11º
Tema O MOVIMENTO DE 64 E A PARAÍBA Expositora: Martha Falcão Debatedor: Luiz Hugo Guimarães A fala do Presidente: Abrindo os trabalhos, convido a
professora Martha Falcão, expositora do tema de hoje, para compor a mesa; o
acadêmico Joacil Pereira, presidente da Academia Paraibana de Letras, confreira
Waldice Mendonça Porto, 1ª Secretária do Instituto. O tema de hoje é O MOVIMENTO DE 64
E A PARAÍBA, e a escolha da professora Martha Falcão se deve aos vários
trabalhos de sua autoria sobre o assunto. Ela é professora de História na
Universidade Federal da Paraíba, é Mestra em História do Brasil e Doutora em
História Social, além de graduada em Direito. Um dos seus trabalhos bastante
consultados é NORDESTE, AÇÚCAR E PODER. É uma das mais recentes aquisições
do nosso Instituto, posto que ela ingressou neste silogeu em março último. Passo a palavra à professora
Martha Falcão. Expositora: Martha Maria Falcão Carvalho de Moraes e Santana (Sócia do Instituto, professora
de História da UFPB, Mestra e Doutora em História, graduada em Direito) É para mim uma grande alegria ter meu nome incluído
como uma das expositoras desses 500 anos de Paraíba em debate. O tema que nos
coube é justamente o Movimento de 64 e a Paraíba. Gostaria de ter a liberdade
de tratar o tema como o Golpe militar de 64 e a Paraíba. Logicamente nós não
podemos nos referir ao golpe sem pensarmos em termos de processo, porque o
golpe foi muitas vezes tramado, conspirado, adiado, e finalmente consumado.
Para falar no golpe de 64, teríamos que remontar, fazer uma retrospectiva ao
panorama que se descortina no pós-guerra. Em 1945 o mundo sofre uma
bipolarização e vive a divisão entre o Ocidente democrata, capitalista e a
União Soviética, que se expande formando o bloco do Este comunista. Surge aí a
doutrina de sustentação ideológica chamada Guerra Fria. E é nesse panorama de
pós-guerra que os países da América Latina sofrem uma verdadeira renascença em
termos de industrialização. Com o crescimento da industrialização, do
proletariado e das lutas sociais, logicamente surge a necessidade das elites
políticas procurarem legitimação e sustentação através daquilo que já vem desde
o Estado Novo, aqui no Brasil, onde nós temos como exemplo a CLT e uma série de
benesses; temos também o atrelamento dos sindicatos, com a desarticulação do
movimento dos trabalhadores e, sobretudo, temos a afirmação de uma liderança,
não somente em termos de Brasil, mas também em termos de América Latina, que
procura uma aproximação maior com a classe trabalhadora, não no sentido de dar
sustentação e mobilização a essa classe, mas no sentido de desarticulá-la. Essa
sustentação ideológica é aquilo que nós chamamos de populismo. O movimento de 64 só pode ser
compreendido como um colapso desse movimento que surge no pós-guerra, em 1945.
Temos a Guerra Fria, que vai ter como sustentação a ideologia da segurança
nacional tão bem estudada por Roger Comblant, que hoje está sofrendo penalidade
do Vaticano, fazendo um trabalho muito bonito em Serra Talhada, Pernambuco. Ele
procurou fundar ali um seminário dentro dos moldes da Teologia da Libertação,
mas nestes tempos de igreja romanizada o seminário foi para o brejo. Estamos
assistindo nesse final de milênio a desarticulação do movimento da Teologia da
Libertação e o crescimento da Igreja romanizada. Para podermos pensar sobre o que é
Guerra Fria não posso me deter, porque o tempo é muito pouco, pois desejaria
trazer para aqui a Guerra Fria como a bipolarização do mundo, num antagonismo,
numa luta de disputas nucleares e, dentro desse contexto, tivemos, aqui na
América Latina, em 1959, a vitória da Revolução cubana, que vai contribuir
muito para acirrar esse antagonismo, sobretudo quando a União Soviética começa
a fazer propostas de articulações sobre bases nucleares em Cuba. É quando vemos
toda uma preocupação do governo Kennedy no sentido de criar mecanismos de
injunções na América Latina para impedir o avanço do movimento socialista. É dentro desse contexto que a
gente pode compreender o processo que culminou com o golpe de 64. Dentro desse
golpe de 64 vamos ver o avanço do populismo. Na esteira desse avanço vamos ter
a abertura, o escancaramento da economia brasileira às multinacionais. Vamos
ver isso em termos de produção de mercado, em termos de industrialização e
crescimento de estradas; vamos ter também a crise do petróleo, no governo de
Juscelino Kubitschek, que é um expoente do Governo Populista. Não vamos nos
deter no varguismo porque iríamos retroceder muito, e o tempo não dá. Dentro da esteira populista vemos
também a eleição de Jânio Quadros, que também é um dos expoentes do populismo.
Com a renúncia de Jânio Quadros temos a posse de João Goulart. Temos que
compreender a que João Goulart está ideologicamente vinculado. João Goulart
tinha sido Ministro do Trabalho na época de Vargas; como Ministro do Trabalho
deu um aumento de cem porcento aos trabalhadores. Procurou sempre ser uma
bandeira de luta do centro-esquerda, dentro do Partido Trabalhista Brasileiro –
PTB. E justamente ele é eleito numa chapa que tem o apoio da União Democrática
Nacional – UDN, do Partido Democrático Cristão – PDC, para apoiar Jânio
Quadros. Aqui na Paraíba há um momento áureo com a eleição de Pedro Gondim.
Existe uma série de trabalhos excelentes que gostaríamos apenas de citá-los.
Temos um trabalho que foi publicado em 98, que é uma síntese desse período. É
um dos melhores trabalhos, resultante de uma dissertação de Mestrado, mas que
vale por um Doutorado, da professora Monique Citadino, da qual tenho a honra de
ser colega de Departamento na UFPB. Nesse trabalho ela remonta à fundação dos
partidos políticos, com a redemocratização do país em 1945; ela mostra a
hegemonia da UDN e do PSD aqui, como partidos majoritários; mostra o racha da
dissidência de Pedro Gondim quando do lançamento da sua candidatura a
vice-governador na chapa conciliatória ao lado de Flávio Ribeiro; mostra o
acidente vascular e as doenças que motivaram o afastamento de Flávio Ribeiro;
os compromissos do grupo da Várzea; mostra também o pequeno período que Pedro
Gondim governou como vice até se desincompatibilizar e durante esse período ele
utilizou a máquina estatal para mostrar a sua política populista e criar suas
bases de sustentação; depois ele volta e procura dentro do seu próprio partido,
o PSD, ser candidato ao Governo do Estado e não encontra sustentação porque se
mitifica muito Rui Carneiro para não permitir que outras lideranças não o
sobrepujassem. Isso ainda não foi estudado na historiografia.. Vê-se muito Rui
Carneiro com uma política do paternalismo, a política do coração, mas nunca se
estudou Rui Carneiro como aquele que deteve o comando, a ferro e a fogo, do PSD,
sem permitir que lideranças mais avançadas como Joffily, e como o próprio Pedro
Gondim, pudessem ganhar seu próprio espaço no partido. É por essa concepção
que, na hora de escolhê-lo como governador, muito embora ele tivesse todo o
apoio da classe trabalhadora, como é o caso do próprio Sindicato dos Bancários,
do qual Luiz Hugo Guimarães foi um dos presidentes mais atuantes e poderá dar
um depoimento depois, tinha penetração na classe estudantil, mas ele não foi escolhido,
porque já havia uma aliança das forças mais conservadoras do PSD, no sentido de
apoiar o próprio irmão do chefe político Rui Carneiro, no caso Janduhy
Carneiro. Havia uma bipolarização entre a liderança do personalismo e a
liderança do partido político. A Paraíba era um Estado de base exportadora, de
relações ainda muito coronelísticas, em virtude das próprias forças econômicas
que estavam muito voltadas para a exportação e não para a industrialização; um
Estado que não tinha ainda uma base financeira que lhe desse sustentação; não
havia um proletariado organizado em termos de mobilização. Então nos anos 60
nós vamos ter no bojo da fundação da SUDENE, da fundação dos Distritos
Industriais, a própria expansão do capitalismo e dentro dessa expansão do
capitalismo motivada pelo processo de industrialização criada pela SUDENE, nós
vamos ter essa efervescência política
do populismo aqui na Paraíba. No momento áureo desse populismo, segundo
os que estudam esse período com mais afinco, que conhecem mais as bases desse
movimento, emerge a figura populista de Pedro Gondim na campanha que empolgou
toda a Paraíba, de Cabedelo a Cajazeiras, com o slogan do HOMEM É PEDRO. “Eu
estou com Pedro porque não estou com medo”. Pedro Gondim vai buscar o apoio do
Partido Socialista Brasileiro – PSB e
logo depois se muda de malas e bagagem para o Partido Democrata Cristão – PDC.
