DISCURSO DE POSSE DE

                        MARIA AUXILIADORA BEZERRA BORBA

 

 

 

Excelentíssimo Senhor Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, Dr. Humberto Fonsêca de Lucena

Excelentíssimas Autoridades

Respeitáveis Confrades e Confreiras

Senhoras e Senhores   

Amigos e Familiares

 

 

 

         Peço vênia aos presentes para iniciar minha alocução, agradecendo aos amigos, confrades e confreiras que me sufragaram, no dia 27 de fevereiro deste ano da graça de  Nosso Senhor  Jesus Cristo  e por unanimidade de votos me elegeram sócio efetivo desta nobre ¨Casa do Saber,¨ denominada Casa de Irineu Ferreira Pinto

 

Dirijo-me, inicialmente, ao Dr.Joaquim Osterne Carneiro, homem versado na história e na literatura da nossa terra, pela saudação especialíssima que ora me fez, traçando, de modo competente o meu perfil, a partir da minha vida acadêmica, quando nos conhecemos, no ardor da nossa juventude, época em que almejávamos melhores dias para a sociedade brasileira e nos inspirávamos nas teorias e ideologias que brotavam da Dialética da História, situando o homem como um ser histórico, capaz de proceder às mudanças sociais.

 

Lutávamos por reformas de base nas áreas da educação, da saúde e na busca do desenvolvimento econômico e social, de forma harmônica. Pleiteávamos a mudança de massa para povo, através da conscientização. Fazia-se necessário, formarmos uma consciência crítica diante da sociedade em transição. Compreendíamos que estávamos nos formando como uma elite pensante e que deveríamos empregar aqueles saberes em prol dos que não tinham tido iguais oportunidades.

 

 

Em Recife, descortinava-se um programa educacional através do Movimento de Educação de Base – MEB. O professor Paulo Freire construíra um método de ensino destinado à educação de adultos trabalhadores, utilizando palavras-chave do labutar cotidiano de cada profissional. O seu método, hoje, é conhecido internacionalmente e usado, em vários sistemas de ensino. Àquela época, anos sessenta do século passado, na Paraíba, as cidades de João Pessoa e de Campina Grande, aderiram ao sistema de alfabetização de adultos (CEPLAR). Os professores eram os estudantes universitários que emprestavam os seus saberes sem nenhum salário, nem tampouco vínculo empregatício. Muitos foram incompreendidos e tomados como subversivos.

 

Estendo os meus agradecimentos, ao presidente Humberto Fonsêca, por sua conduta ética e prestimosa; também, aos confrades e confreiras que subscreveram a minha apresentação para concorrer a uma vaga neste Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, e que me apoiaram: Wellington Aguiar, Francisco Sales Gaudêncio, Itapuan Botto Targino, Carlos Alberto Azevedo, Adauto Ramos, Flávio Sátiro Fernandes, Marta Falcão e Balila Palmeira. Agradeço, de modo especial ao Dr. Adauto, sobretudo, pela presteza e solicitude com que se conduziu  assessorando-me com o material bibliográfico de que necessitei para realizar minhas pesquisas. Aos funcionários desta Casa pela atenção que me dispensaram no atendimento às minhas solicitações, o meu reconhecimento.

 

 

 

DISCURSO DE POSSE NO IHGP

 

 

Hoje, é para mim um dia de glória! Colho os frutos por muitos semeados e regados. Ofereci terreno fértil, disso agora tenho certeza. Ajudei no cultivo que muitos outros me favoreceram. Agradeço ao Senhor e a todos aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram para este momento ímpar da minha vida.

 

Os primeiros semeadores foram os meus queridos pais: Severino Rodrigues e Silva e Regina Bezerra de Lima e Silva. Ele, multifacetado na vida profissional iniciada no Tiro de Guerra, em Recife, depois, como alfaiate, funcionário público, empresário, político, rábula e, por fim, diácono – um homem de Deus.

Ela, professora primária, com muita desenvoltura nas letras, artes e habilidades artesanais. Falava francês, entendia o latim. Cantava, tocava piano, serafina e violino. Muitas dessas habilidades foram obtidas no ensinamento materno, com sua mãe Mariana (minha avó) e com os seus tios Tito de Souto Lima e José de Souto Lima.  O primeiro, rábula, autodidata e orador. O segundo, maestro, poeta e compositor.

        

Foi assim que a minha história começou. Conheci o sentido da vida familiar, da vivência cristã e político-social. Aprendi a respeitar e aceitar o outro como de fato ele é. Entendi a historia, como forma narrativa e crítica dos fatos, dos homens e das sociedades, onde as lutas, as guerras, as civilizações, as culturas e os acontecimentos eram registrados.

