só que meu reino
não é deste mundo”. Pois bem, Jesus recomenda a Pedro
que não confunda o Reino de Deus com o Reino do Mundo. Com o tempo se conquista
o mundo, vem a diáspora, Paulo conquista a Ásia, o mundo grego e lá vai para
Roma. Lá vai para Bizâncio. E aí a Igreja se mistura com o poder secular, com o
poder temporal. Foi um grande erro, porque a Igreja mundanizou-se, laicizou-se,
escravizou-se, paganizou-se. Até pouco tempo a gente via o Papa com três coroas
de rei na cabeça, andava em cima de uma sede gestatória, que durou até o
Vaticano II. O reino não é deste mundo, mas se
transformou no reino de César. A igreja católica no Brasil,
portanto, na Paraíba, tinha dois governos. Um canônico, com o Papa e os Bispos
à frente, e outro imperial, com os reis de Portugal e depois do Brasil, que
também era o Grão Mestre da Ordem Militar de Cristo, no seu comando. Quem
comandava a Igreja era o rei de Portugal, era o rei do Brasil (Reino Unido) e
era o Imperador do Brasil. Isso durou até a República, quando houve a separação
da Igreja do Estado. Foi um Deus nos acuda, mas foi um grande benefício para a
Igreja, por que ela se sentiu livre. Aí era a Igreja de Cristo. Essa Ordem Militar de Cristo é um
resquício das Ordens da Idade Média, dos Templários e não sei se a Maçonaria
não passa por aí. Pelo nome de Grão Mestre é dado ao rei. Por que essa referência? Por que
enquanto rei era Grão Mestre? Porque
enquanto rei Grão Mestre ele era uma espécie de Ministro das Finanças de
tudo que se arrecadava em nome da Igreja, com a denominação de dízimo, para a
proteção, propagação, defesa das pias obras. Havia esses dois governos, simultâneos.
Isso foi bom ou mau? O Edito de Milão, em 313, dá a
vitória da Igreja sobre o paganismo. Constantino se diz o primeiro imperador
cristão, mas reza a história paralela que só se batizou velho, porque que o
batismo apaga todos os pecados e ele queria pecar a vida toda para se batizar
no fim. A mãe era uma santa, Santa Helena, a quem a Igreja deve lhe muito, na
Terra Santa. Então Constantino se fez cristão e
permitiu que os cristãos professassem a sua fé. Constantino decreta um Edito,
em Milão, dando liberdade aos cristãos. Para mim o maior benfeitor do
cristianismo não foi Constantino, foi Teodósio, o Grande, porque este, além de
dar proteção à Igreja, proibiu o paganismo. Um permitiu o cristianismo, o outro
proibiu o paganismo. Constantino tinha tanto poder
diante da Igreja é era chamado o 13º apóstolo, chamado também o Bispo de fora,
porque havia os Bispos de dentro da Igreja. Mas ele era quem convocava e
presidia os Concílios, nomeava os Patriarcas, Bispos, etc. Mas em que consiste o padroado?
Padroado é como se fosse um instituto jurídico das fundações. Eu tenho dinheiro
e dou uma importância para que se erija uma capelinha e se nomeie um cura e eu
fico mantendo; isso alguém fez. O primeiro colégio jesuíta aqui na Paraíba foi
dado por uma família, um casal. Deu o primeiro dinheiro e aí começou a se
fazer. Havia essa maneira de se doar algo
para que o benefício fosse criado. Isso em nível de Igreja Universal e de
Império. Logo depois o Sacro Império, com Carlos Magno, toma conta da
cristandade e o Papa sagra o Imperador e o Imperador renomeia o Papa. Há até um
caso curioso numa eleição de Papa. O Imperador mandou os cardeais elegerem o
Papa, num convento perto de Roma. Passaram-se três anos sem sair o Papa. O
Imperador zangou-se e mandou destelhar o convento. No outro dia saiu o Papa. O padroado, da palavra latina patronatus, que oficialmente entra em
vigor em 1270, consiste na outorga a certas pessoas do direito de apresentar e
nomear plebes ou bispos para cargos eclesiásticos, concorrendo materialmente
para a manutenção desses benefícios. No início a intenção do padroado era
piedosa. Entre os séculos XIV e XV a Igreja concedeu aos reis o direito de
exercer o padroado nas terras descobertas e a descobrir. Pelo Papa espanhol
Alexandre VI foi dado o tal direito aos reis espanhóis sobre a América. Esses
monarcas tinham o poder de proibir a criação de igrejas e conventos. Por isso a
gente vê a expulsão de jesuítas. Por que eles faziam isso? Porque eles tinham o
poder de fazer. Por que eles prendem os bispos da Paraíba, D. Vital e Macedo
Costa? Porque eles tinham poder. O Bispo estava desobedecendo a uma lei civil
que existia e à qual ele estava submetido. Dogmaticamente ele estava correto,
mas civilmente estava errado. O padroado foi a grande fonte de
malefícios para o Brasil e a Paraíba; embora se tenha estendido do Brasil
Colonial ao Brasil Império, desapareceu com a República através do decreto de 7
de janeiro de 1890. Cabia aos reis do Brasil conservar e propagar a fé. O
padroado tinha sido conferido ao Imperador do Brasil em 27 pela Bula Preclara
Portugalia, que concedeu este título ao chefe do governo imperial. Graves problemas surgiram entre a
Igreja e o Império, sendo os mais sérios aqueles citados na Regência de Feijó,
que queria criar uma Igreja Nacional e sobretudo na chamada Questão Religiosa,
depois da qual desapareceu o trono e sobrou o altar. Diante desses fatos que permeiam a
catequese dos índios e nada se fez pelos escravos (é curioso como os jesuítas
brigaram e fizeram muito bem pelos índios, mas não se vê nada feito com
respeito aos negros, os escravos). A catequese dos índios foi feita. Não
sabemos o que teria sido do Brasil sem as Ordens Religiosas dos jesuítas.
