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7º
Tema Os
Holandeses na Paraíba Expositor: Aécio Villar de Aquino Debatedor: Luiz de Barros Guimarães A fala do Presidente: Hoje vamos debater o tema OS
HOLANDESES NA PARAÍBA. Por motivos superiores tivemos que remanejar a palestra
que estava programada para esta tarde. Mas vamos em frente. Para compor a mesa, convido o
confrade Aécio Villar de Aquino, que será o expositor; o acadêmico Joacil de
Brito Pereira, presidente da Academia Paraibana de Letras; Guilherme d’Ávila
Lins, presidente do Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica. O professor Aécio Villar de
Aquino, nosso expositor, é formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela UFPB; possui
diploma de Estudos Superiores em Economia Política e Direito Internacional
Público e de Espanhol, pela Universidade de Madrid; concluiu o Curso de Reforma
Agrária na OEA e Agricultural Marketing (Departamento de Estado dos EUA) e tem outros cursos de extensão no Brasil e no
exterior. Ex-conselheiro do Tribunal de Contas do Estado e ex-professor de
Antropologia da UFPB. Publicou vários trabalhos sobre nossa história, valendo
citar NORDESTE SÉCULO XIX; NORDESTE AGRÁRIO DO LITORAL NUMA VISÃO HISTÓRICA; FELIPÉIA, FREDERICA, PARAÍBA – Os cem primeiros anos de vida social de uma
cidade; e outros mais. Passo a palavra ao consócio Aécio
Villar de Aquino. Expositor: Aécio Villar de Aquino
(Ex-sócio do IHGP e ex-professor da UFPB; historiador, ensaísta, sociólogo,
falecido recentemente): A minha palestra sobre o tema Os Holandeses na Paraíba foi antecipada para substituir outro
tema, em virtude da impossibilidade do expositor designado comparecer a este
Ciclo de Debates. Somente ontem fui solicitado para
fazer essa substituição, razão por que peço relevar o improviso desta palestra,
uma vez que não houve tempo para preparar um trabalho mais bem ordenado. Abordarei essa fase dos holandeses
na Paraíba examinando seu aspecto histórico e antropológico. Há várias coisas que nos chamam a
atenção quanto às invasões holandesas na Paraíba. Sabemos que a Paraíba foi a
última cidade a ser conquistada pelos holandeses, três anos após a conquista do
Recife. Foram três tentativas frustradas dos holandeses para conquistar a
Paraíba. Vale, portanto, registrar o heroísmo dos paraibanos, do pessoal da
cidade, o que seria lógico, na defesa da sua terra. Tem até um ditado que diz
que a defesa da casa é tão importante que, para sair-se dela, até quando morto
são precisas quatro pessoas para carregá-lo. Além desse heroísmo houve uma
série de circunstâncias que influíram nas vitórias sucessivas dos paraibanos e
na frustração dos holandeses durante essas invasões. A posição da Paraíba, à
época, era de uma verdadeira fortaleza, era um lugar quase inexpugnável, de
acesso muito difícil. Essa defesa foi reforçada desde os ataques dos índios. A
melhor entrada para a cidade era a embocadura do rio Sanhauá. Naquela
embocadura havia dois fortes e a ilha da Restinga, que era utilizada com uma bateria,
impediam o acesso dos navios. Do lado sul da cidade havia uma série de alagados
por conta dos rios Mumbaba e Gramame. Também em torno do rio Sanhauá havia,
como ainda hoje, uma série de mangues. O acesso ao rio só era possível no porto
do Jacaré. A própria lagoa do centro da cidade também servia de empecilho.
Havia também um sistema sonoro no forte de Cabedelo. Em caso de perigo, era
usado um canhão especial que disparava, sendo ouvido na cidade. Por outro lado,
na cidade também havia outro canhão que disparava para ser ouvido nas cercanias
de Santa Rita. Com esse sistema era fácil convocar as chamadas milícias locais
para lutar contra qualquer invasor, sob o comando dos “coronéis”, que eram os
senhores dos engenhos. A propósito, o povoador era obrigado
a ter uma arma em casa, assim como os suíços. Desde o tempo de D. Sebastião que
havia esse procedimento. Quem não tivesse uma arma em casa era penalizado, pois
a qualquer momento poderiam ser chamados para a defesa da cidade. Essas
condições retardaram a posse da cidade pelos holandeses. Quando a cidade foi libertada o
forte de Cabedelo ficou nas mãos dos holandeses quase dez anos, pois eles
recebiam abastecimento pelo mar. Uma coisa interessante nos
holandeses é que eles não assimilaram o sistema de guerrilhas adotado pelos
indígenas na defesa da cidade, o que contribuiu muito para os seus insucessos.
