DISCURSO DE POSSE DE
MARIA AUXILIADORA BEZERRA BORBA
Excelentíssimo Senhor
Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, Dr.
Humberto Fonsêca de Lucena
Excelentíssimas Autoridades
Respeitáveis Confrades e
Confreiras
Senhoras e Senhores
Amigos e Familiares
Peço
vênia aos presentes para iniciar minha alocução,
agradecendo aos amigos, confrades e confreiras que me sufragaram, no dia 27 de
fevereiro deste ano da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo e por unanimidade de votos me elegeram
sócio efetivo desta nobre ¨Casa do Saber,¨ denominada Casa de
Irineu Ferreira Pinto
Dirijo-me, inicialmente, ao
Dr.Joaquim Osterne Carneiro, homem versado na história e na literatura
da nossa terra, pela saudação especialíssima que ora me
fez, traçando, de modo competente o meu perfil, a partir da minha vida
acadêmica, quando nos conhecemos, no ardor da nossa juventude,
época em que almejávamos melhores dias para a sociedade
brasileira e nos inspirávamos nas teorias e ideologias que brotavam da
Dialética da História, situando o homem como um ser
histórico, capaz de proceder às mudanças sociais.
Lutávamos por reformas de
base nas áreas da educação, da saúde e na busca do
desenvolvimento econômico e social, de forma harmônica.
Pleiteávamos a mudança de massa para povo, através da
conscientização. Fazia-se necessário, formarmos uma
consciência crítica diante da sociedade
Em Recife, descortinava-se um
programa educacional através do Movimento de Educação de
Base – MEB. O professor Paulo Freire construíra um método
de ensino destinado à educação de adultos trabalhadores,
utilizando palavras-chave do labutar cotidiano de cada profissional. O seu
método, hoje, é conhecido internacionalmente e usado, em
vários sistemas de ensino. Àquela época, anos sessenta do
século passado, na Paraíba, as cidades de João Pessoa e de
Campina Grande, aderiram ao sistema de alfabetização de adultos
(CEPLAR). Os professores eram os estudantes universitários que
emprestavam os seus saberes sem nenhum salário, nem tampouco
vínculo empregatício. Muitos foram incompreendidos e tomados como
subversivos.
Estendo os meus agradecimentos, ao
presidente Humberto Fonsêca, por sua conduta ética e prestimosa;
também, aos confrades e confreiras que subscreveram a minha
apresentação para concorrer a uma vaga neste Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano, e que me apoiaram: Wellington
Aguiar, Francisco Sales Gaudêncio, Itapuan Botto Targino, Carlos Alberto
Azevedo, Adauto Ramos, Flávio Sátiro Fernandes, Marta
Falcão e Balila Palmeira. Agradeço, de modo especial ao Dr.
Adauto, sobretudo, pela presteza e solicitude com que se conduziu assessorando-me com o material bibliográfico
de que necessitei para realizar minhas pesquisas. Aos funcionários desta
Casa pela atenção que me dispensaram no atendimento às
minhas solicitações, o meu reconhecimento.
DISCURSO DE POSSE NO IHGP
Hoje, é para mim um dia de
glória! Colho os frutos por muitos semeados e regados. Ofereci terreno
fértil, disso agora tenho certeza. Ajudei no cultivo que muitos outros
me favoreceram. Agradeço ao Senhor e a todos aqueles que, direta ou
indiretamente, contribuíram para este momento ímpar da minha
vida.
Os primeiros semeadores foram os
meus queridos pais: Severino Rodrigues e Silva e Regina Bezerra de Lima e Silva.
Ele, multifacetado na vida profissional iniciada no Tiro de Guerra, em Recife,
depois, como alfaiate, funcionário público, empresário,
político, rábula e, por fim, diácono – um homem de
Deus.
Ela, professora primária, com
muita desenvoltura nas letras, artes e habilidades artesanais. Falava
francês, entendia o latim. Cantava, tocava piano, serafina e violino. Muitas
dessas habilidades foram obtidas no ensinamento materno, com sua mãe
Mariana (minha avó) e com os seus tios Tito de Souto Lima e José
de Souto Lima. O primeiro,
rábula, autodidata e orador. O segundo, maestro, poeta e compositor.
Foi assim que a minha
história começou. Conheci o sentido da vida familiar, da vivência
cristã e político-social. Aprendi a respeitar e aceitar o outro
como de fato ele é. Entendi a historia, como forma narrativa e
crítica dos fatos, dos homens e das sociedades, onde as lutas, as
guerras, as civilizações, as culturas e os acontecimentos eram
registrados.