Capistrano disse que não se pode escrever a História do Brasil sem se escrever a
História dos Jesuítas. Não só os jesuítas. Porque tivemos cinco grandes
conventos e até geograficamente a gente vê. É curioso como uma cidade tão
pequena, a cidade tinha 10 mil almas, com cinco conventos. Todos localizados um
perto do outro. Vocês já foram à igreja da Nossa
Senhora da Guia, depois da recuperação? Vale a pena como passeio e visita
cultural. É admirável como dentro daquela mata, onde só havia maloca de índio,
aldeamento, os carmelitas criaram uma obra de arte como aquela. Aí a gente pergunta: sem as Ordens
Religiosas na Paraíba teríamos o acervo cultural que temos? Sem a assistência
médica das Santas Casas, o que teria sido das populações? Era o rei? O rei nada
fez. A educação, quem fez foram os jesuítas nos colégios. Nós podemos criticar a metodologia
da catequese aqui na Paraíba, e no Brasil, porque havia culturas que deviam ser
respeitadas. Mas o aculturamento que se fez para se cristianizar estas massas,
por todas as nossas nobres Ordens Religiosas, a meu ver, deformaram muita
coisa. Essa cristianização tinha que respeitar as características da cultura.
Sei que melhor fazer isso do que não ter feito nada. Na Paraíba há uma coisa curiosa.
Dois chefes de poderes desmancharam igrejas para fazerem palácios. D. Adauto e
outro, em 30. Quando entrei no Seminário para estudar, vi uma escadaria que
subia do claustro para o primeiro andar feita com taboas do forro da igreja.
Quanto se perdeu? Não foi só uma igreja ou duas. E as outras estão caindo aí
sem nenhuma proteção. Houve quem construísse de uma maneira que a gente
lamenta, mas se fez alguma coisa. Quero concluir fazendo algumas
indagações, cuja resposta deixo a critério de cada um. A verdadeira semente do Reino de
Deus foi plantada no Reino de Portugal, ou o Evangelho serviu mais à corte do
que à conquista das almas? Os frades trabalhavam pela
conquista das almas, estavam a serviço da autêntica cristandade, ou porque eles
eram remunerados pelo dízimo do padroado? A cultura dos índios e dos negros
foi preservada pelo projeto da pedagogia da conquista? Sem a presença da Igreja, o Reino
de Portugal e depois o Império do Brasil teriam cuidado da educação, da saúde e
da organização social dos índios, dos escravos e dos proletários dos campos e
das cidades? Quem saiu ganhando nas lutas da
conquista do interior paraibano, quando as fazendas eram fundadas com frades?
Quem saiu ganhando nessas lutas, a Igreja ou o Reino? Quem teve razão na questão
religiosa? O Bispo paraibano ou o Império? (o Império era o padroado). Qual o lado positivo do
Quebra-Quilos? Foi uma revolução política ou religiosa? Como se comportou a Igreja na
Inquisição da Paraíba? Por que a Igreja não cuidou dos
negros como cuidou dos índios, e hoje cuida dos sem terra? Para a cultura e as artes da
Paraíba teria sido melhor a ausência da Igreja? A respeito conheço a opinião de
Roger Bastide: O mais puro barroco do Brasil se chama a Igreja de S. Francisco. Quem saiu ganhando na República
com a separação da Igreja do poder civil? Qual a contribuição da Igreja na
formação dos homens de Estado da Paraíba? Quantas personalidades passaram
por uma formação religiosa específica? Governadores, presidentes, senadores,
reitores, etc. O que seria melhor? Haver
padroado, ou não ter havido padroado? Quem ajudou mais a Paraíba? Foi o
índio catequizado nos aldeamentos ou os negros, que segundo um Bispo, deviam
ser sempre escravos dos brancos? O que se deveu aos jesuítas e ao
Marquês de Pombal na formação do homo
paraibenses? Deve-se alguma coisa ao Marquês de Pombal ou se deve às Ordens
Religiosas? A igreja católica do século XX tem
um saldo positivo ou negativo em favor do povo de Deus? É só. · · · A fala do Presidente: Como prevíamos, a exposição do
professor Manuel Batista de Medeiros trouxe-nos muita luz sobre a participação
da Igreja na Paraíba, e não só na Paraíba e no Brasil, mas, também, deu-nos uma
visão da ação da Igreja no mundo, com o que nos facilitou entendê-la na sua
atuação nestas plagas. O expositor criou as condições
para podermos conhecer a Igreja, para
entender a Igreja na sua atuação secular. Ficamos esclarecidos sobre o papel
do padroado, um instituto que se, por um lado, permitiu a expansão da Igreja,
por outro trouxe alguns malefícios para sua própria organização, conforme
confessa o expositor. A importância da catequese dos
nossos tabajara e potiguara foi ressaltada nos seus limites. A exposição do
professor Manuel Batista de Medeiros teve, além das novidades que trouxe a
público, a análise crítica isenta sobre a Igreja, mostrando aspectos de sua
evolução até os nossos dias. Agora, vamos ter uma noção da
parte propriamente ligada à Paraíba, através da palavra do nosso consócio
Monsenhor Eurivaldo Caldas Tavares. Monsenhor Eurivaldo, na minha
classificação particular, faz parte da velha guarda da Igreja. São 50 anos de
sacerdócio, passando por várias paróquias do interior do Estado e terminando na
Igreja da Misericórdia, donde se afastou, mas continua firme em uma capela que
a Arquidiocese autorizou funcionar em sua própria residência, onde diariamente
celebra a Santa Missa. Na sua atividade religiosa foi
capelão de várias instituições tais como o Colégio Diocesano Pio XI, de Campina
Grande; Hospital Regional de Sapé; Hospital Napoleão Laureano; Penitenciária Modelo; Externato Santa Dorotéia. Foi também capelão
interino do I Grupamento de Engenharia e Construção e da Polícia Militar da
Paraíba, por onde se reformou como Major-Capelão. Monsenhor Eurivaldo exerceu o
magistério nas nossas universidades e em vários colégios. Pertence à Academia
Paraibana de Letras e no Instituto ocupa a cadeira nº 26, cujo patrono é
Diógenes Caldas. Publicou várias obras de valor
histórico sobre a Igreja e perfis biográficos sobre as figuras mais importantes
da nossa Igreja, tais como D. Moisés Coelho, João de Deus, Monsenhor Tibúrcio,
Monsenhor Anísio, Mathias Freire e outros, razão por que o convidamos para
participar deste Ciclo de Debates. Assim, é com satisfação que passo
a palavra ao Monsenhor Eurivaldo Caldas Tavares. · · · Debatedor: Monsenhor Eurivaldo Caldas Tavares (Sócio do Instituto e da Academia
Paraibana de Letras, major-capelão reformado da Polícia Militar, ex-professor
da UFPB) O Dr. Manuel Batista de Medeiros, expositor do
tema, já deu a lição verdadeira abordando o assunto que está sendo hoje
estudado neste Ciclo de Debates dedicado aos 500 anos do Brasil. Ele próprio
disse que ia seguir uma linha diferente da que comumente fazem os
historiadores, que enfadonhamente citam datas, lugares e fazem muitos detalhes
e deixam a seqüência de acontecimentos sem o estudo crítico, tal como ele fez.