 

 Aprendi que a geografia era marco que identificava a tipologia dos povos, os limites que dimensionavam as Nações, e seus desdobramentos em comunidades regionais e locais.

 

Sou da época em que se fazia decorar os países do mundo e as suas capitais. Os nomes dos seus dirigentes e dos vultos gloriosos da Pátria. Aprendi que no continente sul-americano, notabilizava-se o Brasil, pela grande extensão territorial, possuidor de solo fértil cultivável e rico em minérios; que tinha também, um povo valente e trabalhador, miscigenado por heranças européia, africana e ameríndia que sabia respeitar e amar sua pátria, bem como seus símbolos e seus ritos.

 

Aprendi, outrossím, que o civismo fazia parte do conhecimento global do ser humano e nele podiam ser atreladas as concepções de cidadania e ética, corroborando o sentido político  e social da dignidade do Homem.

 

  Fui preparada para o trabalho, para lutar e vencer, este foi o lema em mim impingido pela família e pela escola, destacando-se a professora Aurélia Bezerra de Lima, no ensino primário, e os mestres Normando Feitosa, Amaury Vasconcelos, José Lopes de Andrade, José Rafael de Menezes e Maria Amália Arozo nos estudos históricos, sociológicos e filosóficos. No domínio da língua portuguesa, o professor João Viana Correia.

      

 

Assim norteei os meus passos, trilhei a minha trajetória, lutei em busca de espaços, sem obstaculizar os espaços alheios. Aprendi que só se abandona a luta quando não se tem a devida força, nem tampouco, o instrumental necessário. Sendo vencedora ou vencida, faz-se necessário ser corajosa e leal, reconhecendo que a todos, enquanto pessoa humana, deve ser facultada igualdade de oportunidades.

 

         Absorvi princípios e sentenças para nortear a minha conduta, enquanto ser social. “Criar espaços, buscar objetivos, estabelecer metas e ocupar as oportunidades que a sociedade oferece.” Esta aprendizagem remonta ao ensino do Serviço Social, em minha formação universitária.

 

Estabeleci para mim mesma, algumas metas, respeitando as prioridades de cada momento em relação às circunstâncias. Declinei de alguns convites. Deixei passar varias oportunidades e ações; algumas, dantes; se foram e, quiçá, não voltem mais.

 

           Por isso, ao ser abordada pelos amigos e confrades Itapuan Botto Targino e Carlos Alberto Azevedo sobre o interesse de integrar os quadros do IHGP, desta feita, não hesitei. Aceitei o desafio. Dispus-me à luta. Sinto-me suficientemente amadurecida, embora, ainda, aprendiz, diante da sapiência dos senhores e senhoras que compõem esta respeitada “Casa do Saber”.

 

          Trago a minha vontade de somar e multiplicar ações partilhadas que enobreçam a nossa instituição, através de estudos e pesquisas, direcionadas para nossas tradições históricas e culturais. Prometo que não serei “a noviça rebelde.” Preciso do apoio e compreensão dos confrades e confreiras, colocando-me, igualmente, à disposição de todos.

      

 Nesta casa há um clima que transpira cultura e passado e eu gosto dessas vertentes. Aqui posso mergulhar nas diferentes culturas, mormente na cultura dos povos que nos deram origem, como alicerce e permeio para nossa própria cultura, somando-se ao conhecimento erudito, o conhecimento popular. Amo o passado porque nele satisfaço os meus anseios memorialistas e sorvo a cultura de antanho. Dele não devo esquecer, pois é a minha raiz; faz parte, também, da minha existência e da minha história, assim como das histórias de cada um dos que aqui se encontram e, dos que já se foram.

Com o passado, rememoro o mundo, através das pessoas, circunstâncias, civilizações e fatos. Extraio o sumo que me fortifica e me conduz com o seu fio condutor, a outras paragens. Assim, como dizia o poeta Mario Quintana quando escreveu o seu poema “o passado¨, “ele não reconhece o seu lugar, está sempre no presente.”

 

              Estamos na época da modernidade, das novas tecnologias, como bem falava Alvin Toffler há três ou mais décadas atrás em “O choque do Futuro”. A pressa do dia a dia e os novos atrativos não mais proporcionam as encantadoras visitas dos leitores às bibliotecas. Os saraus literários, as discussões sobre as obras e sobre os autores, pensadores e escritores ficam cada vez mais escassos. E, como eram enriquecedores os debates polêmicos! Quantas vertentes se abriam ao mundo do saber: nas artes, nas músicas, literaturas e historias, eram sempre os cernes das questões.