Aprendi que a geografia era marco que
identificava a tipologia dos povos, os limites que dimensionavam as Nações,
e seus desdobramentos em comunidades regionais e locais.
Sou da época em que se fazia
decorar os países do mundo e as suas capitais. Os nomes dos seus
dirigentes e dos vultos gloriosos da Pátria. Aprendi que no continente sul-americano,
notabilizava-se o Brasil, pela grande extensão territorial, possuidor de
solo fértil cultivável e rico em minérios; que tinha
também, um povo valente e trabalhador, miscigenado por heranças
européia, africana e ameríndia que sabia respeitar e amar sua
pátria, bem como seus símbolos e seus ritos.
Aprendi, outrossím, que o civismo fazia parte do conhecimento
global do ser humano e nele podiam ser atreladas as concepções de
cidadania e ética, corroborando o sentido político e social da dignidade do Homem.
Fui preparada para o trabalho, para
lutar e vencer, este foi o lema em mim impingido pela família e pela
escola, destacando-se a professora Aurélia Bezerra de Lima, no ensino
primário, e os mestres Normando Feitosa, Amaury Vasconcelos, José
Lopes de Andrade, José Rafael de Menezes e Maria Amália Arozo nos
estudos históricos, sociológicos e filosóficos. No
domínio da língua portuguesa, o professor João Viana
Correia.
Assim norteei os meus passos,
trilhei a minha trajetória, lutei em busca de espaços, sem
obstaculizar os espaços alheios. Aprendi que só se abandona a
luta quando não se tem a devida força, nem tampouco, o
instrumental necessário. Sendo vencedora ou vencida, faz-se
necessário ser corajosa e leal, reconhecendo que a todos, enquanto pessoa
humana, deve ser facultada igualdade de oportunidades.
Absorvi princípios
e sentenças para nortear a minha conduta, enquanto ser social. “Criar
espaços, buscar objetivos, estabelecer metas e ocupar as oportunidades
que a sociedade oferece.” Esta aprendizagem remonta ao ensino do
Serviço Social, em minha formação universitária.
Estabeleci para mim mesma, algumas
metas, respeitando as prioridades de cada momento em relação às
circunstâncias. Declinei de alguns convites. Deixei passar varias
oportunidades e ações; algumas, dantes; se foram e, quiçá,
não voltem mais.
Por isso, ao ser abordada
pelos amigos e confrades Itapuan Botto Targino e Carlos Alberto Azevedo sobre o
interesse de integrar os quadros do IHGP, desta feita, não hesitei. Aceitei
o desafio. Dispus-me à luta. Sinto-me suficientemente amadurecida, embora,
ainda, aprendiz, diante da sapiência dos senhores e senhoras que
compõem esta respeitada “Casa do Saber”.
Trago
a minha vontade de somar e multiplicar ações partilhadas que
enobreçam a nossa instituição, através de estudos e
pesquisas, direcionadas para nossas tradições históricas e
culturais. Prometo que não serei “a noviça rebelde.”
Preciso do apoio e compreensão dos confrades e confreiras, colocando-me,
igualmente, à disposição de todos.
Nesta casa há um clima que
transpira cultura e passado e eu gosto dessas vertentes. Aqui posso mergulhar
nas diferentes culturas, mormente na cultura dos povos que nos deram origem,
como alicerce e permeio para nossa própria cultura, somando-se ao
conhecimento erudito, o conhecimento popular. Amo o passado porque nele
satisfaço os meus anseios memorialistas e sorvo a cultura de antanho.
Dele não devo esquecer, pois é a minha raiz; faz parte,
também, da minha existência e da minha história, assim como
das histórias de cada um dos que aqui se encontram e, dos que já
se foram.
Com o passado, rememoro o mundo,
através das pessoas, circunstâncias, civilizações e
fatos. Extraio o sumo que me fortifica e me conduz com o seu fio condutor, a
outras paragens. Assim, como dizia o poeta Mario Quintana quando escreveu o seu
poema “o passado¨, “ele não reconhece o seu lugar,
está sempre no presente.”