O professor Batista demonstrou que não é apenas um historiador no sentido de
colecionar datas históricas, mas é um homem que interpreta não só a História da
Igreja, a História do Brasil, mas a história mundial. Fiz um trabalho pequeno, com certo
esforço, porque os companheiros sabem que minha saúde, de algum tempo para cá,
me tem dificultado escrever e pesquisar. Isto é um pretexto para pedir perdão
pelo modesto trabalho, que não está à altura da aula de sapiência do professor
Batista. O que nós temos de bom aqui é o
nosso Presidente, com a sua verve sempre atual e que, de vez em quando faz a
gente desopilar, quando a sessão está cansativa e ele diz uma das boas e a
turma acorda. Então, Presidente, quando notar que o trabalho estiver muito
pesadão solte uma das suas para ver se o plenário agüenta. Lerei para os senhores o trabalho
que preparei para este ciclo, dando início à minha participação. Em pronunciamento, há algum tempo,
da tribuna desta Casa, tivemos oportunidade de, referindo-nos ao nosso Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano, assim nos expressar: “Fiel a si próprio como
intérprete do existir e do viver da terra e do povo tabajarinos, tornou-se, na
verdade, o relicário vivo de suas mais puras e genuínas tradições. No
cumprimento de tão nobres e elevadas tarefas, remove a poeira dos arquivos,
confere datas, revive acontecimentos e neles situa, depois de pacientes e
criteriosas pesquisas, a vida e os feitos de quantos, filhos, ou não da Paraíba
estejam de uma forma, ou de outra, a ela ligados, para apontar seus nomes à
veneração e ao reconhecimento da
posteridade”. Nosso sodalício, justificadamente
chamado “Casa da Memória da Paraíba”, cada vez mais se desdobra em variadas
atividades culturais. Não se restringe, apenas às regulamentares sessões
ordinárias de cada mês, mas se expande em múltiplas realizações, divulgadas
através nossos “Boletins Informativos”, ou nos Relatórios da Presidência. Não resta tempo para se deterem
passivos nossos associados, ou estudiosos aficionados de temas específicos,
convidados que são para reuniões extraordinárias, ou assembléias gerais,
bastante concorridas e aplaudidas. Confirmação do que afirmamos, é, por
exemplo, este movimentado Ciclo de Estudos, cujo programa abrange 18 sessões de
debates e que se estende de 15 de setembro a 12 de novembro do corrente ano, e
que gira em torno da temática geral – A
PARAÍBA NOS 500 ANOS DE BRASIL. I – A IGREJA NA
PARAÍBA Este é o tema que tão
brilhantemente expôs nosso eminente consócio professor Dr. Manuel Batista de
Medeiros, cabendo-me adicionar algumas modestas achegas, como tarefa que devo
irrecusavelmente cumprir. Em carta aos seus diocesanos,
escrita da Fortaleza de São João, onde se encontrava preso, nosso conterrâneo
D. Frei Vital Maria Gonçalves de Oliveira, que se tornou conhecido por sua
participação na célebre “Questão Religiosa”, destemidamente comentou: “A
igreja nasceu, cresceu e vigorou no seio das perseguições, e, por isso, nada há
de recear. Mas o Estado?” O futuro, dizemos nós, respondeu
com profundas transformações operadas com a abolição da escravatura, o
progresso dos ideais republicanos, os quais mais se intensificaram depois da
guerra do Paraguai (1870), até a Proclamação do Marechal Deodoro, a 15 de
novembro de 1889. A primeira Constituição
Republicana preconizava completa separação entre a Igreja e o Estado por estar
impregnada dos princípios positivistas e contistas; a República impõe a
liberdade dos cultos, a secularização dos cemitérios, a laicização do ensino, o
casamento civil, negação dos direitos políticos aos religiosos, a confirmação
da Lei Pombalina que expulsava os Jesuítas, a vedação de novas ordens
Religiosas e seus conventos. Dessa forma, a República nascente não era menos
hostil à Igreja, que o Império. A reação, porém de nosso
Episcopado, através da Célebre Pastoral Coletiva (1890) soou como solene
protesto contra o governo, e sobre as condições de tratamento. Daí, como
conseqüência melhorou a liberdade religiosa, foi abolida a Lei Pombalina,
sentindo-se o revigoramento da vida cristã em todo o País. Digno de nota foi a nova política
de reconciliação diplomática adotada pela Internunciatura Apostólica inspirada
pelo Papa Leão XIII, o qual decidiu reestruturar a Hierarquia Católica em nosso
País. Assim sendo, o Brasil foi dividido em duas Províncias Eclesiásticas, a da
Bahia e a do Rio de Janeiro, de tal sorte que o território que antes abrangia
12 Bispados, ficou com 16, sendo que cada Província constaria de uma sede
Metropolitana e sete Bispados sufragâneos. Dentro desse quadro, chegou a vez da
Paraíba que ficou incluída na Província Setentrional, juntamente com o
Amazonas, enquanto que Vitória e Cuiabá, na Província Meridional. II – PARAÍBA –
PRELAZIA E DIOCESE ITINERÁRIO DA PARAÍBA CATÓLICA,
estudo por nós publicado, quando da ocorrência do IV Centenário da Fundação de
nosso Estado (1985), registra que o crescimento da Religião na Paraíba,
valeu-lhe, de preferência a Pernambuco ser escolhida sede de uma Prelazia,
criada em 1614. Tal Prelazia, sediada, como foi dito, na Paraíba
abrangia, além de seu próprio território, os das Capitanias de Pernambuco,
Itamaracá e Rio Grande do Norte. Seu primeiro Prelado, nomeado por alvará régio
foi o Padre Antônio Teixeira Cabral, cuja atuação foi considerada
regular, pois, apesar das grandes distâncias para percorrer toda a extensão da
Prelazia, criou o prelado diversos Curatos e Paróquias, aumentou o número de
padres, alguns vindos de Portugal e outros, ordenados pelo Bispo da Bahia. O
campo era fértil, o que propiciou ao Papa a criação da Diocese de Olinda, em