Ele se candidata com todo o apoio da UDN. O grupo da Várzea lhe dá toda
sustentação e ele é eleito. Dentro dessa eleição nós vamos ver forças de várias
naturezas. Vamos ver a frente nacionalista liderada por Joffily mantendo-se
fiel ao PSD, apoiando Janduhy, por conta do contexto nacional, que tinha como
candidato a Presidente da República o general Lott. Lott era o próprio símbolo
nacionalista, que tinha um passado de luta pela legalidade. Muitas e muitas
vezes ele se insurgiu contra as tropas e fez valer o princípio da
constitucionalidade. Vamos ver isso na posse de Juscelino Kubitschek, quando
alguns grupos conservadores das Forças Armadas procuram derrubar o próprio
Juscelino Kubitschek, impedindo a sua posse. Dizem muitos historiadores,
inclusive Thomas Skidmore, que a morte de Getúlio Vargas adiou por dez anos o
golpe de 64 e isso o professor José Octávio repete num livro que escreveu e que
é imprescindível para se entender esse momento em termos de Paraíba, intitulado
A DIMENSÃO GLOBAL. É uma série de artigos que ele publicou no livro O JOGO DA
VERDADE, que registra os 30 anos do golpe de 64 aqui na Paraíba, uma coletânea
de vários autores, organizado por José Octávio, Nonato Guedes e outros, do qual
participei com um trabalho sobre as Ligas Camponesas em Santa Rita. No caso, nós temos uma ampla
bibliografia. Talvez a Paraíba seja um dos Estados que tenha uma bibliografia
mais ampla sobre esse período. Temos um excelente livro, que também é
dissertação de Mestrado, defendido, se não me engano, no Paraná, do paraibano
Cezar Benevides. Nesse livro ele procura mostrar a marcha da luta camponesa no
Governo de Pedro Gondim. Para a gente entender a bipolaridade
em termos ideológicos do Governo Pedro Gondim basta saber que, apesar dele ser
um líder queridíssimo das classes trabalhadoras, um homem que tinha uma
penetração apaixonante junto aos estudantes, às donas de casa, aos segmentos
mais pobres e mais carentes da sociedade, ele também tinha o apoio do grupo da
Várzea. Ele foi lançado em primeira mão por um dos líderes do Partido
Socialista Brasileiro, o deputado Raimundo Asfora. Nesse livro da professora
Monique existem muitos pronunciamentos da época, mostrando como o nome de Pedro
Gondim ganhava uma penetração imensa no seio dos trabalhadores e no seio das
classes conservadoras; era como se fosse uma bandeira de unanimidade. Temos
também outros trabalhos que analisam muito bem esse período. Não vamos fazer
uma análise historiográfica, muito embora seja uma professora de
historiografia. Vamos analisar os fatos e nos
deter nas articulações, porque o tempo é muito pouco. É tanto que não fiz uma
retrospectiva da Era Vargas, pela qual sou apaixonada. Dentro desse contexto, o Governo
Pedro Gondim vai se caracterizar por um homem de grande personalidade política
no sentido de ter um porte físico bonito, com todas as condições para empolgar
o povo. Uma coisa muito importante para o político é o porte físico. Para
político e cantor, o porte físico ajuda muito. Pedro Gondim era uma espécie de
símbolo latino- americano de homem que empolgava. Também tinha muita capacidade
de oratória, fazendo frases de efeito. Ele disse que preferia sair do Partido
por rebeldia a ser conivente, por covardia. Tem cultura, tem formação jurídica.
O trabalho dele HONRA E VERDADE, é um trabalho que merece ser analisado como
uma fonte também para a história. Logicamente dentro desse contexto marcado
pelo populismo, marcado pelo apoio dos segmentos mais conservadores, ele
procurou manter uma postura legalista. Isso quem diz é a professora Monique.
Mas o professor Cezar Benevides é muito contundente e procura fazer o retrato
de Pedro Gondim como que ele fosse uma figura indecisa, quando a gente sabe que
ele era sobretudo um político. A campanha dele caracterizou-se
como a campanha do candidato pobre contra o candidato rico, quando a gente sabe
que o outro também não era um candidato rico. Seu adversário era um deputado
federal de grande atuação – Janduhy Carneiro – um excelente deputado federal,
que muitas coisas que existem na Paraíba, em termos de saúde, foram conseguidas
por ele. Por mais conservador que ele fosse, o historiador não pode, por
questão ideológica, obscurecer que ele trouxe para a Paraíba um dos hospitais
mais bem equipados de combate ao câncer, que é o Laureano. Janduhy Carneiro era
um homem de atuação no parlamento, mas
não tinha o carisma e a beleza física, e também a oratória do outro candidato. É dentro desse contexto que Pedro
Gondim consegue ter uma eleição fabulosa. Mas o seu governo é marcado pelas
lutas sociais, lutas que têm de ser entendidas dentro de um contexto maior. Naquele momento, o governo João
Goulart para poder tomar posse, como vice do renunciante Jânio Quadros, teve de
fazer um acordo para aceitar o parlamentarismo, parlamentarismo que pouco tempo
depois é derrubado. Dentro de dez pessoas que votaram, apenas um era
parlamentarista, os outros eram presidencialistas. Com o resultado da votação contra
o parlamentarismo no plebiscito realizado, João Goulart julga que teve a sua
candidatura como Presidente da República legitimada. O sonho de qualquer
político é a sua legitimação, e ele se considerou legitimado quando o povo
disse NÃO ao parlamentarismo. Ele então começa a sofrer uma série de pressões. Os grupos conservadores fundam o
Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais, é o famoso IPES. Esse IPES tinha
verbas da CIA, do Fundo do Trigo, que
era uma conta movimentada escandalosamente pelos Estados Unidos, dos grupos
mais conservadores, de multinacionais como a Shell, a Texaco, a Coca-Cola e
tantas outras. Elas financiavam esse IPES para que ele conseguisse barrar a
marcha do socialismo em termos de Brasil. João Goulart recebeu muita pressão
do Governo Kennedy, a ponto do Governo Kennedy mandar para o Brasil o seu irmão
Robert, que era Ministro da Justiça, no sentido de negociar o apoio do Brasil
no intervencionismo de Cuba, na OEA. Isso porque Cuba estava promovendo uma
política nuclear em aliança com a União Soviética. João Goulart deu a seguinte
resposta, conforme consta do melhor livro escrito sobre João Goulart, de Moniz
Bandeira: “O Brasil fiel à sua tradição pacifista e ao espírito cristão do seu
povo admite como legítimo o direito de defender-se de possíveis ataques e
agressões feitos à Cuba, repudiando e tentando impedir que o direito de
autodeterminação do povo cubano seja cumprido”. Diz também o seguinte: “Sempre
nos manifestamos contra a intervenção militar em Cuba, porque sempre
reconhecemos a todos os países, sejam quais forem os seus regimes ou sistemas
de governo, o direito de soberanamente se autodeterminarem.” Essa foi a resposta de João
Goulart quando foi procurado para ratificar com os países latino-americanos o
desejo dos Estados Unidos para que os países se voltassem contra Cuba e que
pedissem a intervenção em Cuba, porque Cuba estava fazendo política nuclear
aliada à China e à União Soviética. Kennedy queria também que o Brasil cortasse
relações com os países soviéticos, naquele tempo chamados Países da Cortina de
Ferro. João Goulart disse que precisava
desesperadamente do apoio do FMI, precisava dos empréstimos, mas não ia com
isso ferir a soberania do povo brasileiro, sendo subserviente. O embaixador
Lincoln Gordon pediu que o Brasil cortasse qualquer comércio de petróleo com a
União Soviética e que deixasse de comprar os helicópteros à Polônia, que
naquela época fazia parte do bloco soviético. A resposta do Brasil foi uma
resposta soberana, resposta de autodeterminação. A partir daí começa o
acirramento e o financiamento maciço dos Estados Unidos através da CIA, do
mesmo modo que a CIA financiou o golpe do Chile, procurando primeiro impedir a
posse de Allende, depois culminando com o assassinato de Allende. Como se sabe,
depois da morte de Allende as forças reacionárias tomaram o poder e hoje nós
estamos vendo a figura maior sendo procurada para ser julgada, pelo mundo todo,
pelos crimes de tortura e matança que cometeu. É o caso da figura de Pinochet. Nós não poderíamos estudar a
Paraíba fora desse contexto. O Governo João Goulart, até a metade do seu
pequeno período, procura manter uma posição de equilíbrio, inclusive ele se
oferece (isto está bem documentado por Moniz Bandeira) para servir de
intermediário entre Cuba e os Estados Unidos no sentido de pôr fim àquele
impasse, impasse esse que a imprensa dizia que geraria a Terceira Guerra
Mundial. A imprensa conservadora diz que João Goulart estava servindo de
joguete na mão dos países socialistas, servindo de porta-voz. A partir das imposições dos
Estados Unidos a situação começa a se deteriorar. As relações entre o Brasil e
os Estados Unidos começam a se deteriorar na medida em que a luta social cresce
no Brasil, na medida em que a UNE e a Central dos Trabalhadores começam a
exigir as Reformas de Base. O Brasil vive nessa época um processo de inflação.