      

Lembro com saudades do Grêmio Literário Machado de Assis, em Campina Grande, onde ouvíamos ensinamentos transmitidos por mestres e alguns colegas mais adiantados, destacando-se Juarez Farias, Evaldo Gonçalves, Agnelo Amorim, Sebastião Aires,Fernando Cunha Lima e Genival Lucena dentre outros, assim como, do Centro Estudantal Campinense, onde exercitei meus ensaios literários de política e democracia, juntamente com os colegas Valda Freire e José Morais Lucas.

 

 Estamos na época da eclosão da comunicação virtual. Um grande invento do homem, não resta dúvida. Computadores e telefones celulares estão ao alcance de todos. Porém, ainda, somos uma sociedade carente de mudanças e de ajustes que, no momento, não me cabe abordar.

 

      Agora,em atendimento às normas regimentais, passo a discorrer sobre o ilustre homem público, Dr. Maximiano Lopes Machado, patrono da cadeira 28, que, no momento, com muita honra, devo ocupar. Dantes, nela estiveram dois eméritos historiadores: Eduardo Martins e Luiz Hugo Guimarães, sobre os quais falarei logo mais.

 

 

 

 

                        O PATRONO - MAXIMIANO LOPES MACHADO

 

 

         Neste momento, ouso fazer a apresentação do primeiro historiador paraibano, Dr. Maximiano Lopes Machado, nascido nesta capital, da então Província da Parahyba do Norte, em 07 de agosto de 1821, advindo de uma família de nove irmãos (duas mulheres e sete homens), sendo ele o segundo filho do português Manoel Lopes Machado e da paraibana Anna Joaquina de Albuquerque Machado, também, nascida nesta capital.

 

          Seu pai, comerciante, mudou-se cedo, com toda a família para o Recife, capital da província de Pernambuco, a fim de educar os filhos. Maximiano fez os seus primeiros  estudos indo até o curso preparatório, na escola confessional católica dos padres da Congregação de São Felippe Nery, no Convento da Madre de Deus.

 

         Do seu pai, herdou o interesse pela política e pela causa da independência do Brasil. Contrariava-se com as injustiças sociais e cultivava o desejo de bem estar para todos. Este desejo ardente, fê-lo estudar Direito, bacharelando-se em Ciências Jurídicas e Sociais, pela Faculdade de Direito de Olinda, em 1844.

 

        No ano seguinte, foi nomeado promotor público daquela metrópole, sobressaindo-se por sua eloqüência e tenacidade.

          

Decorridos, exatamente três anos, em 1847, o Governo Imperial o designou para exercer, na Vila Real de Areia, na Paraíba, a função de juiz municipal do Termo. Na mesma época, naquela cidade, acumulou o cargo de delegado de polícia.

                

                   Em 1849, o Dr. Maximiano, sabedor das decisões do grupo de liberais dissidentes, reunidos na Rua da Praia, através de um documento por eles elaborado, denominado ¨Manifesto ao Mundo¨ e pelo jornal por eles criado e impresso , chamado Estado Novo, de pronto abriu mão do cargo devolvendo-o ao presidente da Província, Dr. Antônio Vasconcelos que, ao recebê-lo, não o levou em consideração, enviando-lhe, em tempo oportuno, dois outros expedientes dizendo-lhe que se os revoltosos chegassem à Areia, oferecesse-lhes  resistência, em nome do Governo.

 

O fato é que o Dr. Maximiano, enquanto liberal, apoiara os partidários, de modo que os mesmos ao deixarem a cidade de Goiana, rumaram à Parahyba, e em Areia foram por ele  acobertados.

 

                  No dia 19 de fevereiro, as forças do Governo entraram em Areia, e após encarniçados combates, deixaram muitos mortos, feridos e reclusos, inclusive líderes dentre os quais o Dr. Maximiano, que ao lado dos revoltosos, foi ferido, no Engenho Gregório, tendo, contudo, conseguido evadir-se, em companhia dos insurgentes que seguiram por Pocinhos e Ingá, chegando a Pilar, onde se refugiaram no Engenho Pureza. Naquela localidade, por ordem do Presidente da Província, ele foi preso, tendo, dias depois, sido solto, em virtude do Habeas Corpus concedido pelo corajoso e intrépido juiz Vitoriano Toscano de Brito.

 

        Maximiano voltou ao interior da Paraíba e do Rio Grande do Norte, onde esteve oculto por dois anos. Durante seu esconderijo, escreveu seu primeiro livro – “Quadro da Rebelião Praieira na Província da Paraíba”, sem, contudo, assinar, colocando, apenas, suas iniciais, temendo repressão. Fez, ele próprio a sua introdução. Somente conseguindo publicá-lo, após dois anos.