Pernambuco, abrangendo por terra e mar o Rio São Francisco aonde se limitava
com a da Bahia, as Capitanias da Paraíba e Rio Grande do Norte, até o Ceará,
inclusive. Como viram, a Prelazia não era uma
Diocese. O Prelado era um quase Bispo, apenas não era sagrado Bispo, mas tinha
poderes quase iguais aos Bispos. Finalmente, a Bula Ad universos orbis Eclesias, de 27 de
abril de 1892, de Leão XIII diz textualmente: “Para formar a outra Diocese
da Paraíba separamos igualmente para sempre e lhe designamos o território do
mesmo nome e do Estado do Rio Grande do Norte, que constituem presentemente
parte da Diocese de Pernambuco: na cidade da Paraíba fundamos a sede da
Igreja chamada da Santíssima Virgem das Neves a Catedral do Bispado e
elevamos por isso dita Igreja à dignidade de Catedral. Desta Diocese da Paraíba os
limites orientais e setentrionais serão fixados pelo Oceano Atlântico até a
barra do Rio Mossoró. Para o Ocidente os limites serão a cadeia dos Montes
Apodi e Pageú, dos quais será separado da Diocese de Fortaleza. Para o Sul,
finalmente, a Diocese de Olinda pela cadeia “Imburanas” à foz do Rio Goiana
serão os seus confins... Dado em Roma, junto a São Pedro,
no ano de 1892, da Encarnação do Senhor, a 27 de abril, décimo quinto do
nosso Pontificado. III – O PRIMEIRO
PASTOR – VIDA E MORTE Criada que fora a Diocese, os
paraibanos esperavam ansiosos seu 1º Pastor. A escolha recaiu na pessoa do
Revmo. Monsenhor Dr. José Basílio Pereira, virtuoso sacerdote do clero
baiano, o qual, por motivo de saúde, renunciou o honroso encargo. Em vista
disso, o Santo Padre Leão XIII elegeu o não menos idôneo Cônego Adauto
Aurélio de Miranda Henriques, Cônego da sede de Olinda e professor
catedrático do Seminário Diocesano local. Seu biógrafo, o ilustrado historiador
conterrâneo, Cônego Francisco Lima registra: o Bispo eleito era natural de
Areia. Sentindo-se chamado ao Sacerdócio e ajudado financeiramente por pessoas
amigas e de posses, viajou a Europa, onde cursou em Paris, o Seminário São
Sulpício, o Colégio Pio Americano e a Universidade Gregoriana em Roma, onde se
ordenou Padre aos 18 de setembro de 1870 e onde também foi sagrado Bispo,
em 7 de janeiro de 1894 pela imposição das mãos do Eminentíssimo Sr.
Cardeal Lúcio Maria Parochi. A carta saudando seus Diocesanos é
da mesma data, constituindo o primeiro elo de uma cadeia de 41 escritos
pastorais que somente terminaria no último, aos 6 de fevereiro de 1914;
o Papa Pio X pela Bula “Magis Catholicae Religionis”, ao tempo em que
criou a Diocese de Cajazeiras, elevou a Paraíba à condição de Província
Eclesiástica, elevou igualmente D. Adauto a seu 1º Arcebispo Metropolitano.
Em 29 de junho de 1932 o Papa Pio XI concedeu-lhe como Arcebispo
Coadjutor, com direito à sucessão, D. Moisés Coelho, até então Bispo de
Cajazeiras. Alquebrado pelo peso da idade, D. Adauto não renunciou e permaneceu
no Governo Diocesano até a hora de Deus. Contava já então quase 80 anos de
idade; 55 de Sacerdote; 41 de Bispo; e 21 de Arcebispo. Acometido de infecção pulmonar,
recolheu-se ao leito nos últimos instantes cercado por D. Moisés e diversos
Padres que foram sempre seu amparo e sua coroa de glória. Tendo recebido os
sacramento das mãos do seu sucessor e discípulo, D. Adauto entregou sua bela
alma a Deus, ao meio dia da Festa de Nossa Senhora de Assunção, aos 15 de
agosto de 1935. Os presentes repetiam em coro o versículo do hino sacro que
constituía a legenda de seu brasão episcopal Iter para tutum – prepara caminho seguro. Este lema de D. Adauto ainda hoje
está inscrito no Palácio do Carmo e no prédio onde até pouco funcionou A
IMPRENSA. Iter para tutum – prepara
caminho seguro. As pessoas que não tinham muitas
letras e não conheciam o Latim, sobretudo os pobres e ignorantes, a quem D.
Adauto dava muita atenção e acolhida em sua casa, viam inscrito na fachada do
palácio Iter para tutum e liam Iter
para tutúm, e traduziam “entrada para todos”. Aí todo mundo entrava no Palácio.
D. Adauto não tinha porteiro, não tinha segurança, não tinha nada, nem tinha
campainha para chamar. A porta aberta, eles encontravam D. Adauto sentado numa
rede e ao lado uma sacola cheia de medalhinhas de santos e um depósito com
diversas moedas. Aí chegavam os visitantes para tomar a bênção: “a bênção, seu
bispo”. Ele já meio surdo, perguntava o que queria. – A bênção, seu bispo. –
Ah! Está abençoado. Dava uma medalhinha e uma moeda. Era a vida dele, nos
últimos dias em que o conheci. Entrei no Seminário em 1933 e ele morreu em
1935, foram apenas dois anos de convivência com D. Adauto. Mesmo naquele
estado, ele estava presente em todas as solenidades e presidiu a Semana Santa,
até o último ano em que morreu. Apenas se cansava muito e quando a Mitra estava
incomodando sua cabeça ele chamava Monsenhor José Tibúrcio, que era nosso
Reitor e cerimoniário, e dizia: “tira isso da minha cabeça que não agüento
mais. Está muito pesado”. Fiz esse parêntese para abrandar a leitura do texto. Continuemos. Velado na Igreja do
Carmo, o esquife foi conduzido em procissão por avultado número de fiéis que
assistiram consternados o sepultamento de seu Pai Espiritual, aos pés da
Santíssima Virgem das Neves. O primeiro local onde D. Adauto
foi sepultado foi exatamente aos pés do altar de Nossa Senhora, lá abriram a
sepultura para ele. Eu me recordo de um incidente que ia tendo certa gravidade se
não fosse a presteza de quem o acudiu na hora. O interventor da Paraíba que
está presente estava bem próximo ao local do enterro, distraidamente, ia caindo
na sepultura aberta para o Bispo e foi agarrado a tempo de evitar o acidente.