Como se sabe, os europeus combatiam em campo aberto. O uso da flecha muitas
vezes era superior ao uso do arcabuz, que demorava a ser recarregado. Enquanto
a arma era recarregada um índio desfechava seis flechas. Também durante o
período de chuvas a pólvora molhada falhava. Há um aspecto da presença dos
holandeses no Nordeste, que não tem explicação. Os holandeses dominaram o
Nordeste durante 24 anos e não há o mínimo vestígio da cultura holandesa,
apesar do grande relacionamento que houve no tempo de Nassau. Na época chegou a
existir a câmara de vereadores, funcionando com brasileiros e holandeses - os escabinos, como eram chamados. Diz
Câmara Cascudo, depois de uma pesquisa exaustiva, que único traço da cultura
holandesa no Nordeste era o brote, aquele pãozinho redondo, cujo nome era
derivado de brute, que era o pão holandês. É verdade que foi grande a contribuição holandesa sob o
ponto de vista artístico, com a presença de pintores como Franz Post e Eckoutt;
do ponto de vista científico, com o médico Dr. Piso. Até as construções dos
holandeses foram destruídas com sua saída. Na Paraíba não ficou nada, em Recife
parece ter ficado apenas as fortalezas de Cinco Pontas, do Brum e do Buraco.
Deixaram poucos traços. É preciso registrar que existia a
Companhia das Índias Ocidentais, financiada pela Holanda, que recrutou a
escória do que existia na Europa naquele tempo. Eram desocupados, vagabundos e
delinqüentes de uma Europa que estava em dificuldades. Um aspecto curioso está no livro
de José Antônio Gonsalves de Mello – NO TEMPO DOS FLAMENGOS -, que é um livro
interessante, em forma de romance, todo documentado. Folheando esse livro, vi
um documento que ele transcreve sobre o palácio de Nassau. A idéia de palácio é
coisa de conto de fadas, onde se tem de tudo e do melhor. Nesse documento
encontrado no arquivo de Haia, verifica-se que havia um racionamento de comida
no palácio de Nassau. Ninguém comia o que tinha vontade no palácio do príncipe.
Havia uma relação das quantidades a serem usadas. Só o príncipe tinha liberdade
de escolha. O Dr. Piso tinha direito a um copo de vinho, tantas gramas de pão,
tantas de carne; o pintor Eckout tinha direito a isso e isso. Assim, os
próprios comensais do príncipe tinham sua ração reduzida. Ainda hoje se discute se seria
melhor a presença do holandês ou do português na nossa colonização. Há muitos
autores que examinaram o assunto. Eu me lembro que Rocha Pombo se pronunciou
contra os holandeses, registrando o estado em que se encontrava naquele tempo
as colônias da Indonésia e da Guiana Holandesa, o Suriname. Gilberto Freyre era
muito favorável à colonização portuguesa, dizendo que havia uma tendência do
português para a miscigenização. Não considero importantes essas hipóteses,
pois não sou contra nem a favor. O que foi ruim foi propriamente
foi o sistema colonialista adotado. Hoje é o capitalismo, que foi iniciado
pelos holandeses e ingleses com o chamado capitalismo mercantilista. Existem dois tipos de colonização:
a colonização de povoamento e a colonização de exploração. Na colonização de
povoamento são povos que vêm de outro país para ocupar outras terras porque não
têm mais espaço naquele país, em razão de lutas religiosas ou políticas. Os
Estados Unidos é um exemplo de colônia de povoamento, resultante das lutas
religiosas da Inglaterra, que levaram os ingleses a emigrarem para a América do
Norte e fundarem outro país. Da mesma maneira ocorreu com a Austrália, para
onde foi gente inglesa da pior espécie. Na colonização desse tipo o povoador
vai com toda a família: a mulher, os filhos, os aderentes. Fundamenta-se, pois,
numa propriedade familiar, cultivando um pequeno pedaço de terra e não tem
interesse no trabalho escravo, mantendo afastamento dos nativos, com tendência
para o racismo. Na África do Sul os nativos foram até eliminados. A produção é
para eles próprios, e não para a metrópole nem para qualquer outro país. Na
colônia de exploração acontece tudo em contrário. No início da colonização do
Brasil o povoamento se deu sem a presença da família, pois os navios aqui
aportados traziam principalmente homens, deixando em Portugal e Holanda os
familiares. A propriedade tinha características de latifúndio e a produção era para
o consumo externo. A colonização no Brasil e na maior
parte da América Latina foi de exploração. A Holanda, como Portugal, adotou, no
Brasil, a colonização de exploração. Assim, não há como discutir esse assunto,
se um seria melhor do que outro para colonizar. Aliás, como acentua Celso
Furtado, o Nordeste na época do domínio holandês era a região mais rica do
mundo. O produto bruto do Nordeste brasileiro era cinco vezes maior do que o da
Inglaterra. Para finalizar, lembro outro
aspecto interessante sobre as colônias de povoamento, uma vez que todas, sem
nenhuma exceção, são hoje países desenvolvidos. Ao mesmo tempo, todas as
colônias de exploração são países subdesenvolvidos. Era o que tinha a expor. · · · A fala do Presidente: O expositor acaba de registrar
alguns aspectos da ocupação holandesa da Paraíba, examinando o tipo de
colonização da época com as conseqüências do regime adotado, destacando a
colonização pelo povoamento. Para debater o tema, convidamos o
companheiro Luiz de Barros Guimarães, historiador, membro do Instituto
Paraibano de Genealogia e Heráldica, e possui vários cursos de extensão de
História. É de justiça destacar agora sua condição de precursor na Paraíba, do
debate sobre os 500 anos da descoberta do Brasil, quando, em outubro de 1997,
iniciou no jornal O NORTE uma seção domingueira sobre os 500 do Brasil. Foram
96 artigos sob sua coordenação e assina vários artigos. Vamos ouvi-lo. Debatedor: Luiz de Barros Guimarães (Historiador e membro do Instituto Paraibano e de Genealogia e
Heráldica): Acabei de ouvir a explanação do
historiador Aécio Villar de Aquino. Gostei bastante. A História é constituída de
diversas versões. Não existe só uma linha reta; há várias interpretações. Por
esta razão é que estou aqui como debatedor.Tive o cuidado de anotar as
observações que Aécio fez durante sua palestra. A respeito da cultura que nós não
absorvemos dos neerlandeses, e não holandeses, que eu prefiro dizer assim
porque os Países Baixos eram constituídos de 17 províncias. Conheço a notícia
de que a aversão à cultura trazida por eles era uma cultura de hereges, cultura
de satanás. Havia um propósito religioso para evitar contato com esse povo.