Estamos na
época da modernidade, das novas tecnologias, como bem falava Alvin
Toffler há três ou mais décadas atrás em “O
choque do Futuro”. A pressa do dia a dia e os novos atrativos não mais
proporcionam as encantadoras visitas dos leitores às bibliotecas. Os
saraus literários, as discussões sobre as obras e sobre os autores,
pensadores e escritores ficam cada vez mais escassos. E, como eram enriquecedores
os debates polêmicos! Quantas vertentes se abriam ao mundo do saber: nas
artes, nas músicas, literaturas e historias, eram sempre os cernes das
questões.
Lembro com saudades do Grêmio
Literário Machado de Assis,
Estamos na época da eclosão
da comunicação virtual. Um grande invento do homem, não
resta dúvida. Computadores e telefones celulares estão ao alcance
de todos. Porém, ainda, somos uma sociedade carente de mudanças e
de ajustes que, no momento, não me cabe abordar.
Agora,em
atendimento às normas regimentais, passo a discorrer sobre o ilustre
homem público, Dr. Maximiano Lopes Machado, patrono da cadeira 28, que,
no momento, com muita honra, devo ocupar. Dantes, nela estiveram dois
eméritos historiadores: Eduardo Martins e Luiz Hugo Guimarães, sobre
os quais falarei logo mais.
O PATRONO - MAXIMIANO LOPES MACHADO
Neste momento, ouso fazer a
apresentação do primeiro historiador paraibano, Dr. Maximiano
Lopes Machado, nascido nesta capital, da então Província da Parahyba
do Norte, em 07 de agosto de 1821, advindo de uma família de nove irmãos
(duas mulheres e sete homens), sendo ele o segundo filho do português
Manoel Lopes Machado e da paraibana Anna Joaquina de Albuquerque Machado,
também, nascida nesta capital.
Seu
pai, comerciante, mudou-se cedo, com toda a família para o Recife,
capital da província de Pernambuco, a fim de educar os filhos. Maximiano
fez os seus primeiros estudos indo
até o curso preparatório, na escola confessional católica
dos padres da Congregação de São Felippe Nery, no Convento
da Madre de Deus.
Do seu pai, herdou o interesse pela
política e pela causa da independência do Brasil. Contrariava-se
com as injustiças sociais e cultivava o desejo de bem estar para todos. Este
desejo ardente, fê-lo estudar Direito, bacharelando-se
No
ano seguinte, foi nomeado promotor público daquela metrópole,
sobressaindo-se por sua eloqüência e tenacidade.
Decorridos, exatamente três
anos, em 1847, o Governo Imperial o designou para exercer, na Vila Real de
Areia, na Paraíba, a função de juiz municipal do Termo. Na
mesma época, naquela cidade, acumulou o cargo de delegado de
polícia.
Em 1849, o Dr. Maximiano, sabedor das decisões do grupo de
liberais dissidentes, reunidos na Rua da Praia, através de um documento
por eles elaborado, denominado ¨Manifesto
ao Mundo¨ e pelo jornal por eles criado e impresso , chamado Estado
Novo, de pronto abriu mão do cargo devolvendo-o ao presidente da Província,
Dr. Antônio Vasconcelos que, ao recebê-lo, não o levou em
consideração, enviando-lhe, em tempo oportuno, dois outros
expedientes dizendo-lhe que se os revoltosos chegassem à Areia,
oferecesse-lhes resistência,
em nome do Governo.
O fato é que o Dr. Maximiano,
enquanto liberal, apoiara os partidários, de modo que os mesmos ao
deixarem a cidade de Goiana, rumaram à Parahyba, e em Areia foram por
ele acobertados.
No dia 19 de fevereiro, as forças
do Governo entraram em Areia, e após encarniçados combates, deixaram
muitos mortos, feridos e reclusos, inclusive líderes dentre os quais o
Dr. Maximiano, que ao lado dos revoltosos, foi ferido, no Engenho
Gregório, tendo, contudo, conseguido evadir-se, em companhia dos
insurgentes que seguiram por Pocinhos e Ingá, chegando a Pilar, onde se
refugiaram no Engenho Pureza. Naquela localidade, por ordem do Presidente da
Província, ele foi preso, tendo, dias depois, sido solto, em virtude do
Habeas Corpus concedido pelo corajoso e intrépido juiz Vitoriano Toscano
de Brito.
Maximiano voltou ao interior da
Paraíba e do Rio Grande do Norte, onde esteve oculto por dois anos.
Durante seu esconderijo, escreveu seu primeiro livro – “Quadro da Rebelião Praieira
na Província da Paraíba”, sem, contudo, assinar,
colocando, apenas, suas iniciais, temendo repressão. Fez, ele
próprio a sua introdução. Somente conseguindo
publicá-lo, após dois anos.