Posteriormente, tiraram, inexplicavelmente, o corpo de D. Adauto. Sou de
opinião que não deviam ter tirado. Lá estava D. Adauto enterrado sob uma lápide
de mármore com os dísticos em Latim: “Aqui repousa aos pés da Virgem das
Neves D. Adauto Aurélio de Miranda Henriques, 1º Bispo e Arcebispo 1º da
Arquidiocese da Paraíba”. São lembranças que guardo, porque fui testemunha
ocular. Discorrer sobre D. Adauto, 1º
Bispo e 1º Arcebispo da Paraíba e o que representa sua obra evangelizadora que
vai de 4 de março de 1894 a 15 de agosto de 1935 é tarefa que abrange
quase metade de um século, que encerra a história de nossa centenária Igreja
Diocesana. Amante das letras e das ciências, nosso Bispo além de abrir colégios
na Capital e no interior, da Paraíba e do Rio Grande do Norte para a educação
da mocidade, estabeleceu um Instituto Superior para a formação do Clero, com
sede na Cidade Episcopal. Concedeu-lhe o Senhor que ele
próprio viesse a colher através dos anos, os sazonados frutos do zelo
apostólico de mais de duas centenas de Padres e de meia dúzia de Bispos que ele
ordenara, espalhados pela Paraíba, Rio Grande do Norte e o Brasil afora. Tudo a
atestar e justificar os títulos de glória do nosso Seminário Arquidiocesano,
genuína Escola do Saber e da Virtude. Não é de omitir-se, seu cuidado pela
criação e funcionamento do Jornal Católico que, por anos, circulou – A IMPRENSA. IV – D. MOISÉS
COELHO – COADJUTOR E 2º ARCEBISPO D. Moisés Coelho, Padre ordenado por D. Adauto,
que o fez Cônego do Cabido e Diretor Espiritual do Seminário, apontado por ele
para o Episcopado, como 1º Bispo de Cajazeiras em 16 de novembro de 1914, foi o
mesmo virtuoso Prelado indicado ao Papa, para tornar-se seu Coadjutor com
direito à sucessão, empossado em 29 de junho de 1932. Segundo afirma o Cônego Francisco
Lima em sua obra SUBSÍDIOS BIOGRÁFICOS (Vol. III): “Era de mister um
Coadjutor que aliasse ao espírito de fé, o zelo da caridade, isto muito acima
das raias comuns. Exigia-se do Coadjutor que conhecesse o terreno,
praticamente, que estivesse familiarizado com todos os seus elementos positivos
e negativos, que houvesse testemunhado as lutas, as reações, as iniciativas, os
empreendimentos que ponteavam a história daquela conquista. Eis a gênese da
escolha de D. Moisés Sizenando Coelho, para Arcebispo Coadjutor de D.
Adauto, para 2º Arcebispo da Paraíba”. D. Moisés percorreu toda a
Arquidiocese em visitas pastorais. Dedicou-se à pregação de Retiros
Espirituais, palestras e conferências, Páscoas coletivas e administração do
Sacramento do Crisma. Esteve presente ao Congresso Eucarístico, em Salvador, na
Bahia, em 1933, como ao Congresso Eucarístico Internacional, realizado em
Buenos Aires em 1934. Dominus illuminatio
mea era o dístico de seu lema episcopal – O Senhor é a minha luz. Guiado
por essa luz divina, D. Moisés continuou o longo e fecundo apostolado de seu
antecessor. Durante seu período como metropolita, foram criadas mais duas
Dioceses na área: Caicó/Rio Grande do Norte, em 1939 e Campina Grande (em nosso
Estado), em 1949 e a elevação de Natal à dignidade de Arcebispado (1952). Sua visão do futuro e sua
preocupação por novos padres levaram-no a instalar pessoalmente em todas as
Paróquias da Arquidiocese a Obra das Vocações Sacerdotais. Mesmo apegado
pessoalmente às velhas paredes do Seminário de São Francisco, em que se formara
e em que exercera por tempos sua função de orientador de consciência dos
futuros padres, não hesitou em empenhar-se pela edificação de novas e modernas
instalações do Seminário no Bairro do Miramar, e que se tornara sublime aspiração
de seu futuro Bispo Auxiliar, D. Manoel Pereira da Costa. Um sonho que D. Moisés sempre
acalentou, prova dos cuidados paternais que
votava por seus auxiliares, foi edificar para os padres idosos e os que
na capital não possuíam casa própria, ou mesmo local digno onde se hospedassem,
quando tivessem de vir a negócios à cidade, foi organizar a Casa do Padre, à imagem de uma Casa
Grande que abrigasse a família sacerdotal. Foi de veras comovedor, até às
lágrimas, o momento em que o pastor solícito, velho e alquebrado, em uma
cadeira de rodas, ser conduzido para benzer, pessoalmente, sua última
realização. Era o legado que deixava em testamento e que teve a ventura de ver
funcionando, antes de morrer. Pena, muita pena mesmo, que, pouco tempo depois
de seu desaparecimento, desaparecesse, por igual, sua obra, alienando-se o
prédio, a que foi dada outra destinação. Seu interesse pela defesa da fé e a
difusão da boa imprensa levou-o a promover intensa campanha por um melhor
reaparelhamento do nosso diário católico A IMPRENSA, que D. Adauto criara.
Círculos Operários multiplicavam-se na capital, bem como receberam novos
incentivos as Congregações Marianas e Cruzadas Eucarísticas Infantis. Organizou a Ação Católica Oficial com a
instalação de sua Junta Arquidiocesana. Já antes, em 1936, promoveu, na
impossibilidade de um Congresso Nacional, uma Semana Eucarística, na capital,
com excelentes frutos de fé e devoção dos fiéis. Para sua administração, além
da dedicação de seu Clero, especialmente o Paroquial, contou D. Moisés com a
lealdade e eficiente ajuda de seus vigários gerais, Mons. Odilon Coutinho e D.