A saída de João Goulart foi partir para o chamado Plano Trienal, que a CIA e o
Birô dos Estados Unidos fizeram questão de desmantelar. O Plano Trienal, para
quem está esquecido, procurava fazer uma política de aproximação com os países
do Ocidente, capitalistas, e com os países do Leste europeu, da Cortina de
Ferro, mas praticando, em nível interno, um controle das remessas de lucros,
porque as remessas de lucros estavam sendo escandalosamente denunciadas pela
esquerda brasileira como uma política contra o Brasil, uma política de
escancaramento ao capital internacional, uma política que ia de encontro àquela
política do segundo governo Vargas, que procurou desatrelar os interesses das
classes mais favorecidas, culminando
com o próprio suicídio de Vargas. João Goulart se vê, igual a Pedro
Gondim, pressionado, só que João Goulart tem um compromisso muito maior com as
esquerdas. Ele procura, do meio para o fim, se aproximar cada vez mais. E o
golpe começa a ser tramado. Não aqui, em nível de Forças Armadas, mas muito
mais com sede em Washington. Porque Washington financia toda uma política de
ideologia no sentido de se criar o IBAD – Instituto Brasileiro de Ação
Democrática. Esse Instituto promove palestras, financia jornais, faz toda uma
propaganda ideológica contra o comunismo e também ao lado do IBAD nós temos o IPES. Voltando à Paraíba, vamos ver
eclodir a questão agrária. Vamos ver os conflitos agrários; vamos a reação à
vinda aqui de Carlos Lacerda; vamos ver o quebra-quebra dos estudantes pela
meia passagem de transporte; o governo tomando atitudes de agressão, demitindo
vários estudantes que eram jornalistas do jornal oficial A UNIÃO; a esquerda
execrando Pedro Gondim; e vamos ver o distanciamento de Pedro Gondim, a partir
de 63; vamos ver também o choque entre as forças policiais e os latifundiários,
como o caso de Mari; vamos ver o filme CABRA MARCADO PARA MORRER, de Eduardo
Coutinho, que mostra os momentos de acirramento social; surge um livro importante – EU MARCHAREI A TUA LUTA, que se
encontra à venda no Departamento de História da UFPB e uma das autoras é a
professora Rosa Godoy (desculpem os comerciais). Esse livro mostra a vida de
Elizabete Teixeira, toda uma vida de lutas e perseguições, que depois se
politiza e se torna uma líder, uma militante política. Vamos ver a morte de
funcionários da Usina; vamos ver a própria morte de João Pedro Teixeira, em 62;
vamos ver vários choques de lutas armadas aqui na Paraíba. E vamos ver também
os latifundiários se organizando. A
professora Monique entrevistou muitos historiadores, inclusive o
professor Joacil de Britto Pereira. Joacil Pereira era deputado estadual e fez
parte daquele grupo de deputados que pediram licença para permitir a convocação
do suplente Agnaldo Veloso Borges a fim de que ele pudesse gozar da famosa
imunidade parlamentar. Aqui na Paraíba essa imunidade, em vez de se reduzir à
atuação parlamentar, se esticou para abranger os crimes contra a pessoa. Uma das pessoas que primeiro escreveu
sobre essas lutas foi justamente o professor José Octávio, que conta a história
das Ligas Camponesas e das lutas sociais nesse período, numa plaqueta que ainda
hoje é muito consultada. Esse trabalho foi depois aprofundado e transformado
num excelente artigo para um dos cadernos do NDIHR, do qual ele era
pesquisador, na época. Nós vamos ver que a questão das
Ligas Camponeses despertou tanto atenção nacional e internacional a ponto de
Josué de Castro dizer que o Brasil foi descoberto em 1500 por Pedro Álvares
Cabral e redescoberto a partir das Ligas Camponesas do Engenho Galiléia, quando
as Ligas Camponesas trouxeram para a América Latina a famosa Aliança para o
Progresso. É dentro desse contexto que vamos ver que o Nordeste se transforma
num barril de pólvora. Quem quiser estudar profundamente a economia do Nordeste
e a crise da reeleição de 58, pode estudar isso em Amélia Coin, no seu livro CRISE
REGIONAL E PLANEJAMENTO. Como sabem, o Partido Comunista
começa a se voltar para o campo a partir da redemocratização do país, só que
com a cassação do Partido Comunista, esse movimento arrefece dentro do partido,
mas continua como um anseio do trabalhador do campo A Liga Camponesa de Sapé
inscreveu sete mil camponeses, segundo dizem. Era a maior Liga Camponesa do
Nordeste. Vamos ver também o pessoal da
direita se organizando. Essa LILA, que era a organização dos latifundiários
destinada a se defender, também atacava os camponeses. Vimos a situação do Governador
quando ele diz que os camponeses deverão se limitar a fazer as suas associações
dentro dos limites do Código Civil. Pedro Gondim, no primeiro momento, procura
desesperadamente, com sua formação jurídica e conservadora, manter um
equilíbrio entre o grupo da Várzea que lhe tinha apoiado e o movimento popular
de estudantes. Era uma situação difícil para ele. Essa situação vai se acirrar
a ponto de, totalmente acossado, tomar o partido do mais forte. Com o acirramento da questão
agrária, vamos ter a movimentação de estudantes, através de suas associações,
dos sindicatos e das facções voltando-se contra o governo que anteriormente
apoiaram. Na véspera do golpe de 64 o
Governo faz uma reunião com todo seu Secretariado. Aliás, a partir de agosto
1963, o Governo muda todos os segmentos ligados às esquerdas. E vamos ter a
atuação de pessoas como o major Cordeiro, o coronel Ednardo d’Avila Melo, do 15
R. I.; vamos ver a atuação do coronel da Polícia Militar Luiz de Barros, como
uma figura que comanda a repressão com todo aparato governamental; vamos ver
muitas pessoas totalmente comprometidas com o anti-comunismo fazendo parte do
órgão repressor do Governo. Há mudanças no jornal oficial e aqueles jornalistas
que eram mais progressistas são demitidos, são substituídos por pessoas que têm
uma linha ideológica totalmente conservadora. Há uma metamorfose total. Mas o
Governo precisa se definir. O país está em ebulição. Trama-se uma conspiração,
da qual os Estados pequenos não foram consultados, e um desses Estados é a
Paraíba. Pela análise dos documentos,
chega-se à conclusão que o governador Pedro Gondim não teve participação
naquilo que estava sendo tramado em nível nacional. O golpe de 64 pegou de
surpresa. No dia do golpe, à noite, houve uma reunião para se tomar uma posição
e as más línguas dizem que o governador ainda estava indeciso para qual lado
iria. Então ele é pressionado pelos grupos conservadores a tomar partido pelas
forças vitoriosas, inclusive pelo segmento conservador da Igreja (havia uma
força progressista na Igreja). É quando chega o genro de Pedro Gondim, o
deputado Vital do Rêgo, sugerindo que ele tem de tomar uma posição, sendo,
então, publicado um documento de apoio ao golpe de 64, documento que é
publicado no jornal A UNIÃO. A eleição de 62 serviu também para
acirrar esse momento. Nas eleições de 62 as Ligas Camponesas estão no auge.
Antes disso o governo sabe que tem que tomar o mesmo caminho das Reformas de
Base de João Goulart. No dia 13 de março João Goulart faz o famoso comício da
Central do Brasil e faz a sua profissão de fé ao lado das Reformas de Base. Com
isso ele lavra sua própria sentença de deposição do Governo. Porque naquele
momento todo processo de conspiração dentro do seio das Forças Armadas, dentro
da classe média e dentro dos Estados mais importantes do Brasil, que lideraram
a Marcha com Deus, já está totalmente pronto, financiado e acabado, com o apoio
da CIA. Na época havia até tanques de guerra para garantir a vitória dos
golpistas, é até um pleonasmo dizer isso. Não havia recuo. O caminho era dos
mais fortes. Apesar de toda uma luta social por
reformas e apoio ao povo, Goulart não teve o apoio do povo na hora em que
precisou. Até mesmo a atuação de Leonel Brizola, seu cunhado, que na época de
sua posse liderou o famoso movimento pela Legalidade, não foi suficiente no Rio
Grande do Sul. E os seus ministros, um a um vão abandonando o barco. Ou se
definiam pelo golpe, ou ficavam em cima do muro. A verdade é que o Presidente
da República se viu sozinho Um dos documentários mais
importantes que poderá ser analisado é o que foi financiado pelos filhos de
João Goulart. É o filme JANGO, feito em vídeo. Esse documentário é muito fiel à
história porque não ouve só um lado. E como aquele trabalho que já mencionei – O
JOGO DA VERDADE. Esse livro tem o depoimento das pessoas que participaram do golpe,
que acreditavam no golpe. As eleições de 62 vão ter um
acirramento muito grande nas lutas sociais daqui por que lança como candidata a
própria Elizabete Teixeira. A morte de João Pedro Teixeira é um marco de luta.