Adiantava que
estava sem condições econômicas para publicar o texto, mas,
mesmo assim, o escrevera na esperança de que um dia pudesse
publicá-lo, a fim de não serem esquecidas as
malversações do então Presidente “digno êmulo
dos que mais têm assolado as
míseras províncias do Norte da nossa malfadada
Pátria”(p.13).
Dizia-se
inapto para falar sobre os acontecimentos em Pernambuco, mas, considerava-se
testemunha ocular dos fatos ocorridos em Areia, convertida em campo de batalha,
e, na visão dos vencedores, como país conquistado.
Este compêndio é composto por sete capítulos,
contendo 127 páginas, sendo impresso em duas edições: a
primeira em 1854, editada pela Tipografia Nacional; a segunda em 1983, em
comemoração ao quarto centenário da Paraíba,
editada pela Universidade Federal da Paraíba em co-edição
com a Universidade Regional do Nordeste.
Anistiado,
em 1852, fixou residência
Naquela cidade atuou o Dr.
Maximiano, como advogado e como Chefe do Partido Liberal, sendo eleito Deputado
Provincial para o biênio 1858/59, e reeleito para a legislatura 1860-61.
Naquele período começou a escrever seu livro: História da Província da
Parahyba.
Concluído seu mandato,
resolveu mudar-se para Recife, em l862.
Ali atuou, no foro e na imprensa, com brilhantismo. Tornando-se
professor da Escola Normal, escreveu seu 2° livro -“Tratado de Calligrafia”, adotado
como texto na própria Escola. Na política, em Pernambuco, foi
eleito Deputado Provincial, durante as legislaturas de 1864-65, 1866-67,
1870-71 e 1878-79.
O Dr. Maximiano era de fato, um homem muito versátil e de grande
capacidade intelectual. Enfrentou os revezes da vida com muita galhardia a
ponto de não se abater física e psicologicamente. Deixou
patenteado, um exemplo a ser seguido pelas novas gerações, nas
veredas da História da Paraíba.
Falarei, agora,sobre os motivos que levaram o autor, a escrever a sua
3ª obra.
Estava Dr.
Maximiano Machado aos 50 anos de idade, integrando os quadros do Instituto
Arqueológico e Geográfico da Província de Pernambuco, em
pleno gozo da suas atividades intelectuais, quando resolveu dedicar-se,
também, ao estudo da geografia, assunto ainda escasso, devido a muitos
aspectos, notadamente, a topografia, dimensões e limites das
áreas de jurisdição políticas, territoriais e eclesiásticas,
quando dentre outros escritos, chegara-lhe às mãos, A Parahyba e o Atlas, escrito e
publicado pelo Dr. Cândido Mendes de Almeida, no ano de 1880. Ao receber a
obra em apreço, não mediu esforço para inteirar-se do seu
conteúdo.
O Dr. Cândido Mendes de Almeida, nascido no Rio de Janeiro, nas
proximidades do rio Parahyba do Sul, tinha algumas semelhanças com o Dr.
Maximiano. Estudara, também na Faculdade de Direito de Olinda, desposara
mulher nordestina e exercia as mesmas funções de advogado,
jornalista e político, em igual tempo.
Formado aos 21
anos de idade, em 1839, pela Faculdade de Direito de Olinda, fixou
residência no Maranhão, mas continuou mantendo vínculos com
Pernambuco. Escreveu entre outros
ensaios, o ¨Atlas da Parahyba do Sul¨.
Baseando-se na experiência anterior, resolveu redigir e publicar A Parahyba e o Atlas, da Parahyba do
Norte. Mas o Dr. Cândido Mendes de Almeida não pareceu muito
satisfeito, ao concluir aquela obra. Considerou um trabalho “difícil
e honroso”. Solicitou dos leitores e de quem com ele quisesse colaborar, que
enviassem sugestões no sentido de ajudá-lo a realizar uma nova
edição, diante das imperfeições por ele
próprio, constatadas, em virtude da insuficiência de dados.
O Dr Maximiano Lopes Machado, de pronto,
atendeu a solicitação do colega comentando sobre a ausência
de um Atlas que trouxesse com fidedignidade os dados do Império e da
Província da Parahyba. Conhecedor do Estado, do litoral ao sertão,
exprimiu-se com muita franqueza, pois, ao ler os dados, encontrou muitas
lacunas.
