Elogio a Luiz Hugo Guimarães[*]

 

Sei que não estava prevista no convite minha fala para esta ocasião de homenagem  ao saudoso  Dr. Luiz Hugo Guimarães. O Instituto Histórico e Geográfico Paraibano e a Academia Paraibana de Letras irão se manifestar pela  palavra   do acadêmico e historiador  Joacil de Brito Pereira.

Porém, as circunstâncias que me trouxeram aqui, neste momento, na condição de presidente do IHGP, me obrigam a breves palavras.

Difícil será acrescentar alguma coisa, em qualidade e quantidade, a tudo que será dito pelo orador oficial sobre o homenageado. Não importa, será um depoimento pessoal.   

Quando cheguei ao IHGP, em 1999, Luiz Hugo já era seu presidente. Logo nos identificamos e por conta de minha assiduidade junto à Instituição passei a ser seu colaborador, ora como membro de comissões, ora como  secretário e, por fim, como vice-presidente.

Tivemos oportunidade de muitas vezes debater, discutir e discordar, sem que isso pudesse sequer arranhar o nosso relacionamento. Somente uma vez a nossa discordância gerou desconforto entre nós. Foi exatamente quando de sua última eleição para o mandato 2007-2010. Ele exigiu que eu fosse seu vice-presidente. Nenhuma justificativa que eu lhe apresentava para não aceitar o cargo ele admitia. Tornou-se intransigente até que eu - para não ver ferido o nosso relacionamento - capitulei. E como as coisas acontecem por força do inevitável sobrou para mim a  missão de dirigir o IHGP exatamente no difícil momento em que os convênios com o Governo do Estado e a Prefeitura Municipal tinham se vencido. Mais difícil ainda está sendo substituir Luiz Hugo. Parece vê-lo em todos os cantos do Instituto, como uma presença constante. Chego a concordar com o mestre Câmara Cascudo, quando afirma,  a morte existe, os mortos, não.

Minhas senhoras, meus senhores,

Ao longo dos 104 anos de existência, o IHGP vem recrutando dos seus quadros nomes para dirigi-lo. O Instituto no passado foi Francisco Seráphico da Nóbrega, seu primeiro presidente; foi Flávio Maroja, um entusiasta dirigente; foi Francisco Xavier Junior; foi o cônego Florentino Barbosa, enriquecedor da biblioteca; foi Antonio Bôtto de Menezes, José d´Ávila Lins; foi Coriolano de Medeiros, autor do “Dicionário Corográfico da Paraíba”; foi Maurício Furtado, Adhemar Vidal, Celso Mariz,  autor de “Apanhados Históricos” e “Evolução Econômica da Paraíba”;  foi Clóvis Lima, que nos legou o prédio onde estamos instalados até hoje; foi o cônego  Francisco Lima, foi  Humberto Nóbrega, que nos deixou rica bibliografia; foi Antonio Freire; Lauro Pires Xavier, o precursor da moderna ecologia; foi Rosilda Cartaxo, todos esses já falecidos.

 Nos tempos mais próximos recrutou  Deusdedit Leitão, agora  enfermo, o cultor da história municipalista. Foi Humberto Melo, foi  Joacil de Brito Pereira, o revitalizador e incansável promotor do prestígio da entidade, estes dois últimos ainda prestando colaboração à Instituição. 

Alguém já disse que a memória de uma instituição é ao mesmo tempo mais fiel e mais precária que a memória dos indivíduos. Mais fiel porque escapa à deteriorização biológica e é menos subjetiva. Mais precária porque as instituições vivem mais tempo que os homens, e, quando aqueles que a serviram começam a abandoná-la, a trama de sua história corre o perigo de, cedo ou tarde, perder-se e cair no esquecimento.

Por conta disso, antes que eu me esqueça e antes que seja escrita a história do IHGP sem as cores vivas que merece o nome de Luiz Hugo Guimarães, seu presidente nos últimos catorze anos, quero nesta oportunidade, na qualidade de seu colaborador na Diretoria, enaltecer sua atuação à frente do Instituto.

Infelizmente o tempo de que disponho não me permite que eu faça aqui o elogio de uma administração, tantos foram os esforços, a dedicação e o entusiasmo a que Luiz Hugo Guimarães se deu na condução da mais respeitada e acreditada instituição da memória paraibana. 

Devo destacar, no entanto, alguns de seus feitos. Nesses anos, o Presidente Luiz Hugo Guimarães encaminhou o IHGP à modernidade, informatizando seus serviços; organizou um setor da imagem e do som, filmando e gravando todas as sessões e acontecimentos da instituição; para modernização da biblioteca “Irineo Pinto”, instalou arquivos deslizantes, otimizando os espaços de suas salas; contando com a ajuda da Fundação Biblioteca Nacional e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, gravou em CD duplo as revistas do IHGP contendo ao todo 10.200 páginas de trabalhos publicados,  desde a primeira revista editada em 1909;  iniciou a elaboração de um projeto visando a microfilmagem de seus jornais e de milhares de documentos antigos existentes no seu arquivo documental. Com a ajuda do FIC,  Fundo de Incentivo à Cultura Augusto dos Anjos,  restaurou 46 obras de arte da pinacoteca do IHGP, que há muito estava requerendo cuidados especiais.

Organizou, apenas com os recursos dos convênios do Estado e da Prefeitura, em setembro de 2005, as festividades do Centenário do IHGP, ocasião em que realizou um simpósio dos Institutos Históricos,  que contou com a presença de dezessete Estados brasileiros, do qual resultou um documento onde os Institutos conclamaram  os poderes públicos federal, estaduais e municipais a encontrar meios institucionais e legais, assegurando-lhes recursos financeiros, isenções fiscais e outros benefícios que viabilizem sua atividade.

Quero também destacar o constante contato e intensa correspondência  que manteve com os sócios correspondentes e com todos os Institutos Históricos, não só das capitais, como de inúmeras outras cidades brasileiras, que se mantinham informados  pela Internet, através do “site”, por ele criado, e pelo Boletim Informativo do IHGP, que ele próprio, cuidadosamente diagramava e digitava todo mês.

Se eu fosse traçar em algumas palavras uma caracterização da personalidade de Luiz Hugo Guimarães como administrador, diria que ao lado do espírito de iniciativa e de capacidade de trabalho, destacava  sua  maneira humaníssima de tratar os servidores, os usuários do IHGP e os prestadores de serviço junto à Instituição.                                 .   

Era este o depoimento que me cabia nesta hora, antes da declaração solene de vaga da Cadeira que foi ocupada pelo saudoso Luiz Hugo Guimarães.

Muito obrigado.

 

 



[*] Pronunciamento feito pelo Presidente do IHGP, Humberto Fonsêca de Lucena, quando da Sessão Solene de Homenagem Póstuma ao acadêmico e historiador Luiz  Hugo Guimarães, em reunião conjunta com a Academia Paraibana de Letras, Instituto Histórico e Geográfico Paraibano e Academia de Letras e Artes do Nordeste, em 26 de novembro de 2009, na sede da APL.