Manoel Pereira, que também foi Bispo Auxiliar. D. Moisés Sizenando Coelho nasceu em Cajazeiras, a 8 de
abril de 1877. Ordenou-se a 1º de novembro de 1901. Serviu no Rio Grande do
Norte, em Natal, como Capelão das Irmãs Dorotéias, Vice-Diretor do Colégio
Santo Antônio, Coadjutor da Matriz, ao lado do vigário Pe. João Maria
Cavalcanti de Albuquerque, o qual morreu em odor de santidade e cuja memória
ainda permanecerá na consciência do povo cristão natalense. Na Capital
paraibana, foi Diretor Espiritual do Seminário, Cônego do Cabido, Vice-Diretor
Diocesano do Apostolado da Oração, Diretor da Liga Eucarística Sacerdotal e
Redator do jornal A IMPRENSA. Em 16 de novembro de 1911 foi eleito pelo
Papa Bento XV 1º Bispo de Cajazeiras. Em 22 de fevereiro de 1932,
tomando posse no dia 29 de junho do mesmo ano, foi nomeado Arcebispo
Coadjutor, com direito à sucessão. A 15 de agosto de 1935, com a
morte de D. Adauto tornou-se o 2º Arcebispo Metropolitano da Paraíba. A 18
de abril de 1969 expirou placidamente ao Senhor, contando 82 anos de idade;
58, de Padre; 44, de Bispo; 27 de Arcebispo Coadjutor e 24 de Metropolita. V – 3º ARCEBISPO
METROPOLITANO – BREVE PASTOREIO – RENÚNCIA O sucessor de D. Moisés, como 3º
Arcebispo Metropolitano da Paraíba foi D. Mário de Miranda Vilas-Boas.
Nasceu a 4 de agosto de 1903, na cidade do Rio Grande, Estado do Rio Grande do
Sul. Fez seus primeiros estudos em São Cristóvão, antiga capital de Sergipe.
Sentindo-se chamado à vida sacerdotal, matriculou-se no Seminário da mesma
cidade. Concluídos os estudos eclesiásticos foi ordenado Padre, a 5 de dezembro
de 1925 pelo Bispo D. José Thomaz Gomes da Silva. Foi Cônego do Cabido,
Secretário do Bispado e ainda agraciado com a dignidade pontifícia de
Monsenhor. Exerceu o magistério no Colégio Estadual e no Colégio Nossa Senhora
de Lourdes, sendo também sócio fundador da Academia Sergipana de Letras. Escolhido para o Episcopado, foi
sagrado Bispo de Garanhuns em Pernambuco aos 30 de outubro de 1938.
Seu lema episcopal foi Sentir cum
Ecclesia – Sentir com a Igreja,
enquanto, sua 1ª Carta Pastoral saudando os diocesanos foi considerada
documento básico para o movimento litúrgico e o apostolado leigo no Brasil. Dotado
de voz atraente a serviço de um verbo inflamado, D. Mário empolgou nos
Congressos Eucarísticos Nacionais do Recife, São Paulo, Belo Horizonte, Porto
Alegre, Curitiba e na Consagração do Brasil à Nossa Senhora e em outras
ocasiões religiosas e civis de relevante importância, merecendo ser incluído
entre os maiores oradores sacros de nossa Pátria. A 5 de janeiro de 1945
foi elevado a Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará, quando
desenvolveu fecundo apostolado que o projetou mais no cenário brasileiro. Imortalizou-se, no entanto, na
realização do VI Congresso Eucarístico Nacional, no ano de 1953, na capital
paraense. Após 12 anos de intenso trabalho apostólico no Norte do Brasil,
começou a sentir abalo em sua saúde, motivado provavelmente pelos rigores do
clima abrasador da região. Foi então transferido para a Bahia como Arcebispo
Coadjutor do Eminentíssimo Sr. Cardeal de Salvador e Primaz do Brasil, com
direito à sucessão, em maio de 1957. Demorou-se por pouco tempo na
Bahia, sendo, a pedido, transferido para a Arquidiocese da Paraíba,
empossando-se a 27 de setembro de 1959. Persistindo os males que lhe
afetavam a saúde, não lhe foi possível exercer os planos e metas que traçou. D.
Mário passou por profundo golpe, que foi o passamento de sua venerada e, para
ele, idolatrada genitora, D. Ritinha. Abatido e triste, encaminhou à Santa Sé
novo pedido de renúncia, que foi aceito em 18 de maio de 1965. Retirou-se,
então, de volta a Aracaju, onde foi residir em casa, que lhe foi generosamente
ofertada por um grupo de fiéis amigos e admiradores. Lá, veio a falecer a 23 de
fevereiro de 1968, aos 65 anos de idade, 43 de Padre, 30 de Bispo e 23 de
Arcebispo. VI – 4º ARCEBISPO –
D. JOSÉ MARIA PIRES Após a renúncia de D. Mário, do
Governo Arquidiocesano da Paraíba, em 18 de maio de 1965, seguiu-se longa
vacância, em que o mesmo Governo foi exercido pelo Vigário Capitular eleito,
Mons. Pedro Anísio Bezerra Dantas. Nomeado pelo Papa Paulo VI, no dia
2 de dezembro de 1965 tomou posse em 27 de março de 1966, o 4º
Arcebispo Metropolitano, D. José Maria Pires, nascido em Córregos, Minas
Gerais, aos 15 de março de 1919. Estudou no Seminário de Diamantina, onde se
ordenou Padre em 20 de dezembro de 1941. Exerceu o magistério como Diretor do
Colégio em Governador Valadares. Foi Pároco em Açucena e Curvelo. Escolhido
para o Episcopado, em 22 de setembro de 1957, tornou-se Bispo de
Araçuaí, escolhendo o lema Scientiam
Salutis – Ciência da Salvação. Ali permaneceu durante oito anos, até
a sua elevação ao Arcebispado da Paraíba. Sua caminhada em nosso meio se
notabilizou pela ação pastoral que, como Padre Conciliar que foi, do Concílio
Ecumênico Vaticano II, fez-se responsável pelas profundas modificações que a
Igreja tem sofrido em sua atuação no mundo contemporâneo, em nível de documentos
de ordem doutrinária, ou de atitudes práticas no âmbito pastoral. Foram 30 anos
de convivência em que o Arcebispo D. José deu testemunho de vida, com a força
irresistível de franqueza e coragem de lutar. Pela justiça, pela posse da
terra, pela não violência, pela paz social. Foi um trabalho insano, liderando
movimentos que visavam conduzir nossa Igreja do remanso das elites para a
conturbada periferia dos pobres e excluídos, ou como ele próprio dissera e
escrevera: “Do centro para a margem”. Estimulou, através de Assembléias
diocesanas, encontros, visitas pastorais e intereclesiais, as Comunidades