Essa é uma das versões que conheço. Só encontrei duas palavras de
origem holandesa que se incorporaram ao vocabulário brasileiro. Uma, foi escorbuto,
que é uma palavra de origem holandesa; a outra, como disse o professor Aquino, foi brote. Até o momento só
encontrei essas duas. Os holandeses, provavelmente, não
deixaram em todas as suas ocupações a influência da arquitetura, mas o bairro
do Recife atesta que houve grande influência na arquitetura da vida
pernambucana. Aqueles sobrados altos, estreitos, de escadas, que nós vemos no
bairro do Recife na rua Madre de Deus, que antigamente chamava-se rua dos
Judeus e pejorativamente era chamada rua de bode, é uma característica da
influência da arquitetura dos Países Baixos, como eu gosto de dizer. Outro
ponto importante foi o número de pontes que os holandeses construíram. Não
foram poucas pontes, embora a mais conhecida seja a Ponte da Boa Vista, porque
ali tinha um palácio donde se avistava um grande panorama. Outras pontes foram
construídas, como a de Afogados, a de Cinco Pontas (que liga os bairros de
Recife que atravessam os rios). Outro ponto que gostaria de
comentar é a respeito da comida controlada do palácio de Nassau. A versão que
tomei conhecimento foi a de que a Companhia das Índias Ocidentais, querendo
frear os gastos, querendo prejudicar Nassau e sua administração, cortou verbas,
inclusive na alimentação bem como no soldo que ele recebia. Essa é uma justificativa dada por vários historiadores
sobre porque havia grande economia no governo de Nassau. Isso ocorreu durante
toda a colonização dos Países Baixos. A respeito da pendência se seria
melhor a colonização dos portugueses ou dos holandeses, da Coroa portuguesa ou
da Companhia das Índias Ocidentais, quero dizer que é preciso analisar com
muito cuidado, porque são coisas completamente diferentes. A colonização dos
Países Baixos não pode se comparar com a colonização da Companhia das Índias
Ocidentais; uma só visava lucros imediatos, mercantilistas; a outra queria uma
exploração mais ampla. Outro ponto de vista para o qual
chamo a atenção é que muita gente fica impressionada com o progresso do Recife,
que Nassau conseguiu fazer somente em sete anos – de 1637 a 1644 -; foi um
progresso formidável. Isso não quer dizer que esse progresso foi devido à
colonização dos Países Baixos ou da Companhia das Índias Ocidentais. Esse
progresso se deve unicamente a Maurício de Nassau. Essa é a minha versão, que
pode não ser a verdadeira. Não podem ser comparadas a
colonização portuguesa, a colonização dos Países Baixos, a colonização da
Companhia das Índias Ocidentais e a administração de Nassau, porque são coisas
diferentes. A respeito da monocultura, Nassau
teve o máximo de cuidado. Tem alvará de Nassau obrigando a plantar tantos pés
de mandioca, ou tantas covas de mandioca, conforme o número de escravos ou
empregados existentes. Nassau proibiu a derrubada de cajueiros e, mais
importante, alertou para a derrubada de pau-brasil, coisa talvez inédita na
colonização portuguesa. Ele recomendou, em alvará, que se tivesse o cuidado de
só derrubar pau-brasil com mais de quatro anos de idade, que dava maior
rendimento do que estava sendo feito pelos estrangeiros, que derrubavam árvores
com dois ou três anos. É preciso estudar tudo isso para se ver a diferença
da colonização sábia de Nassau e a dos
demais colonizadores, inclusive dos portugueses no Brasil. Nassau foi o único a
abrir escolas para os escravos. O tema em debate nesta tarde é um
dos menos pesquisados, entretanto julgo ser um dos temas mais importantes para
a nossa história. Os fatos transcorridos somente nas
duas décadas de 1624 a 1654 se situam num período muito curto, mas muito
importante para a nossa história. Com a expulsão dos holandeses, ou melhor
dizendo, dos Países Baixos, começou a rivalidade entre brasileiros e
portugueses. Os da terra começaram a entender que se tiveram forças para
expulsar uma potência como os Países Baixos, a maior potência naval da época,
poderiam um dia caminhar para a sua independência. Jamais, depois da derrota das
tropas invasoras, o relacionamento entre brasileiros e portugueses foi o mesmo.