Mobiliza centenas e centenas de trabalhadores em protesto contra o assassinato
de João Pedro Teixeira, na época atribuído ao grupo da Várzea e que ficou
impune também, como o assassinato de Margarida Alves. Apesar do nosso trabalho ter sido
um trabalho sobre as oligarquias açucareiras na Paraíba, é um trabalho
pioneiro. Não trabalhamos com esse período, mas procuramos denunciar que todos
os assassinatos de camponeses que ocorreram aqui na Paraíba infelizmente, para
vergonha nossa, que desejamos uma sociedade cidadã, esses assassinatos ainda permanecem
impunes. É preciso que nós, que queremos um
Brasil progressista e democrático no terceiro milênio, lutemos contra esse
estado de coisas e exerçamos com todas as forças do nosso ser a nossa
cidadania. Elizabete Teixeira foi candidata,
Antônio Teixeira foi candidato, Langstein de Almeida foi candidato, tudo isso
numa legenda que apoiava as Ligas Camponesas, e sobretudo o líder maior, que
foi Francisco de Assis Lemos, o único que foi eleito deputado. Os jornais conservadores diziam
que a campanha de Elizabete Teixeira estava sendo amplamente financiada por
Cuba, por dinheiro vindo de Cuba e da União Soviética. Langstein e Agassis de Almeida,
que eram de fortes conotações de esquerda, ficaram como suplentes. Com o golpe de 64, a gente
acredita, como Otávio Ianni, que escreveu COLAPSO DO POPULISMO NO BRASIL,
acredita também como disse Francisco Wefford, que nós vamos partir para uma
nova fase do Estado. O Estado, que antes era um Estado liberal e aberto para as
multinacionais, não será agora tão liberal. Vai ser um Estado tecnicamente
burocrático e autoritário com a instalação do golpe. A Constituição de 46, que
é tida como uma Constituição liberal, é substituída, com o golpe de 64, pela
Constituição de 67, sofrendo emenda em 69. Ao longo do processo, à medida que
os aparelhos de tortura vão se organizando, tendo como base a ideologia de
Segurança Nacional, tendo como base de adestramento os Estados Unidos, o Estado se torna autoritário e policial. Tivemos o caso de Vladimir Herzog
massacrado por esse sistema. Hoje ele é o patrono do maior concurso da América
Latina de Direitos Humanos. Tenho uma cunhada que é fundadora e é dirigente, a
jornalista Denise Santana Fom. Essas coisas precisam ser
denunciadas para que nunca mais aconteçam na nossa vida nem na nossa nação. Como professores temos esse
compromisso. Apesar de não ser da minha especialidade esse período, em termos
de produção científica, muito embora tenha como historiadora e cidadã a
obrigação de conhecer, discutir e pedir a Deus, como cristã que sou, de que
esse período triste da nossa história jamais possa se repetir. A partir do momento que houve o
golpe de 64 todos os direitos e garantias da nossa Constituição foram
totalmente ultrajados e derrubados. Passamos a viver um período de insegurança,
de perseguição e de que não gosto de me lembrar desse período da repressão, por
uma questão pessoal e também em
respeito aos presentes, pedi a uma pessoa que é autoridade maior para falar
sobre ele, que também sofreu na própria pele. É um historiador, um escritor,
tem um excelente livro RECORDAÇÕES DA ILHA MALDITA E OUTROS REGISTROS, como
também a REPRESSÃO DOS QUARTÉIS, de Jório Machado, que é outro depoimento; as
próprias memórias do historiador Joacil de Britto Pereira, que é outro
depoimento altamente documentado. Temos a alegria de dizer que a Paraíba talvez
seja um dos Estados do Brasil que tem uma maior produção historiográfica sobre
esse período, quer seja de memórias, quer seja também de produção acadêmica. Gostaríamos de dizer que o NDIHR
tem todo o mapeamento da luta camponesa, da questão agrária, feita pela
professora Cândida Rodrigues, quando fazia parte do quadro de pesquisadores do NDIHR.
O NDIHR está à disposição dos interessados em fazer pesquisas documentais ou na
hemeroteca, consultando fontes sobre o período. Quero dizer que sempre peço a Deus
que meus filhos, meus netos não vivam o que a nossa geração dos anos 60 viveu,
os anos duros da ditadura, onde a liberdade e a cidadania eram coisas que não
se tinha conhecimento na prática. Que Deus abençoe nosso país para
que qualquer que seja a crise que atravesse, ele preserve, como Jango queria,
a sua soberania, e que jamais caia em subserviência ao xerife maior, que é os
Estados Unidos. Muito obrigada. · · · A fala do Presidente: Tivemos agora a oportunidade de
ouvir um relato completo dos antecedentes do movimento militar de 64
(anteriormente eu também chamava muito
de golpe, mas como faz uma coisa com a outra, cada um é que vai definir se foi
golpe ou não foi). Com muita propriedade a professora Martha Falcão fez esse
levantamento, de como foi possível chegarmos a uma fase, no Brasil, de
acontecer uma transformação violenta. Nós da Paraíba sofremos, como o país
inteiro, essas dificuldades. Agora, como debatedor designado
para tratar deste tema, cabe-me apresentar minhas considerações. · · · Debatedor: Luiz Hugo Guimarães (Escritor, historiador, ex-professor da UFPB,
atual presidente do Instituto Histórico) Para os que não me conhecem, farei uma breve
auto-apresentação. Sou bacharel em Direito, ex-professor da Universidade
Federal da Paraíba, jornalista com fé-de-ofício por ter trabalhado no jornal A
UNIÃO – nossa mais importante Universidade de Comunicação –, ex-funcionário do
Banco do Brasil, ex-militante sindical, e atualmente sou o presidente deste
Instituto. Na realidade, como a expositora
realçou, esse golpe que esteve em marcha durante muito tempo, foi interrompido
quando Vargas deu um tiro no coração. O golpe também foi ensaiado em
1955, para evitar a posse de Juscelino Kubitschek porque o Vice-presidente era
João Goulart, uma figura ligada às tradições de Getúlio Vargas; era seu
herdeiro político e ligado às classes populares. Quem garantiu a posse de
Juscelino e Goulart foi o Exército, foram os militares, baseados sempre em que
a hierarquia era importante. E com a interferência do general Lott e do general
Denys foi possível dar-se posse a JK e Jango. Assim, o golpe foi evitado nessa
fase. Mas, na sucessão de Jânio Quadros,
o mesmo time que queria modificar a posição do Brasil no plano internacional,
também não queria dar posse a João Goulart, que era o sucessor legal do
presidente renunciante. Oficiais das
Forças Armadas, insuflados pelos mesmos civis conservadores e reacionários,
tentaram evitar a posse do presidente eleito. O golpe não aconteceu porque foi
lançada a Campanha da Legalidade pelo governador do Rio Grande do Sul, o
combativo Leonel Brizola, que era cunhado de João Goulart. A campanha teve o
apoio popular da nação. As Forças Armadas se dividiram. O general Denys, Ministro
da Guerra, informou a uma comissão de parlamentares do PTB, partido de João
Goulart, que o Exército vetava sua
posse. O general Henrique Lott lançou um manifesto à nação favorável à posse do
Vice-presidente, dentro da solução constitucional. Seu pronunciamento convocou
a nação. O arcebispo D. Vicente Scherer, do Rio Grande do Sul também se
manifestou favorável. Brizola colocou o Rio Grande do Sul em pé de guerra e
contou com o apoio e pronunciamento do comandante do III Exército, general
Machado Lopes, que dirigiu um radiograma aos comandantes do I, II e IV
Exércitos. A divisão entre os líderes militares forçou a uma tomada de posição
junto aos oficiais. No dia da renúncia do presidente
Jânio Quadros eu participei das homenagens que o Exército prestou ao Duque de
Caxias, patrono do Exército. É uma tradição militar essa homenagem no dia 25 de
agosto. E eu estava lá no palanque, ao lado do general Augusto Fragoso,
comandante do Grupamento, juntamente com o coronel Macário, representando o
governador Pedro Gondim, com comandante Franco, capitão dos Portos, o
comendador Renato Ribeiro e oficialidade. Tenho a foto desse flagrante, que
será publicada nas minhas memórias. O general Fragoso foi chamado ao
Rio de Janeiro com urgência. Ele era compadre do general Lott, viajou para o
Rio e assumiu o comando do Grupamento o coronel Albuquerque Lima. Nesse meio
termo foi feita uma consulta entre os oficiais sobre a posição a tomar quanto à
posse de João Goulart. O coronel Albuquerque era contra, mas a maioria esmagadora
da oficialidade ficou favorável à posse do Vice-presidente João Goulart. Essa
consulta feita em todas as unidades militares deve ter sofreado o ponto de
vista do general Denys. Enquanto isso os congressistas
encontraram a solução parlamentarista para dar posse a João Goulart. É
necessário dizer que para tal houve o apoio dos Estados Unidos, segundo consta,
pois antes de voltar para o Brasil, João Goulart passara pelos Estados Unidos,
no dia 30 de agosto. Como se sabe, João Goulart estava na China em missão
oficial do país, designado pelo próprio presidente Jânio Quadros. Pergunta-se:
teria sido premeditada essa representação? Pois bem, Jango saiu da China para
Paris, onde ficou aguardando o desenrolar dos acontecimentos. Os emissários
políticos fizeram uma ponte aérea entre o Brasil e a França. Renato Archer,
Tancredo Neves e outros iam e viam levando e trazendo mensagens. De lá João
Goulart voou para os Estados Unidos. Lá João Goulart confirmou que iria assumir
o Governo, e adiantou que seu Ministro da Fazenda seria Walter Moreira Sales e
o Ministro do Exterior San Tiago Dantas, figuras bastante conhecidas dos
norte-americanos. Esse pronunciamento de João Goulart facilitou a concordância
dos Estados Unidos. Isso, aliás, ficou comprovado com a farta documentação
posteriormente liberada pelo Departamento de Estado daquele país. A professora Martha Falcão
esclareceu bem as dificuldades que o Governo encontrou em face da movimentação
popular. Quando João Goulart retomou as funções de Presidente, sem o guante do
parlamentarismo, o movimento popular se acelerou. A luta de João Goulart para
derrubar a emenda parlamentarista é conhecida por todos, não cabendo aqui me
estender sobre sua tramitação. A movimentação popular cresceu com
as constantes reuniões de estudantes, trabalhadores, donas de casa. Os
militares subalternos, as praças de pré, passaram a reivindicar maior
participação e mais direitos. Houve uma época em que os sargentos não podiam
casar. Eu tive um irmão que passou muito tempo “amigado” com a mulher dele,
porque não podia casar. Com a liberdade existente, as
reivindicações populares espocaram e passaram a incomodar aqueles que se
opuseram à posse de João Goulart. Leonel Brizola, cunhado do
Presidente, achava pouco e criava uma série de problemas para o Governo.