 

       Adiantava que estava sem condições econômicas para publicar o texto, mas, mesmo assim, o escrevera na esperança de que um dia pudesse publicá-lo, a fim de não serem esquecidas as malversações do então Presidente “digno êmulo dos que mais têm  assolado as míseras províncias do Norte da nossa malfadada Pátria”(p.13).

 

        Dizia-se inapto para falar sobre os acontecimentos em Pernambuco, mas, considerava-se testemunha ocular dos fatos ocorridos em Areia, convertida em campo de batalha, e, na visão dos vencedores, como país conquistado.

 

     Este compêndio é composto por sete capítulos, contendo 127 páginas, sendo impresso em duas edições: a primeira em 1854, editada pela Tipografia Nacional; a segunda em 1983, em comemoração ao quarto centenário da Paraíba, editada pela Universidade Federal da Paraíba em co-edição com a Universidade Regional do Nordeste.

 

       Anistiado, em 1852, fixou residência em Campina Grande, onde desposou Jovelina Fortunata Machado tendo com a mesma, prole numerosa da qual faz parte seu filho homônimo que foi sócio fundador deste Instituto, em 1905.

 

Naquela cidade atuou o Dr. Maximiano, como advogado e como Chefe do Partido Liberal, sendo eleito Deputado Provincial para o biênio 1858/59, e reeleito para a legislatura 1860-61. Naquele período começou a escrever seu livro: História da Província da Parahyba.

 

Concluído seu mandato, resolveu mudar-se para Recife, em l862.  Ali atuou, no foro e na imprensa, com brilhantismo. Tornando-se professor da Escola Normal, escreveu seu 2° livro -“Tratado de Calligrafia”, adotado como texto na própria Escola. Na política, em Pernambuco, foi eleito Deputado Provincial, durante as legislaturas de 1864-65, 1866-67, 1870-71 e 1878-79.

        

           O Dr. Maximiano era de fato, um homem muito versátil e de grande capacidade intelectual. Enfrentou os revezes da vida com muita galhardia a ponto de não se abater física e psicologicamente. Deixou patenteado, um exemplo a ser seguido pelas novas gerações, nas veredas da História da Paraíba.

 

           Falarei, agora,sobre os motivos que levaram o autor, a escrever a sua 3ª obra.

 

           Estava Dr. Maximiano Machado aos 50 anos de idade, integrando os quadros do Instituto Arqueológico e Geográfico da Província de Pernambuco, em pleno gozo da suas atividades intelectuais, quando resolveu dedicar-se, também, ao estudo da geografia, assunto ainda escasso, devido a muitos aspectos, notadamente, a topografia, dimensões e limites das áreas de jurisdição políticas, territoriais e eclesiásticas, quando dentre outros escritos, chegara-lhe às mãos, A Parahyba e o Atlas, escrito e publicado pelo Dr. Cândido Mendes de Almeida, no ano de 1880. Ao receber a obra em apreço, não mediu esforço para inteirar-se do seu conteúdo.

 

         O Dr. Cândido Mendes de Almeida, nascido no Rio de Janeiro, nas proximidades do rio Parahyba do Sul, tinha algumas semelhanças com o Dr. Maximiano. Estudara, também na Faculdade de Direito de Olinda, desposara mulher nordestina e exercia as mesmas funções de advogado, jornalista e político, em igual tempo.

 

      Formado aos 21 anos de idade, em 1839, pela Faculdade de Direito de Olinda, fixou residência no Maranhão, mas continuou mantendo vínculos com Pernambuco. Escreveu  entre outros ensaios, o ¨Atlas da Parahyba do Sul¨.

            

         Baseando-se na experiência anterior, resolveu redigir e publicar A Parahyba e o Atlas, da Parahyba do Norte. Mas o Dr. Cândido Mendes de Almeida não pareceu muito satisfeito, ao concluir aquela obra. Considerou um trabalho “difícil e honroso”. Solicitou dos leitores e de quem com ele quisesse colaborar, que enviassem sugestões no sentido de ajudá-lo a realizar uma nova edição, diante das imperfeições por ele próprio, constatadas, em virtude da insuficiência de dados.

 

         O Dr Maximiano Lopes Machado, de pronto, atendeu a solicitação do colega comentando sobre a ausência de um Atlas que trouxesse com fidedignidade os dados do Império e da Província da Parahyba. Conhecedor do Estado, do litoral ao sertão, exprimiu-se com muita franqueza, pois, ao ler os dados, encontrou muitas lacunas.      Mostrou, ainda, que desde l858, o Conselheiro General Henrique Beaurepaire Rohan, ressentia-se de linhas divisórias, limites, extensão territorial e outros dados.