Começou aí uma série de revoluções. Os brasileiros começaram a entender que
iriam conseguir sua independência. A semente da independência do Brasil talvez
esteja na restauração pernambucana. Faço questão de usar a expressão
neerlandesa em vez de holandesa. Baseio-me no historiador Evaldo Cabral de
Mello, quando em seu livro NEGÓCIOS DO BRASIL, procurou diferenciar o termo
Holanda. Escreve ele que é necessário
fazer alguns esclarecimentos
tecnológicos. Já era então costumeiro designar-se a República das
Províncias Unidas dos Países Baixos por Holanda, o que era um erro. Isto é, a
designação era feita pela mais importante das seis províncias que formava a
confederação. O ocorre é que a divergência entre a Holanda e seus parceiros
eram freqüentes, inclusive em matéria de política exterior. Daí a opção, neste
livro de Evaldo Cabral de Melo, pelo
vocábulo Holanda e holandeses na acepção das províncias da Holanda e seus
habitantes; salvo no tocante à expressão consagrada Brasil Holandês, a nação
será e sempre foi designada por Países Baixos e seu governo por Estados Gerais,
de modo a distinguir dos Estados da Holanda. Ficou mais conhecido como período
holandês porque a Holanda possuía quarenta porcento da população em todos os
Países Baixos e contribuía com 58% do orçamento. O que vinha em segundo lugar
era a Frigia com apenas um quinto, ou seja 25% porcento; os demais pouco
representavam. Por isso que se refere sempre e unicamente à Holanda, mas eram
sete províncias, cuja descrição deixo de apresentar para não tomar o tempo dos
presentes. Retrocederei um pouco para falar
sobre a Companhia das Índias Ocidentais para melhor se compreender o domínio
dela na Paraíba. O capital de sete milhões de florins para a formação da
Companhia das Índias Ocidentais originou-se da participação de investidores privados e estatal. Os
Países Baixos, isto é, o Estado, além de sua participação monetária, se
comprometiam a fornecer militares e naus. À Companhia caberia a manutenção e o
pagamento dos soldos desses militares. Dessa maneira, os negócios privados da
Companhia passaram a constituir, sobretudo, um negócio de estado. Por essa
razão é que veremos, mais adiante, a interferência dos Países Baixos na paz
definitiva com Portugal, e não com o Brasil. A batalha foi ganha aqui, mas a
paz foi resolvida em Haia e em Londres. E tivemos que pagar quatro milhões de
cruzados de indenização, isto é, ganhamos a guerra e ainda pagamos aos
invasores. A administração da Companhia das
Índias Ocidentais era formada por cinco conselheiros regionais, proporcionais
ao número de acionistas, sendo os mais importantes zelandeses e os holandeses.
Havia também um Conselho composto de 19 diretores, denominado Conselho dos XIX,
representado por 18 conselheiros regionais e um representante dos Estados
Gerais, que se reuniam em Amsterdâ e Midelburg, alternativamente. No Brasil holandês existia o Alto
e Secreto Conselho (Hoog end Sevet Raden), com sede em Recife, composto de três
membros, cuja atribuição principal era assessorar o governo do Brasil holandês,
obrigado a apresentar, periodicamente, relatórios ao Conselho dos XIX, em Haia.
(Era uma espécie um SNI). Retrocedo às razões econômicas que
contribuíram para a criação da Companhia das Índias Ocidentais. Os Países
Baixos mantinham um fluxo comercial relativamente significativo com Portugal.
Altos investimentos, inclusive financiamentos, foram realizados no transporte
marítimo, sobretudo, em instalações de refinarias de açúcar em Amsterdã.