Podemos rememorar a posição tomada por Brizola, no Rio Grande do Sul, com a
incorporação da AMFORP, da ITT. São empresas americanas de que participam os
americanos comuns. Todo mundo lá é sócio da ITT. É um regime capitalista em que
o taxista, a dona de casa, o operário têm ações daquela telefônica. O
investimento popular americano é feito nas grandes empresas que têm seus papeis
negociados na Bolsa de Valores. Com a encampação daquelas empresas
multinacionais por Brizola, criou uma situação difícil para o governo
brasileiro. Véspera de eleições nos Estados Unidos, o pessoal foi em cima de
Kennedy. Com a desapropriação daquelas empresas é evidente que os acionistas
teriam prejuízo, com suas ações em queda na Bolsa. Quando morreu o Papa,
Kennedy foi ao sepultamento em Roma, e João Goulart também foi. Lá discutiram o
problema e João Goulart comprometeu-se em criar uma comissão especial de
auditores independentes para levantar o acervo das companhias e o que fosse
apurado o governo brasileiro encamparia a indenização. Quando chegou na fase da
intervenção de Cuba, levantada pela professora Martha Falcão, ficou difícil,
porque o embaixador Lincoln Gordon foi pressionar o Presidente Goulart. Tenho
informações de pessoas que estiveram presentes nesse encontro, revelando que
João Goulart foi veemente na proposta de Lincoln Gordon, como tinha sido
perante Robert Kennedy, irmão de John Kennedy, quando esteve no Brasil.
Disseram que João Goulart, diante da insistência, chegou a ser deseducado. E o
embaixador Gordon ficou tão desorientado que, quando saiu do gabinete do
presidente, errou a porta de saída. A partir daí Gordon tomou gosto em
participar do movimento anti-Jango. Muitas coisas dos bastidores dão
um quadro dos interesses contrariados, que serviam para afastar os grupos do
governo. O grupo da GLOBO, tinha alguns interesses que dependiam do Governo.
Vez por outra os editoriais do jornal de Roberto Marinho desancavam o Governo.
Ouvi alguns auxiliares diretos de João Goulart comentarem que estava em tempo do
Presidente convidar Roberto Marinho para um jantar. Depois desses jantares
esporádicos os editoriais eram mais amenos. O que Roberto Marinho queria
(segundo se dizia) era que Jango autorizasse um câmbio especial, privilegiado,
para umas remessas que TIME/LIFE ia
mandar para reforçar seus jornais, que estavam em dificuldades, porque o jornal
da época era a ULTIMA HORA, de Samuel Wainer, além da cócega que fazia o jornal
A TRIBUNA, de Carlos Lacerda. Jango recusou-se a autorizar esse câmbio
privilegiado. Houve muitos problemas sérios que
aceleraram o golpe. Ainda durante o parlamentarismo
chegou o momento das eleições para o Congresso. Muitos parlamentares tinham que
se desincompatibilizar para serem candidatos. O Primeiro Ministro era Tancredo
Neves. Ele tinha que deixar o cargo. Quem seria o seu substituto? Criou-se um
problema. Começaram as especulações. João Goulart indicou San Tiago Dantas, uma
das figuras mais expressivas da intelectualidade brasileira, culto, benquisto
nos Estados Unidos, advogado internacional. Pois bem, San Tiago Dantas foi
derrotado na votação do Congresso. Perdeu por cento e tantos votos porque antes
havia feito um pronunciamento que afetou os partidos políticos, sobretudo os
partidos conservadores. Então o movimento sindical tomou
parte. Começou a pressão no movimento sindical para indicar um Primeiro
Ministro nacionalista, independente, etc. A cúpula sindical fez uma greve
geral. Ela foi concertada na sede da Confederação Nacional dos Trabalhadores – CNTI,
procurando um nome dentro daqueles parâmetros. Enquanto se estava decidindo a
greve, João Goulart escolheu o nome do professor Brochado da Rocha, que tinha
sido Secretário do governador Brizola. Um homem esclarecido, que tentara um
princípio de reforma agrária no Rio Grande do Sul, nacionalista. Era, portanto,
um nome que o movimento sindical poderia acolher. Mas o movimento sindical não
concordou, a greve já estava mais ou menos encaminhada, sendo então decretada,
no dia 5 de julho. João Goulart fez o possível junto
a esse pessoal para evitar essa greve de 5 de julho. Enviou inúmeros emissários
para dialogar com as lideranças sindicais. Começou com Gilberto Crockat de Sá,
que era o chefe da Assessoria Sindical de Jango; Luiz da Costa Araújo, que fora
Ministro do Trabalho; mandou Leocádio
Antunes, mandou o próprio San Tiago Dantas, Abelardo Jurema esteve lá; o
general Osvino Alves também ponderou. A greve já estava em andamento. A greve
era política, nitidamente política. Nessa época eu estava no Rio de Janeiro,
fazia parte do Gabinete Sindical de Jango, que funcionava no Palácio do Catete,
exatamente localizado nas salas onde, antes, esteve instalado o corpo de
segurança de Getúlio, dirigido por Gregório Fortunato. Em plena greve Jango mandou chamar
a liderança sindical. Levei a Brasília esse pessoal todo, num avião da Panair,
especialmente preparado pelo comandante Melo Bastos.. Jango conversou com os
líderes lamentando com veemência o procedimento do movimento sindical contra a
indicação feita para Primeiro Ministro. Solicitou a imediata suspensão da greve
ao retornarem os líderes ao Rio de Janeiro. O que feito imediatamente. Como vocês sabem, a cúpula do
movimento sindical sofria uma influência muito grande de alguns líderes
comunistas que dirigiam umas duas ou três confederações de trabalhadores, e
eles pressionavam para adquirir posições de poder político. Mas, não tinham a
noção de quando recuar. E Jango foi claro, esclarecendo que essas posições
precipitadas fortalecem a campanha dos adversários do Governo. Foi quando ele
disse: Voltem para o Rio, acabem com essa greve, senão não teremos mais
condições de diálogo. Na realidade a posição assumida
deu grande força política ao movimento sindical, porque a partir daí passou a
ser uma força respeitável. Mas endurecia o lado adverso, que projetava o golpe. São registros que faço aqui de
episódios de que participei. Acho que minha presença naquela reunião da
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria e ter assinado o manifesto
pela greve geral foram responsáveis por minha cassação política, pois como os
senhores sabem, fui incluído no listão dos 100 primeiros cassados, do Ato
Institucional nº 1. Quando o golpe chegou à Paraíba,
frisou a expositora Martha Falcão, Pedro Gondim não tinha participação do
movimento, porque ele era distanciado daquele esquema. Vivia preocupado em
manter o equilíbrio local entre camponeses e latifundiários. Assim, quando o movimento chegou à
Paraíba a posição de Pedro Gondim a favor ou contra, não teria a menor
influência. Um Estado pequeno. Se ele dissesse não ao golpe, seria liquidado,
podendo até a Paraíba ter um interventor, talvez fosse até o coronel Pitaluga,
que era o homem de ligação do movimento aqui e um dos mentores militares do
golpe na Paraíba. Hoje até me dou bem com Pitaluga, que é do Instituto
Histórico do Mato Grosso, e seu irmão é nosso sócio correspondente, proposto
por mim. Pitaluga esteve aqui na Paraíba comandando a Circunscrição de
Recrutamento Militar - CRM – e foi um
dos mentores do golpe aqui. Então, consta até que Pedro Gondim
tinha preparado dois pronunciamentos, um a favor outro contra. Isso é
discutível. Aliás, tem gente aqui que pode esclarecer melhor essa questão. Manoel Batista de
Medeiros, em
aparte concedido pelo debatedor: Eu estava no gabinete de Pedro
Gondim, meu amigo, com quem sempre mantive boa amizade, e aí ele me mostrou um
telegrama e disse: Batista é este o telegrama que estou passando sobre a
revolução. O que é que você acha? O telegrama começava “A Paraíba mais uma vez
se encontra com Minas Gerais... etc. etc., mas no fim, era o antes pelo
contrário, e a gente não sabia bem o que queria dizer. Eu disse que estava meio
confuso. Então ele disse que emendasse como deveria ser. Ele pediu que desse
uma redação ao meu jeito. Neste momento, entra no Gabinete um cidadão que
estava vindo da ante-sala e o cidadão se anunciou como secretário do governador
Arraes. Eu guardo o nome: Fernando Mendonça. Ele não pediu nem conveniência. Ai
ele disse: o Governador Arraes quer saber qual a posição da Paraíba neste
momento. Fica a favor ou contra? Pedro disse: diga ao governador Arraes que a
resposta é esta, e mostrou o texto do telegrama. O próprio Pedro Gondim,
em entrevista posterior ao jornal
A UNIÃO relata o fato e invoca o meu modesto testemunho. Era só isso que
tinha a dizer. Luiz Hugo Guimarães: Vejam os senhores a importância de
Ciclo de Debates. Estamos tendo aqui depoimentos expressivos de episódios da
nossa história. São testemunhos ao vivo de uma fase que já está distante, que
se registra como fonte histórica. Agradeço ao nosso consócio Manuel
Batista de Medeiros por sua contribuição esclarecedora. Essas dificuldades de Pedro
Gondim, como governador, não foram somente dele. Outros governantes passaram
pelas mesmas dificuldades, ou dubiedades. Muitos tiveram que sofrer pressão
para tomar uma posição, porque nos primeiros dias havia dúvida sobre o
resultado do movimento. Minha impressão é que os golpistas não estavam muitos
seguros, tanto que logo no início a repressão foi violenta, naturalmente com
receio duma contra-revolução. Daí porque aquele estardalhaço. Cassaram e
prenderam logo os principais líderes nacionais e estaduais. As entidades que
podiam, por suas lideranças, reagir ao golpe, essas foram liquidadas. Houve
logo a intervenção nos sindicatos. De pouco mais de 8 mil sindicatos, 7.200
sofreram intervenção. Todos os diretórios estudantis, todas as universidades
sofreram intervenção. Era natural. Em todas instalações de ditaduras os
primeiros visados são os trabalhadores, os estudantes e as universidades. E a Paraíba sofreu muito com esse
golpe. Antes do início da sessão, só por
curiosidade, distribuímos com os presentes uma listagem de algumas pessoas que
foram punidas pelo movimento de 64. É uma lista incompleta, que solicito dos
presentes agregarem novos nomes que são do seu conhecimento. O pessoal da
Universidade Federal da Paraíba foi coletado naquele livro de Monique Cittadino
A UFPB E O GOLPE DE 64. A lista dos estudantes que foram proibidos de estudar é
enorme. Nem era bem para proibir de estudar, era evitar que eles se reunissem
para fazerem onda. Lideranças políticas e sindicais foram atingidas. Sabemos que os primeiros
paraibanos cassados foram quatro naquela lista dos 100 mais. O primeiro Ato
Institucional foi para eliminar a liderança mais qualificada, envolvendo os
militares ligados a João Goulart, os senadores e deputados federais de
tendência petebista ou socialista, as lideranças sindicais das confederações e
federações nacionais. Da Paraíba foram incluídos quatro paraibanos: Abelardo de
Araújo Jurema, que era Ministro da Justiça de João Goulart, e o porta-voz do
Presidente que estava sempre na TV contundindo o governador Carlos Lacerda;
deputado José Joffily, que teve uma grande atuação no Congresso por ocasião da
posse de João Goulart como Vice-presidente substituto de Jânio Quadros; Celso
Furtado, também ministro de João Goulart, que foi o autor do Plano Trienal; e
eu, que não era nada. Aí se seguem as perseguições pelo Estado, pela Assembléia
Legislativa, etc. Na nossa Universidade foi um massacre.