 

Elaborou, então, um trabalho que, lamentavelmente, não foi publicado por ter sido extraviado na gráfica. Dois anos depois, conseguiu refazê-lo. Não somente criticou como atualizou os números com valores reais por ele coletados, muitas vezes se deslocando a cavalo, de um a outro município.

 

         De posse dos dados, os remeteu ao Dr. Cândido Mendes, em forma de livro, com 63 páginas, acrescentando um Mapa, como anexo ao Atlas, uma vez que ambos tratavam das questões jurídicas, eclesiásticas e dos limites de municipalidades. Àquela altura, a província da Parahyba a qual ele descrevera, achava-se dividida em 11 comarcas, com 22 termos e 35 freguesias. Traçou no seu Mapa e descreveu no Atlas, todas as distâncias, em léguas, dos municípios da Parahyba, para a capital, e de cada um para os vizinhos. Apresentou o relevo e as bacias hidrográficas com todas as localizações e percurso.

 

          Criticou o fato de o Dr. Cândido Mendes ter realizado seu trabalho a nível de gabinete. logo após ter ele elaborado o mapa da Parahyba do Sul, pois ¨não conhecia aquele senhor, a Parahyba do Norte.¨

 

           A rigor a critica primordial não era para o Dr. Cândido, mas para a imprecisão das obras pesquisadas por ele, com dados desafinados sobre “Cartas Geográficas” traçadas por alguns engenheiros que tentavam acertar: limites, dimensões territoriais, bacias hidrográficas, relevo e outras informações, inclusive, nomes das municipalidades. Em tais circunstâncias era deveras difícil ter saído um bom trabalho, sobretudo, porque ele não conhecia a província nem o seu povo.  

 

          A seguir, repasso o resumo da sua quarta obra.

 

 

HISTÓRIA DA PROVÍNCIA DA PARAHYBA

  

Muitos a ela já se referiram, em seus escritos, em momentos diversos. Não citarei todos. Destaco, nesta oportunidade, João de Lyra Tavares que prefaciou com muita propriedade a História da Província da Parahyba, em sua primeira edição, pois era amigo do seu filho, de igual nome, e que foi sócio fundador deste IHGP. José Octávio de Arruda Mello que apresentou um minucioso estudo introdutório na segunda edição, patrocinada pela Universidade Federal da Paraíba, além de outros como: Irineu Ferreira Pinto, Irineu Joffily, Manoel Tavares Cavalcanti e Horácio de Almeida. Citarei, ainda, José Lopes de Andrade, Eduardo Martins da Silva e Luiz Hugo Guimarães que o reverenciaram em seus discursos de posse na Academia Paraibana de Letras e neste Instituto Histórico.

 

           A obra compõe-se de 525 páginas, em dois (I e II) tomos. Trata das ocorrências históricas, políticas, administrativas, jurídicas e eclesiásticas durante os séculos XVI, XVII e XVIII, na Província da Parahyba.

 

          Não fora a determinação e persistência do Dr. Maximiano Lopes Machado, abnegado homem público que demonstrou especial amor à sua terra e ao seu povo, a História da Província da Parahyba não teria vindo ao lume. Lutou com muita dificuldade para deixá-la impressa, como subsídio aos interessados e, sobretudo, aos seus conterrâneos. Tanto que, ao concluir os escritos de próprio punho, respirou e disse: A Parahyba, agora, tem a sua história! Contudo, foram tantas as dificuldades que se interpuseram que ele faleceu e não a viu publicada. Também no percurso com tantos obstáculos algumas  páginas foram extraviadas.

          

 Esta obra, embora tivesse sido escrita há vinte e sete anos atrás, somente em 1912, veio a ser publicada, com o apoio do Dr. João Lopes Machado, seu sobrinho, operoso governante da Primeira República.

 

           A partir do meu conhecimento sobre as obras do patrono Maximiano Lopes Machado, ouso traçar o seu perfil: escritor regionalista que  enfocou a abrangência regional, mormente, entre Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Dotado do desejo de justiça e igualdade, muito patente em todas as obras que escreveu e até nas que prefaciou, demonstrava interesse de igualar o Nordeste às potencias hegemônicas deste país. Esforçava-se, sobretudo, para que a Paraíba pudesse reagir às forças emanadas da estrutura do Poder Imperial. Não aceitava falcatruas, covardias, nem ambições desmedidas a ponto de ser aviltado o bem-estar da população, em detrimento de seus próprios conterrâneos. Sua ação enobreceu a historiografia paraibana, devendo ser lembrada por todos.