Instalaram refinarias de açúcar em Amsterdã, e não em Pernambuco. Distribuíam
açúcar refinado para todo o Norte da Europa, e por essa razão alguém escreveu
que o açúcar é mais holandês do que
português. Tenho impressão que foi Celso Furtado quem disse que o açúcar
era mais holandês do que português. Os investidores neerlandeses eram
proprietários de engenhos, financiadores da cultura da cana-de-açúcar,
transportadores marítimos, refinadores e distribuidores. Pouca coisa restava
aos portugueses. Portugal estava decadente. O capitalismo português já não
funcionava. Além da indústria açucareira, os
Países Baixos comercializavam com pau-brasil, algodão, couro, peles e animais
exóticos. Por volta de 1621, os armadores neerlandeses transportavam grandes
percentuais de cargas para a Europa, entretanto, com a União Ibérica, entre 1580 a 1640, quando Portugal foi incorporado
à Espanha, passando a ser colônia da Espanha, o Brasil passou a ser uma
subcolônia. Felipe II fechou os portos lisboenses aos navios dos Países Baixos,
sendo talvez a principal causa para a criação da Companhia das Índias
Ocidentais. Motivos religiosos também contribuíram para a formação da Companhia. A derrota militar neerlandesa
deve-se a vários fatores. No livro OLINDA RESTAURADA –
GUERRA DO AÇÚCAR NO NORDESTE, 1630-1654, o historiador Evaldo Cabral de Mello
apresenta a situação da Companhia, tomando por base os percentuais do valor das
ações na Bolsa de Valores. Em abril de
1644 as ações da Companhia caíram para 70%, logo 68% e 52%, devido aos boatos
de ajuda militar portuguesa a Angola. Com saída de Nassau as ações caíram
para quase um terço do seu valor. A Companhia das Índias Ocidentais estava
economicamente derrotada. Não havia mais condições de manter a resistência
militar no Nordeste. Os soldados já não recebiam seus soldos.. A fome era
grande. Ratos e restos de passarinhos eram comidos pelos soldados. A corrupção
predominou nas tropas invasoras Sem capital, a Companhia não possuía condições
de sustentar suas possessões e manter altos investimentos na construção e
manutenção dos engenhos. Os empréstimos feitos aos luso-brasileiros não tiveram
retorno. A derrocada econômica refletiu diretamente na chamada insurreição
pernambucana de 1645. Os luso-brasileiros, que no início colaboraram, foram
quinta-coluna com os holandeses, e, em vista da incapacidade de saldarem seus
débitos, viraram a casaca, combatendo os holandeses unicamente por questão de
interesse econômico. Comportaram-se como se comportam os ruralistas de hoje. Deixo, propositadamente, de me
referir às batalhas militares. Com a derrota militar neerlandesa
foi assinado um tratado de paz condicional e provisório em 26 de janeiro de
1654, na Campina da Taborda, pois o definitivo ficaria dependendo da
homologação dos governos dos Países Baixos e não de Portugal. O tratado de paz
definitivo foi assinado em Haia, em 6 de agosto de 1651, e foi lavrado em
latim, com 16 artigos, que estabeleciam uma indenização de quatro milhões de
cruzados em ouro e restituição da artilharia que aqui se encontrasse aqui, além
de favores comerciais, notadamente sobre o açúcar. Coube ao Brasil a cota de
pagamento de um milhão e novecentos mil cruzados em ouro, em 19 prestações,
durante 16 anos. O Brasil, ou melhor, o Nordeste, Pernambuco, ficava obrigado a
pagar vinte mil cruzados de contribuição para o dote da infanta D. Catarina de
Bragança, filha de D. João IV, dada em casamento ao rei da Inglaterra. Era uma
operação de família para família. Por esta razão, afirmo que nós ganhamos a
batalha militar, mas perdemos a diplomata. Talvez seja um caso inédito na nossa
história. Ganhamos a batalha e tivemos que indenizar os invasores. Porque nova
invasão viria não só para o Nordeste, como Portugal seria invadido
imediatamente pelos holandeses. O assunto é palpitante. · · · A fala do Presidente: Com muito brilho, o historiador
Luiz de Barros Guimarães se desincumbiu de sua missão como debatedor perspicaz.