O reitor Mário Moacyr Porto foi afastado e substituído por um capitão-médico do
Exército, que era professor da Universidade, e tornou-se interventor. Na
Faculdade de Ciências Econômicas, onde eu lecionava, foi arrasador. Quem é
professor da área de Ciências Econômicas tem que estudar os fatos sociais e
econômicos. Da maioria dos programas constava Marx. Como estudar economia sem
estudar Marx e o seu CAPITAL? Como deixar de se referir ao Manifesto Comunista,
de 1848? Houve até uma denúncia contra Marcus Ubiratan Guedes Pereira, membro
atual do Tribunal de Contas, porque distribuiu com os estudantes o Manifesto
Comunista. Um professor tirou uma cópia xerográfica do Manifesto e pediu para
ele distribuísse com o pessoal. Era um material didático para ser debatido.
Pois bem, deu trabalho para explicar isso e ele foi arrolado num inquérito. Essa listagem que distribui com os
presentes foi, também, para evitar sua leitura neste debate, para ganharmos
tempo com o tema que, por ser mais recente, é de grande interesse. Todas as repartições federais
sofreram intervenção, a ponto de diariamente seus chefes terem de comparecer ao
quartel do 15º R. I. para prestar contas de seus atos ao comandante Ednardo
d’Avila Melo, e levar a lista do pessoal considerado subversivo. Isso eu vi,
quando estive lá antes de ser preso. Foi muita gente punida. Quero
lembrar que no Brasil foram punidos diretamente pelos atos institucionais 4.841
pessoas, sem levar em conta as demissões da Universidade, de repartições, etc.
Foram punições decorrentes de atos institucionais propriamente ditos. Quem
alcançou essas punições? A maioria da intelectualidade. Quem não era
intelectual era um líder em sua classe. Mas deixemos de lado esses
detalhes, que constarão das minhas MEMÓRIAS, que decerto haverei de publicar. Mas o fato é que o golpe veio.
Para os militares, pelos mesmos motivos anteriores. Dessa vez os grupos mais
retrógrados das lideranças civis apoiaram o golpe, com os demais segmentos da
sociedade batendo palmas. Da sociedade que foi psicologicamente trabalhada pelo
IPES/IBAD, como acentuou a expositora Martha Falcão, e com o apoio deliberado
dos Estados Unidos a partir da ação clara do embaixador Lincoln Gordon e do
coronel Walther Verner. Era o combate às bases do Estado
Populista, que foram destruídas assim como as camadas populares foram excluídas
do centro político nacional, como acentua a historiadora Monique Cittadino em
seu trabalho A UFPB E O GOLPE DE 64. O resultado foi o longo tempo de
uma ditadura militar, asfixiando as liberdades. Houve uma intervenção
generalizada no campo econômico, educacional, social e sindical. A quase
totalidade dos sindicatos sofreu intervenção, com violenta perseguição às suas
lideranças.; todos os diretórios estudantis foram esmagados; a classe política
sofreu forte golpe com a cassação dos principais líderes populares. Instalou-se
um clima de delação e um processo punitivo permanente, levando a sociedade a um
desassossego nunca visto. Não foi sem razão que se
comemorou, recentemente, a passagem dos 20 anos da promulgação da Lei de
Anistia. A iniciativa do Presidente João Baptista Figueiredo, através de sua
Mensagem de 27 de junho de 1979 ao Congresso Nacional, que tomou o número 59,
foi lida no dia seguinte. O processo para se chegar até
aquele ato presidencial foi longo. Esse processo durou 15 anos. O Comitê
Feminista pró-Anistia teve papel saliente no início da campanha, comandada
inicialmente pela esposa do general Jesus Zerbini. A partir daí, todas as
forças vivas da nação se empenharam na luta. Estudantes, membros da oposição,
operários, donas de casa, intelectuais, a nação inteira empenhou-se na
conquista da Anistia, sabendo que seu advento seria o início da derrocada do
arbítrio. O próprio presidente Figueiredo
devia saber as conseqüências do seu gesto, inspirado que foi, não só pelo
clamor nacional, mas por ter ele sofrido na pele os efeitos do arbítrio duma
ditadura. Seu pai, o general Euclides, fora anistiado por ter participado da
revolução constitucionalista de São Paulo, em 1932, tendo sua família sofrido
as agruras do exílio. Mas não foi fácil. Lembro-me que
em agosto de 1977, o senador Petrônio Portela, numa homenagem que recebeu em
Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, disse que não se cogitava naquele momento
da anistia. E alegava que os punidos do movimento de 64 não estavam preparados
para recebê-la. Lembro-me também que naquela época fiz uma crônica comentando o
fato, sugerindo até a necessidade de iniciarmos um curso de preparação para os
punidos pelos atos do arbítrio. Quem sabe, dizia eu, o Mobral poderia
patrocinar esse curso para nós, que estávamos à margem da cidadania. Passaram-se 13 anos das punições,
e o Ministro da Justiça vinha com essa de preparar os beneficiários da anistia!
Nunca se demorou tanto. Um fato inusitado na história brasileira. Até no
Império, as leis de anistia eram promulgadas em breve espaço de tempo. Os
punidos de 1824 foram anistiados por um decreto no ano seguinte, em 1825. Na
República, também o esquecimento era breve. Os tenentes de 22 e 24, retornaram
ao Exército, tornando-se muitos deles generais de grande atuação pública; os
punidos de 30 e 32, os comunistas de 35, os integralistas de 37 retornaram
rapidamente ao convívio da sociedade; com o grande democrata Juscelino
Kubitschek, foi mais rápido ainda para os participantes de Aragarças e
Jacareacanga. Foram 15 anos de muita gente fora
da lei dos vencedores. 4.841 pessoas foram atingidas pelos atos institucionais!
Fora do Brasil estavam figuras de valor sem poder oferecer sua inteligência à
solução dos problemas nacionais. Congressistas, professores universitários,
lideranças populares, jornalistas, estavam todos lá fora, à espreita de uma
abertura para retornar ao país. Internamente, os que ficaram
segregados, sem poderem exercer sua atividade útil consentânea com suas
aptidões, eram os exilados dentro da própria Pátria. Estudantes sem poderem
estudar. E havia os que mofavam nas masmorras da ditadura, e os desaparecidos. A insegurança era muito grande.
Lembro-me que o Banco do Brasil me deu uma punição interessante,
transferindo-me para a agência de Porto Velho, capital de Rondônia, em 1965. Lá
era uma cidade subversiva por natureza. Cidade fronteiriça e cheia de miséria.
Que poderia acontecer? Havia estrada de ferro, quer dizer Sindicato de
Ferroviários; havia porto, quer dizer Sindicato de Portuários; os poucos
médicos eram todos socialistas, somente dois eram comunistas, mas os outros
eram socialistas, talvez por conta da pobreza com que eles lidavam. Estavam me
esperando, porque o pessoal do Banco do Brasil boatou que estava chegando um
funcionário que fora cassado. Não foi possível instaurar inquérito no
Departamento dos Correios e Telégrafos de Rondônia porque não havia em quem
confiar para organizar as Comissões de Inquéritos. Conversando com o pai de Almino
Afonso, que morava em Porto Velho, ele me confiou sua preocupação porque
Almino, que estava exilado na Iugoslávia, saíra clandestinamente, por sua conta
e risco, para o Uruguai, para juntar-se a Jango, Brizola e outros líderes
políticos que ali estavam exilados. Almino tinha sido ministro de João Goulart.