 

            Homem telúrico, comprometido com a terra nordestina, especialmente, com seu solo pátrio - a Paraíba; possuidor de aguçados princípios filosóficos que o inspiraram à pratica: da justiça social, da democracia, das reformas ou mudanças sociais.  Buscava espaços para serem vivenciadas a verdade e a liberdade dos cidadãos e da coletividade. Patriota extremado, destemido, austero e ideólogo. Derramou seu sangue em defesa dos seus ideais.  Empenhado no bem-estar social, desenvolveu as suas capacidades físicas e mentais como bom advogado, promotor, juiz, jornalista e político. Notável orador e destacado escritor, digno de elogios dentre os mais competentes profissionais de então. Foi o primeiro historiador paraibano, por isso, merece ficar guardado na memória de todos nós, pelo muito que fez, sozinho, por uma coletividade. Quanto mais o reverenciarmos, pouco, ainda, será, pela grandeza das suas  obras que enaltecem a nossa história.

 

 

 

 

 

          EDUARDO MARTINS DA SILVA – O FUNDADOR

 

 

       Nascido a 13 de outubro de 1918, em aprazível recanto do interior de Goiana, do vizinho estado de Pernambuco, fronteira com a Paraíba, possuía 16 irmãos, sendo ele o mais velho daquela prole, dentre os quais se encontram Alberto Martins da Silva, sócio- correspondente deste Instituto, residente em Brasília e dona Ivanilda Martins de Assis, igualmente poetisa que somente aos 65 anos de idade, publicou o seu 1º livro de poesia memorialista intitulado “Goiana berço de minha vida”, a quem tive o prazer de conhecer, recentemente.

 

     Seus pais eram o comerciante Francisco Martins da Silva e dona Jovita Monteiro Martins que aqui chegaram para fixar residência, trazendo Eduardo com 10 anos de idade junto com seus irmãos.

  

      Eduardo Martins fez seu curso primário no Grupo Escolar Pedro II, e o secundário, no Liceu Paraibano. Casado em primeiras núpcias com Arlinda Camboim da Câmara Martins, em 1940. Já em 1935, quando, ainda, era estudante secundarista, despertara para veia poética, tendo escrito seu primeiro livro de poesia, intitulado Céu cheio de estrelas, conforme conta sua sobrinha, escritora Diana Carmem Martins de Assis Ferreira, em sua obra - Eduardo Martins da Silva – Noticia Bibliográfica.

     

      Pouco tempo depois, fica viúvo, com uma filha (Vera Lúcia) de um ano e oito meses, passando a residir, novamente, com os seus pais. Na sua saudade, escreveu mais uma obra intitulada Canto da amada ausente. Não tardou muito a sua viuvez. Em 1944, desposou sua prima Joselita, tendo desta união um casal de filhos (Eduardo e Joselita), que lhe deram sete netos e três bisnetos.

 

       Era um lutador, dedicado à família e ao trabalho. Teve suas decepções e momentos de melancolia, também, horas de enlevo e alegria. Trabalhou, inicialmente, como revendedor de livros, quando teve oportunidade de contatar mais de perto com escritores, jornalistas e literatos. Motivado por esses contatos, exerceu as funções de revisor e redator auxiliar no jornal “A União”, sendo organizador do suplemento literário “Correio das Artes”, durante o governo do Dr. Oswaldo Trigueiro.

 

      Desencantado com o comércio, voltou-se para o serviço público. Passou a ser funcionário da Caixa Econômica Federal da Paraíba, onde ocupou vários cargos de realce. Todavia continuou colaborando com as letras através dos matutinos locais e outras agremiações fora do território paraibano, mantendo correspondência com várias instituições culturais no âmbito nacional e internacional.

 

        Os livros eram de fato a sua grande paixão! Tinha uma excelente biblioteca com mais de quinze mil obras, destinada em maioria, à história, notadamente, a historia da Paraíba, e à poesia, além de coleções de obras raras e de jornais de âmbitos diversos, incluindo os jornais de festa. Todas as obras por ele escritas, nela se encontravam. Era, como disse o historiador Antônio Freire, ao recepcioná-lo nesta Casa de Irineu Pinto “o moço de então já trazia consigo nos recônditos da alma, a sementeira poética, que iria explodir mais tarde numa catadupa de poemas, ora líricos, ora inspirados em temas orientais, ora calcados na angústia da solidão, mas todos de excepcional beleza.”(p.136, in Rev. Do IHGP,vol.23, João Pessoa, 1984).

 

       Eduardo Martins primava pelos escritos dos versos em curtas estrofes. Todavia, deixava, nos mesmos, patenteada a sua alma de poeta, dizia o escritor Nilo Pereira, citado por Antônio Freire, na obra já citada: “os poetas em geral são criaturas que têm o privilegio de saber sentir e dizer as coisas com o mínimo de palavras, enfocando ângulos que a outros, no domínio da prosa, precisariam escrever muitas páginas para desenvolver o assunto”.  