Referiu-se ao comportamento dos holandeses durante seu domínio na Paraíba,
destacou a atuação de Maurício de Nassau e profligou veementemente o leonino
tratado de paz firmado com os holandeses, mesmo depois de derrotados; Sei que os apontamentos do nosso
expositor Aécio Aquino e as provocações do ilustre debatedor Luiz Guimarães vão
estimular os participantes na continuação do nosso debate. Assim, passo a palavra ao consócio
Joacil de Britto Pereira, primeiro debatedor inscrito. 1º
participante: Joacil de Britto
Pereira (Sócio do
Instituto e presidente da Academia Paraibana de Letras): Expositor e debatedor focalizaram
aspectos interessantes sobre o tema. Mas, gostaria de salientar que aqui no
Nordeste, e de modo especial na nossa Paraíba, heróica e gloriosa, surgiram as
guerras holandesas. Fala-se muito na guerra de
restauração pernambucana, mas a maior figura da reação contra os holandeses,
contra os invasores, foi um paraibano: André Vidal de Negreiros. Um homem
extraordinário pela sua bravura, pela sua estratégia, tornando-se um perito nas
guerras de guerrilha. Os índios já a praticavam, mas ele deu um sentido cada
vez mais aperfeiçoado a esse tipo de batalhas. E nós conseguimos, graças a ele,
a Felipe Camarão, a Henrique Dias, juntando as três raças que entraram na
formação do Brasil, nós conseguimos vencer uma nação poderosíssima, que tinha
uma organização militar mais progressista e moderna: a Holanda. Pouco importa
dizer que vinha sob o disfarce da Companhia das Ilhas Ocidentais. Mas o que ali
estava era o predomínio militar dos Países Baixos, dentre os quais o mais
importante era a Holanda. Eu gostaria de suprir as omissões
desses aspectos que não foram ventilados, para que nós realcemos a bravura do
paraibano, dos nordestinos, das três raças que se irmanaram. Aqui no Nordeste é
que é o berço da nacionalidade. A gente lê todo dia e ouve na televisão que a
Bahia é o berço do Brasil, apenas por uma questão de ter sido a área
descoberta, a área primeira tocada, onde aportaram os portugueses. Mas, o
grande berço da nacionalidade são esses Estados de Pernambuco, Paraíba e Rio
Grande do Norte. E o brasileiro, que nasceu com o espírito de uma nação nova,
dali surgiu com os seus anseios libertários. O grande sentido dessa situação
histórica foi o Brasil despertar para o seu valor próprio. A guerra holandesa
nos deu o sentimento de Pátria. Pela primeira vez na História do Brasil se
falou, se usou a palavra Pátria. Isso está escrito pelos historiadores. Foi uma
carta dirigida a André Vidal de Negreiros, que registrou o sentimento de Pátria e a palavra Pátria no
seu conceito mais alto. Esse é um aspecto que eu queria suprir. O expositor e debatedor fizeram
enfoques interessantíssimos, mas nós devíamos sempre realçar a bravura do nosso
povo, quando se falar sobre a guerra dos holandeses. Sobre a Paraíba heróica,
que reuniu essas três grandes figuras: André Vidal de Negreiros, Henrique Dias e Felipe Camarão. A junção
dessas três raças é que fizeram a Pátria brasileira. Foi numa hora em que
Portugal queria se ajustar com os invasores, celebrar uma paz bem anterior, e
nós resistimos. Nós os brasileiros, os índios, os negros e André Vidal de
Negreiros, que foi um homem tão notável como estadista, que governou terras
daqui e de além-mar. Como guerreiro, foi de uma bravura excepcional, como
estrategista e também como homem de espírito humanitário. Morreu, deixando
antes de morrer, um testamento que é uma preciosidade de humanismo. Distribuiu
suas terras, seus engenhos com os seus próprios escravos e moradores. Fez,
portanto, a primeira manifestação de uma reforma agrária no nosso Nordeste, no
nosso Brasil. 2º participante: Guilherme d’Avila
Lins: (Membro do
Instituto e presidente do Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica) Mais uma vez parabenizo a
iniciativa deste Instituto pela realização destes debates e particularmente
pelas considerações que foram feitas pelo expositor, Dr. Aécio de Aquino, pelo debatedor, historiador Luiz de Barros
Guimarães e pelo professor Joacil de Britto Pereira. Ratificando o que já disse o
debatedor Luiz de Barros Guimarães, eu digo que os luso-brasileiros pagaram com
sangue a vitória e a expugnação do solo pátrio pelo invasor neerlandês. E
concordo com sua observação: neerlandês e não holandês. E tivemos de pagar de
novo, como se já não tivéssemos pago com sangue, a ousadia de termos expulsado
os holandeses, mostrando, sem dúvida, os primeiros laivos de nacionalidade
deste país. O sentimento de brasilidade, como nação, nasce no período holandês.
E é por isso que ele é tão importante para a História do Brasil e,
particularmente, para o Nordeste. Sobre os vestígios dos holandeses
na nossa cultura há uma linha interessante de argumentação. O professor Aécio
Aquino lembrou a palavra brote, originária de bloudes, uma única palavra que se
incorporou ao nosso vocabulário, entretanto há cerca de 400 palavras
portuguesas que se incorporaram ao vocabulário holandês. O holandês estava aqui
não para morar nem para colonizar. Estava aqui para extrair, tanto é que ele
não levantou um só engenho, fosse na Bahia, no primeiro período, fosse em
Pernambuco, fosse nas Alagoas, fosse na Paraíba. Os engenhos da Paraíba,
particularmente, continuaram existindo apesar do abandono dos seus
proprietários, que escaparam quando os holandeses aqui se instalaram. Esses
engenhos foram confiscados, e confiscados ficaram até 1637, quando somente a
partir daí Nassau ordenou a venda desses engenhos, que era um capital parado.
Vários holandeses adquiriram esses engenhos, mudaram-lhes os nomes mas não
tocaram neles. Apenas aproveitaram a mão-de-obra existente nos engenhos. Às
vezes o antigo feitor era o mesmo. O próprio Yppo Eissens, considerado por
muitos como dono do engenho Santo André, não era dono, pois ele morreu em 1636,
quando Nassau ainda não tinha chegado. Ele apenas usufruía indevidamente o
engenho, com a aquiescência do governo holandês em Pernambuco, por ele ser o
diretor da Capitania da Paraíba. Contra Yppo Eissens consta a existência de um
processo acusando-o de sodomia, fato raríssimamente citado. Aliás este
inquérito sobre sodomia foi movido pelos próprios neerlandeses. Este é o mesmo
Yppo Eissens que queria casar com uma sobrinha-neta de Duarte Gomes da
Silveira, pensando no tradicional dote, como aconteceu com Luciano Brandão, em
Itamaracá, senhor de engenho abastado, cuja filha casou-se com um holandês. Há muita linha de pesquisa a ser
desenvolvida sobre o período holandês, apesar de muita coisa já estar escrita.