Pois bem, até receber a notícia de sua chegada são e salvo ao Uruguai,
diariamente ele se angustiava e confiava em mim para desabafar. Paula Frassinete, interrompendo: Estou achando tudo maravilhoso, mas
tenho que sair antes de terminar e peço mil desculpas pela interrupção. Queria
parabenizar Martha Falcão, mas queria chamar a atenção de duas coisas. Primeiro
sobre a TFP. Martha tratou da religião, pedindo desculpas e dizendo “sou cristã
e socialista”, o que é a mesma coisa, pois ouvi Leonardo Boff dizendo isso em
Cuba. Ele dizia que o socialista é um cristão sem querer e o cristão é um
socialista sem saber. Uma coisa que Silvio Frank Allen me sugeriu a ler foi o
livro OS DEMÔNIOS DESCEM DO NORTE. Esse livro encontrei no Sebo Cultural. Pedi
a palavra apenas para sugerir a leitura desse livro, porque ele trata do
pentecostalismo que veio a mando do Pentágono exatamente para ir solapando,
como a TFP, que usa a imagem de Nossa Senhora de Fátima também para fazer toda
essa contestação ao socialismo que começa a se implantar. Luiz Hugo Guimarães, retomando a palavra: Para encerrar minha participação,
como estava relatando, Almino Afonso por conta própria resolveu sair da
Iugoslávia clandestina para ir para o Uruguai. Os caminhos que ele percorreu
para chegar lá, eu não sei. Mas, todo dia, o velho chegava lá no Banco, e
quando terminava o expediente ele saia comigo. Só faltava chorar. Porque
aqueles que estavam querendo voltar para o Brasil eram muito visados. Grande
parte deles foi liquidada ao tentar atravessar nossa fronteira. Afinal, depois
de uns 20 dias, ele chega animado e diz: Olhe, o menino chegou. E foi muito bom
para ele, que estava desajustado totalmente num país industrial, onde só
técnico tem vez. No Uruguai, com seus velhos
companheiros, Jango, Brizola e outros., era bem melhor. Jango manteve um hotel
que acolhia os refugiados que por lá chegavam. O gerente do hotel era Amauri
Silva, que foi Ministro do Trabalho de Jango e o subgerente foi um colega do
Banco do Brasil, Gilberto Azevedo, que como deputado estadual em Pernambuco foi
líder de Arraes. Faço esses registros porque pouca gente sabe das dificuldades
dos bastidores. Acho que dei meu recado, e com
minhas desculpas por ter tomado algum tempo, vamos dar continuidade aos
debates. 1º participante: João Batista
Barbosa:
(Escritor, jornalista) Eu queria incluir na lista de
perseguidos do golpe o nome de dois paraibanos que foram Nego Fubá e Pedro Fazendeiro (palmas). Luiz Hugo Guimarães: Esses nomes estão registrados na
lista que distribuí. Nego Fubá esteve preso no quartel do 15, numa cela próxima
da minha. · · · Transcrevemos, a seguir, a
listagem que foi distribuída previamente com os participantes do Ciclo de
Debates: Lista (incompleta) dos paraibanos alcançados pelo
movimento de 64, que foi distribuída com os participantes do Ciclo de Debates: Os primeiros cassados: Pelo Ato Institucional n.º 1, de
10.04.64: Abelardo de Araújo Jurema
(ex-Ministro de João Goulart) Celso Furtado (ex-Ministro de
Planejamento de João Goulart) José Bezerra Joffily
(ex-deputado federal, relator do Projeto de Reforma Agrária) Luiz Hugo Guimarães (líder
sindical, da Assessoria Sindical de João Goulart) Cassados,
posteriormente: Pela Assembléia Legislativa do
Estado: Deputados Agassis de Almeida,
Francisco de Assis Lemos, Figueiredo Agra e Langstein de Almeida. Pelos AI subseqüentes: Deputados Federais: Pedro
Moreno Gondim, Vital do Rego e Osmar de Aquino. Deputados Estaduais: José
Targino Maranhão, Mário Silveira, Romeu Gonçalves de Abrantes, Sílvio Pelico
Porto, Francisco Souto Neto, Robson Duarte Espínola; Severino Cabral,
ex-deputado e ex-prefeito de Campina Grande. Prefeitos: Newton
Rique, Orlando Almeida e Ronaldo Cunha Lima, de Campina Grande; Antônio Mariz,
de Sousa; Antônio Teixeira, de Santa Rita; Antônio Fernandes de Andrade, de Rio
Tinto; Domingos Mendonça Neto, de João Pessoa. Vereadores: Antônio
Augusto Arrouxelas Macedo; e José Gomes da Silva e Leonardo Moreira Leal, como
suplentes, de João Pessoa; Elias Pereira, de Alhandra; Antônio Peba, de Campina
Grande. Em Rio Tinto, foram cassados todos os vereadores do PTB. Magistrados:
Desembargadores Emílio de Farias e João Santa Cruz; Juizes Hermílio Ximenes e
Humberto Cavalcanti de Mello. Compositor: Geraldo Wandré. Punidos
por atos arbitrários: Professores demitidos, sem
renovação de contratos ou com vencimentos sustados: Luiz
Hugo Guimarães, Francisco de Assis Lemos, Langstein de Almeida, Pedro Moreno
Gondim, Laurindo Albuquerque, Nizi Marinheiro, Ronald de Queiroz, Carlos
Guerra, Adelmo Neves Machado, Antônio Geraldo de Figueiredo, Beatriz Maria
Soares Pordeus, Carlos Eduardo Pessoa Cunha, Célio Di Pace, Djair Aquino Lima,
Erson Neiva Monteiro, Enoque Gomes Cavalcanti, Gerard Camilo Prost, Maria
Thereza Ribeiro Prost, Nakay Hiershi, Hélio Correia Lima, Hércules Gomes
Pimentel, Heronides Dias de Barros, Hienal de Carvalho Ferreira, Joost Van
Dame, José Jackson de Carvalho, José Kehrle, Lindalvo Virgínio Franco, Manoel
Martins Paiva, Dermerval Trigueiro do Valle, Vanildo Brito. Marcelo Renato
Arruda, Raimundo Adolfo e outros (Vide o trabalho de Monique Cittadino A UFPB E
O GOLPES DE 64). Vários foram destituídos de seus
cargos, como o Reitor Mário Moacyr Porto e Paulo Pires, como Coordenador da FAFI. Jornalistas: João
Manuel de Carvalho, Adalberto Barreto, Jório Machado, Severino Ramos, Emilson
Ribeiro, era revisor de A UNIÃO (preso em Itamacará, com José Calistrato,
últimos presos a serem soltos com a anistia) Sindicalistas: João
Ribeiro Filho, presidente da Federação dos Trabalhadores na Indústria da
Paraíba; Luiz Bernardo da Silva, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos;
Otávio Fernandes Barbosa, secretário do Sindicato Rural de Camarazal; Elizabete
Teixeira, Sindicato Rural de Sapé; José Soares dos Santos, presidente do
Sindicato de Cimento, Cal e Gesso, de João Pessoa; Antônio Nazário, presidente
do Sindicato de Tecelagem de Santa Rita; Manoel Severino Ricardo, presidente do
Sindicato Rural de Camarazal; Rivaldo Cipriano da Costa, presidente do
Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Alimentação; Antônio Dantas, líder
camponês. Bancários: Antônio Aragão Filho (BNB), Idalvo Veloso Toscano de
Brito (BNB), João da Cruz Fragoso (BNB), Romero Cunha Lima (BNB), Francisco
Ramalho (BB), Carnot de Cavalcanti Villar (BB), Dirceu da Cunha Machado (BB),
Sebastião Borges Sobrinho (BB), Lúcio Villar Rabello (BB), Boanerges Timóteo
(BB), Derly Pereira (BNB). Paulo Ribeiro da Silva (BB) Jason Gonçalves de Lima
(BB). Padres: Os mais visados foram os Padres Juarez Benício e Everaldo
Peixoto. Ex-alunos,
proibidos de estudarem: José Fernandes Neto (Face), Zenóbio Toscano de Oliveira
(Engenharia), Jader Carlos Coelho da França (Direito), Simão Almeida
(Engenharia), Jander Cunha Neves (Economia), Lenildo Correia da Silva
(Economia), Francisco de Paulo Barreto Filho (Direito), Nobel Vita (Direito),
Rubens de Pinto Lyra (Direito), Aderbal Villar de Carvalho (Face), Alzenir
Rodrigues dos Santos (Face), Heloízio Jerônimo Leite (Face), José Ferreira da
Silva (Face), Leda Rejane Pereira do Amaral (Face), Maria Auxiliadora Rosas
(Face), Edite Maria de Oliveira (Face), Jaerson Lucas Bezerra (Face), Jurandir
Cardoso de Albuquerque (Face), Maria de Fátima Mendes da Rocha (Fafi), Wilma
Batista de Almeida (Fafi), Dinalva Navarro (Ciências sociais), Maria da Penha
Ribeiro (Ciências sociais), Maria Teixeira (Ciências Sociais), Terezinha do
Vale (Ciências Sociais), Djamil de Holanda Barbosa (Politécnica), Iêdo Martins
Marcondes da Silveira (Politécnica), José Tadeu Carneiro da Cunha (Engenharia),
Luiz Carlos Soares (Engenharia), Paulo José de Souto (Engenharia), Emilton