 

         Sua produção literária compreende diversos gêneros, entre os quais se encontram: poesias, biografias e notas históricas. Dentre suas obras de cunho histórico estão: ensaios sobre a Caixa Econômica Federal, o jornal “A União”, a Academia Paraibana de Letras, a Tipografia do Beco da Misericórdia, os Estabelecimentos da Arte Tipográfica na Paraíba e Instituições Culturais Paraibanas.

 

         Entrou na Academia Paraibana de Letras, ocupando a cadeira nº 14, em 27 de novembro de 1971. No Instituto Histórico e Geográfico, foi fundador da cadeira 28, tendo sido eleito, como membro efetivo, sob a presidência de Deusdedit  de Vasconcelos Leitão, em  19 de setembro de 1974, somente tomando posse em 22 de novembro de 1975.

 

Deixou essas paragens, no dia 16 de janeiro de 1991, aos 72 anos de idade.

  

  

            LUIZ HUGO GUIMARÃES – O OCUPANTE

 

 

          Nasceu em 1º de maio de 1925, em João Pessoa, filho de Pedro Fernandes da Silva Guimarães e de Alexina da Cunha Medeiros Guimarães.

          Iniciou seus estudos numa escola particular, em João Pessoa. Por motivo de mudança dos seus pais para o Rio Grande do Norte, fez o curso secundário, na Escola Pública Pedro II, na cidade de Natal, onde preparou-se para o exame de admissão. Sendo aprovado, transferiu-se para o Liceu Paraibano, em João Pessoa, em l936, concluindo o curso de humanidades, naquela instituição, em 1940. Após uma pausa, retornou ao colégio, para concluir o curso clássico, em 1949. No ano seguinte, ingressou na Faculdade de Direito da Paraíba, bacharelando-se em 1955, sendo orador daquela turma pioneira.

 

         Casado com Laís Peixoto Guimarães com quem viveu mais de 60 anos de  união conjugal, teve dois filhos: Luiz Hugo Guimarães Filho e Ricardo Luiz que  lhe deram sete netos.

 

        Aos 17 anos, o Dr. Luiz Hugo assumiu seu primeiro  emprego  como  auxiliar  de  revisor  do  jornal “A União”, passando  a  redator  até  1944,  quando  se  afastou para ser estagiário no 15º Regimento de Infantaria, Em seguida, após ter passado em concurso do Banco do Brasil, foi assumir o cargo de escriturário daquele banco, em Natal, RN.  De lá foi removido para João Pessoa e, depois, para outras agências em: Guarabira, Porto Velho e Recife.

 

         De temperamento ativo, realizava muitas atividades ao mesmo tempo. Em 1948, ingressou no Rotary Clube Internacional, desempenhando várias funções, chegando a Governador de Distrito. Participou de diversos conclaves nacionais e internacionais, e recebeu várias medalhas meritórias. Foi professor de Português no Colégio Lins de Vasconcelos. E, em 1959, assumiu o cargo de professor na Universidade da Paraíba, para lecionar Direito Social, na Faculdade de Ciências Econômicas. Continuava no labor do banco e participando ativamente do movimento sindical.

 

      Em 1961, deu-se a federalização da Universidade, passando a denominar-se Universidade Federal da Paraíba. À época, o Dr. Hugo integrou o Conselho Universitário (órgão colegiado) da instituição, permanecendo até 1964. Naquele tempo era, ainda, lider sindical, tendo sido Presidente do Sindicato dos Bancários da Paraíba, por quatro mandatos; vice- presidente da Federação dos Bancários do Norte e Nordeste; delegado junto à Confederação Nacional dos Bancários; Juiz Classista na Junta de Conciliação e Julgamento de João Pessoa, durante 12 anos; Assessorou o Governo Pedro Gondim, no setor de Previdência e Trabalho, quando o Presidente Jânio Quadros instalou o Governo da República em João Pessoa. Colocado à disposição pelo Banco do Brasil, serviu ao Gabinete do vice-presidente João Goulart e, posteriormente, convocado pelo Ministro Hermes Lima, Chefe da Casa Civil do então Presidente João Goulart, serviu à assessoria sindical de “Jango”.