Mas há muita coisa ainda obscura, como, por exemplo, aqueles dez anos em que os
holandeses ficaram acuados no forte do Cabedelo recebendo suprimentos por mar.
Essa história está muito curta. Tem que haver mais coisa sobre este episódio,
porque dez anos dentro de um forte dá para as pessoas morrerem de tédio. Estão
faltando pesquisas nesse sentido. José Antônio Gonsalves de Mello vasculhou de
forma maravilhosa a documentação holandesa, particularmente as atas diárias do
governo holandês, no que diz respeito especialmente a Pernambuco. Ele só citou
a Paraíba en passant, a reboque de
fatos de interesse de Pernambuco. Mas toda a documentação das chamadas “Nótulas
Diárias” está para ser vasculhada no Instituto Arqueológico Pernambucano. Sobre a atuação dos holandeses, um
fato interessante é que a primeira Câmara de Escabinos que existiu no Brasil,
no segundo ciclo, foi a da Paraíba, graças à visão e clarividência
administrativa de Elias Herckmans, que a estabeleceu dois ou três meses antes
da de Olinda. A participação dos luso-brasileiros era pequena e teoricamente os
obrigariam a entender o holandês. Por sua vez,
poucos holandeses falavam português. Se procurarmos as fontes
principais do período temos do lado holandês exemplos como Joannes de Laet,
Barleus, entre outros; do lado luso-brasileiro temos Duarte de Albuquerque
Coelho, Manoel Calado Salvador, Diogo Lopes Santiago, Francisco de Brito
Freire, Frei Rafael de Jesus (este precisa ser lido com muito cuidado, pois ele
consegue transcrever entre aspas
discursos de até quatro páginas sem nunca ter vindo ao Brasil). Apesar
de tudo isso, está faltando quem vasculhe a documentação holandesa concernente
à Paraíba. Para citar uma documentação portuguesa, que nunca foi vasculhada, e
que interessa primacialmente à Paraíba, eu citaria um opúsculo de Frei Paulo do
Rosário, editada em 1632, obra raríssima da qual só se conhecem quatro
exemplares, sobre a qual estou fazendo um estudo para uma reedição crítica.
Esta obra é importante porque ele foi testemunha presencial em 1631 da
tentativa dos holandeses conquistarem a Paraíba. Ele relatou tudo o que
aconteceu e terminou colocando uma relação dos feridos e dos mortos naquela
tentativa. Brevemente eu apresentarei uma reedição crítica desta obra que
jamais foi consultada na historiografia brasileira., embora tenha sido citada
na bibliografia brasileira. Outro trabalho de extrema
importância, para mostrar o clima que antecedeu a entrada dos holandeses na
Paraíba, é a Descrição da cidade e barra
da Parahíba por Antônio Gonçalves Páscoa. A Revista do Instituto
Histórico tem duas publicações deste mesmo relatório, onde o autor mostra nas
entrelinhas como nós, na Paraíba, estávamos nos preparando para o ataque que
ainda iria acontecer fatalmente. A esta altura já existia o reforço do forte da
cidade e existia um reduto na ladeira de São Francisco. Ele também dá
informações importantes sobre a navegabilidade do rio Paraíba naquela ocasião,
isso em 1630, documento este que foi descoberto por Varnhagen. Do lado holandês
existe muita coisa ainda para ser vista, inclusive a documentação administrativa
que está por ser vasculhada, analisada
e criticada. É um trabalho de equipe e de longa duração. 3º participante Maria do Socorro
Xavier: Parabenizo essa iniciativa deste
Ciclo de Debates, fazendo com que o Instituto Histórico seja, não apenas um
arquivo de livros, mas um centro ativo de debates com a presença de
historiadores como Luiz Hugo Guimarães, Joacil de Britto Pereira e outros nomes
significativos da nossa cultura. Parabenizo também o nível dos debates, os
quais tenho assistido até agora, como o da professora Regina Célia Gonçalves,
na questão das fontes de pesquisa histórica; como a palestra da professora Rosa
Godoy Silveira sobre o Império; como o de Dr. Luiz Hugo Guimarães e Joacil de
Britto Pereira, sobre a República na Paraíba. Todos foram maravilhosos,
oferecendo grandes subsídios para a cultura da história paraibana. Quero parabenizar o expositor e
debatedor de hoje pelos aspectos interessantes que foram colocados sobre o
período holandês na Paraíba. Estava impaciente porque eles não tinham tocado
nos grandes heróis da luta contra os holandeses, brilhantemente mencionados
pelo professor Joacil Pereira. Volto ao tema sobre se seria
melhor a colonização holandesa ou portuguesa. Ainda lembrei pelo paralelo feito
pelo escritor Vianna Moog no seu livro BANDEIRANTES E PIONEIROS, onde ele
mostra a colonização dos Estados Unidos feita pelos ingleses e a das Américas,
feita pelos portugueses e espanhóis. Sabemos que ambos europeus estavam sob a
influência do mercantilismo. Todos queriam lucros, se fixar, povoar, explorar.