Amaral (Direito), Germana Correia Lima (Direito), Maria Neiva Gadê Negócio
(Direito), João Roberto de Souza Borges (Medicina), Maria Lívia Alves Coelho
(Medicina), Saulo de Tarso Sá Pereira (Medicina), Eraldo Fernandes dos Santos
(Medicina), Everaldo Ferreira Soares (Medicina), Getúlio Bezerra de Castro
(Medicina), Maristela Villar (Medicina), Francisco Trigueiro (Farmácia e
Bioquímica), Maria do Socorro Morais (Serviço Social), Arnaldo José Delgado
(Engenharia), Augusto Aécio Mendes (Engenharia), Everaldo Nóbrega de Queiroz
(Engenharia), Hélcio Lima de Oliveira (Engenharia), Norberto Lima Sagratzi
(Engenharia), Tibério Graco de Sá Pereira (Engenharia), Vicente Antônio da
Silva (Engenharia), Genuíno José Raimundo (Economia), José Leão Carneiro da
Cunha (Economia), Antônio Gomes da Silva (Economia), Hélio do Nascimento Melo
(Economia), Inácio de Loiola Monteiro Souza, Jorge de Aguiar Leite (Economia),
José Urânio das Neves (Economia), Maria do Socorro Ramos (Economia), Maria
Egilda Pereira Saraiva (Economia) Maria Gilda de Oliveira Pinto (Economia),
Risalva Bandeira Machado (Economia), Tercino Marcelino Filho (Economia),
Cláudio Américo Figueiredo Porto (Economia), Pe. João Batista Filho (Economia),
Raimundo das Neves Brito (Economia), Sebastião Borges Sobrinho (Economia),
Carlos Antônio de Aranha Macedo (Economia), José Cazuza de Lima (Direito),
Wladimir Martins de Souza (Direito), Antônio Sérgio Tavares de Melo (Filosofia),
Brígida Nóbrega (Filosofia), Eimar Fernandes (Filosofia), José Arimatéia
Bezerra de Lima (Filosofia), Maria de Lourdes Meira (Filosofia), Maria do
Socorro Pessoa (Filosofia), Maria Nazaré Coelho (Filosofia), Oriana Andrade
Matos (Filosofia), Kenneth Talis Borjas Jaguaribe (Enfermagem), Luiz Sérgio
Gomes de Matos Filgueiras (Politécnica), Darlan Nóbrega de Farias
(Politécnica), Williams Capim de Miranda (Politécnica), Eduardo Ferreira de
Lima (economia), José Iremar Alves Bronzeado (Economia), José Ferreira da Silva
(Economia), Aderbal Villar Sobrinho (Economia), Inocêncio Nóbrega Filho
(Economia), Genival Veloso França (Medicina). Pessoas que foram presas,
responderam IPMs, estiveram asiladas, ou sofreram os horrores do golpe. Estiveram com este Expositor,
durante dois meses, na Ilha de Fernando de Noronha: Jório Machado, jornalista;
Bento da Gama, Procurador da Superintendência de Reforma Agrária na Paraíba –
SUPRA; Laurindo Marques de Albuquerque Melo, professor universitário, Delegado
do Tribunal de Contas no Estado; Langstein de Almeida, deputado estadual. Em xadrez especial, no 15º R.I.,
com este Expositor, estiveram: João Santa Cruz, desembargador; Guilherme Rabay,
empresário; Laurindo Albuquerque, Delegado do Tribunal de Contas da União; e Manoel
Patrício, inspetor do Trabalho. Juntos, em xadrez comum, no 15º R.
I, estiveram. Antônio Aurélio Teixeira de Carvalho, prefeito de Santa Rita (pai
da expositora); Antônio Fernandes de Andrade (Bolinha), prefeito de Rio Tinto;
Pedro Inácio de Araújo, conhecido por Pedro Fazendeiro (desaparecido ao ser
posto em liberdade); João Alfredo Dias, conhecido por Nego Fubá, (ficou numa
cela ao lado, isolado, tendo também desaparecido ao ser posto em liberdade);
Nizi Marinheiro, advogado e suplente de vereador; João Batista Barbosa
(contador), Heloízio Gerônimo Leite (estudante); Yolando Alves de Souza (chofer
de Assis Lemos); Pedro Dantas das Chagas, João Manuel de Deus, José Alves de
Lins, Miguel Penedo da Silva, Manoel Barreto Dias, Adalberto Cavalcante de Souza,
Manoel Ferreira Gomes, estes de Mamanguape; Bento da Gama, advogado; Jório
Machado, jornalista; Laurindo Melo, professor universitário; Antônio Augusto de
Arrouxelas Macedo, vereador. Também
estiveram presos em Fernando de Noronha os ex-deputados Assis Lemos, Agassis de
Almeida e Figueiredo Agra. Outras pessoas que responderam
IPM: Eduardo Ferreira Lima (Batata), estudante, exilou-se no
Chile, depois na Suécia, onde veio a falecer em 1993; Antônio Soares de Lima
Filho; Paulo Alves Conserva, que participou do movimento dos marinheiros no
Rio, ainda hoje não foi anistiado; Luiz Alberto de Andrade de Sá Benevides,
sobrinho de Humberto Lucena (militante do PCBR no Rio); Antônio Soares de Lima
Filho, militante do PCBR e ex-presidente da UPES; Antônio Viana de Oliveira,
comerciante; Agamenon Martins de Souza, tipógrafo; Francisco Lopes,
comerciário; Israel Elídio de Carvalho Pinto, de Itabaiana; Maria Amélia de
Araújo, estudante; Josué Silveira, escritor campinense; Elpídio Navarro,
teatrólogo; Abdias Sá, economista da SUDENE; Artur Nunes de Oliveira,
estudante, Celso Matos Rolim, médico chefe do SAMDU; Vicente Rocco, médico do
SAMDU em Sapé; Chico do “Baita”, sapateiro em Guarabira; Antônio Augusto de
Almeida, engenheiro; João Batista de Melo, comerciante; José Batista Gondim,
comerciante; Moisés Lopes da Costa, dos Correios; Antônio Flaviano da Rocha,
metalúrgico; Manoel Barreto Diniz, agricultor; Manoel Ferreira Gomes, de
Mamanguape; Antônio Barbosa da Silva, 1º Tenente da Reserva, da Marinha; Durval
Domingos da Cruz, comerciante; Francisco Barbosa Diniz, comerciante; Antônio
Domingos, líder camponês; Antônio Fábio Mariz Maia, estudante; Clemente Rosas,
economista da SUDENE; Estanislau Fragoso, sargento da Aeronáutica (irmão do
bispo D. Fragoso); Flávio Tavares, estudante e artista plástico; Maria das
Dores Paiva de Oliveira, Lígia Mercês Macedo e Iveline Lucena Costa, da CEPLAR.
Isa Guerra, Maria Limeira. Responderam inquérito na Faculdade de Ciências
Econômicas: Os professores Cláudio Santa Cruz
Costa, Luiz Hugo Guimarães, Juarez Macedo, Nizi Marinheiro, Ronald de
Queiroz, Francisco Assis Lemos, Otávio
de Sá Leitão Filho e Laurindo Albuquerque Melo. Os alunos Heraldo Cavalcanti de
Melo, Leda Rejane do Amaral, José Iremar Alves Bronzeado, Marcus Ubiratan Guedes
Pereira, José Ferreira da Silva, Pedro Targino Moreira, Albano Nunes Nicodemi e
Edvaldo de Góis. Martha Falcão, para suas considerações finais: Gostaria de dizer que o depoimento
do professor Manuel Batista de Medeiros foi um depoimento muito importante
porque por se tratar de uma pessoa que participou do momento, quando o
governador Pedro Gondim teve que tomar uma posição. Pedro Gondim disse que
tinha que estar ao lado da legalidade, como a Paraíba esteve em 30,
identifica-se com o povo paraibano. No dia seguinte a coluna política do nosso
saudoso José Madruga, uma das colunas mais lidas, diz o seguinte: “Melhorou. A
proclamação do Governo Pedro Gondim aos paraibanos deu a S. Excia. um pouco da
recuperação do seu prestígio. O Chefe do Executivo falou na hora exata, sem
titubear, como de outra vez, quando para a posse de Jango. E atirou certo,
ficou com o lado que venceu. Além de recuperar a confiança dos setores
representativos do latifúndio no Estado”. A nota é bastante crítica, tem um
fundo de ironia e mostra que ele acertou porque ficou do lado dos vencedores.
Esse documento se encontra no CORREIO DA PARAÍBA, de 3 de abril de 64, e está
aqui citado pela professora Monique. Esse livro teve uma grande procura
pelos alunos de História da Paraíba porque é uma das melhores fontes para se
estudar de 45 a 64. É um trabalho bastante documentado, feito com depoimentos
de pessoas que, como o professor Manuel Batista, participaram. Hélio Zenaide,
Deusdedit Leitão, inclusive Luiz Hugo Guimarães também foi entrevistado. O
livro se baseia na história oral e fontes documentais, sobretudo nas fontes
colhidas nos jornais da época. Agradeço o espaço que me foi dado
na participação desse evento, onde tive oportunidade de aprender muito
sobretudo com as considerações de alguém que, além de historiador e teve o
privilégio de ter sido testemunha da época, como é o nosso presidente Luiz Hugo
Guimarães.