Mostrou, ainda, que desde l858, o Conselheiro General Henrique
Beaurepaire Rohan, ressentia-se de linhas divisórias, limites,
extensão territorial e outros dados.
Elaborou, então, um trabalho
que, lamentavelmente, não foi publicado por ter sido extraviado na
gráfica. Dois anos depois, conseguiu refazê-lo. Não somente
criticou como atualizou os números com valores reais por ele coletados,
muitas vezes se deslocando a cavalo, de um a outro município.
De posse dos dados, os remeteu ao Dr. Cândido
Mendes, em forma de livro, com 63 páginas, acrescentando um Mapa, como
anexo ao Atlas, uma vez que ambos tratavam das questões
jurídicas, eclesiásticas e dos limites de municipalidades.
Àquela altura, a província da Parahyba a qual ele descrevera,
achava-se dividida em 11 comarcas, com 22 termos e 35 freguesias. Traçou
no seu Mapa e descreveu no Atlas, todas as distâncias, em léguas, dos
municípios da Parahyba, para a capital, e de cada um para os vizinhos.
Apresentou o relevo e as bacias hidrográficas com todas as
localizações e percurso.
Criticou o fato de o Dr. Cândido
Mendes ter realizado seu trabalho a nível de gabinete. logo após
ter ele elaborado o mapa da Parahyba do Sul, pois ¨não conhecia
aquele senhor, a Parahyba do Norte.¨
A rigor a critica primordial não
era para o Dr. Cândido, mas para a imprecisão das obras
pesquisadas por ele, com dados desafinados sobre “Cartas
Geográficas” traçadas por alguns engenheiros que tentavam
acertar: limites, dimensões territoriais, bacias hidrográficas,
relevo e outras informações, inclusive, nomes das
municipalidades. Em tais circunstâncias era deveras difícil ter
saído um bom trabalho, sobretudo, porque ele não conhecia a província
nem o seu povo.
A seguir,
repasso o resumo da sua quarta obra.
HISTÓRIA DA PROVÍNCIA DA PARAHYBA
Muitos a ela já se referiram,
em seus escritos, em momentos diversos. Não citarei todos. Destaco,
nesta oportunidade, João de Lyra Tavares que prefaciou com muita
propriedade a História da
Província da Parahyba, em sua primeira edição, pois
era amigo do seu filho, de igual nome, e que foi sócio fundador deste
IHGP. José Octávio de Arruda Mello que apresentou um minucioso
estudo introdutório na segunda edição, patrocinada pela
Universidade Federal da Paraíba, além de outros como: Irineu
Ferreira Pinto, Irineu Joffily, Manoel Tavares Cavalcanti e Horácio de
Almeida. Citarei, ainda, José Lopes de Andrade, Eduardo Martins da Silva
e Luiz Hugo Guimarães que o reverenciaram em seus discursos de posse na
Academia Paraibana de Letras e neste Instituto Histórico.
A obra compõe-se de 525 páginas, em dois (I e II) tomos.
Trata das ocorrências históricas, políticas,
administrativas, jurídicas e eclesiásticas durante os
séculos XVI, XVII e XVIII, na Província da Parahyba.
Não fora a determinação e persistência do Dr.
Maximiano Lopes Machado, abnegado homem público que demonstrou especial
amor à sua terra e ao seu povo, a História da Província da
Parahyba não teria vindo ao lume. Lutou com muita dificuldade para
deixá-la impressa, como subsídio aos interessados e, sobretudo,
aos seus conterrâneos. Tanto que, ao concluir os escritos de
próprio punho, respirou e disse: “A Parahyba, agora, tem a sua
história!”
Contudo, foram tantas as dificuldades que se interpuseram que ele faleceu e
não a viu publicada. Também no percurso com tantos
obstáculos algumas páginas foram extraviadas.
Esta obra, embora tivesse sido escrita
há vinte e sete anos atrás, somente em 1912, veio a ser
publicada, com o apoio do Dr. João Lopes Machado, seu sobrinho, operoso
governante da Primeira República.
A partir do meu
conhecimento sobre as obras do patrono Maximiano Lopes Machado, ouso
traçar o seu perfil: escritor regionalista que enfocou a abrangência regional,
mormente, entre Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Dotado do
desejo de justiça e igualdade, muito patente em todas as obras que
escreveu e até nas que prefaciou, demonstrava interesse de igualar o
Nordeste às potencias hegemônicas deste país. Esforçava-se,
sobretudo, para que a Paraíba pudesse reagir às forças
emanadas da estrutura do Poder Imperial. Não aceitava falcatruas,
covardias, nem ambições desmedidas a ponto de ser aviltado o bem-estar
da população, em detrimento de seus próprios
conterrâneos. Sua ação enobreceu a historiografia
paraibana, devendo ser lembrada por todos.