Só que, se os holandeses tivessem procedido a colonização da Paraíba talvez ela
tivesse se assemelhado àquela colonização procedida pelos ingleses nas colônias
americanas. Eles foram com o intuito de se fixar, trabalhar, lucrar, com a
maior racionalidade possível, uma racionalidade bem típica dos povos
anglo-saxões, teutões, como foram os holandeses. Eles trouxeram consigo também
uma ideologia religiosa. A ideologia religiosa dos portugueses foi o
catolicismo, um catolicismo um pouco fluido, um pouco frouxo, embora tenhamos
tido a Inquisição. A racionalidade esteve mais presente nas colonizações dos
povos anglo-saxões. Já os portugueses eram mais flexíveis. Há uma análise muito
boa feita pelo sociólogo Max Weber abordando a ideologia influenciando a
colonização portuguesa e espanhola nas Américas e a colonização inglesa, à
época protestante e com o espírito do capitalismo. O que quis provar é que o
protestantismo trouxe a época do trabalho de racionalidade, de lucro,
influenciando para que as colônias inglesas na América fossem mais prósperas do
que a colonização portuguesa. A meu ver, não importa muito se o Brasil fosse
colonizado por holandeses com essa índole capitalista, protestante, laica e
lucrativa. Também os portugueses exploraram o Brasil, com a mineração, levando
ouro para Portugal, pau-brasil, etc. Se tivéssemos sido colonizados pelos
holandeses poderíamos ter uma colonização mais racional, mais organizada. 4º participante Célia Camará Ribeiro
(Sócia do
Instituto Histórico e Geográfico de Niterói): Sou de opinião que nossa querida
Frederica teria sido melhor em cultura com os holandeses, porque não só
palavras edificam uma cidade, porém as obras. E aqui eles deixaram várias
obras, como asseveraram os debatedores. Agora eu pergunto: será um mito ou
verdade porque os holandeses não se miscegenavam com índios nem africanos e a
questão do gado holandês? 5º participante Marcus Odilon
Ribeiro Coutinho (Sócio
do IHGP): Todos os participantes falaram com brilhantismo. Esse assunto,
porém, é um assunto que dá margem às mais diferentes avaliações. O problema da
Companhia das Índias Ocidentais é que o capital era judeu. Isso não é nada de
mais, e acho até bom. Portugal ficou pobre quando botou os judeus para fora de
Portugal, com a Inquisição. Os judeus tinham que aceitar a religião católica ou
emigrarem. Eles foram embora e levaram o capital. Os que ficaram foram depois
colhidos pela Inquisição. Em Amsterdã tem uma sinagoga, sinagoga
israelita-portuguesa. Quando estive lá fui vê-la, mas estava fechada. Depois
soube por pessoas que estiveram lá que há nomes portugueses. Na verdade, os
judeus expulsos de Portugal foram se refugiar em Amsterdã, que é uma cidade que
tem uma influência portuguesa enorme. Possivelmente, esses vocábulos
portugueses que estão incorporados ao holandês sejam uma conseqüência dessa
emigração de Portugal. Nosso presidente poderá se corresponder com essa
sinagoga ou com a embaixada da Holanda aqui no Brasil e examinar se podemos
obter mais algumas informações. É preciso lembrar que uma família
holandesa ficou aqui no Brasil. Foi a família Wanderley, nome que em holandês
se escrevia Wan der ley, com três nomes.e com o tempo houve a junção. Parece-me
que os holandeses, no primeiro acordo firmado, tiveram somente três meses para
deixarem o Brasil. Muitos deles deixaram o Nordeste e foram para os Estados
Unidos, onde fundaram a Nova Amsterdã, que depois passou a ser Nova York. Uma
observação importante a fazer é que havia muita liberdade religiosa no tempo de
Nassau, que, aliás, não era holandês: era alemão. Fala-se que na luta dos pernambucanos pela liberdade, não era a
liberdade que eles propunham. Na verdade, os nossos heróis não eram tão a favor
das liberdades porque eles não davam liberdade religiosa. No tempo de Nassau, a
sinagoga era aberta, reconheceu-se aos judeus o direito de praticarem sua
religião; os cultos protestantes eram abertos e as igrejas católicas
continuaram abertas também.. Havia muito mais liberdade no Brasil holandês.
Salvo engano, os protestantes só vieram a ter liberdade de culto por pressão e
influência da embaixada inglesa, quando D. João VI estava no Brasil.