Eclesiais de Base, campanhas de fraternidade, comissão pastoral da terra,
pastorais especializadas: do negro, do índio, e do movimento de promoção da
mulher e da proteção ao menor abandonado. Criou o Centro Cultural São
Francisco, incluindo o Museu Sacro, o Arquivo Eclesiástico, reabriu o Seminário
Arquidiocesano. Instalou, em terreno doado pelas Religiosas de Santa Catarina a
nova Casa dos Padres, com ajuda
vinda do exterior, e celebrou o Centenário da Diocese – 1984-1994, com dístico:
“Cem anos de coragem e fé”. Em 1975, teve seu Bispo Auxiliar,
na pessoa do Sr. D. Marcelo Pinto Carvalheira, o qual, mais tarde,
tornou-se o 1º Bispo de Guarabira, cidade paraibana que se tornando
Diocese, ficou fazendo parte da Província Eclesiástica da Paraíba. Cumprindo
disposições emanadas da Santa Sé Apostólica, por motivo de haver atingido a
idade de 75 anos, apresentou ao Santo Padre, o Papa, o seu pedido de renúncia do
ônus episcopal, que aceito, em 29 de novembro de 1995, tornou-o Arcebispo
emérito da Paraíba e Administrador Apostólico Arquidiocesano até a posse de
seu substituto. VII – 5º ARCEBISPO –
D. MARCELO PINTO CARVALHEIRA Nasceu em Recife a 1º de maio de
1928. Cursou o Seminário de Olinda, onde concluiu o 1º e 2º graus. Filosofia e
Teologia cursou na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma. Ordenou-se
Sacerdote na Cidade Eterna, aos 28 de fevereiro de 1953. De volta a capital
pernambucana, foi Professor de Teologia no Seminário de Olinda e mais tarde,
Diretor Espiritual do Seminário Arquidiocesano do Recife, na Várzea e ainda
Reitor do Seminário Regional do Nordeste, Olinda e Camaragibe. Ainda como
Padre, foi Vigário Episcopal para o setor de leigos. Já no ano de 1975
foi eleito Bispo, sendo sagrado em João Pessoa, aos 27 de fevereiro, como Auxiliar do Sr.
Arcebispo da Paraíba. Em 1981 foi transferido para a
recém-criada Diocese de Guarabira, como Bispo Diocesano, atuando sempre
dentro do seu lema escolhido Evangelizare
– Evangelizar, tornou-se verdadeiro missionário, difundindo o Evangelho entre
todas as camadas da sociedade, de modo mais intenso entre os humildes e os sem
vez e sem voz. Durante o período, teve sempre marcante atuação na C. N. B.
B. – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, participando pelo Episcopado
Brasileiro no Sínodo Universal dos Leigos, em Roma, e na Conferência Geral do
Episcopado Latino-americano. A 29 de novembro de 1995
foi elevado a Arcebispo, tornando-se o 5º Arcebispo Metropolitano da
Paraíba. Sua posse canônica foi efetuada no dia 14 de janeiro de 1996. O novo pastor tem procurado dar
execução ao Projeto de Evangelização da Igreja no Brasil, em preparação ao
grande Jubileu do Ano 2000, rumo ao 3º Milênio, proposta pela Conferência
Nacional dos Bispos Brasileiros, dentro das reais circunstâncias do nosso meio.
Assim, levando em conta o constante crescimento populacional das regiões
suburbanas da sede episcopal, criou e instalou mais sete Paróquias: No Jardim
Planalto, a da Virgem dos Pobres; no Jardim 13 de Maio, a de Nossa Senhora
Aparecida; no Brisamar, a de São Pedro e São Paulo; na Penha, a de Nossa
Senhora de Guadalupe; no Bessa, a da Virgem
do Auxílio dos Cristãos; no Conjunto Castelo Branco, a de São Rafael; no
Rangel, a de São Francisco das Chagas. No interior, foi ainda criada na cidade
de Itapororoca a Paróquia de São João Batista. Além disso, na Capital, a antiga
igreja do secular Mosteiro de São Bento foi reaberta ao culto público, depois
de restaurada, o mesmo acontecendo com o Convento e a Igreja da Guia, na praia
de Lucena. Na praça São Francisco, no centro da cidade, foi instalado o
Convento para as Irmãs do Carmelo, Nossa Senhora Mãe de Deus. A Arquidiocese,
com ajuda financeira do Movimento Internacional “Adveniat”, adquiriu uma casa,
bem próxima à Igreja Catedral, para servir como Residência Episcopal. É de
referir-se aqui, o empenho pessoal do Sr. Arcebispo D. Marcelo, junto à
Congregação Romana do Culto Divino no Vaticano, e até junto ao próprio Papa no
sentido de que fosse benignamente aceita sua súplica de elevar nossa Catedral
à dignidade de Basílica Menor, o
que, felizmente se tornou realidade com a assinatura pelo Papa João Paulo II,
do Breve Pontifício, datado de 5 de novembro de 1997. Igualmente não é de
ocultar-se que essa honrosa conquista dos católicos paraibanos, principalmente
se deve ao nosso Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, que, por
ocasião das comemorações do IV Centenário da criação da Paraíba, em 1985,
através de proposta nossa, aprovada na oportunidade, enviou correspondência ao
Vaticano pedindo tal privilégio que é ser, hoje, o nosso mais antigo. santuário
mariano da Paraíba a igreja Catedral Basílica de Nossa Senhora das Neves. Além de altas missões delegadas
pela CNBB, nosso Arcebispo foi recentemente em Assembléia Geral eleito
Vice-presidente desse Órgão representativo da Igreja no Brasil, o que sendo
para ele uma honra, lhe acarreta muitos encargos que o obrigam, inclusive, a
deslocar-se freqüentes vezes, viajar a Brasília, São Paulo e até Roma. Em
decorrência ainda desses novos encargos tornou-se responsável pelo
acompanhamento à vida religiosa do Brasil. VIII – CONCLUSÃO À guisa de conclusão deste nosso
estudo sobre A IGREJA NA PARAÍBA, gostaria de apresentar interessantes e judiciosas
considerações sobre o tema deixado escrito, ao ensejo da ocorrência do
centenário da instalação da nossa Diocese (1894-1994) pelo nosso Arcebispo
Emérito D. José Maria Pires, o qual distingue duas fases na Igreja da Paraíba: 1ª fase: Igreja – Poder Religioso
ao lado do Estado – Poder civil, compreendendo os períodos de D. Adauto e D.