Homem telúrico,
comprometido com a terra nordestina, especialmente, com seu solo pátrio
- a Paraíba; possuidor de aguçados princípios
filosóficos que o inspiraram à pratica: da justiça social,
da democracia, das reformas ou mudanças sociais. Buscava espaços para serem
vivenciadas a verdade e a liberdade dos cidadãos e da coletividade. Patriota
extremado, destemido, austero e ideólogo. Derramou seu sangue em defesa
dos seus ideais. Empenhado no bem-estar
social, desenvolveu as suas capacidades físicas e mentais como bom
advogado, promotor, juiz, jornalista e político. Notável orador e
destacado escritor, digno de elogios dentre os mais competentes profissionais
de então. Foi o primeiro historiador paraibano, por isso, merece ficar
guardado na memória de todos nós, pelo muito que fez, sozinho,
por uma coletividade. Quanto mais o reverenciarmos, pouco, ainda, será, pela
grandeza das suas obras que
enaltecem a nossa história.
EDUARDO MARTINS DA SILVA – O
FUNDADOR
Nascido a 13 de outubro
de 1918, em aprazível recanto do interior de Goiana, do vizinho estado
de Pernambuco, fronteira com a Paraíba, possuía 16 irmãos,
sendo ele o mais velho daquela prole, dentre os quais se encontram Alberto
Martins da Silva, sócio- correspondente deste Instituto, residente em Brasília
e dona Ivanilda Martins de Assis, igualmente poetisa que somente aos 65 anos de
idade, publicou o seu 1º livro de poesia memorialista intitulado
“Goiana berço de minha vida”, a quem tive o prazer de
conhecer, recentemente.
Seus pais eram o comerciante Francisco
Martins da Silva e dona Jovita Monteiro Martins que aqui chegaram para fixar
residência, trazendo Eduardo com 10 anos de idade junto com seus
irmãos.
Eduardo Martins
fez seu curso primário no Grupo Escolar Pedro II, e o secundário,
no Liceu Paraibano. Casado em primeiras núpcias com Arlinda Camboim da
Câmara Martins, em 1940. Já em 1935, quando, ainda, era estudante
secundarista, despertara para veia poética, tendo escrito seu primeiro
livro de poesia, intitulado Céu
cheio de estrelas, conforme conta sua sobrinha, escritora Diana Carmem
Martins de Assis Ferreira, em sua obra -
Eduardo Martins da Silva – Noticia Bibliográfica.
Pouco tempo depois, fica
viúvo, com uma filha (Vera Lúcia) de um ano e oito meses,
passando a residir, novamente, com os seus pais. Na sua saudade, escreveu mais
uma obra intitulada Canto da amada ausente.
Não tardou muito a sua viuvez. Em 1944, desposou sua prima Joselita,
tendo desta união um casal de filhos (Eduardo e Joselita), que lhe deram
sete netos e três bisnetos.
Era um
lutador, dedicado à família e ao trabalho. Teve suas
decepções e momentos de melancolia, também, horas de
enlevo e alegria. Trabalhou, inicialmente, como revendedor de livros, quando
teve oportunidade de contatar mais de perto com escritores, jornalistas e literatos.
Motivado por esses contatos, exerceu as funções de revisor e
redator auxiliar no jornal “A União”, sendo organizador do
suplemento literário “Correio das Artes”, durante o governo
do Dr. Oswaldo Trigueiro.
Desencantado com
o comércio, voltou-se para o serviço público. Passou a ser
funcionário da Caixa Econômica Federal da Paraíba, onde
ocupou vários cargos de realce. Todavia continuou colaborando com as
letras através dos matutinos locais e outras agremiações
fora do território paraibano, mantendo correspondência com várias
instituições culturais no âmbito nacional e internacional.
Os livros eram de fato a sua grande
paixão! Tinha uma excelente biblioteca com mais de quinze mil obras,
destinada em maioria, à história, notadamente, a historia da
Paraíba, e à poesia, além de coleções de
obras raras e de jornais de âmbitos diversos, incluindo os jornais de
festa. Todas as obras por ele escritas, nela se encontravam. Era, como disse o
historiador Antônio Freire, ao recepcioná-lo nesta Casa de Irineu
Pinto “o moço de então já trazia consigo nos
recônditos da alma, a sementeira poética, que iria explodir mais
tarde numa catadupa de poemas, ora líricos, ora inspirados em temas
orientais, ora calcados na angústia da solidão, mas todos de
excepcional beleza.”(p.136, in Rev. Do IHGP,vol.23, João Pessoa, 1984).