  

       Ainda exerceu múltiplas atividades no âmbito jornalístico, pois ele próprio afirmou ser o jornalismo a sua vocação. No Banco do Brasil fundou a revista “AABB”; no sindicato dos Bancários, o jornal “Gazeta Bancária; escreveu na “Revista Manaíra”; foi redator do “Jornal Evolução” de Campina Grande; repórter do “Correio da Paraíba” no ano da sua fundação; manteve uma coluna no Jornal “O Norte” durante 02 anos, sobre ‘Previdência e Trabalho’. No Jornal de Agá (semanário local), do jornalista Heitor Falcão, foi editor e também  escreveu crônicas e artigos. Sob a presidência de José Leal, durante 04 anos, ocupou o cargo de Secretário da Associação Paraibana de Imprensa. Era deveras, um homem muito versátil.                                          

 

        No ano de 1964, instaurou-se no Brasil o Movimento Militar, após um Golpe de Estado, no dia 31 de março, quando à época, era Presidente da República o Dr. João Goulart. O Dr. Luiz Hugo foi cassado, no dia 10 de abril, pelo o Ato Institucional nº 1 que penalizava no Brasil, as pessoas portadoras de ideologias progressistas,  tendo todos os seus direitos políticos, suspensos por 10 anos.   Foi demitido por Decreto do então Presidente Castelo Branco, militar que assumira o Governo Republicano. E, logo depois, foi preso.

   

      Após alguns dias de prisão, com acareações e muita tensão, foi, com outros colegas, bancários, jornalistas e políticos, deportado para a ilha de Fernando Noronha. Lá, na sua solidão e saudade, começou a escrever algumas páginas de sua vida, inspirando-se em Graciliano Ramos, mais precisamente, em “Memórias do Cárcere”. Pensava que um dia pudesse trazer ao conhecimento público, ou pelo menos aos seus netos, a contradição do viver, na contemplação da beleza natural, atormentado pela ausência afetuosa da família e dos amigos.  Fazia os seus alfarrábios, em surdina, e os guardava de forma muito secreta, temendo punições.

 

    Em 1979, saiu a Lei da Anistia Ampla, aprovada pelo Congresso Nacional. Novamente livre, aventurou-se no mercado de trabalho participando de cursos na Bolsa de Valores de Pernambuco, sendo, inclusive, seu assessor financeiro.   Este fato o fez retornar às funções de Professor, na Universidade Federal da Paraíba, desta feita, em Campina Grande.  

 

         Ingressou no IHGP, em 22 de agosto de 1991, sendo recepcionado pelo professor Claudio Santa Cruz Costa. Foi agraciado com medalha do mérito cultural “José Maria dos Santos”.

 

          Em setembro de l995, foi eleito presidente pelo período de três anos, sendo re-eleito por mais três vezes consecutivas, perfazendo o total de 14 anos em exercício, até o seu falecimento,ocorrido em 10 de outubro de 2009.  

 

          À frente desse órgão, realizou mudanças, modernizou as dependências do Instituto; com o apoio da Universidade Federal da Paraíba, editou seis revistas, informatizou os acervos, editou cinco catálogos, contendo obras raras, jornais antigos (fora de circulação) revistas e boletins. Organizou o arquivo documental Flávio Maroja, com 32.000 documentos; os fundos privados que contêm os acervos do Presidente João Pessoa, dos Desembargadores Sinval Fernandes e Osias Nacre Gomes, do Ministro Alcides Carneiro, do Presidente Antônio da Silva Pessoa, do historiador Adhemar Vidal, do procurador Antônio Pessoa Filho e do Coronel PM Manoel Arruda de Assis. Deu inicio à publicação, em forma de plaquetes, da Coleção de Historiadores Paraibanos, escrevendo ele próprio várias plaquetes. Procedeu também, à restauração e modernização da Biblioteca desta Casa, no ano 2004.

 

        Finalmente conseguiu realizar o seu maior desejo: ver os seus escritos de outrora, publicados em dois exemplares distintos: Crônica do Tempo Distante, onde o autor retrata as suas memórias, e 1964: Recordação da Ilha Maldita, explicitando com fatos, fotos, documentos,notícias de jornais e depoimentos de pessoas credenciadas, episódios desenvolvidos naquele fatídico ano.

 

    Após, vários dias, hospitalizado, faleceu , nesta cidade, o grande guerreiro. Sua substituição deu-se de forma regimental, assumindo os destinos desta Casa de Irineu Pinto, o eminente historiador Humberto Fonsêca de Lucena que vem arduamente trabalhando para conduzir com equilíbrio, esta nobre Instituição.

 

      Concluída a exposição,reitero nesta oportunidade, as minhas palavras finais de agradecimento a todos que contribuíram para a realização deste momento, autoridades, amigos e familiares que compõem esta platéia e que aqui vieram para me prestigiar, e os que me ajudaram nos bastidores. Destaco Maria de Lourdes Bezerra da Costa, minha irmã e o meu dedicado esposo Berilo Ramos Borba que compreendeu a minha ausência nas tarefas do cotidiano do lar, durante os estudos prévios para a realização desta solenidade. Sou imensamente grata a todos.  Saibam que estão eternizados no meu coração e na minha memória.

 

Muito obrigada!