Moisés. Quer dizer, a predominância era do poder civil sobre a Igreja, segundo
D. José Maria. 2ª fase: Igreja – Progressismo e
conservadorismo, que engloba os últimos pastores D. Mário Vilas-Boas, D. José
Maria Pires e, acrescentaríamos, D. Marcelo Carvalheira. Indaga D. José Maria: Estaríamos
iniciando, agora, uma nova fase de Igreja? Estaríamos saindo da contestação, em
que ainda se destaca a imagem da Igreja-Poder e partindo para um outro
modelo, o da Igreja-formadora de consciência, defensiva dos direitos,
inspiradora de esperança e promotora da paz? É a pergunta de D. José colocada
para nossa reflexão. E assim agradeço e peço mil
perdões pela maçada aos presentes. O que vale é minha intenção de prestar minha
colaboração a este Ciclo. Deus lê dentro coração e dentro do meu coração está,
sem dúvida, a minha Igreja da Paraíba, os Bispos com os quais eu servi, de modo
particular, D. Adauto, em cujo período entrei no Seminário; D. Moisés, que me
ordenou padre; D. Mário, que apenas lamento a sua fraqueza física por não ter
podido seguir o seu programa; D. José, com os piparotes que me deu e que eu
retribui à altura, e que hoje é meu amigo (em certo tempo não foi, não; foi meu
padrasto e até disse a ele, porque no meu tempo a gente tinha o Bispo como pai,
mas ele foi um padrasto); e D. Marcelo, que é aquele coração imenso, a quem nós
queremos muito bem. · · · A fala do Presidente: Nosso debatedor mostrou-nos a
direção da Igreja na Paraíba, nesses 500 anos de Brasil, desde quando a Paraíba
se transformou na Diocese que abrangia Pernambuco, Itamaracá, Paraíba e Rio
Grande do Norte, em 1614. O registro da atuação dos nossos
Bispos e Arcebispos ficará nos nossos anais. Um trabalho dessa natureza é
necessário para nossa história eclesiástica. Por outro lado, temos que acentuar
o trabalho apresentado pelo professor Manuel Batista de Medeiros, que deu uma
coloração sociológica e política sobre a participação da Igreja na Paraíba.. Apesar do adiantado da hora,
passamos a palavra aos que desejarem oferecer algumas considerações. 1º Participante: Marcus Odilon
Ribeiro Coutinho: Gostaria de saber se a Igreja, que
foi tão preocupada com os índios do Brasil, se ordenou algum índio padre? Manuel Batista: Foi ordenado um índio, mameluco.
Serafim Leite conta uma designação. Guilherme d’Avila
Lins: Quero parabenizar o professor
Manuel Batista de Medeiros e o Monsenhor Eurivaldo Caldas Tavares por suas
exposições tão oportunas. Quando o professor Manuel Batista falou sobre
Capistrano de Abreu refleti o seguinte: a um historiador que tenha um razoável
embasamento informativo ele sequer precisa ser católico para perceber a
importância da Igreja católica na formação cultural, artística, social,
educacional da nossa sociedade. E uma prova evidente deste fato é que o próprio
Capistrano era ateu. Completamente ateu, e que sofreu como um condenado quando
a filha Honorina resolveu ser freira.. Mas ele disse que não se poderia
escrever a História do Brasil sem primeiro escrever-se a história dos jesuítas,
melhor dizendo, de todas as ordens religiosas. Na Paraíba, por exemplo, a Ordem
da Companhia de Jesus teve um uma influência importante, mas efêmera, porque em
dois segmentos. Desde a campanha da fundação até 1593 e, posteriormente, já no
século XVII. Isso em conseqüência da política pombalina, que pode ter sido de
grande renovação e modernização para Portugal, mas foi um desastre educacional
para o Brasil. Porque, até serem expulsos os jesuítas do Brasil, já se formavam
mestres nos colégios da Bahia e Rio de Janeiro, com toda a pompa semelhante à
da universidade de Lisboa. Por isso entramos num obscurantismo durante um bom
período, até que viesse o Seminário de Olinda e se renovasse todo o processo
educacional brasileira. Mas, aqui na Paraíba, posso dar meu testemunho pessoal
de que as coisas vão melhorar, pois, até o momento, minha melhor ferramenta de
fontes primárias para a História da Paraíba é o livro do tombo do Mosteiro de
São Bento, o qual muito pouco tem sido consultado, principalmente para a
elaboração da nossa história colonial. Ainda não foi escrita a história da
Ordem de São Bento, na Paraíba. A Ordem dos Carmelitas também foi importante,
mas, lamentavelmente, no zelo que tiveram em esconder seus livros e fontes com
a chegada dos holandeses, resolveram enterrá-los, ficando totalmente perdidos
vinte anos mais tarde. Devemos ressaltar o trabalho da nossa confreira Glauce
Burity, que em sua tese de mestrado falou sobre os Franciscanos., trabalho esse
de grande importância para a nossa historiografia. Quando os holandeses tomaram
conta Paraíba escolheram para sediar o governo o Convento de São Francisco. E
que patrimônio artístico nós temos senão o Convento de São Francisco, a Igreja
de São Bento, a Igreja do Carmo. É a Igreja da Guia, um patrimônio sensacional.
Passou por um processo de recuperação, mas agora precisa entrar num processo de
utilização cultural, ou seja, escrever sobre esses monumentos. Acho que sem a
história das Ordens Religiosas na Paraíba, não temos história, ou temos uma
história muito pálida. Considerações finais
do professor Manuel Batista de Medeiros: Sobre as colocações aqui feitas,
posso dizer que ninguém pode calcular o prejuízo da obra de Pombal em cima da
cultura. Para se ter uma amostra, o Brasil para agraciar o rei da Bélgica teve
que fazer um faz de conta que criava a Universidade do Brasil, que na realidade
foi criada neste século. E aí a Universidade podia dar uma comenda ao rei.
Enquanto o Peru, já no século XVII, tinha universidade. Eles não tiveram
Pombal. Quanto a historiadores sem fé, se
houver sinceridade na cultura, prescinde-se da fé. No século passado o Vaticano
abriu seus arquivos. E aí, Pastor, um historiador alemão, protestante, escreveu
a história dos Papas em 70 volumes. Então não é preciso ser católico para
escrever sobre eclesiologia católica.
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