Eduardo Martins primava
pelos escritos dos versos em curtas estrofes. Todavia, deixava, nos mesmos,
patenteada a sua alma de poeta, dizia o escritor Nilo Pereira, citado por Antônio
Freire, na obra já citada: “os poetas em geral são
criaturas que têm o privilegio de saber sentir e dizer as coisas com o
mínimo de palavras, enfocando ângulos que a outros, no
domínio da prosa, precisariam escrever muitas páginas para
desenvolver o assunto”.
Sua
produção literária compreende diversos gêneros,
entre os quais se encontram: poesias, biografias e notas históricas.
Dentre suas obras de cunho histórico estão: ensaios sobre a Caixa
Econômica Federal, o jornal “A União”, a Academia
Paraibana de Letras, a Tipografia do Beco da Misericórdia, os Estabelecimentos
da Arte Tipográfica na Paraíba e Instituições
Culturais Paraibanas.
Entrou na Academia
Paraibana de Letras, ocupando a cadeira nº 14, em 27 de novembro de 1971.
No Instituto Histórico e Geográfico, foi fundador da cadeira 28,
tendo sido eleito, como membro efetivo, sob a presidência de Deusdedit de Vasconcelos Leitão, em 19 de setembro de 1974, somente tomando
posse em 22 de novembro de 1975.
Deixou essas paragens, no dia 16 de
janeiro de 1991, aos 72 anos de idade.
LUIZ HUGO GUIMARÃES
– O OCUPANTE
Nasceu em 1º de maio de 1925,
Iniciou seus estudos numa escola particular,
Casado com
Laís Peixoto Guimarães com quem viveu mais de 60 anos de união conjugal, teve dois filhos:
Luiz Hugo Guimarães Filho e Ricardo Luiz que lhe deram sete netos.
Aos 17
anos, o Dr. Luiz Hugo assumiu seu primeiro emprego como auxiliar de revisor do jornal “A União”,
passando a redator até 1944, quando se
afastou para ser estagiário no 15º Regimento de Infantaria,
Em seguida, após ter passado em concurso do Banco do Brasil, foi assumir
o cargo de escriturário daquele banco, em Natal, RN. De lá foi removido para João
Pessoa e, depois, para outras agências em: Guarabira, Porto Velho e
Recife.
De temperamento ativo, realizava muitas atividades ao mesmo tempo. Em
1948, ingressou no Rotary Clube Internacional, desempenhando várias
funções, chegando a Governador de Distrito. Participou de diversos
conclaves nacionais e internacionais, e recebeu várias medalhas
meritórias. Foi professor de Português no Colégio Lins de
Vasconcelos. E, em 1959, assumiu o cargo de professor na Universidade da
Paraíba, para lecionar Direito Social, na Faculdade de Ciências
Econômicas. Continuava no labor do banco e participando ativamente do
movimento sindical.
Em 1961, deu-se
a federalização da Universidade, passando a denominar-se Universidade
Federal da Paraíba. À época, o Dr. Hugo integrou o
Conselho Universitário (órgão colegiado) da
instituição, permanecendo até 1964. Naquele tempo era, ainda,
lider sindical, tendo sido Presidente do Sindicato dos Bancários da
Paraíba, por quatro mandatos; vice- presidente da
Federação dos Bancários do Norte e Nordeste; delegado
junto à Confederação Nacional dos Bancários; Juiz Classista
na Junta de Conciliação e Julgamento de João Pessoa,
durante 12 anos; Assessorou o Governo Pedro Gondim, no setor de
Previdência e Trabalho, quando o Presidente Jânio Quadros instalou
o Governo da República
Ainda
exerceu múltiplas atividades no âmbito jornalístico, pois ele
próprio afirmou ser o jornalismo a sua vocação. No Banco
do Brasil fundou a revista “AABB”; no sindicato dos
Bancários, o jornal “Gazeta Bancária; escreveu na
“Revista Manaíra”; foi redator do “Jornal
Evolução” de Campina Grande; repórter do
“Correio da Paraíba” no ano da sua fundação; manteve
uma coluna no Jornal “O Norte” durante 02 anos, sobre
‘Previdência e Trabalho’. No Jornal de Agá (semanário
local), do jornalista Heitor Falcão, foi editor e também escreveu crônicas e artigos. Sob a
presidência de José Leal, durante 04 anos, ocupou o cargo de Secretário
da Associação Paraibana de Imprensa. Era deveras, um homem muito
versátil.
No ano de 1964, instaurou-se
no Brasil o Movimento Militar, após um Golpe de Estado, no dia 31 de
março, quando à época, era Presidente da República
o Dr. João Goulart. O Dr. Luiz Hugo foi cassado, no dia 10 de abril, pelo
o Ato Institucional nº 1 que penalizava no Brasil, as pessoas portadoras
de ideologias progressistas, tendo todos
os seus direitos políticos, suspensos por 10 anos. Foi demitido por Decreto do
então Presidente Castelo Branco, militar que assumira o Governo
Republicano. E, logo depois, foi preso.
Após alguns dias de
prisão, com acareações e muita tensão, foi, com
outros colegas, bancários, jornalistas e políticos, deportado
para a ilha de Fernando Noronha. Lá, na sua solidão e saudade,
começou a escrever algumas páginas de sua vida, inspirando-se
Em 1979, saiu a Lei da Anistia Ampla,
aprovada pelo Congresso Nacional. Novamente livre, aventurou-se no mercado de
trabalho participando de cursos na Bolsa de Valores de Pernambuco, sendo,
inclusive, seu assessor financeiro.
Este fato o fez retornar às
funções de Professor, na Universidade Federal da Paraíba,
desta feita,
Ingressou no IHGP,
em 22 de agosto de 1991, sendo recepcionado pelo professor Claudio Santa Cruz
Costa. Foi agraciado com medalha do mérito cultural “José
Maria dos Santos”.
Em setembro de l995, foi eleito presidente pelo período de
três anos, sendo re-eleito por mais três vezes consecutivas,
perfazendo o total de 14 anos em exercício, até o seu falecimento,ocorrido
em 10 de outubro de 2009.
À frente desse órgão, realizou mudanças,
modernizou as dependências do Instituto; com o apoio da Universidade
Federal da Paraíba, editou seis revistas, informatizou os acervos,
editou cinco catálogos, contendo obras raras, jornais antigos (fora de
circulação) revistas e boletins. Organizou o arquivo documental
Flávio Maroja, com 32.000 documentos; os fundos privados que
contêm os acervos do Presidente João Pessoa, dos Desembargadores
Sinval Fernandes e Osias Nacre Gomes, do Ministro Alcides Carneiro, do
Presidente Antônio da Silva Pessoa, do historiador Adhemar Vidal, do
procurador Antônio Pessoa Filho e do Coronel PM Manoel Arruda de Assis.
Deu inicio à publicação, em forma de plaquetes, da
Coleção de Historiadores Paraibanos, escrevendo ele
próprio várias plaquetes. Procedeu também, à
restauração e modernização da Biblioteca desta
Casa, no ano 2004.
Finalmente
conseguiu realizar o seu maior desejo: ver os seus escritos de outrora,
publicados em dois exemplares distintos: Crônica
do Tempo Distante, onde o autor retrata as suas memórias, e 1964: Recordação da Ilha Maldita,
explicitando com fatos, fotos, documentos,notícias de jornais e
depoimentos de pessoas credenciadas, episódios desenvolvidos naquele
fatídico ano.
Após, vários dias, hospitalizado, faleceu , nesta cidade, o
grande guerreiro. Sua substituição deu-se de forma regimental,
assumindo os destinos desta Casa de Irineu Pinto, o eminente historiador
Humberto Fonsêca de Lucena que vem arduamente trabalhando para conduzir
com equilíbrio, esta nobre Instituição.
Concluída a
exposição,reitero nesta oportunidade, as minhas palavras finais
de agradecimento a todos que contribuíram para a
realização deste momento, autoridades, amigos e familiares que
compõem esta platéia e que aqui vieram para me prestigiar, e os
que me ajudaram nos bastidores. Destaco Maria de Lourdes Bezerra da Costa,
minha irmã e o meu dedicado esposo Berilo Ramos Borba que compreendeu a
minha ausência nas tarefas do cotidiano do lar, durante os estudos
prévios para a realização desta solenidade. Sou
imensamente grata a todos. Saibam
que estão eternizados no meu coração e na minha
memória.
Muito obrigada!